Além do Cidadão Kane
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Reflexões de Fidel
O império e o direito à vida dos seres humanos
(Extraído do CubaDebate)
QUE bárbaros! — exclamei quando li até a última linha as revelações do famoso jornalista Seymour Hersh, publicadas em Democracy Now e consideradas como uma das 25 notícias mais censuradas nos Estados Unidos.
O artigo intitula-se "Os crimes de guerra do general dos Estados Unidos Stanley McChrystal" e foi incluído no Projeto Censurado, elaborado por uma universidade da Califórnia, que inclui os parágrafos essenciais daquelas revelações.
"O tenente-general Stanley McChrystal, nomeado comandante responsável pela guerra no Afeganistão por Obama, em maio de 2009, foi anteriormente chefe do Comando Conjunto de Operações Especiais (JSOC), dependente de Dick Cheney [o vice-presidente de George W. Bush]. A maior parte da carreira militar de 33 anos do general McChrystal se mantém classificada [ou seja, secreta], incluindo seus serviços entre 2003 e 2008, como comandante do JSOC, unidade de elite tão clandestina, que por anos o Pentágono recusou-se a reconhecer sua existência. O JSOC é uma unidade especial de ‘operações negras’ [assassinatos] da Navy Seals (Forças Especiais da Marina de Guerra) e da Delta Force [Força Delta, soldados secretos do exército para operações especiais, que formalmente se chama ‘Destacamento-Delta Operacional de Forças Especiais (SFOD-D), enquanto o Pentágono lhe dá o nome de Grupo de Aplicações de Combate, CAG]".
"O vencedor do prêmio Pulitzer de jornalismo, Seymour Hersh, revelou que a administração Bush montou um esquema executivo de assassinatos que dependia diretamente do vice-presidente Dick Cheney e que o Congresso nunca sentiu nenhuma inquietude por indagar. Equipes do JSOC viajavam a diversos países, sem sequer falar com o embaixador nem com o chefe da Estação CIA, com uma lista de pessoas que procuravam, encontravam, matavam, retornando depois. Havia uma lista vigente de pessoas marcada como alvos, elaborada pelo gabinete do vice-presidente Cheney. [...] Houve assassinatos em dezenas de países do Oriente Médio e na América Latina", afirmou Hersh. ‘Existe um decreto executivo, assinado pelo presidente Ford nos anos 70, proibindo tais ações. Isto não só contraria: é ilegal, é imoral, é contraproducente’, acrescentou.
"O JSOC também esteve envolvido em crimes de guerra, incluindo tortura de presos em locais secretos ‘fantasmas’ (ghost) de detenção. O campo Nama no Iraque, operado pelo JSOC sob McChrystal, foi uma de tais instalações ‘fantasmas’, ocultada ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) e acusada de alguns dos piores atos de tortura".
Oficialmente instalaram o major-general em Fort Braga, Carolina do Norte, mas era "um visitante frequente do Campo Nama e de outras bases das forças especiais no Iraque e no Afeganistão, onde tiveram assento as forças sob seu comando".
A seguir, se aborda um ponto de especial interesse, quando tais fatos entram em conflito com funcionários que, no cumprimento de suas funções, eram obrigados a cometer fatos que os enfrentavam abertamente às leis e implicavam graves delitos.
"Um interrogador do Campo Nama descreveu que encerravam os presos em contêineres de navios por 24 horas, em meio do calor extremo, depois eram expostos ao frio extremo encharcando-os periodicamente com água gelada, eram bombardeados com luzes brilhantes e música ruidosa, eram privados do sono e levavam severas surras".
De imediato, são abordadas as flagrantes violações de princípios internacionais e convênios assinados pelos Estados Unidos. Os leitores cubanos lembrarão a história narrada nos dois textos em que relatei nossas relações com a Cruz Vermelha Internacional, à qual devolvemos o alto número de prisioneiros do exército inimigo que caíram em nossas mãos, durante a defesa da Serra Maestra e a contra-ofensiva estratégica posterior contra o exército de Cuba, treinado e abastecido pelos Estados Unidos. Jamais um prisioneiro foi maltratado e nenhum dos feridos deixou de ser atendido logo. Essa mesma instituição, com sede na Suíça, poderia dar fé daqueles feitos.
"O Comitê Internacional da Cruz Vermelha é o corpo encarregado, pelo Direito Internacional, de supervisionar o cumprimento dos Convênios de Genebra e, portanto, tem direito a examinar todas as instalações onde se mantenham os prisioneiros de qualquer país em guerra ou sob ocupação militar".
"Na explicação do por que nenhum outro meio de imprensa tinha coberto esta história, Hersh expressou: ‘Meus colegas na imprensa credenciada com frequência não a acompanham, não porque não queiram, mas porque não sabem a quem chamar. Se estou escrevendo algo sobre o Comando Conjunto de Operações Especiais, que aparentemente é uma unidade classificada, como vão descobri-lo? O governo lhes dirá que tudo o que escrevo é errado ou que isso não podem comentá-lo. É fácil ficar desempregado por essas histórias. Penso que a relação com o JSOC está mudando sob Obama. Agora há mais controle’".
"... a decisão da administração Obama de designar o general McChrystal como novo comandante responsável pela guerra no Afeganistão e a prolongação da jurisdição militar para os detentos dos EUA em sua guerra ao terrorismo, encerrados na prisão da Baía de Guantánamo, desafortunadamente são exemplos de que a administração Obama continua seguindo os passos da de Bush".
"Rock Creek Free Press divulgou, em junho de 2010, que Seymour Hersh, discursando na Conferência Global de Jornalismo Investigativo em Genebra, criticou em abril de 2010 o presidente Barack Obama e denunciou que as forças dos EUA estão cometendo ‘execuções no campo de batalha’".
"‘Aqueles que capturamos no Afeganistão estão sendo executados no campo de batalha’, afirmou Hersh".
Ao chegar a este ponto, a narração entra em contato com uma realidade sumamente atual: a continuidade duma política pelo presidente que sucedeu ao delirante W. Bush, inventor da guerra desatada para se apoderar dos recursos de gás e petróleo mais importantes do mundo, numa região habitada por mais de 2,5 bilhões de habitantes, em virtude de atos cometidos contra o povo dos Estados Unidos por uma organização de homens, recrutados e armados pela CIA para lutar no Afeganistão contra os soldados soviéticos, e que continua desfrutando do apoio dos mais próximos aliados dos Estados Unidos.
A complexa e imprevisível zona cujos recursos são disputados, vai desde o Iraque e o Oriente Médio até os remotos limites da região chinesa de Xinjiang, passando pelo Iraque, Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Irã e as antigas repúblicas soviéticas de Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguízia e Tajiquistão, e é capaz de abastecer de gás e petróleo a crescente economia da República Popular da China e à industrializada Europa. A população do Afeganistão, assim como uma parte da do Paquistão, país de 170 milhões de habitantes e possuidor de armas nucleares, é vítima dos ataques de aviões sem piloto ianques que massacram a população civil.
Entre as 25 notícias mais censuradas pela grande mídia, selecionadas pela Universidade Sonoma State da Califórnia — tal como vem fazendo há 34 anos —uma delas, correspondente ao período 2009-2010, foi "Crimes de guerra do general Stanley McChrystal"; e outras duas se relacionam com nossa Ilha: "Meios ignoraram ajuda médica de Cuba em terremoto do Haiti" e "Ainda brutalizam os presos em Guantánamo". Uma quarta afirma: "Obama reduz o gasto social e aumenta o militar".
Nosso ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, foi responsável político da missão médica cubana enviada ao Paquistão, quando um destruidor terremoto golpeou fortemente a rude natureza do nordeste desse país, onde extensas áreas habitadas pela mesma etnia, com igual cultura e tradições, foram divididas arbitrariamente pelo colonialismo inglês em países que depois caíram sob a proteção ianque.
Em seu discurso de 26 de outubro, no seio da ONU, Bruno demonstrou quão excelentemente bem informado está da situação internacional em nosso complexo mundo.
Sua brilhante alegação de ontem e a Resolução aprovada por essa instituição, por sua transcendência, requerem de uma Reflexão que me proponho elaborar.
Fidel Castro Ruz
Postado por O Velho Comunista às 23:10
Marcadores: Estados Unidos, Fidel Castro, Imperialismo
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