Depois de publicar o “Diário de Guerra Afegão, que tornou visível esta campanha neocolonial, cruel e desnecessária”, Julian Assange tornou-se um alvo a abater. No entanto, sua morte, ainda e sempre possível, não retirava o efeito da publicação dos 251.000 documentos secretos norte-americanos e desacreditava mais o imperialismo norte-americano. É sempre melhor desacreditar um inimigo que fazer dele um mártir, como diz o jornalista e radialista colombiano Ernesto Carmona.
Não são “flores que se cheirem” as virgens nórdicas que acusam Julian Assange de «violação» e «não utilização de preservativo». Por exemplo, Anna Ardin - a acusadora oficial - nasceu em Cuba e escreve artigos contra Fidel Castro e o seu país de origem em publicações financiadas com dólares do contribuinte estadunidense, através de grupos cubano-americanos apoiados em Miami pela CIA, enquanto a sua sócia, Sofia Wilen, de 26 anos, montou a Assange conhecido engate tipo «meias de rockeira» [calcetinera rockera] até o levar para a cama, para depois ser a primeira a acusá-lo de violação, aparentemente como vingança pelo fato de o responsável da Wikileaks não lhe ter telefonado no dia seguinte.
O historial político de Ardin foi detalhadamente descrito pelo jornalista canadiano-cubano do Granma, Jean_Guy Allard [1], enquanto a conspiração para destruir a imagem de Assange e desacreditar as divulgações de Wikileaks foi esmiuçada exaustivamente por Israel Shamir e Paul Bennet, tão antecipadamente como o dia 14 de Setembro de 2010, numa documentada nota intitulada «Brincando com o crime de violação pelo sitiado Assange» em CounterPounch.Org, cuja epígrafe reza «A melhor newsletter política estadunidense» (exceto Bound magazine). [1]
As linhas abaixo são a versão em castelhano da nota de Counter Pounch:
Tornou-se novamente nebulosa a conspiração contra o nosso herói preferido de Matrix. O nosso «Capitão Nero», Julian Assange, está outra vez frente ao perigo. Quando deixamos o lendário fundador de Wikileaks no capitulo anterior, este suspirava de alívio depois de escapar das falsas acusações de dupla violação. As denúncias caíram, e o nosso herói que ficou novamente livre para vaguear pelo globo. Mas as conspirações desta telenovela são repetitivas. A história foi rapidamente reciclada e agora o nosso valente capitão está, uma vez, mais sob a ameaça de castração por Stora Torget, de Estocolmo, ou o ansiado castigo por molestar sagradas virgens nórdicas numa terra onde em tempos reinaram os Vikings.
Por outras palavras, ressurgiram de novo as absurdas acusações de violação contra o Inimigo Público nº 1 do Pentágono. Assange agora é acusado de:
1) não ter telefonado no dia seguinte a ter desfrutado uma noite de amor;
2) ter-lhe pedido que pagasse o seu bilhete de autocarro;
3) ter feito sexo inseguro, e
4) participar em dois breves affairs numa semana.
Estas ridículas quatro acusações judiciais, dignas do simulacro de julgamento de Leopold Bloom no capítulo Nightown de Ulisses, foram mexidas e condimentadas até que pudessem ser cozinhadas como um desconchavado caso de violação! O Irão desceu e subiu a Suécia! Enquanto o Irã teve notoriedade pelas sentenças conservadoras contra o adultério, a Suécia mostra-nos o que parece ser o lado liberal da moeda, com a invenção de acusações criminais por não poder telefonar e pelo descuido de não usar preservativos em atos íntimos consensuais. Pior ainda, com propósitos políticos estão a misturar sexo convencional com violação. E nisto, a Suécia está a brincar com crime da muito real violação violenta.
Os suecos têm uma razão prática por trás do seu decepcionante e pífio trabalho policial. O fundador de Wikileaks, perseguido pelas forças malévolas de todo o mundo, procurou um alívio momentâneo na reputação da Suécia como bastião da liberdade de expressão. Mas no momento em que Julian procurou proteção da lei de imprensa sueca, a CIA imediatamente ameaçou de deixar de partilhar informações com o SEPO, o Serviço de Informações Sueco. Desde que chegou ao poder, o atual governo de direita faz tudo o que pode para enterrar a herança de cuidadosa neutralidade do primeiro-ministro Olof Palme. A suspeita de que a farsa da violação é uma campanha orquestrada clarifica-se com estes dois fatos:
1) a Suécia enviou tropas para o Afeganistão;
2) Assange publicou em Wikileaks o Diário de Guerra Afegão, que tornou visível esta campanha neocolonial, cruel e desnecessária [2].
Continuando, o web-sítio do norte-americano Tea Party (RightwingNews.com) [3] sugeriu que «a próxima vez que [Assange] apareça em público, um agente da CIA armado com uma carabina de franco-atirador dispare uma bala de advertência apontando próximo do crânio». Descansem, que a CIA é mais sábia que o Tea Party. Pelo menos aprendeu com a lição de Che Guevara. Hoje arrasam a reputação de um rebelde em vez de desperdiçar uma bala. A história testemunha que aumentou a eficácia no uso desta táctica. Não se esforçam para converter Assange em mártir. Recorrem, muito simplesmente, aos seus antigos aliados para o ridicularizar. Lançam sobre ele o opróbrio. É muito mais preciso e demolidor que a bala de um franco-atirador. Nos anos 70 só podiam dizer que Philip Agee [4] era um mulherengo e borrachão. Hoje não faltam acusações judiciais de pedofilia e, por exemplo, humilharam Scott Ritter [5] por não aceitar a charada de George W Bush sobre as armas de destruição massiva no Iraque. Para espanto de todos vós, a campanha de violação lançado sobre Assange pode ser apenas o primeiro passo da contradança. Talvez venham a decidir que, afinal, ele é pederasta. A ameaça tácita é suficientemente evidente para que alguns defensores manifestem o seu apoio a Wilileaks, como supostamente aconteceu no Parlamento da Islândia [6].
A bala sempre pode ser disparada mais tarde, se a campanha de desprestígio da vítima vier A ter sucesso. Os Evangelhos dizem que ninguém seguiu Cristo até Gólgota, apesar de na semana anterior a população de Jerusalém lhe ter manifestado todo o seu apoio. Numa leitura surpreendentemente moderna de uma velha história medieval, um judeu anti-Evangelho dirá agora que este foi o resultado de uma correta campanha de desprestígio executada por Judas.
Para lançar uma nódoa é necessário um ex-apóstolo. A mera acusação de Caifás não impressiona. Quem quiser acusar um militante da esquerda, compare-o com um ex-militante da esquerda. Por exemplo, os trotskistas são acusados de serem capazes de se deixar utilizar contra os comunistas. Atualmente, estão a recorrer a pseudo anti-sionistas para parar um autêntico movimento favorável à Palestina.
Quem são os Judas desta campanha contra o nosso Julian?
Um grupo anônimo que proclama ter estado «dentro de Wikileaks» criou um novo web-site repleto de «revelações» sobre o passado e o presente de Assange, proclamando que vive luxuosamente da África do Sul, apesar de na Suécia ele aparecer quase diariamente nas notícias dos media e nos relatórios da polícia.
Outro ex-apóstolo é a política islandesa Birgitta Jonsdottir, que falsamente se auto-intitulou como «porta-voz de Wikileaks» e convidou Assange a «render-se», e a deixar o Wikileaks á deriva, sem a sua direção, como se de alguma forma Wikileaks fosse parte de Assange.
A pseudo progressista organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) atacou Assange por pôr em perigo as vidas de inocentes agentes secretos norte-americanos no Afeganistão. Apesar da sua fraseologia de esquerda, a RSF é uma organização não-governamental que recebe fundos governamentais dos EUA para financiar a sua campanha de destabilização em Cuba. A RSF está ligada às máfias cubano-americanas de Miami.
Anna Ardin (a denunciante oficial) é muitas vezes descrita pelos media como de esquerda, apesar de estar ligada a grupos anticastristas e anticomunistas financiados pelos EUA. Esta mulher, nascida em Cuba, publicou as suas diatribes anticastristas (7) em sueco na Revista de Estudos [Revista de Assinaturas] alojada em Miscelâneas de Cuba. Em Oslo, o professor Michaerl Seltzer disse que esta publicação é um produção de uma organização anticastrista abundantemente financiada na Suécia. Antes, já tinha dito que o grupo está ligado à União Liberal Cubana, liderada por Carlos Alberto Montaner, cujas ligações à CIA foram desmascaradas por Forlián Rodríguez no web-sítio Machetera [8]. Seltzer observou ainda que Ardin foi deportada de Cuba por atividades subversivas, e depois interatuou com o grupo feminista anticastrista as Damas de Branco, que recebem fundos do governo dos EUA, e que um dos seus principais amigos e financiadores é o convicto terrorista e anticomunista Luis Posada Carriles [9]. Hebe de Bonafini, presidenta das Mães da Praça de Maio da Argentina, disse mesmo que «as supostas Damas de Branco defendem o terrorismo dos EUA».
No entanto, não devemos aceitar a teoria da simples bala. A vida é mais complicada do que isso. Além do seu vincado anticastrismo pró-CIA, ao que parece, Anna Ardin tem como desporto favorito o engate de homens. [Jean-Guy Allard: Em 2007, fundou o clube «gay» Queer-klubb Feber de Gotland, numa ilha sueca situada a 60 km da costa, refúgio da chamada farândola]. Um fórum sueco divulgou que Ardin é perita em assédio sexual e perita nas mal afamadas artes de «supressão anti-masculina». Uma vez, quando falava numa conferência, um estudante da audiência só olhava para as suas notas em vez de a olhar enquanto ela falava. Anna Ardin denunciou-o por assédio sexual. Disse que o estudante a discriminou pelo fato de ser mulher e acusou-o por suposto uso masculino de «técnicas superiores de supressão», pois o jovem, ao ignorá-la, fê-la sentir-se invisível. Logo que o estudante soube desta denúncia, procurou-a para pedir-lhe desculpa e dar-lhe explicações. A resposta de Anna Ardin foi acusá-lo agora de assédio sexual, e voltou a aludir à «técnica superior de supressão», acrescentando desta vez sensações de menosprezo.
Aparentemente, Ardin está envolvida com um grupo Social-democrata «Cristão». A Igreja sueca tem fraca tem uma fraca implantação de clérigos do sexo masculino. São poucos os casais heterossexuais suecos que hoje em dia casam pela igreja ou mesmo os que casam. No entanto, a maioria dos casais gay sentem-se muito orgulhosos por serem «marido e mulher» perante a igreja.
A segunda acusadora, Sofia Wilen, de 26 anos, é amiga de Anna. No vídeo de uma conferência de imprensa de Assange podem ser vistas as duas mulheres juntas [10]. Os assistentes na conferência ficaram maravilhados com o seu comportamento como fãs. Embora as estrelas de rock se sirvam de jovens mulheres que dariam a vida por sexo, isto é muito menos comum no jornalismo político. Sofia, segundo a sua própria confissão, teve muito trabalho para levar Assange para a cama. Foi também a primeira a queixar-se à polícia. Sofia é pouco conhecida e os seus motivos são vagos. Por que é que uma jovem - que partilha a sua vida com o artista norte-americano Seth Benson - procurou uma aventura política tão sórdida?
Na sua divertida novela «O meu único e verdadeiro amor», o brilhante escritor israelita Gilad Atzmon descreve como os serviços secretos recorrem a jovens raparigas como doces armadilhas. É este o caso? Talvez não seja mais do que um caso de procura de dinheiro. A nova legislação sueca, e em toda a Europa, tornou os homens extremamente vulneráveis a vigarices neste tipo de extorsões. De acordo com o Daily Telegraph, uma jovem sueca (omite-se o nome), de 26 anos, conseguiu ganhar mais de um milhão de dólares durante umas férias na Grécia. Queixou-se de ter sido violada. Prenderam quatro homens que com divulgação dos nomes ficaram com o trabalho em perigo, mas a rapariga regressou a casa milionária, e a identidade protegida preservou a sua segurança futura. Este sucesso incentiva à imitação: de acordo com um relatório da UE, a Suécia tem 20 vezes mais denúncias de violação que as atribuídas aos apaixonados italianos. E a maioria esquece as denúncias e adeus…
A violação é um crime horrível que não deve ser alargado a delitos menores de pequena importância e pequenas falhas morais (como não fazer uma chamada telefônica no dia seguinte). Quando perguntaram ao advogado de acusação por que é que as jovens não estavam seguras de terem sido violadas, respondeu de forma reveladora: «Não são advogados». A violação - tal como o assassínio - é um crime que não precisa de qualquer advogado para o reconhecer. A violação é um crime capital: se se provar que as acusações são falsas, certamente que o denunciante deve ser punido por difamação criminosa.
Quanto a Julian Assange, precisamos dele. Seja casto ou mulherengo, precisamos do nosso capitão Nero para desmascarar as aditividades secretas dos nossos governos por trás de Matrix. Pelos nossos próprios motivos, todos nós devemos fazer o que nos compete para o proteger dos serviços secretos e das feministas pró castração.
3) La “Festa do Chá” expressa a ultra-direita do Partido Republicano, que já é da hiper direita.
4) Philip Burnett Franklin Agee (1935-2008) foi um ex-agente da CIA que, em 1975, se celebrizou com a publicação do livro “Inside the Company: CIA Diary”, onde relatou as suas experiências na agência, desde que aí entrou em 1957; prestou serviço em Washington, Equador, Uruguai e México. Retirou-se em 1968 e converteu-se num denunciante dos métodos da CIA. Morreu em Cuba em 2008.
5) William Scott Ritter Jr., nascido em 1961, na Florida, foi o principal inspetor de armas das Nações Unidas no Iraque no período 1991-1998, tendo depois criticado a política externa dos EUA no Médio Oriente. Antes da invasão defendeu publicamente que o Iraque não possuía armas atômicas; posteriormente foi uma figura popular como conferencista anti-guerra. Foi preso em 2001 por duas acusações de exploração sexual de menores. Uma terceira acusação aguarda julgamento.
* Jornalista e proprietário da Rádio Caracol, emissora de enorme difusão na Colômbia
Este texto foi publicado em anncol
Tradução de José Paulo Gascão
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