Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Porque demonizam Ahmadinejad?

Lejeune Mirhan *

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Em uma visita meteórica, de menos de 24 horas, esteve em nosso país, pela primeira vez na história, um chefe de Estado da Nação Persa. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad encontrou-se com o presidente Lula em Brasília no último dia 23 de novembro. A imprensa – que Paulo Henrique Amorim acertadamente chama de PIG, Partido da Imprensa Golpista – como sempre, o demonizou. Cabe-nos, neste espaço, tentarmos entender o porquê disso.


Uma nova farsa, uma nova mentira

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Já se disse que uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade. Quanto alemães acreditaram nos discursos vazios, extremistas, nazistas, anti-semitas de Hitler? Como uma Nação inteira foi levada a um delírio coletivo, para apoiar os massacres, as perseguições, o holocausto perpetrado contra judeus, comunistas, ciganos e o povo alemão em si? Havia um secretário de propaganda eficiente. Chamava-se Joseph Goebels. Um expert, um verdadeiro profissional. Controlava a ferro e fogo toda a mídia, as rádios e os jornais (a TV estava iniciando suas transmissões).

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Vimos isso entre 2002 e 2003, quando da segunda agressão ao Iraque perpetrada pelos EUA. O então secretário da Defesa, Collin Powell, orientado por George W. Bush, o Júnior, apregoou ao mundo inteiro que o Iraque tinha “armas de destruição de massa” (letal weppons destruction). Nenhuma agência de inteligência de qualquer potência ocidental atestava isso. Mas a mídia, que tudo tenta controlar, vestiu “essa camisa”. Propagava ao mundo essa versão fantasiosa, mentirosa. Pois, não é que após a invasão em 19 de março de 2003 a mentira veio à tona? O mundo viu que foi enganado, ludibriado. Mas, mesmo com as amplas mobilizações que fizemos nas maiores cem cidades do planeta, que levaram ás ruas mais de 20 milhões de pessoas, não conseguimos barrar a invasão. Claro, muita coisa mudou de lá para cá no mundo. A multipolaridade ampliou-se, a esquerda avançou na América Latina, Obama venceu eleições contra os Republicanos, ainda que siga decepcionando seus eleitores e o capitalismo de modelo financeiro entrou em bancarrota. Mas, o Iraque segue ocupado e assim deve ficar até final de 2011!

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Desta feita, a “bola da vez” é a Nação Persa. O Irã tem sim um programa nuclear. Inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica atestam as suas finalidades pacíficas. O Irã tem o direito inalienável de deter o ciclo completo da cadeia de enriquecimento de urânio, para fins medicinais, científicos e energéticos. O Irã se compromete com isso em todos os fóruns internacionais de que participa, mesmo optando em não ser signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Os estados Unidos possuem 11 agências de inteligência e de espionagem. Todas – vejam bem, eu disse todas! – atestam por unanimidade que o programa nuclear iraniano não tem capacidade de produzir uma só bomba sequer, pelo menos nos próximos anos, mas ainda assim, toda a imprensa fala da bomba do Irã! Porque isso?

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Dei uma entrevista para a rádio CBN, no programa de Heródoto Barbeiro nesta segunda, quando Ahmadinejad já se encontrava em solo pátrio. Debati com o ultraconservador e reacionário professor da UFSM, Dennis Rosenfeld. Este fez a defesa de que o programa iraniano era exclusivo para fins militares e ele estava convicto disso. Eu disse que não. E que os objetivos da visita do presidente do Irã ao nosso país, que muito nos honra, somente servia para que o Brasil reafirmasse a soberania de sua política externa que hoje é reconhecida em todo o mundo pelas maiores nações. Menos no Brasil exatamente por essa mídia golpista.

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Não é de se estranhar que o candidato queridinho da mídia, da direita, do consórcio PSDB-DEM-PPS, que atende pelo nome de José Serra (uns chama de Zé Pedágio outros ainda o chamam pelo seu nome verdadeiro de batismo, Zé Chirico), estampou na primeira página do jornalão da família Frias, Folha de São Paulo, o seu artigo onde chama Ahmadinejad de “ditador, visita inaceitável e fraudador de eleições”! O que é inaceitável e mesmo irresponsável é um pretenso candidato à presidente da República, dizer quem um presidente legitimamente eleito – foram 60 milhões de votos no 2º turno em 2006 – deve receber no pleno exercício do seu poder presidencial, na aplicação da política externa de governo e de Estado, que o presidente Lula vem exercendo. Isso é inaceitável e uma irresponsabilidade. Só nos mostra e confirma a quem essa figura esta servindo na atualidade, a que campo de forças ele se propõe a servir.

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Tem razão o brilhante jornalista Paulo Henrique Amorim, em seu site Conversa Afiada quando diz “o Irã tem um programa nuclear que provoca suspeitas nos Estados Unidos e por consequência no PIG; Israel tem bombas atômicas, o que não provoca suspeitas nos Estados Unidos e, por consequência, no PIG”. O Irã reafirma ao mundo que seu programa nuclear é pacífico. O Brasil confia nisso e a imensa maioria dos países do mundo também. Menos os golpistas da mídia. Mas por quê?

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O jornal Hora do Povo, em sua edição de 25 de novembro, destaca na sua primeira página algumas pistas para entendermos os porquês de tudo isso. Diz lá a manchete “Adeptos do genocídio palestino atacam a política externa brasileira”! Estou plenamente de acordo com isso. Falou-se que Ahmadinejad negaria o holocausto judeu – e nunca fez isso – mas a mídia se cala diante do holocausto palestino cometido diariamente contra Gaza e moradores da Cisjordânia. Os que “protestaram” contra a presença de Ahmadinejad no Brasil – uns gatos pingados em Ipanema e em Brasília – portavam ostensivamente bandeiras de Israel e dos Estados Unidos!

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Ora, as coisas assim se encaixam. Ahmadinejad é odiado pelas elites e pela imprensa golpista porque atua num campo da política e do direito internacional que dá combate frontal ao imperialismo norte-americano. Porque combate o modelo de financeirização do capital. Porque defende alianças mais progressistas com governos e países de um campo mais avançado. Isso é fato, por mais que a mídia tente esconder e escamotear. Uma pena que setores iludidos e pretensamente de esquerda ainda caiam nesse canto de sereia.

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O Irã na atualidade

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Os dos mais inteligentes e competentes jornalistas na atualidade, Antônio Luis Monteiro Coelho da Costa, da revista Carta Capital, nos apresenta dados interessante sobre o Irã atual, Nação moderna e progressista, apesar dos problemas e de muito que se tem que modificar ainda:.


• No Irã não se usa a burca típica do Afeganistão; quase não se vê também o nigab (véu que cobre o rosto), ainda hoje obrigatório na Arábia Saudita, nos Emirados do Golfo, no Iêmen, Paquistão entre outros;


• A participação das mulheres na sociedade iraniana é das maiores no mundo. Na economia, chega a 40% (maior que no Chile, Egito, Turquia entre outros); mais de 50% dos estudantes do ensino superior sã mulheres (igual à Holanda e maior que México, Chile, Turquia e a maioria dos países muçulmanos);


• Mesmo sendo questionado o modelo de eleições iranianas, onde o clero islâmico tem grande poder e influência, não há nada igual, nem de longe, nos países árabes, monárquicos – a imensa maioria – onde o povo quase nunca é chamado a votar;


• O Ocidente reverbera denúncias de fraude sem comprovação alguma, mas pouco destaque deu à monumental fraude no Afeganistão, onde o queridinho da mídia, Hamid Garzai – segundo a revista Vogue, um dos homens que melhor se veste no mundo – foi “reeleito” na base do “bico de pena”, no tapetão;


• O Irã é um país moderno, industrializado, com renda per capita maior que a nossa, que a da África do Sul, da Tailândia, entre outros;


• Em fevereiro do ano passado colocou em órbita, com recursos e tecnologia própria, um satélite de comunicação, o primeiro no mundo muçulmano;


• Suas montadoras de veículos fabricam mais carros que a Itália (um milhão de carros);


• 35% dos iranianos tem acesso à Internet, menos que o Brasil e este ano as projeções são de que atinjam 48%;


• A região metropolitana da Grande Teerã tem 13 milhões de habitantes, com moderna rede de metrô e de transporte público, muito superior a qualquer capital brasileira;


• Ao contrário do que diz a “revista” (folheto de propaganda) Veja, da família Civita, o Irã e seus mulás (clérigos da hierarquia islâmica), não querem a “volta à idade média”; ao contrário; querem a modernização, ainda que sob seu controle;


• Ainda que 98% sejam islâmicos no país, nem todos são persas (apenas 51%, como Ahmadinejad; uma segunda etnia forte e grande é a azeri, do líder espiritual Ali Khamenei, que sucedeu Khomeini, que era persa;


• Ao contrário de Israel, do Paquistão e mesmo do Iraque, na época de Saddam Hussein, o Irã nunca atacou seus vizinhos em nenhum momento ou reivindicou qualquer de seus territórios;


• É verdade que metade dos 80 mil judeus que moravam no Irã há 30 anos, quando da eclosão da Revolução Islâmica, emigrou para outros países; mas, os que lá permaneceram, até lutaram para derrubar a monarquia fascista do Xá Reza Pahlevi em 1979 e defenderam o país dos ataques iraquianos entre 1980 a 1988; e hoje vivem um clima de ampla liberdade, sem nenhuma restrição ao seu culto, à sua educação judaica, às suas viagens e até seu principal líder, Haroun Yashayaei até criticou Ahmadinejad – sem ser punido! – por este questionar o holocausto.

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Enfim, poderíamos nos estender a outros aspectos positivos da vida política, cultural e social do social da República Islâmica do Islã. Mas não será necessário. O ponto central é em torno de quem orbita esse pequeno gigante, imenso produtor de petróleo hoje no mundo. O Irã não faz o jogo dos Estados Unidos. Muito ao contrário. Dá-lhe frontal combate. Ahmadinejad articula suas alianças hoje com a Venezuela de Chávez, a Bolívia de Evo e, claro, com o nosso Brasil sob o comando do presidente Lula. Se não fosse isso, não seria tão demonizado como vem sendo feito por essa imprensa golpista. Que tenta mentir ao mundo que lá é uma ditadura, as eleições foram fraudadas e que o Irã quer a bomba. Tudo mentira.

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Já nos primeiros anos do meu curso de Ciências Sociais – e já se vão 30 longos anos – na disciplina de Antropologia aprendi um conceito que a nós, sociólogos, nos é muito caro. O de “relativismo cultural”. Significa que devemos ver as outras nações, as outras culturas, as outras civilizações, diferentes das nossas, com um relativismo, procurando encarar seus hábitos e costumes com naturalidade, sem arrogância e sem a prepotência de achar que nossa cultura Ocidental é melhor e deve ser seguido por todos os povos da humanidade.

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O povo do Irã escolheu esse caminho de forma soberana, autônoma, com liberdade. Fizeram uma Revolução em 1979, ainda que com rumos que eu até possa não estar de pleno acordo. Mas devo aceitá-los. O que entristece a turma dos golpistas da mídia e a sua elite, é que esse país soberano saiu da órbita dos Estados Unidos. Nunca nos esqueçamos – e o povo iraniano guarda isso bem guardado em sua memória histórica – dos episódios da nacionalização do petróleo levado à cabo pelo então primeiro Ministro Mossadegh em 1953. Não resistiu um ano e foi derrubado com a ajuda da CIA, que garantiu o controle do petróleo para os EUA e para a Inglaterra a partir daí até 1979, quando ele volta para o controle do povo.

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Ai está, em poucas palavras, porque o Irã é tão demonizado por essa mídia golpista. Só por isso, já devemos ver com bons olhos esse grande país, de civilização milenar, organizada a partir do Grande Ciro, da Pérsia séculos antes da atual era cristã. Vida longa ao Irã!

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Original em Vermelho

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Caso Battisti: manipulações e factóides na nova história política italiana

Entre 1972 e 1989, Itália viveu um conflito que muitos analistas definem como “guerra civil de baixa intensidade”

Achille Lollo

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NO DIA 12 DE dezembro, será o 40º aniversário dos trágicos massacres de Praça Fontana, em Milão (17 mortos e 88 feridos); e no Banco Nacional do Trabalho e Praça Veneza, em Roma (17 feridos), que foram planejados, em fevereiro de 1969, pelos homens do serviço secreto italiano (SID) e realizados pelos neofascistas ligados à Célula Veneta de Freda e Ventura, em coligação com os grupos neofascistas de Ordine Nuovo e de Avanguardia Nazionale, liderados por Pino Rauti e Stefano delle Chiaie. Esses atentados a bomba – que foram monitorados por David Carret da Base de Operações da CIA na Itália e apoiados pela Célula maçônica P2 de Licio Gelli – marcaram o início da “Estratégia da Tensão”, na Itália, que os centros de inteligência dos então governos democrata-cristãos (Giulio Andreotti, Taviani, Rumor e Fanfani) introduziram no contexto político do país com o objetivo de utilizar a direita neofascista para romper a inesperada evolução das lutas do movimento sindical e popular, após a criadora efervescência política, em 1968, do movimento estudantil. Por sua parte, a CIA acreditava que a existência de diferentes projetos eversivos (o Plano Solo do general do SID, Vito Miceli; o Plano Gládio de Edgardo Sonho; a intentona golpista de Valério Borghese; e o bombismo de Ordine Nuovo e Avanguardia Nazionale) podia acelerar o processo de desestabilização política do governo de centro-esquerda e determinar a mesma situação de crise política que, na Grécia, no dia 21 de abril de 1967, abriu as portas ao golpe de Estado sob a liderança do coronel Georgios Papadopoulos. De fato, após os atentados de Milão e Roma, a polícia, a Justiça e a mídia afirmavam que a matriz política dos atentados era esquerdista, e que seus autores materiais eram militantes anarquistas, abrindo assim a “caça ao vermelho”.

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Intentonas golpistas

Foi nesse clima de atentados e agressões aos militantes do movimento estudantil e sindical por parte dos grupos neofascistas que, na noite do dia 7 de dezembro de 1970, Junio Valério Borghese, líder da organização neofascista Fronte Nazionale, com o apoio do Ministério do Interior, de vários setores das Forças Armadas, da Polícia Florestal, do SID e, evidentemente, da CIA, iniciava um golpe de Estado em Roma e Milão que duraria somente oito horas, porque os golpistas não aceitavam entregar o poder ao ministro democrata-cristão Giulio Andreotti. De fato, no momento de legitimar a intentona com a adesão das unidades de elite da Otan, a CIA exigia que o poder fosse entregue a Andreotti para que ele pudesse jogar o papel de pacificador nacional. A derrota política da intentona golpista virou uma piada judiciária, e por isso os grupos da esquerda extra-parlamentar (Potere Operaio e Lotta Continua) lançaram, junto ao movimento popular, palavras de ordem revolucionárias em favor de uma ruptura insurrecional, tendo em conta a paralisia dos partidos da esquerda reformista, o PCI (comunista), o PSI (socialista) e o PSDI (social-democrata).

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Cesare Battisti viveu aquele contexto histórico e, em vez de se fechar “no pessoal das drogas e das diversões tecnológicas” escolheu “a opção das lutas políticas”

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A “Estratégia da Tensão” foi abrilhantada com cinco tentativas de golpe de Estado para acelerar a militarização da parte oculta do estado de direito e para “educar” os grupos dirigentes do PCI, do PSI e das confederações sindicais (CGIL/CISL e UIL). No momento, a “autonomia operária” havia tomado conta das fábricas do norte e das universidades das grandes cidades, tornando-as autênticos vulcões prontos a explodir em todo o território nacional. Assim, quando, em 1972, a reestruturação capitalista – com o silencioso monitoramento dos dirigentes e sindicalistas do PCI – começou a entrar nas fábricas italianas, a resposta dos operários foi excepcional e, por isso, uma parte da esquerda revolucionária começou a acreditar na possibilidade da “ruptura revolucionária”, aceitando um combate armado que, inicialmente, foi fácil e brando, para depois endurecer e ocupar 17 longos anos da história italiana em um conflito que muitos analistas definem como “uma guerra civil de baixa intensidade”. É nesse clima que, em 1972, começaram as primeiras operações de guerrilha urbana das Brigadas Vermelhas.

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Os Anos de Chumbo

Todos os governos italianos e sua classe política negaram as responsabilidades políticas do Estado na implementação da “Estratégia da Tensão”, que, de 1968 até 1972, organizou e fomentou a violência dos grupos paramilitares neofascistas. Igualmente negam que, de 1973 até 1989, ficou legitimado o “Direito do Estado de direito” em abusar no uso de seus ditos “corpos separados” (serviços secretos, unidades antiterrorismo, tribunais especiais, leis especiais antiterrorismo). Também negam que esse aparelho repressivo ainda continue em atividade. A mídia corporativa se especializou em manipular e reduzir esses 17 anos de história e violência política em poucos factóides que os juízes do antiterrorismo elegeram como “casos especiais”. Por outro lado, todos os procedimentos judiciários nos quais estava demonstrada a mão oculta do Estado desapareceram. Por exemplo, o Tribunal Supremo italiano (Cassazione) e a Corte de Apelação anularam cinco dos sete julgamentos do massacre de Piazza Fontana, que condenavam agentes secretos e neofascistas, para declarar que “não havia culpados para aquele massacre” e obrigar os familiares das vítimas a pagar as despesas judiciárias. Cesare Battisti viveu aquele contexto histórico e, em vez de se fechar “no pessoal das drogas e das diversões tecnológicas”, escolheu “a opção das lutas políticas”, aderindo ao PAC, um pequeno grupo clandestino do qual ele – diferentemente do que juízes e delatores dizem – nunca foi dirigente ou ideólogo. No dia 23 de novembro, esse militante dos anos de 1970 encerrou uma greve de fome de protesto contra uma classe política que, 20 anos após o fim da luta armada, ainda utiliza a lógica e os fundamentos da “Emergência Antiterrorista” para desviar a atenção do povo dos problemas reais da sociedade italiana e propor julgamentos e vinganças virtuais contra o último dos 140 “Judas Taddeo” da luta armada, ainda vivos no exílio.

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O novo Coliseu

Foi nesse contexto que, no dia 26 fevereiro de 2008, os deputados Giuliano Cazzola (PdL) e Giovanni Bachelet (PD), representando o governo e a oposição, elaboravam um documento sobre o caso judiciário de Battisti para que, em nome do Parlamento italiano, não fosse reconhecida a autoria política dos crimes pelos quais foi condenado e, assim, evitar que nos fóruns internacionais fosse sublevada a tese do crime político pelo qual quatro tribunais italianos o condenaram. Por isso, a Embaixada italiana em Brasília “ofereceu” ao relator Cezar Peluso e ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o documento do Parlamento. Por “mera casualidade”, esses juízes do STF formularam suas teses acusatórias da mesma forma e com a mesma conceituação jurídica elaborada pelos deputados italianos Cazzola e Bachelet. Alguém escreveu na revista Carta Capital que o estado de direito italiano não vai permitir vinganças e persecuções contra os antigos “terroristas”. Porém esse alguém não tem a coragem de revelar que todo o Parlamento italiano, ao conhecer o voto de Gilmar Mendes, se levantou de pé para bater palmas e gritar frases de vingança e desejo de morte para Battisti nas prisões italianas. Tanto é que o próprio deputado Bachelet, diante dessa escandalosa manifestação de vingança política, logo declarava textualmente “Peço desculpa a Cesare Battisti pelos tons que foram utilizados na aula do Parlamento”. Na verdade, o deputado Bachelet manifestou sua desculpa apenas para esconder o real sentimento de vingança e de perseguição que uma classe política inteira (incluindo os ditos progressistas do PD) evidenciou, ainda, contra quem não aceitou o papel do arrependido, além de criticar o autoritarismo do Estado neoliberal italiano. É bom lembrar que, em 1999, a proposta de lei de anistia foi deliberadamente afastada em função da renúncia do então PDS (ex-PCI), o qual decidiu não se posicionar para não quebrar o arranjo eleitoreiro com os setores moderados da sociedade italiana. Por isso, Olga D’Antona, outra deputada do “progressista” PD, empolgada com o voto de Gilmar Mendes, logo propôs ao Parlamento: “vamos recomeçar a ofensiva contra a França para obter a extradição da ex-brigadista Marina Petrella” (que foi negada pelo presidente Nicolas Sarkozy por motivos humanitários). Quer dizer, depois de Battisti, também a morta-viva Marina Petrella deverá ser sacrificada nas prisões italianas! Diante desse quadro, é evidente que Battisti não vai ficar “vivo” por mais de seis meses nas prisões italianas, apesar do artigo 27 da Constituição dizer que “as condenações visam à reeducação do condenado”. Isto porque Battisti vai sofrer com o sentimento de vingança de um Estado (e de seus corpos separados) que nos últimos dez anos perdeu todos os processos de extradição na Nicarágua, no Brasil, na Argentina e na Espanha.

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Morte Branca

Um sentimento de vingança e de perseguição que passa pelo encarceramento nas prisões especiais com a aplicação do artigo do Código de Procedimento Penal 41Bis, com base no qual o preso sofre com as normas do isolamento especial – que prevê rígidas restrições, tais como visita mensal só com parentes diretos e em locais separados por vidros; veto de usar computador, rádio, televisão; de receber livros, jornais, revistas e alimentos e de preparar sua comida; de ter um “banho de sol” de uma hora por dia em locais com apenas dois presos; de não ter direito à assistência médica externa; de ter a correspondência previamente lida por agentes do antiterrorismo; e de ter as conversas com os advogados gravadas. Alguns comentaristas brasileiros – ao assumirem as “pautas editoriais do governo italiano” – argumentaram que as prisões italianas são “um hotel” e que Battisti, em poucos anos, vai ganhar a liberdade. Na realidade, a situação dos presos nas penitenciárias italianas é, de fato, dramática e se torna pública somente quando os familiares denunciam o “assassinato” ou o “suicídio” de seus parentes presos. Casos como estes ocorreram no dia 16 de outubro, quando Stefano Cucchi, dependente químico de 25 anos, foi torturado até a morte pelos agentes penitenciários na prisão de Roma; no dia 2 de novembro, quando Diana Blefari Melazzi, ex-militante das Brigadas Vermelhas, de 38 anos, não suportando mais o isolamento do 41Bis, se suicida na prisão romana de Rebibbia; no dia 19 de novembro; quando Giovanni Lorusso, de 41 anos, após protestar porque os agentes penitenciários “seguravam” sua ordem de soltura do tribunal, foi encontrado enforcado na prisão de Palmi; e no dia 20 de novembro, quando M. A., menor marroquino, foi encontrado enforcado na ducha do instituto penitenciário de Florença.

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No sistema penitenciário italiano, nos últimos 11 meses, houve 62 suicídios de presos comuns e um de preso político, além de outras 243 mortes por “fatores naturais”, muitas delas por falta de assistência médico-hospitalar. Além disso, o atual governo modificou a metodologia da redução de pena (Lei Gozzini), que já não é um benefício automático, e que agora depende do parecer dos juízes do tribunal. No caso dos presos políticos que não colaboraram com a polícia ou que continuam enquadrados no 41Bis, são suspensas as normas da Lei Gozzini, bem como todas as formas de recuperação mencionadas pelo artigo 27 da Constituição. Para os condenados ao ergástolo (prisão perpétua), a referida Lei Gozzini de redução de pena é aplicada somente após 25 anos de prisão. Finalmente, os juízes italianos, por mera implacabilidade judiciária, não unificaram as quatro condenações de Battisti, de forma que, se ele conseguir continuar “vivo” no período de 25 anos do primeiro ergástolo, continuaria preso para cumprir o segundo e depois o terceiro e o quarto. Isto é, seria solto após 100 anos de prisão!

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Achille Lollo, jornalista italiano, é autor do documentário “Palestina, Nossa Terra, Nossa Luta”.

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Lula, Ahmadinejad e...Serra

Rosanita Campos

Com o título “Brasil: Lula atua como mediador com Ahmadinejad” o jornal francês Le Monde publicou em sua edição de 24 de novembro um lúcido artigo sobre a visita na segunda-feira do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad. O Brasil desde 1965 não recebia a visita de um chefe de Estado do Irã.

O artigo elogiou a política externa independente do governo brasileiro e a aspiração do “gigante político e candidato a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU a jogar um papel de primeiro plano no cenário internacional”.

Disse também: “Favorável ao diálogo entre o Irã e o Ocidente e convencido de que tudo o que vise isolar Teerã é contra-produtivo Lula provou, na segunda-feira, prudência. Ele chamou seu hóspede a prosseguir nos contatos com os países interessados no diálogo, com as grandes potências, por uma solução justa e equilibrada quanto a questão nuclear.

“Lula reafirmou o direito do Irã a desenvolver energia nuclear para fins pacíficos, respeitando os acordos internacionais constatando que a não proliferação e o desarmamento nuclear devem seguir juntos e que sonha com um Oriente Médio sem armas nucleares como é a América Latina.

“Ahmadinejad mostrou-se moderado sem abrir mão de questões de fundo. O Irã tem interesse no urânio enriquecido ou num programa de permuta sob o controle da AIEA. E acrescentou que tem esperança de que ainda há tempo para que se chegue a um acordo.”

O jornalista francês erra apenas ao dizer que milhares se manifestaram contra o presidente iraniano citando o governador de SP, José Serra do PSDB. Na verdade foram apenas alguns judeus sionistas, em geral muito ricos.

Original em Hora do Povo

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"Pai dos Pobres" provocou milagre econômico no Brasil

Jens Glüsing

O Brasil é visto como uma história de sucesso econômico e sua população reverencia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um astro. Ele está na missão de transformar o país em uma das cinco maiores economias do mundo por meio de reformas, projetos gigantes de infraestrutura e explorando vastas reservas de petróleo. Mas ele enfrenta obstáculos.
Elizete Piauí aguarda pacientemente por horas à sombra de uma mangueira. Ela calça sandálias de plástico e veste um short largo sobre suas pernas finas. A 40ºC, o ar tremula neste dia incomumente quente na Barra, uma pequena cidade no sertão, o coração do Nordeste brasileiro. Mas Elizete não se queixa, porque hoje é seu grande dia, o dia em que se encontrará com o presidente, que está trabalhando para fornecer água encanada para sua casa.

Em Sertania (Pernambuco), Lula vistoria as obras da transposição das águas do rio São Francisco

O barulho de um helicóptero sinaliza sua chegada. A aeronave branca sobrevoa a multidão antes de pousar. Uma escolta de batedores acompanha o presidente até a cerimônia.

Lula sai da limusine vestindo uma camisa branca de linho e um chapéu militar verde. Ignorando os dignitários locais em seus ternos pretos, Lula segue direto para a multidão atrás de uma barreira de segurança. "Lula, Papai!", chama Elizete. Ele a puxa até seu peito e aperta a mão de outros na multidão, permitindo que as pessoas o toquem, façam carinho e o abracem. Gotas de suor correm pelo seu rosto corado enquanto pessoas o puxam pela camisa, mas Lula se deixa embeber na atenção. Ele se sente em casa aqui, em uma das regiões mais pobres do Brasil.

O presidente passa três dias viajando pelo sertão. Ele conhece a rota. Ele veio à região pela primeira vez há 15 anos, em campanha, viajando de ônibus e ficando hospedado em locais baratos. Ele fazia paradas em todas as praças, sete ou oito vezes por dia, geralmente realizando seus discursos na traseira de um caminhão. Sua voz geralmente ficava rouca e fraca à noite e ele tinha que trocar sua camisa suada até 10 vezes por dia.

'Ele ainda é um de nós'
Agora ele viaja de helicóptero e carros blindados, com os carros da polícia, com suas luzes piscando, abrindo o caminho ao longo das estradas. Voluntários montam aparelhos de ar condicionado e bufês nos aposentos de Lula, às vezes até mesmo estendem um tapete vermelho. A imprensa critica as despesas, mas isso não incomoda a maioria dos brasileiros, porque eles têm orgulho de seu presidente. Ele chegou ao topo, eles argumentam, então por que não desfrutar de seu sucesso? "Ele ainda é um de nós", diz Elizete, "porque ele é o pai dos pobres".

Lula está familiarizado com o destino dos nordestinos pobres do Brasil. Ele nasceu no sertão, mas sua mãe colocou seus filhos na traseira de um caminhão e os levou para São Paulo, 2 mil quilômetros ao sul. A posterior ascensão de Lula ao poder começou nos subúrbios industriais de São Paulo. Sua mãe foi uma das centenas de milhares de pessoas carentes que deixaram o sertão atormentado pela seca, com seus campos ressecados e animais morrendo de sede, e migraram para o sul mais rico, para trabalhar como porteiros, garçons, operários de construção ou empregados domésticos.

Em um plano para tornar verde esta região árida, Lula está explorando as águas dos 2.700 quilômetros do Rio São Francisco, um rio vital para grandes partes do Brasil. O rio fornece água para cinco Estados, mas ele faz contorna o Sertão. Segundo o plano de Lula, dois canais desviarão água do rio por 600 quilômetros até as áreas atingidas pela seca. "É o mínimo que posso fazer por vocês", Lula diz às pessoas na Barra.

Projeto controverso
O megaprojeto, que exige a superação de uma diferença de altitude de 200 metros, tem um custo estimado de R$ 6,6 bilhões. Lula posicionou soldados na região para escavar os canais. Oito mil trabalhadores labutam nos canteiros de obras enquanto tratores e escavadeiras movem a terra pela estepe. Se tudo correr bem, 12 milhões de brasileiros se beneficiarão com o projeto de transposição de águas, que deverá ser concluído em 2025. É o maior e mais caro projeto de Lula, assim como provavelmente seu mais controverso.

Aqueles que o apoiam comparam Lula ao presidente americano Franklin D. Roosevelt, que represou o Rio Tennessee nos anos 30, para fornecer eletricidade à região, e que lançou o New Deal, um imenso programa de investimento para superar a Grande Depressão. Mas os críticos veem a obra como um imenso desperdício de dinheiro. O projeto também atraiu a ira dos ambientalistas e até mesmo o bispo da Barra já fez duas greves de fome contra ele. Ele teme que o projeto de transposição das águas secará ainda mais o rio, alegando que a irrigação beneficiaria principalmente o setor agrícola.

O bispo não está presente. Dizem que ele está participando de reuniões fora da cidade. Na verdade, o religioso está mantendo discrição. As críticas ao presidente são desaprovadas por sua congregação. Lula fala a linguagem das pessoas comuns, contando histórias de sua juventude aos seus simpatizantes, histórias dos tempos em que sua mãe o enviava para buscar água e ele voltava para casa equilibrando um balde pesado sobre sua cabeça. Ele tinha cinco anos na época.

O Brasil já foi chamado de "Belíndia", um termo cunhado por um empresário que via o vasto país como uma mistura entre a Bélgica e a Índia, um lugar com riqueza europeia e pobreza asiática, onde o abismo entre ricos e pobres parecia intransponível. Lula foi o primeiro a construir uma ponte entre os dois Brasis.

Agora ele é tanto o queridinho dos banqueiros quanto ídolo dos pobres. Com o chamado presidente operário no comando, o Brasil está atraindo investidores de todas as partes do mundo. Jim O'Neill, o economista chefe do Goldman Sachs, inventou a sigla Bric para as economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China, prevendo um futuro brilhante para o gigante sul-americano. Mas seus colegas zombaram dele. A China e a Índia certamente tinham perspectivas, mas o Brasil? Por décadas o país era visto como um gigante acorrentado, atormentado por crises infindáveis e inflação.

Potência econômica ascendente
Mas hoje o "B" é a estrela entre os países Bric, com os especialistas prevendo um crescimento de até 5% para a economia brasileira em 2010. O Brasil está atualmente crescendo mais rápido do que a Rússia e, diferente da Índia, não sofre de conflitos étnicos ou disputas de fronteira. O país de 192 milhões de habitantes possui um mercado doméstico estável, com as exportações - carros e aeronaves, soja e minério de ferro, petróleo e celulose, açúcar, café e carne bovina - correspondendo a apenas 13% do produto interno bruto.

E como a China substituiu os Estados Unidos como maior parceira comercial do Brasil no início deste ano, o país não foi severamente afetado pela recessão no mercado americano como poderia ter sido. Os bancos do Brasil são fortes, estáveis e não encontraram grandes dificuldades durante a crise. Mais importante, entretanto, é o fato do Brasil ser uma democracia estável, ao estilo ocidental.

O país pagou sua dívida externa e até mesmo passou a emprestar ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo acumulou mais de US$200 bilhões em reservas e o real é considerado uma das moedas mais fortes do mundo. Especialistas internacionais preveem uma década de prosperidade e crescimento para o país. Lula prevê que o Brasil será uma das cinco maiores economias do planeta em 2016, o ano em que o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos. O país será sede da Copa do Mundo de 2014.

E ainda há os recursos naturais aparentemente ilimitados do Brasil, vastas reservas de água doce e petróleo. O Brasil exporta mais carne do que os Estados Unidos. E a China estaria em dificuldades sem a soja brasileira. Nos hangares da fabricante de aviões, a Embraer, perto de São Paulo, engenheiros brasileiros constroem aviões para companhias aéreas de todo o mundo, incluindo aviões para trajetos menores para a Lufthansa
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Um patriarca extremamente popular
Em outras palavras, o presidente Lula tem bons motivos para estar repleto de autoconfiança. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o estão cortejando, enquanto Wall Street praticamente o venera. Ele é até mesmo tema de um novo filme, "Lula, o Filho do Brasil", que descreve a saga de sua ascensão de engraxate a presidente.

Carisma Patriarca extremamente popular, o líder brasileiro é até mesmo tema de um novo filme, "Lula, o Filho do Brasil", que descreve a saga de sua ascensão de engraxate a presidente do país

Todo o Brasil desfruta da fama de seu presidente que, a menos de sete anos no poder, atualmente conta com um índice de aprovação acima de 80%. A oposição praticamente desapareceu e o Congresso se tornou submisso. Lula dirige o país como um patriarca, tanto que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o está acusando de "autoritarismo" e alertando que o Brasil está no caminho de um capitalismo estatal.

Há um quê de verdade nas alegações de Fernando Henrique. Lula nunca teve confiança na capacidade do mercado de curar a si mesmo e considera que o Estado deve moldar uma nova ordem social. Ele adora projetos impressionantes e gestos nacionalistas. Ele é pragmático, mas despreza especuladores. "Brancos com olhos azuis" levaram o mundo à beira da ruína financeira, ele disse recentemente. Ele falava dos banqueiros.

A crise financeira apenas confirmou o ceticismo de Lula em relação ao capitalismo. Lula acredita que o Brasil lidou melhor com a crise do que outros países porque o governo adotou medidas corretivas desde cedo. Segundo Lula, o combate à pobreza e a distribuição justa de renda não podem ficar aos cuidados do mercado.

Classe média crescente
Sob sua liderança, milhões de brasileiros ingressaram na classe média. A evidência dessa transformação social está por toda a parte: nos shopping centers do Rio e São Paulo, lotados de famílias barulhentas da periferia, ou nos aeroportos, onde mães jovens ficam na fila do balcão de check-in, aguardando para embarcar em um avião pela primeira vez em suas vidas. "A desigualdade entre ricos e pobres está começando a diminuir", diz o economista e especialista em estudos sobre a pobreza, Ricardo Paes de Barros.

A chave para aquela que provavelmente é a maior redistribuição de riqueza na história brasileira é o programa social Bolsa Família, sob o qual uma mãe carente que possa comprovar que seus filhos estão frequentando a escola recebe até R$ 200 por mês do governo. A primeira vista pode não parecer muito, mas este subsídio do governo ajuda milhões de pessoas a sobreviverem no Nordeste brasileiro.

Especialistas inicialmente criticaram o programa como sendo apenas uma esmola, mas agora ele é visto como um modelo mundial. Mais de 12 milhões de lares recebem os subsídios, com grande parte do dinheiro indo para o Nordeste. Graças ao programa Bolsa Família, a região antes atingida pela pobreza começou a prosperar. Muitos nordestinos abriram pequenas empresas ou lojas e a indústria descobriu o Nordeste como mercado. "Agora a região está crescendo por conta própria", diz Paes de Barros.

O plano Marshall próprio do Brasil
Os centros nervosos da política econômica do país ficam abrigados em dois imponentes arranha-céus no centro do Rio. O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que conta com seus escritórios em uma torre de aço e vidro, foi criado com a ajuda americana e usando o KFW Banking Group da Alemanha como modelo. Ele financiou uma versão brasileira do Plano Marshall.

Nos anos 90, o BNDES administrou com sucesso a privatização de muitas estatais brasileiras. Hoje, ele fornece assistência a fusões e aquisições corporativas, ajuda empresas em dificuldades e financia os investimentos estratégicos do governo.

O BNDES é altamente respeitado. Acredita-se que seja em grande parte livre de corrupção e ele paga os mais altos salários do país. "Há um ano, os bancos estrangeiros batiam à minha porta perguntando se o Brasil estava preparado para a crise financeira", diz Ernani Teixeira, um dos diretores financeiros do banco. Teixeira conseguiu tranquilizá-los, notando que o BNDES tinha separado R$ 100 bilhões em reservas adicionais. No ano passado, o banco emitiu mais empréstimos e garantias de empréstimos do que o Banco Mundial - e até apresentou um lucro respeitável.

O segundo pilar do milagre econômico brasileiro fica diagonalmente no outro lado da rua: um bloco de concreto, iluminado à noite com as cores nacionais, verde e amarelo, é a sede do grupo de energia semiestatal Petrobras. A empresa planeja investir US$ 174 bilhões nos próximos quatro anos em plataformas de perfuração, navios e outros equipamentos para explorar as grandes reservas de petróleo além da costa do Brasil.

Há um ano e meio, a Petrobras descobriu novas reservas de petróleo sob o leito do oceano. Mas o petróleo será difícil de extrair, por estar situado abaixo de uma camada de sal em profundidades de pelo menos 6 mil metros. A expectativa é de que os poços comecem a produzir daqui pelo menos seis anos. A receita desse petróleo será depositada em um fundo que o governo usará principalmente para financiar novas escolas e universidades.

Lula apresentou recentemente uma legislação que regulamentaria a exploração das reservas de petróleo submarinas, fortalecendo assim o monopólio da Petrobras. Especialistas temem que Lula esteja criando um monstro corporativo poderoso e corruptível.
Elizete Piauí, ainda completamente embriagada pelo seu encontro com Lula, a viu pela televisão. Ela sabe que Dilma é a candidata de Lula e ela fará campanha pela ministra, apesar de que preferiria que Lula permanecesse no poder. "Eu votarei em qualquer pessoa que ele indicar", ela diz.
Lula também prometeu retornar. Antes do fim de sua presidência, ele planeja fazer outra viagem ao Nordeste para ver o quanto progrediram as obras no Rio São Francisco. Talvez, espera Elizete, ele terá atendido seu maior desejo até lá e ela poderá servir a ele um copo de água - de sua própria torneira, em sua própria casa.

Original em Blog da Dilma

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A visita de Ahmadinejad: o Brasil não pede licença a ninguém

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou-se pela primeira vez com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em Quito, capital do Equador, em 2006, na posse do presidente Rafael Correa, ocasião em que o convidou para a visita ao Brasil que começa esta semana.

O Irã é um país estrategicamente situado no coração do Oriente Médio, com cerca de 69 milhões de habitantes, 1 milhão e 650 mil km2 (é portanto do tamanho do Estado do Amazonas) e um PIB per capita de US$ 7.594.

A política externa brasileira aposta em uma parceria com o Irã, dentro de uma concepção mais ampla de combate à política capitaneada historicamente pelos EUA de reduzir a capacidade dos Estados nacionais de adotar políticas de desenvolvimento econômico autônomo.

Falando durante a II Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional, em novembro de 2007, o então secretário geral do Ministério de Relações Exteriores, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, sistematizou os principais objetivos da política externa do Brasil: igualdade soberana dos Estados; não intervenção nos assuntos internos dos outros países, e a autodeterminação dos povos. Neste sentido o aprofundamento das relações entre Brasil e Irã deve contribuir para a construção de uma sociedade mais próspera, mais justa, mais democrática em ambos os países. A grande questão é viabilizar este desenvolvimento na atual discussão sobre o sistema internacional, na qual são negociadas as regras da redistribuição do poder mundial.

As relações de cooperação e de amizade entre o Brasil e o Irã podem contribuir decisivamente para combater, por exemplo, a questão da insegurança energética, que preocupa os países em desenvolvimento, e a concentração de poder no mundo em todas as esferas, econômica, política, militar, ideológica, tecnológica. Somente os Estados Unidos têm mais poder militar do que todos os outros países juntos. A concentração de poder de arbítrio, violência, especialmente quando se trata de controlar as fontes de energia e pelo acesso a mercados, geraram teorias como a da intervenção preventiva, a da chamada intervenção “humanitária” entre outras, que justificaram a agressividade guerreira dos EUA sob Bush, com as invasões do Iraque e do Afeganistão, o controle político e militar no Paquistão etc.

O encontro de Lula e Ahmadinejad procurará tratar de fortalecer as relações entre os dois países, ampliando os horizontes comerciais, políticos, tecnológicos e econômicos. Contra os interesses estratégicos do Brasil se levantam vozes como o Governo Israelense, que tentam turvar as relações do Brasil com o Irã. Não podemos ter uma visão pequena do país. O Brasil cumpre suas tarefas internacionais com grande reconhecimento por parte da comunidade mundial, participando ativamente dos principais debate, no combate à crise financeira gestada pelos países desenvolvidos, na questão climática e de combate às desigualdades econômicas e políticas. É um dos poucos países com grandes reservas de unânio - a sexta maior reserva mundial. Dominamos o ciclo do combustível nuclear, temos um grande mercado interno forte e o direito de decidir soberanamente com quem se relacionar. E, soberanamente, não precisa pedir licença a ninguém para promover o desenvolvimento e a paz no mundo.
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Original em Vermelho

Testemunho audiovisual de um iraquiano torturado

Tradução do árabe de Fátima Bouaziz e Yarub Ali

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“Sim, me disseram que tinha que confessar (que era terrorista), mas não confessei nada (…). Então começaram a me torturar. (…) Me jogaram algo, não sei o que, nas mãos e nos pés. Depois começou a cair a pele das mãos e dos pés, caia carne e água.” (…)

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Pergunta: Como te chamas?

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Resposta: Jeder Abdelyabbar Ammar.

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P: Onde vives?

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R: Em Tal Afar (ao norte de Bagdá.

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P: Quem te fez isto?

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R: Me deteve o exército. A primeira vez, me interrogaram mas não conseguiram nada. (…) Logo me entregaram às forças (especiais) de luta (contra o terrorismo) de Tal Afar.

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P: Como se chama o chefe destas forças?

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R: Mohamed Zaki.

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P: E depois?

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R: (…) O subtenente Ali, ou tenente Ali. Foi ele quem me interrogou. Me interrogou seis vezes e deu a ordem para que me torturassem. (…) Me perguntaram se conhecia a tal ou qual pessoa.

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P: Te disseram o que devias confessar?

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R: Sim, me disseram que tinha que confessar (que era terrorista), mas não confessei nada (…). Então começaram a me torturar. (…) Me jogaram algo, não sei o que, nas mãos e nos pés. Depois começou a cair a pele das mãos e dos pés, caia carne e água.

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P: Carne e água?

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R: Não sei, não sei… as mãos… os pés…

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P: Quem foram os responsáveis da província que te visitaram?

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R: Veio o general Wazeq al Hamdani, diretor da policia de (a província de) Nínive (…) Me interrogou também (…), me fez uma serie de perguntas e se foi.

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P: Que te disse exatamente a policia de Tal Afar?

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R: Me disse que teria que confessar que era um terrorista. Mas eu não sou um terrorista…

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P: Te disseram que como eras sunita eras terrorista?

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R: “Eras terrorista”… Disseram.

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Vídeo em árabe :



Original em Iraq Solidariedad

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domingo, 22 de novembro de 2009

Gaza, campo de extermínio lento

Por Thabet El Masri
entrevistado por Sílvia Cattori (*)

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O Dr. Thabet El Masri é diretor da unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Shifa, um hospital público da faixa de Gaza. Em 12 de Outubro último concedeu uma entrevista a Silvia Cattori acerca do aumento do número de bebes nascidos com malformações. Este fenômeno deve ser relacionado com as bombas de fósforo e as munições com urânio empobrecido (depleted uranium) lançadas em Janeiro de 2009 pelo exército e a força aérea nazi-sionistas.

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Silvia Cattori: Em Junho passado, começou a ficar preocupado com o aumento do número de bebes nascidos com malformações. Estamos interessados em conhecer o resultado do estudo realizado sobre este inquietante fenômeno e queremos saber qual a sua avaliação médica. Pode dar-nos informação sobre o relatório de anomalias congênitas pré natais e pós natais constatadas passados dez meses dos ataques sobre Gaza, em termos de número de casos ocorridos e em comparação com os dados de 2008?

Thabet El Masri: Sim, pois eu segui, de forma contínua, o fenômeno do nascimento de bebes com malformação congênita. Registrei o número de bebes nascidos com malformações congênitas em Julho, em Agosto e em Setembro de 2009. Comparei estes dados com os números dos mesmos meses do ano de 2008. Eis os resultados: em Julho de 2009, houve no Hospital Shifa 15 casos desse tipo, contra 10 em 2008; em Agosto de 2009, houve 20 casos, contra 10 em 2008; em Setembro de 2009, 15 bebes nasceram malformados, contra 11 em 2008. O número médio de nascimentos no Hospital Shifa é cerca de 1100 por mês.

Silvia Cattori: Conhecido o relatório, causou muita emoção e inquietude. Imediatamente, muita gente atribuiu o aumento de malformações nos fetos abortados e nos recém-nascidos à utilização, pelo exército israelita, de obuses de fósforo branco. Será assim?

Thabet El Masri: Supomos que sim, mas não podemos confirmar que a utilização de armas químicas por Israel causou este aumento de malformações congênitas.

Silvia Cattori: Os bebes atingidos por malformações congênitas são todos originários de populações vivendo em campos de refugiados, populações particularmente submetidas a bombardeamentos israelitas? De que zonas são as mães?

Thabet El Masri: Os bebes portadores de malformações congênitas vêm de todo o lado da faixa de Gaza. Todavia, metade das mulheres que deram à luz bebes com malformações são originárias do campo de refugiados de Jabaliya.

Silvia Cattori: Na presente situação, que pode fazer para sossegar as mulheres grávidas que estão neste momento muito ansiosas?

Thabet El Masri: Efetivamente, nada. Não há nada que possamos fazer para garantir que os seus bebes serão normais. Como poderíamos nós impedir a presença de substâncias químicas que podem causar defeitos de nascença?

Silvia Cattori: Há em Gaza embriologistas capacitados para fazer testes genéticos?

Thabet El Masri: Infelizmente não estamos equipados para fazer testes genéticos para saber se as anomalias congênitas são devidas a fatores genéticos ou a substâncias químicas. No fim de contas, trata-se de um problema genético e as substâncias químicas podem muito bem ser responsáveis por estas mutações.

Silvia Cattori: Que é feito dos investigadores internacionais que em 2006 recolheram amostras para serem testadas em laboratórios europeus? Houve resultados?

Thabet El Masri: Esse é um grande problema! Se os fatores químicos são responsáveis, isso é muito difícil de provar. Como provar que são os produtos químicos que estão na origem das mutações? Como provar que os israelenses utilizaram substâncias proibidas?

Silvia Cattori: Compreendemos que, enquanto médico, o doutor esteja muito preocupado e que, na atual desesperada situação, tenha necessidade de uma ajuda internacional…

Thabet El Masri: Sim. Gostaria de sugerir algo que pudesse ajudar-nos, sem esgotar os nossos limitados recursos financeiros no domínio da pesquisa genética, que precisa de verbas avultadas. Dito de uma forma direta: seria extremamente útil convencer os israelenses a não voltarem a usar armas químicas como fizeram no Inverno passado.

Silvia Cattori: Que tipos de patologias tem observado nos bebes nascidos este Verão? Pode dar-nos exemplos de defeitos de nascença que constatou nesses bebes?

Thabet El Masri: Verificamos problemas do sistema nervoso central, hidrocefalia e anencefalia, e ainda outro tipo de malformações como cardiopatias congênitas e obstruções do tubo digestivo. Os problemas renais são muito freqüentes. As malformações visíveis são raras; os problemas são geralmente internos.

Está a ver que problemas temos pela frente! As mães ficam sem defesa, nós nem temos resposta para as suas inquietações. Elas sabem que estamos sós nesta situação. Só lhes resta rezar!

Silvia Cattori: Não tem contatos com o exterior?

Thabet El Masri: Não temos absolutamente nenhum contacto com o exterior.

Dei-lhe uma visão geral do problema principal. Como lhe disse, há uma probabilidade de que as substâncias químicas possam ser uma das causas da tendência de aumento de defeitos de nascença, pois estes aumentaram desde o assalto bélico de Dezembro e Janeiro passados. Contudo, esta conclusão é impossível de provar.

Silvia Cattori: Muito lhe agradecemos esta entrevista.

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(*) Jornalista suíça.

O original em inglês encontra-se em Silvia Cattori.net.

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Traduzido da versão francesa por Maria Rodrigues, da equipa TPG: Todos por gaza
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Publicado em Resistir


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Muros, mortos e mentiras

Jorge Cadima*

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«O adeus ao comunismo? Provocou um milhão de mortos». O título não é duma publicação comunista. É dum jornal do grande capital italiano, o Corriere della Sera (9.11.09), que noticia um estudo de professores de Oxford e Cambridge, publicado na conceituada revista médica britânica The Lancet. «Baseados nos dados da Unicef, de 1989 a 2002» os autores afirmam que «as políticas de privatização em massa nos países da União Soviética e na Europa de Leste aumentaram a mortalidade em 12,8% […] ou seja, causaram a morte prematura a um milhão de pessoas».

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«Morreu-se mais lá onde se adotaram as “terapias de choque”: na Rússia, entre 1991 e 1994, a esperança de vida diminuiu em 5 anos». Conclusões de estudos anteriores foram ainda mais graves. Como escreve o Corriere della Sera, «A agência da ONU para o desenvolvimento, a UNDP, em 1999 contabilizou em 10 milhões as pessoas desaparecidas na telúrica mudança de regime, e a própria UNICEF falou em mais de 3 milhões de vítimas». Foi para celebrar estes magníficos resultados que o estado-maior do imperialismo se reuniu em Berlim, com pompa, circunstância e transmissões televisivas infindáveis, numa comemoração de regime dos 20 anos da contra-revolução a Leste.

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O balanço da restauração do capitalismo é ainda mais grave. Mesmo sem falar no sofrimento dos vivos a Leste – o alastrar de pobreza extrema, dos sem-abrigo, da prostituição, da tóxico-dependência ou a emigração em massa para sobreviver – os efeitos das contra-revoluções de 1989-91 fizeram-se sentir em todo o planeta. As «terapias de choque» dum imperialismo triunfante e ávido de reconquistar as posições perdidas ao longo do Século XX tornaram-se uma mortífera realidade global, e tiveram em 2008 o seu corolário inevitável: a maior crise do capitalismo desde os anos 30. Uma escalada de mortíferas guerras foram ao mesmo tempo desencadeadas pelo imperialismo, liberto do contrapeso dos países socialistas. Muitas centenas de milhares de mortos (mais de 650 mil só no Iraque, segundo outro estudo publicado em 2006 na Lancet) são o fruto «da queda do Muro» no Golfo, na Iugoslávia, no Afeganistão, no Iraque, no Líbano, na Palestina, e agora no Paquistão – para não falar das agressões «menores».

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E foram acompanhadas pelo «Gulag» de prisões secretas dos EUA espalhadas por todo o mundo, no qual desaparecem milhares de pessoas raptadas e torturadas por um sistema de repressão acima de qualquer controlo. Os dirigentes do «mundo livre» que se juntaram, ufanos, em Berlim, são todos responsáveis por este banho de sangue e repressão. Podem mostrar-se de cara simpática e tratarem-se amigavelmente por Hillary, Angela, Nicolas, Bill, Tony ou «porreiro, pá»(¹). Mas das suas mãos escorre o sangue e sofrimento de milhões de pessoas em todo o planeta – de Peshawar a Guantánamo (que continua aberta), de Abu Ghraib às Honduras (que continua sob controlo dos golpistas e a indiferença da comunicação social «democrática»), das «maquiladoras» mexicanas aos campos de refugiados palestinos (que continuam – há 60 anos – à espera do seu Estado).

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Pelo «Gulag» democrático-ocidental passou Khalid Shaikh Mohammed, que vai agora a julgamento nos EUA, acusado de ser o responsável primeiro do 11 de Setembro (mas não era o Bin Laden?). Segundo o New York Times (15.11.09) «foi submetido 183 vezes à técnica de quase afogamento chamada 'waterboarding'». O jornal afirma que ele também se diz responsável «por uma série de conspirações» como «tentativas de assassinato do Presidente Bill Clinton, do Papa João Paulo II e as bombas de 1993 no World Trade Center».

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Mais um afogamento simulado e confessaria também ser responsável pelo aquecimento global e o sumiço de D.Sebastião em Alcácer-Quibir. Mas atente-se na vida do acusado: paquistanês, criado no Kuwait e diplomado por uma universidade americana viajou, após os estudos «para o Paquistão e o Afeganistão, a fim de se juntar aos combatentes mujahedines que, nessa altura, recebiam milhões de dólares da CIA para lutar contra as tropas soviéticas» (NYT, 15.11.09). Afeganistão hoje ocupado e onde «segundo responsáveis da NATO […] um terço dos polícias afegãos são toxicodependentes» (Sunday Times, 8.11.09). Admirável mundo novo que a «queda do Muro» pariu!

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* Jorge Cadima é Professor universitário e analista de política internacional

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(¹) Expressão portuguesa correspondente, mais ou menos a “ gente fina, paca” N.B.

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Publicado em O Diário

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Em defesa Cesar Battisti

CARTA ABERTA
AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR
LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
SUPREMO MAGISTRADO DA NAÇÃO BRASILEIRA
AO POVO BRASILEIRO

"Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda". (O homem em revolta - Albert Camus)
Se olharmos um pouco nosso passado a partir de um ponto de vista histórico, quantos entre nós, podem sinceramente dizer que nunca desejou afirmar a própria humanidade, de desenvolvê-la em todos os seus aspectos em uma ampla liberdade. Poucos. Pouquíssimos são os homens e mulheres de minha geração que não sonharam com um mundo diferente, mais justo. Entretanto, frequentemente, por pura curiosidade ou circunstâncias, somente alguns decidiram lançar-se na luta, sacrificando a própria vida.
Minha história pessoal é notoriamente bastante conhecida para voltar de novo sobre as relações da escolha que me levou à luta armada. Apenas sei que éramos milhares, e que alguns morreram, outros estão presos, e muito exilados.
Sabíamos que podia acabar assim. Quantos foram os exemplos de revolução que faliram e que a história já nos havia revelado? Ainda assim, recomeçamos, erramos e até perdemos. Não tudo! Os sonhos continuam!
Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo foram conquistadas graças ao sangue derramado por esses companheiros da utopia. Eu sou fruto desses anos 70, assim como muitos outros aqui no Brasil, inclusive muitos companheiros que hoje são responsáveis pelos destinos do povo brasileiro. Eu na verdade não perdi nada, porque não lutei por algo que podia levar comigo. Mas agora, detido aqui no Brasil não posso aceitar a humilhação de ser tratado de criminoso comum.
Por isso, frente à surpreendente obstinação de alguns ministros do STF que não querem ver o que era realmente a Itália dos anos 70, que me negam a intenção de meus atos; que fecharam os olhos frente à total falta de provas técnicas de minha culpabilidade referente aos quatro homicídios a mim atribuídos; não reconhecem a revelia do meu julgamento; a prescrição e quem sabe qual outro impedimento à extradição.
Além de tudo, é surpreendente e absurdo, que a Itália tenha me condenado por ativismo político e no Brasil alguns poucos teimam em me extraditar com base em envolvimento em crime comum. É um absurdo, principalmente por ter recebido do Governo Brasileiro a condição de refugiado, decisão à qual serei eternamente grato.
E frente ao fato das enormes dificuldades de ganhar essa batalha contra o poderoso governo italiano, o qual usou de todos os argumentos, ferramentas e armas, não me resta outra alternativa a não ser desde agora entrar em "GREVE DE FOME TOTAL", com o objetivo de que
me sejam concedidos os direitos estabelecidos no estatuto do refugiado e preso político. Espero com isso impedir, num último ato de desespero, esta extradição, que para mim equivale a uma pena de morte.
Sempre lutei pela vida, mas se é para morrer, eu estou pronto, mas, nunca pela mão dos meus carrascos. Aqui neste país, no Brasil, continuarei minha luta até o fim, e, embora cansado, jamais vou desistir de lutar pela verdade. A verdade que alguns insistem em não querer ver, e este é o pior dos cegos, aquele que não quer ver.
Findo esta carta, agradecendo aos companheiros que desde o início da minha luta jamais me abandonaram e da mesma forma agradeço àqueles que chegaram de última hora, mas, que têm a mesma importância daqueles que estão ao meu lado desde o princípio de tudo. A vocês os meus sinceros agradecimentos. E como última sugestão eu recomendo que vocês continuem lutando pelos seus ideais, pelas suas convicções. Vale a pena!
Espero que o legado daqueles que tombaram no front da batalha não fique em vão. Podemos até perder uma batalha, mas tenho convicção de que a vitória nesta guerra está reservada aos que lutam pela generosa causa da justiça e da liberdade.
Cesar Battisti

O SURPREENDENTE LULA

FHC, o farol, o sociólogo, entende tanto de sociologia quanto o governador de São Paulo, José Serra, entende de economia. ??.

Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; que não entende de economia, pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos.

Lula, o “analfabeto”, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos, e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade.

Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 200 dólares, e não quebrou a previdência como queria FHC.

Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o “PIG” – Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.

Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país liderança mundial de combustíveis renováveis.

Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8.

Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu, mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.

Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos), uma mulher no cargo de primeira ministra, e pode fazê-la sua sucessora.

Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC, antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir, e hoje o PAC é um amortecedor da crise.

Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre.

Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais, é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual.

Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com Bush – notada até pela imprensa americana – e agora tem a mesma empatia com Obama.

Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador, é amigo do tal John Sweeny e entra na Casa Branca com credencial de negociador, lá, nos “States”.

Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa, é ator da mudança geopolítica das Américas.

Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.

Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas, faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil.

Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel.

Lula, que não entende nada de nada, é melhor que todos os outros.

Pedro R. Lima, professor

Original em Conversa Afiada

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A falsa guerra da América no Afeganistão

por F. William Engdahl

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Um dos mais notáveis aspectos na agenda presidencial de Obama é quão pouco foi questionado nos media o motivo porque o Pentágono dos EUA está comprometido na ocupação militar do Afeganistão. Há dois motivos básicos, nenhum dos quais pode ser admitido abertamente em público.

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Por trás do enganoso debate oficial sobre quantas tropas são necessárias para "vencer" a guerra no Afeganistão, se mais 30 mil são suficientes ou se pelo menos 200 mil são necessárias, o objetivo real da presença militar estadunidense naquele país da Ásia Central é obscurecido.

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Mesmo durante a campanha presidencial de 2008 o candidato Obama argumentou que era no Afeganistão e não no Iraque que os EUA deviam travar guerra. A sua razão? Porque ele afirmava que era onde a organização Al Qaeda estava escondida e que era a ameaça "real" à segurança nacional dos EUA. Mas as razões por trás do envolvimento estadunidense no Afeganistão são muito diferentes.

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Os militares dos EUA estão no Afeganistão por duas razões. Primeiro para restaurar e controlar o maior abastecedor de ópio do mundo para os mercados da heroína e para utilizar as drogas como uma arma geopolítica contra oponentes, especialmente a Rússia. Aquele controle do mercado da droga afegão é essencial para a liquidez máfia financeira da Wall Street, corrupta e em bancarrota.

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Geopolítica do ópio afegão


De acordo até mesmo com um relatório oficial da ONU, a produção de ópio no Afeganistão ascendeu dramaticamente desde a queda do Taliban em 2001. Os dados da UNODC [United Nations Office on Drugs and Crime] mostram mais cultivo de papoula de ópio em cada um das últimas quatro estações de plantio (2004-2007) do que em qualquer ano durante o domínio Taliban. Agora é utilizada mais terra para o ópio no Afeganistão do que para o cultivo de coca na América Latina. Em 2007, 93% do opiáceos no mercado mundial tinham origem no Afeganistão. Isto não é acidente.

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Foi documentado que Washington escolheu a dedo o controverso Hamid Karzai, um senhor da guerra pashtun da tribo Popalzai, há muito ao serviço da CIA, trouxe-o de volta do exílio nos EUA e criou uma mitologia hollywoodiana em torno da "corajosa liderança do seu povo". Segundo fontes afegãs, Karzai é o "Padrinho" do Ópio no Afeganistão de hoje. Aparentemente não é por acaso que ele foi e hoje ainda é o homem preferido de Washington em Cabul. Mas mesmo com compra maciça de votos, fraudes e intimidações, os dias de Karzai como presidente podem estar a acabar.

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A segunda razão para os militares dos EUA permanecerem no Afeganistão muito depois de o mundo ter até esquecido quem é o misterioso Osama bin Laden e a sua alegada organização terrorista Al Qaeda, ou mesmo se eles existem, é como pretexto para os EUA construírem uma força de ataque com uma série de bases permanentes por todo o Afeganistão. O objetivo destas bases não é erradicar quaisquer células da Al Qaeda que possam ter sobrevivido nas cavernas de Tora Bora, ou erradicar um mítico "Taliban" o qual nesta altura, segundo relatos de testemunhas oculares, é constituído esmagadoramente de afegãos locais comuns a combaterem mais uma vez para livrar a sua terra de exércitos de ocupação, como o fizeram na década de 1980 contra os russos.

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O objetivo das bases dos EUA no Afeganistão é visar e ser capaz de atacar os dois países que hoje representam a única ameaça combinada no mundo de hoje a um império global americano, à Dominação de Espectro Amplo (Full Spectrum Dominance) como a chama o Pentágono.

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O "Mandato do Céu" perdido


O problema para as elites do poder em torno da Wall Street e em Washington é o fato de que agora estão na mais profunda crise financeira da sua história. Esta crise é clara para o mundo todo e o mundo está a atuar em busca da auto-sobrevivência. As elites dos EUA perderam o que na história imperial chinesa é conhecido como o "Mandato do Céu". Tal mandato é dado ao governante ou à elite dirigente desde que governem o seu povo com justiça e de modo razoável. Quando governam tiranicamente e como déspotas, oprimindo e abusando do seu povo, eles perdem aquele Mandato do Céu.

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Se as poderosas elites privadas e ricas que têm controlado o essencial da política financeira e externa dos EUA durante a maior parte do século passado ou mais tinham um "mandato do céu", elas claramente perderam-no. Os desenvolvimentos internos rumo à criação de um estado policial abusivo com privação de direitos constitucionais dos seus cidadãos, exercício arbitrário do poder por responsáveis não eleitos tais como os secretários do Tesouro Henry Paulson e agora Tim Geithner, a roubarem somas de milhões de milhões de dólares dos contribuintes sem o seu consentimento a fim de salvar da bancarrota os maiores bancos da Wall Street, bancos considerados "Demasiado grandes para falirem", demonstram ao mundo que eles perderam o mandato.

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Nesta situação, as elites do poder estadunidense estão cada vez mais desesperadas por manter o controle de um império global parasita, chamado enganosamente pela máquina dos seus media, como "globalização". Para manter o domínio é essencial que eles sejam capazes de romper qualquer cooperação que venha a emergir entre as duas maiores potências da Eurásia no âmbito econômico, energético ou militar, a qual poderia apresentar um desafio aos EUA como superpotência única — a China em combinação com a Rússia.

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Cada potência euro-asiática traz à mesa contribuições essenciais. A China tem a economia mais robusta do mundo, uma enorme força de trabalho jovem e dinâmica, uma classe média educada. A Rússia, cuja economia não está recuperada do fim destrutivo da era soviética e do saqueio primitivo durante a era Yeltsin, ainda possui ativos essenciais para a combinação. A força de ataque nuclear russa e o seu poder militar representam a única ameaça no mundo de hoje à dominação militar dos EUA, ainda que em grande medida seja um resíduo da Guerra Fria. As elites militares russas nunca abandonaram aquele potencial.

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A Rússia também possui o maior tesouro do mundo em gás natural e vastas reservas de petróleo de que a China necessita urgentemente. As duas potências estão a convergir cada vez mais através de uma nova organização que criaram em 2001, conhecida como a Organização de Cooperação de (SCO). Esta inclui também os maiores estados da Ásia Central: Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão.

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O objetivo da alegada guerra estadunidense contra o Taliban e a Al Qaeda é na realidade colocar a sua força militar de ataque diretamente no meio do espaço geográfico desta emergente SCO na Ásia Central. O Irã é um desvio de atenção. O objetivo ou alvo principal é a Rússia e a China.

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Oficialmente, é claro, Washington afirma que construiu a sua presença militar no interior do Afeganistão a partir de 2002 a fim de proteger uma "frágil" democracia afegã. É um argumento curioso dada a realidade da presença militar estadunidense ali.

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Mais nove bases


Em Dezembro de 2004, durante uma vista a Cabul, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld finalizou planos para construir nove bases no Afeganistão nas províncias de Helmand, Herat, Nimrouz, Balkh, Khost e Paktia. As novas somam-se às três principais bases militares dos EUA já instaladas na seqüência da sua ocupação do Afeganistão no Inverno de 2001-2002, ostensivamente para isolar e eliminar a ameaça de terror de Osama bin Laden.

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O Pentágono construiu as suas primeiras três bases no Aeródromo de Bagram a Norte de Cabul, o principal centro logístico dos EUA; no Aeródromo de Kandahar, no Sul do Afeganistão; e no Aeródromo de Shindand na província ocidental de Herat. Shindand, a maior base dos EUA no Afeganistão, foi construído a meros 100 quilômetros da fronteira do Irão e a uma distância de ataque à Rússia e também à China.

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Historicamente o Afeganistão tem sido a área central para o Grande Jogo russo-britânico, a luta pelo controle da Ásia Central durante os séculos XIX e princípio do XX. A estratégia britânica então era impedir a todo o custo que a Rússia controlasse o Afeganistão e, portanto, ameaçasse a jóia da coroa imperial britânica, a Índia.

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O Afeganistão encarado de modo semelhante pelos planejadores do Pentágono, como altamente estratégico. É uma plataforma a partir da qual o poder militar estadunidense pode ria ameaçar diretamente a Rússia e a China, bem como o Irão e outras terras ricas em petróleo do Médio Oriente. Pouco mudou geopoliticamente ao longo de mais de um século de guerras.

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O Afeganistão é uma localização extremamente vital, abarcando a Ásia do Sul, a Ásia Central e o Médio Oriente. O país também está situado ao longo de um proposto traçado de oleoduto dos campos petrolíferos do Mar Cáspio para o Oceano Índico, onde a companhia de petróleo americana Unocal, juntamente com a Enron e a Halliburton de Cheney, tem estado em negociações para obter o direito exclusivo de trazer gás natural do Turquemenistão através do Afeganistão e do Paquistão para a enorme central termoelétrica a gás natural da Enron em Dabhol, próximo de Mumbai. Karzai, antes de se tornar o presidente fantoche dos EUA, foi um lobbista da Unocal.

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A ameaça da Al Qaeda não existe


A venda quanto a toda simulação quanto à finalidade real no Afeganistão torna-se clara com um olhar mais atento à alegada ameaça "Al Qaeda" no Afeganistão. Segundo o escritor Erik Margolis, antes dos ataques do 11 de Setembro de 2001, a inteligência dos EUA estava a dar ajuda e apoio tanto ao Taliban como à Al Qaeda. Margolis afirma que "A CIA estava a planear utilizar a Al Qaeda de Osama bin Laden para incitar uighurs muçulmanos contra o governo chines, e os Taliban contra aliados da Rússia na Ásia Central.

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Os EUA evidentemente encontraram outros meios de levantar uighurs muçulmanos contra Pequim em Julho último através do seu apoio ao Congresso Mundial Uighur. Mas a "ameaça" Al Qaeda permanece a base da justificação de Obama para a sua escalada guerreira no Afeganistão.

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Agora, contudo, o Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Obama, o antigo general dos Fuzileiros Navais James Jones, fez uma declaração, a qual foi convenientemente enterrada pelos media amigos dos EUA, acerca da importância estimada do perigo atual da Al Qaeda no Afeganistão. Jones disse ao Congresso que "A presença da al Qaeda está muito diminuída. A estimativa máxima é de menos de 100 operacionais nos países, sem bases, sem capacidade para lançar ataques sobre nós ou nossos aliados".

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Isto significa que a Al Qaeda, para todos os propósitos práticos, não existe no Afeganistão. Oh...

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Mesmo no vizinho Paquistão, os remanescentes da Al Qaeda mal podem ser encontrados. O Wall Street Journal relata: "Caçados por drones [aviões sem piloto] dos EUA, aflitos por problemas de dinheiro e descobrindo ser mais difícil atrair jovens árabes para as negras montanhas do Paquistão, a al Qaeda está a ver o seu papel reduzir-se ali e no Afeganistão, segundo relatórios de inteligência e responsáveis do Paquistão e dos EUA. Para jovens árabes que são os recrutas primários da al Qaeda, "não é romântico estar no frio, com fome e escondido", disse um responsável superior dos EUA na Ásia do Sul.

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Se levarmos a declaração à sua conseqüência lógica devemos concluir então que a razão para soldados alemães estarem a morrer juntamente com outros jovens da NATO nas montanhas do Afeganistão nada tem a ver com "vencer uma guerra contra o terrorismo". Convenientemente a maior parte dos media prefere esquecer o fato de que a Al Qaeda, na medida em que alguma vez existiu, foi uma criação da CIA na década de 1980, a qual recrutou e treinou radicais muçulmanos como parte de uma estratégia desenvolvida pelo chefe da CIA de Reagan, Bill Casey, e outros a fim de criar "um novo Vietname" para a União Soviética a qual levaria a uma humilhante derrota do Exército Vermelho [1] e ao colapso final da União Soviética.

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Agora o general Jones do Conselho de Segurança Nacional dos EUA admite que no essencial não há mais qualquer Al Qaeda no Afeganistão. Talvez seja tempo para um debate mais honesto dos nossos líderes políticos acerca do verdadeiro propósito de enviar mais jovens para a morte a fim de proteger as colheitas de ópio do Afeganistão.

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Original em Voltaire

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