Além do Cidadão Kane

domingo, 2 de março de 2008

O Comandante Raul Reyes caiu em combate no Equador

Hernando Calvo Ospina
Publicado em Rebelión

Pela primeira vez na história das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC, nascidas nos campos colombianos no início dos anos sessenta, é morto um de seus dirigentes máximos: Luis Edgar Devia Silva, mais conhecido como Raul Reyes, membro do Secretariado, máxima instância dessa organização político-militar.
Reyes, havia sido e principal negociador da organização guerrilheira durante as conversações de paz com o governo, entre 1998 e 2002, que terminaram frustradas pelo presidente Andrés Pastrana.
Nesses anos o comandante viajou por vários países da América Latina e Europa, junto a outros quadros guerrilheiros para explicar a estratégia e objetivos de sua organizacão. Foi recebido por presidentes, primeiros ministros, empresários, intelectuais e um grande número de políticos. Em 1997, na Costa Rica, havia participado do único encontro que tiveram as autoridades dos Estados Unidos com as FARC.
Por pressão de Washington e da grande oligarquia colombiana, o presidente Pastrana terminou com as conversações, dando inicio a uma guerra aberta, à qual continuou raivosamente o presidente atual Álvaro Uribe Vélez, apoiando-se nas forças narco-paramilitares criadas pelas Forças Armadas do Estado.
Como reação aos atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos declararam as FARC organização terrorista, adicionando-les a acusação de narcotraficante. Quase todos os governos do mundo fizeram o mesmo, mesmo que não estivessem muito convencidos.
Disse o governo colombiano, e repetem todos os grandes meios de comunicação mundiais, que essa é uma grande vitória militar. Se equivocam, e muito. Reyes era um quadro político, não tinha comando sobre as forças militares das FARC. É um tremendo erro, que dificulta enormemente o caminho para qualquer diálogo e libertação dos prisioneiros. Reyes era a ponte. O porta vóz da organização.
Mas existe um detalhe muito delicado nesse acontecimento. Reyes morreu em território equatoriano, a escassos dois quilômetros da fronteira. O próprio Reyes, em entrevista ao autor desta nota, disse que as FARC respeitam as fronteiras dos paises vizinhos e não interferem em seus assuntos internos. Mas é muito possível que ante a perseguição militar tenham passado para o Equador para se salvaguardar.
Raul Reyes caiu sob o fogo de bombardeios, dizem as autoridades colombianas. O Ministro da Defesa especificou com um infantilismo irreal: as bombas sairam da Colômbia, tendo-se o cuidado de não violar o espaço aéreo equatoriano (sic!).
As tropas oficiais violaram o território do país vizinho. E a violação foi dupla: os militares ingressara nele para recolher o corpo do dirigente e os de outros guerrilheiros.
Mas, foi uma violação territorial, ou o governo da Colômbia contava com a autorização de Quito? É difícil de crer nisso tendo em conta que o presidente equatoriano Rafael Correa sempre declarou sua neutralidade frente ao conflito colombiano. A realidade é que essa é uma nova prova de que o governo colombiano e Washington seguem apostando na guerra.

Hernando Calvo Ospina é escritor e jornalista residente na França. Colaborador do Le Monde Diplomatique. Autor do livro a ser lançado: “Colombia: Historia del terrorismo de Estado”
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