Além do Cidadão Kane

sábado, 23 de julho de 2011

Pródromos

Marcus Dutra


Os meios de comunicação ocidentais, em mãos privadas, costumam silenciar sobre muitos temas e muitas notícias quando estas não os convêm. O Brasil não é a exceção, inclusive aqui, essa classe de meios - que falam em português, mas pensam em inglês - receberam o ilustrativo nome de Partido da Imprensa Golpista, e como pensam em inglês, mais calhado que o próprio nome é sua sigla: PIG.

Quando o tema é Cuba o silencio obrigatório é intercalado com ataques e notícias tendenciosas, distorcidas, carregadas de antipatia e rancor, falseando e distorcendo a imagem do país.

Tudo em uma desesperada tentativa de evitar o “perigo” que representa o exemplo cubano e abafar realidades inegáveis. Dentre muitas delas, os avanços da ilha na área da medicina, biotecnologia, em seu sistema de saúde, e no seu modelo econômico e social que permitiram esses avanços e muitos outros mais.

Os indicadores sociais cubanos são plausíveis nos mais diversos campos. Na educação, por exemplo, foi o primeiro país do continente a erradicar o analfabetismo, e isso há mais de 40 anos e, 90% deles têm o ensino médio completo. Qualquer cubano pode cursar desde uma creche até graduar-se em uma universidade sem por isso ter que desembolsar nenhum centavo por inscrição, mensalidade, uniforme, material escolar ou refeitório. Tem, segundo a Organização das Nações Unidas, os melhores estudantes de nível primário e secundário em idiomas e, em matemáticas com notas muito superiores aos países do chamado primeiro mundo.

Todas as pessoas com problemas psíquicos ou físicos também têm asseguradas educação em escolas especializadas.

Outros números, em múltiplas áreas, também impressionam: 88% dos cubanos não pagam aluguel, são donos de suas casa. É o país de terceiro mundo que mais consome calorias diárias por habitantes (¹), a passagem do seu recém reestruturado transporte público é das mais baratas do planeta, centenas de medalhas de ouro, prata e bronze colocam Cuba entre as potências mundiais do esporte, diversos avanços nas áreas da cultura, ciência, arte, economia, literatura e entre tantos outros, os da área da saúde, os que mais nos interessam por agora. Saúde que como a educação e outras garantias na ilha são mundialmente reconhecidas e enaltecidas pela sua qualidade, seu acesso universal e sua gratuidade, desde uma simples placa de raios-X, uma tomografia, uma ressonância magnética, um exame de sangue, consultas com especialistas de qualquer área da medicina, ingresso em qualquer hospital, até mesmo um transplante de coração, rins ou fígado, são garantias irrevocáveis alcançadas pelos cubanos.

A constância da Revolução, suas lutas, suas idéias, suas prioridades, seus sentimentos e comprometimento, sua responsabilidade, sua fidelidade aos despossuídos fizeram de Cuba um país diferente.

Tão diferente que talvez seja o único país do mundo que possa vangloriar-se de que das mais de 200 milhões de crianças que diariamente dormem nas ruas pelo mundo nenhuma delas seja cubana; Impressiona a qualquer um saber, por exemplo, que em 1959 quando advém o triunfo revolucionário uma das primeiras medidas tomadas foi a redução dos preços de todos os medicamentos pela metade do que se cobrava, e hoje mais de meio século depois os valores se mantém inalteráveis.

Porém as façanhas alcançadas por Cuba e invejáveis por qualquer pessoa no mundo, com exceção dos antropófobos de plantão, não foram impetradas em lágrimas, mas sim conquistadas lutando com muito sacrifício. O país não deixou de ser agredido em nenhum momento desde que optou pelo processo de mudança social, e somado ao bloqueio econômico teve que suportar as mais irracionais hostilidades por parte do imperialismo norte americano, desde invasões mercenárias ao seu território, planos de sabotagem, guerra biológica, política e econômica; roubo de cérebros, etc.

Um dos atos mais covardes promovido pelo império do norte ocorreu justamente nos primeiros meses do governo revolucionário. Cuba, que então, contava com apenas seis mil médicos, sofreu um duro golpe: da noite para o dia viu a metade deles partirem em direção aos Estados Unidos, seduzidos por montes de dinheiro, facilidades e de promessas.

Em 1959, com o triunfo revolucionário a Universidade de Havana pôde reabrir suas portas (haviam sido fechadas pelo ditador Batista em 1956), reabriu também a sua faculdade de medicina, que era por aquela época a única do país, e dos 161 professores de medicina somente 23 voltaram a ensinar. (²)

Com isso podemos ter uma idéia das dificuldades que o país enfrentou para reconstituir-se.

Porém, frente a todas as agressões, campanhas de ódio e de mentiras perpetradas contra a ilha uma maneira de viver e de pensar diametralmente oposta foi sendo forjada. Um dos princípios ético-vocacionais que se consolidaram com a revolução cubana foi o internacionalismo, façanha tão grande, a nosso ver, quanto seus próprios índices sociais.

Mais de meio milhão de cubanos já participaram em algum tipo de ajuda internacionalista, como alfabetizadores, treinadores, maestros, laboratoristas, trabalhadores sociais, técnicos, dentistas, enfermeiros, médicos e inclusive como combatentes na luta contra a apartheid.

A ajuda internacionalista na área da saúde surge logo nos primeiros momentos da revolução cubana e, em meio às dificuldades e ao abandono generalizado no começo da gesta revolucionaria que havia deixado um impressionante déficit de médicos, ainda assim o país destacou uma brigada de saúde que rumou ao Chile para atender a vítimas de um forte terremoto que sacudiu aquele país e, dois anos mais tarde, sem ainda sequer haver formado a primeira turma de graduados pós-triunfo revolucionário, partia em direção à Argélia no continente africano, outra brigada de médicos cubanos que durante quatorze meses prestaria serviços para aquele sofrido povo que acabava de liberar-se do neo-colonialismo Francês;

Desde então, Cuba, investindo cuidadosamente na saúde recuperou-se do revés e transformou-se no país com maior número de médicos por habitantes do mundo, quase o dobro dos países que o seguem na lista, além disso, o internacionalismo, princípio que se consolidou com a revolução e se fortaleceu com o tempo, impressiona pelo magno numero de cubanos mobilizados, assim como pela enorme quantidade de países que se beneficiaram, e se beneficiam, dessa desinteressada ajuda, são mais de cem nações ao redor do planeta, sobretudo países pobres, e sempre nos mais recônditos lugares, em comunidades apartadas onde muitas vezes foram inclusive os primeiros médicos que ditas comunidades viram.

Hoje em dia é possível encontrar médicos cubanos realizando serviços de saúde em qualquer um dos continentes do planeta terra, e o número de pacientes atendidos ao redor do mundo já ultrapassa os 170 milhões, só nos últimos dez anos mais de dois milhões de vidas foram salvas principalmente, na América Latina, África e Ásia (³). e por mais que os meios de comunicações privados tratem de esconder, os médicos cubanos também estão aqui, no nosso Brasil, trabalhando no interior do Amazonas, arriscando suas vidas, combatendo a malária e outras séries de doenças transmissíveis nas comunidades mais afastadas onde pouquíssimos são os médicos brasileiros que se atrevem a chegar.

Quando ocorrem catástrofes naturais em algum país os médicos cubanos partem em silêncio para ajudar a salvar centenas de milhares de vidas. Quando o Tsunami praticamente destruiu a Indonésia e o Sri Lanka deixando números incalculáveis de vítimas fatais, lá estavam eles há milhares de quilômetros, longe de suas casas e famílias, trabalhando exemplar e incansavelmente.

Frente a terremotos, furacões, chuvas intensas, vulcões, epidemias ou tsunamis em qualquer longínquo rincão do mundo é possível encontrar as brigadas de médicos cubanos.

E também é necessário dizer: com o custo do transporte e da manutenção dos médicos, medicinas e instrumentos que se utilizam todos bancados por Cuba durante sua estadia.

Hoje, quase cinco décadas depois do roubo de cérebros promovido pelos EUA, o número de três mil médicos que havia sobrado passa a ser um gracejo frente a enorme capacidade recuperativa da revolução cubana de formar novos médicos e nesse curto período de tempo graduaram mais de 83 mil novos.

Se Cuba pode brindar auxílio médico como nenhum outro país é por que a revolução abriu as portas para a saúde, porém, mais ainda, por que transformou e desenvolveu uma consciência e uma vocação humana sem precedentes, baseados nos valores mais puros e desinteressados e que são cada vez maiores e mais audaciosos.

E cada vez maiores e mais audaciosos são também os projetos internacionalistas e, paradoxalmente mais ignorados pelos grandes donos dos meios de comunicação, atualmente Cuba e Venezuela desenvolvem conjuntamente um projeto chamado “Missão Milagre” (4) que tem como objetivo atender e operar gratuitamente mais de seis milhões de latino-americanos que haviam perdido ou progressivamente perdiam a visão vítimas de cataratas. Em uma das variantes desse programa, os dois países bancam passagem de ida até Havana, exames médicos necessários, cirurgia, hospedagem, alimentação e gastos durante a estadia, assim como a passagem de volta até o país de origem, tudo junto com um acompanhante escolhido pelo paciente.

Esse comprometimento com a saúde do seu povo se transformou no comprometimento com a saúde de todos os povos do mundo pelo fato de a que a revolução colocou na prática a idéia de Martí que afirma: “pátria é humanidade”, e que é a melhor definição possível para o internacionalismo, o interesse em ajudar sem nada em troca, o comprometimento com os pobres e preteridos do mundo, princípios da revolução cubana que hoje são fatos silenciados pela maioria dos meios de comunicações privados, mas, ao mesmo tempo, uma das provas mais cabais de que um mundo melhor, mais justo e mais humano é possível.

(¹) http://www.ibge.gov.br/paisesat/

(²)http://monthlyreview.org/090112brouwer.php

(3) http://www.granma.cu/portugues/2008/noviembre/mar4/saude.html

(4) http://www.kaosenlared.net/noticia/operacion-milagro-solidaridad-censurada

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