Além do Cidadão Kane

terça-feira, 25 de maio de 2010

Nas ruas de Atenas, continua a ira

Traduzido por J.A. Pina/Rosalvo Maciel

Os gregos continuam mostrando sua oposição ao plano de austeridade apesar das divisões da esquerda. As manifestações e comício se sucedem. Os chamamentos à unidade se multiplicam.

Junto à Avenida Stadiou, em Atenas, três aposentadas aplaudem, levantam o punho e saúdam a seus camaradas na onda de manifestantes que flui ainda, neste sábado, pelas ruas da capital grega. Ainda que não possam “desfilar devido a problemas nos joelhos”, seus rostos resplandecem ante a grandiosidade do movimento organizado pelo KKE, o Partido Comunista grego. As três Helenas permaneceram mais de uma hora e meia de pé, apoiando o cortejo desde o inicio até os últimos participantes vindos de quase todo o país. Elas se manifestam “contra a austeridade”. Kristina, nascida em 1945, é membro do KKE. “Tenho 575 euros de pensão por viuvez. Eles já me tiraram os 13º e 14º mês de pensão.” “Eles”, são o governo, a União Europeia e o FMI que impõe um plano drástico aos gregos, no qual as reduções de gastos públicos vão de mãos dadas com uma elevação do IVA e com reduções colossais nos salários e pensões. Com uma pitada irônica, Kristina prossegue : “Eles reduzem nossa parte para que os ricos não se empobreçam.” Sua amiga, Hindi Georgia, nascida em 1931, considera que recebe uma “boa pensão, 1.000 euros”. Ela sofrerá não só a suspensão de dois meses de salário, mas também a redução de sua pensão.

O movimento de oposição ao plano de austeridade imposto à Grécia continua. Em 12 de maio, convocados pelos sindicatos, vários milhares de manifestantes expressaram sua ira na capital e outras cidades saindo à rua. Dia 14, outros milhares de cidadãos assistiram a um comício organizado por Siriza (coalizão de esquerda radical cujo principal partido é o Synapismos). Jean Pierre Brard falou ali em nome do Grupo Comunista da Assembléia Nacional francesa ; o deputado europeu Joe Higgins representava os progressistas irlandeses ; a deputada europeia Marisa Matias se expressava em nome do Bloco de Esquerdas português. “O ataque especulativo a todos os países da zona do euro é muito grave, especialmente nos países mais fracos. Estes países estão, de fato, afogados por uma economia que não está destinada ao bem estar dos trabalhadores, dos cidadão, mas que joga a favor dos capitalistas”, expôs Matias. Os números lhe dão razão. Na Grécia, o desemprego não para de aumentar, até alcançar 12,1% em Fevereiro de 2010 (9,1% um ano antes, 10,2% em Dezembro de 2009). A inflação é galopante (+4,2% entre Fevereiro e Março).

A respeito dos bancos, apesar do “plano de apoio” UE-FMI, eles continuam seus ataques. Em seu discurso, Alexis Tsipras, no comando do Sinapismos, chama a fazer frente. Manolis Glezos, figura da resistência ao nazismo e à ditadura dos coronéis, denunciou o governo, em mãos do PASOK (social democrata), à UE e o FMI que “obrigam ao povo a pagar o que deveria pagar o capital”. Lançou uma chamada “à unidade para fazer frente à situação atual”. Fazer frente: é o mais urgente antes que as leis que destruirão a sociedade sejam aprovadas por decreto ou durante o recesso parlamentar.

Publicado em L'Humanité
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Um comentário:

Guina disse...

É o capitalismo ruindo e deixando o povão (como sempre) na pior.

Saudações,
GUINA publicou um post sobre.. Biografia de José Serra

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