Além do Cidadão Kane
sábado, 15 de maio de 2010
Grécia: os verdadeiros militantes da Europa
Traduzido por J.A. Pina/Rosalvo Maciel
Os estivadores do Pireo, os camponeses da Tesalia, todo o mundo do trabalho desde o Peloponeso a Macedônia não têm que pagar a fatura da bancarrota à qual os dirigentes da Nova Democracia (direita) conduziram o país, agora respaldados pelos socialistas do Pasok.
Eles não têm que pagar os pratos quebrados de uma construção européia na qual a lei de mercado e da competição se sobrepõe à soberania popular. Não nos enganemos, para a maioria da população, o futuro da Europa se joga atualmente em Atenas. Mais exatamente, a possibilidade de preservar as oportunidades de construir uma verdadeira união solidaria de povos é o debate concreto, duro que está no centro da queda de braço que antepõe os principais dirigentes da UE com a Grécia popular que resiste.
Quais são os verdadeiros militantes da idéia européia? Os dirigentes franceses, que se preparam para apresentar ante a Assembléia Nacional um plano de emergência que consiste em um empréstimo de 3.900 bilhões de euros a 5%, muito superior às taxas atualmente em vigor? “nenhuma condescendência com a Grécia” declarou com desdém Christine Lagarde, orgulhosa de anunciar o que os investimentos significarão, avaliando a redução de 150 milhões. Ângela Merkel e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schaüle que não têm palavras suficientemente duras contra os gregos, acusados de não cortar os gastos sociais com suficiente energia?
Após haver reforçado os bancos concedendo créditos a 1% oferecidos pelo Banco Central Europeu, os Estados mais ricos da União vão “conceder” a Atenas empréstimos de agiotas, obrigando o governo a reduções orçamentárias que poderiam ser as de um Estado em guerra. Reduções de salários e de pensões, compressão nos setores sociais, sacrifícios mortais no ensino e na saúde… o inferno liberal abre seus primeiros círculos. Hoje o povo grego está no meio da tormenta, O que acontecerá amanhã em Portugal, Espanha e nos países da Europa Central e Oriental?
Os verdadeiros militantes da idéia européia são os que advertiram contra um tratado europeu que faz do liberalismo o início e o fim, o único horizonte da política da UE: A história não terá que esperar muito tempo para dar razão aos que desde a esquerda têm combatido o projeto de constituição européia, e ao tratado de Lisboa. Os denunciavam, precisamente porque não permitem a solidariedade entre os Estados, fazem do Banco Central Europeu o guardião de um templo inexpugnável da ortodoxia monetária em lugar de ser um instrumento para uma política de crédito a serviço do desenvolvimento e do progresso social.
Prognosticaram-nos a crise na Europa se o tratado de Lisboa não fosse ratificado. Seus promotores desapreciaram os votos dos franceses, dos holandeses, dos irlandeses, prontamente rechaçaram que outros povos, entre eles o povo grego, se pronunciassem livremente sobre seu futuro. Hoje, temos o tratado de Lisboa e a Europa vive sua mais grave crise.
Os verdadeiros militantes da Europa são aqueles que pensam ainda que outra Europa é possível, na condição de ter a coragem de mudar suas regras. Mas no momento, é urgente, que as consciências despertem. Vítima dos bancos, o povo grego deve beneficiar-se, ao menos, das mesmas condições de crédito que as que o Banco Central Europeu e os Estados têm concedido ao mundo das finanças. É só a mais elementar justiça.
Publicado em L'Humanité
Postado por O Velho Comunista às 14:46
Marcadores: capitalismo, Crise Econômica, desigualdades internacionais, Grécia, União Européia
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