Além do Cidadão Kane

sábado, 12 de dezembro de 2009

Arruda reprime manifestação contra rio de propinas no DF

Três mil estudantes não se amedrontaram com bombas e cassetetes e mandaram seu recado

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O governador de Brasília, José Roberto Arruda (DEM), mandou a polícia reprimir com uma violência inaudita a manifestação de estudantes organizada na quarta-feira, em frente ao Palácio do Buriti, contra os escândalos de corrupção nos quais ele é o cabeça. Cerca de 3.000 estudantes foram agredidos por 400 policiais e pela cavalaria da Polícia Militar. A selvageria ordenada por Arruda feriu oito pessoas, entre elas uma menina de 12 anos, moradora de Valparaíso, que acompanhava a irmã no protesto. Estava na calçada, em frente ao tribunal, e foi atingida nas pernas por cassetetes.

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De acordo com os manifestantes, o movimento transcorria pacificamente em frente ao Palácio e recebia o apoio dos motoristas que trafegavam pelo local, quando a polícia iniciou as agressões. “Apesar de todos os carros que estavam parados estarem nos apoiando, a polícia quis repreender os manifestantes. Começou uma grande confusão e daí se expandiu”, relata Levy Brandão, integrante da comissão “Fora Arruda e sua máfia”.

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Diversas faixas pedindo a saída do governador foram estendidas pelos manifestantes. Uma delas tinha os dizeres “Arruda, seu lugar é na Papuda”. Em referência à penitenciária da capital. O governador foi flagrado em gravações feitas por um de seus secretários, recebendo um pacote de R$ 50 mil diretamente das mãos do seu funcionário. A Operação “Caixa de Pandora” da Polícia Federal obteve e divulgou fartas imagens do governador e de seus aliados recebendo pacotes e mais pacotes de dinheiro, indignando a sociedade. Em nota, alegou que o dinheiro “era para comprar panetone para o povo carente”.

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O secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, foi o funcionário que fez o acordo de delação premiada com a PF e gravou os filmes. Calcula-se que o esquema tenha movimentado ao todo mais de R$ 500 milhões. Um dos aliados de Arruda, o presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente (DEM), chegou a ser filmado guardando dinheiro em todos os bolsos e até em suas meias.

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Foram onze os pedidos de impeachment do governador e de seu vice, Paulo Otávio (DEM), também citado nos depoimentos como beneficiário do esquema montado dentro do governo do Distrito Federal. A divisão era 40% para o governador, 30% para o vice e o restante para os demais. Contudo, dos onze pedidos a Câmara Legislativa do DF aceitou três que agora passam a tramitar na Casa. Os pedidos de impeachment de Paulo Octavio foram rejeitados, porque a Procuradoria da Câmara entendeu que o vice só poderia ser alvo de afastamento se estivesse no exercício do cargo, segundo lei federal.

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O local escolhido para o protesto contra Arruda foi simbólico porque a administração de Brasília vem funcionando temporariamente na cidade satélite de Taguatinga. O ato teve início com pronunciamentos de políticos e representantes das entidades que compõem o “Movimento Contra a Corrupção”. “Só conseguiremos tirar o governo local se houver mobilização popular. É preciso conscientização para mudar todo esse esquema sujo”, afirmou a presidente da Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT-DF), Rejane Pitanga. Fizeram parte ainda do protesto, a UNE, a UBEs, centrais sindicais e outras entidades populares.

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Montados em cavalos e atirando com bombas de gás lacrimogenio e balas de borracha, os policiais deram o início à agressão para dispersar os manifestantes. Com cassetetes, eles foram ao encontro dos estudantes. Mas a repressão não foi o bastante para coibir a manifestação. Os estudantes se reuniram em outros lugares e se espalharam por todo o gramado até a Rodoviária de Brasília.

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Cenas chocantes mostraram um estudante deitado no meio da pista sendo pisoteado pelos cavalos. Outro manifestante, arrastado para o gramado, sofreu várias agressões. Os policiais usaram gás de pimenta para afastar os jornalistas que filmavam a ação.

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Com frases como “Arruda na papuda e PO (Paulo Otávio) no xilindró” e outras, os ativistas caminharam entre os carros. Muitos motoristas manifestaram apoio, buzinando e mostrando panfletos, ou adesivos, com os dizeres “Fora Arruda”. A polícia bloqueou a passagem dos carros para poder agredir os manifestantes. Foi o momento que eles atiraram com as armas de borracha e lançaram bombas de gás.

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A violência de Arruda foi repudiada por vários setores da sociedade. O presidente em exercício da Câmara Legislativa do DF, Cabo Patrício (PT), disse que a pressão pelo afastamento dos envolvidos vai continuar. O Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (UnB) protestou e convocou novos protestos. Durante o ato foram colhidas assinaturas pedindo a abertura de impeachment contra o governador. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que também já havia entrado com processo contra a dupla Arruda/Otávio também protestou.

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Entre as denúncias, Durval Barbosa revelou à Polícia Federal que recebeu um pacote de dinheiro enviado por Sedex pela empresa de informática CTIS “para chegar ao governador José Roberto Arruda (DEM) e demais pessoas”. Durval fez chegar o pacote à Polícia Federal que iniciou as investigações. A CTIS Tecnologia S/A é uma empresa que tem em sua direção o tucano Fernando Gusmão Wellisch, que foi diretor de tecnologia do Banco do Brasil na administração Fernando Henrique Cardoso e dirigiu a Secretaria de Coordenação e Controle de Empresas Estatais, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, no período em que Serra foi ministro da pasta. A empresa tem um contrato para alugar 100 mil microcomputadores ao governo de José Serra (PSDB), em São Paulo, no valor de R$ 400 milhões.

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Arruda, o preferido de José Serra para compor a vice em sua chapa para as eleições de 2010, depois do flagrante, responde agora a processo de expulsão do partido. O caminho da violência não vai impedir as punições ao governador demista.

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SÉRGIO CRUZ

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Original em Hora do Povo

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