Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Confrontos

Centenas de milhões de pobres e famintos em todo o mundo apelam à solidariedade de todos aqueles que se afogam no consumismo e no desperdício. Mas será que a solidariedade é entendível por todos? Não !.

. Muitos habitantes deste planeta ainda pensam segundo o paradigma de antigos negreiros, o Outro só existe enquanto for útil, servir para alguma coisa. Não lhes reconhecem a dignidade de pessoas. As relações entre os povos são vistas em termos de exploração, saque, rapina. A solidariedade é uma palavra que não consta no seu léxico.

Os argumentos do negreiro, para não ajudar o Outro são quase sempre os mesmos. Alega frequentemente que não pode fazer porque ainda não tem todos os seus problemas domésticos resolvidos. Não tem a casa ou o automóvel dos seus sonhos, as férias que há muito deseja. A solidariedade do negreiro reduz-se em dar ao Outro (preto,pobre, etc) os sobejos, os desperdícios do festim. Os pobres não necessitam de mais, contentam-se com as sobras. A sua preocupação está centrada na ementa do festim, não nos restos.

Muitos pensam segundo o paradigma capitalista, o Outro é parte de um negócio a curto prazo (Toma Lá da Cá), a médio prazo ( Toma lá, e quando tiveres condições para isso retribui com juros) ou no longo prazo (Toma lá e diz a outros que foi eu que te dei).

Na verdade, continuam a haver muitos poucos utópicos neste planeta. Aqueles que conseguem ver no Outro uma pessoa que co-habita no mesmo mundo e sobretudo, são capazes de entender que se ele estiver mal, então todos também estamos.

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Há saída para a Palestina?

Como sempre acontece em épocas que envolvem negociação, Israel aproveita para expandir seu projeto colonizador. Na terça-feira, 27, anunciou a construção de mais 1.100 casas na colônia de Gilo, em Jerusalém oriental, início de um projeto destinado a separar o sul da Cisjordânia das vilas palestinas vizinhas a Jerusalém.

Baby Siqueira Abrão*

Com o Quarteto e os Estados Unidos exigindo, em uníssono, negociações diretas com Israel, a impressão é que não há solução viável para o caso palestino. As superpotências, sua insistência em acordos impossíveis e sua mobilização frenética não levam em consideração, evidentemente, os milhões de cidadãos da Palestina e de praticamente todos os países do mundo que saíram às ruas para apoiar o pleito à ONU.

Os termos da proposta do Quarteto, porém, nada estabelecem sobre as questões centrais: colônias israelenses em terras palestinas, fronteiras, Jerusalém oriental e retorno dos refugiados. Tampouco tratam do reconhecimento do “Estado judeu”, exigido por Israel [1] . O documento limita-se a estabelecer datas: chamada para conversas iniciais em um mês, sugestões de ambos os lados sobre fronteiras e segurança em três meses e assinatura do acordo de paz no final de 2012.

A proposta foi enviada aos dirigentes dos dois países. Divulgou-se que Netanyhau, primeiro ministro de Israel, a apoiaria, mas uma reunião que se estendeu da noite de terça-feira à madrugada de quarta-feira, com oito membros de seu gabinete, mudou tudo. Não houve consenso. Quanto à ANP, reuniu-se dia 28 para estudar o documento, mas ainda não tomou nenhuma decisão.

Como sempre acontece em épocas que envolvem negociação, Israel aproveita para expandir seu projeto colonizador. Na terça-feira, 27, anunciou a construção de mais 1.100 casas na colônia de Gilo, em Jerusalém oriental, início de um projeto destinado a separar o sul da Cisjordânia das vilas palestinas vizinhas a Jerusalém. A denúncia é de Khalil Toufajki, especialista palestino que estuda as colônias israelenses. Ele informou à rádio Voz da Palestina que, além dessas 1.100 casas, uma nova área residencial, Givat Yael, será construída nas terras da vila palestina de Al-Walajah e vai se estender até a porção oeste de Gilo, abrigando milhares de israelenses. No total, o projeto prevê a construção de 58 mil unidades até 2020, o que significa que Israel não tem a menor intenção de incluir o fim da construção de colônias em nenhum acordo, ou que não pretende assinar acordo algum.

Na quarta-feira, 28, o exército israelense entregou ordens de confisco de terras na vila de Battir, em Belém. Os 148 dununs (cada dunum corresponde a mil metros quadrados) pertencem a 40 famílias e contêm casas, plantações de frutas, vegetais e oliveiras, além de poços de água. A região, segundo a notificação entregue aos moradores, será evacuada por “razões militares e de segurança”, ou seja, para servir à expansão da colônia de Gilo, que fica perto dali.

Também no dia 28 a municipalidade de Beit Ummar, no norte de Hebron, foi notificada de que perderá 800 dununs de terra para a construção de uma estrada exclusiva para a colônia de Etzion, com oito quilômetros de extensão e 160 metros de largura. Israel não perde tempo.

Realidade e miragem

Como se vê, há motivos de sobra para a indignação e a impaciência dos milhões de palestinos que apoiaram a ida da OLP à ONU, e dos 40 mil vindos de todos os pontos da Palestina para a recepção a Mahmoud Abbas no domingo, 25. Seriam bem mais, caso os soldados israelenses não tivessem detido vários ônibus lotados nos checkpoints. A Autoridade Palestina está sem dinheiro, e o país registra um déficit em conta corrente de U$ 610,7 milhões, segundo dados divulgados em 27 de setembro, mas nada disso impediu novos gastos para o encontro entre a população e Abbas, que chegou de Nova York via Amã.

Recebido como herói nacional depois do discurso feito na ONU no dia 23, Abbas foi sucinto. Em cerca de cinco minutos disse que dera o recado dos palestinos ao mundo, que a Primavera Palestina começara, que a luta seria longa e difícil, que a firmeza do povo levaria à vitória e terminou conclamando todos a levantar a cabeça pelo simples fato de serem palestinos. Ovacionado, com o retrato colado em centenas de cartazes carregados pela multidão e em enormes banners nos prédios vizinhos à Muqata, sede da ANP, Abbas teve seu dia de glória.

De personagem político desacreditado – em especial depois que os Palestine Papers, liberados pelo Wikileaks à rede de TV Al-Jazeera, revelaram pesadas concessões a Israel, como partes de Jerusalém oriental e a negação dos direitos dos refugiados, além de apoio ao ataque militar sionista a Gaza, em 2008-2009 –, acusado de corrupto pela população, ele foi guindado, graças a sua performance na ONU, para o patamar dos super-homens. Comentava-se o conteúdo do discurso, a coragem de Abbas por ter mantido a promessa de ir à ONU apesar da pressão dos enviados de Estados Unidos e União Europeia, o fato de ele ter denunciado ao mundo, item por item, a tragédia palestina.

Naquela tarde cinzenta e chuvosa de domingo, o Conselho de Segurança deixou de ser o assunto da semana. Deu lugar à personagem da semana, do dia, do mês: Abu Mazen, codinome de luta pelo qual os palestinos chamam o velho líder. Pelo levantamento informal feito pela reportagem de Carta Maior, ele venceria qualquer candidato se a eleição fosse naquela tarde. E, caso não concorresse às eleições, o nome que apoiasse seria o ganhador.

Encerrar o ciclo estéril de negociações que serviram de cobertura a confiscos de terra e água, à expansão de colônias israelenses em território palestino e à manutenção da Palestina como vitrine da tecnologia bélica sionista foi um alívio para a maioria da população. Jogar o conflito no colo do mundo, dentro da organização que o formalizou, em 1947, foi objeto de críticas até o começo da semana do discurso, mas depois recebeu aprovação quase geral dentro da Cisjordânia e em Gaza. A verdade é que o desespero dos palestinos é tamanho que qualquer miragem de alívio é bem-vinda. Os governos israelenses, de 1948 até hoje, parecem testar na Palestina os limites da paciência humana. Por enquanto, estão perdendo. Mesmo exaustos, os palestinos continuam a resistir à ocupação.

E agora, com a OLP carregando o problema para o campo diplomático internacional, na tentativa de acabar com o monopólio dos Estados Unidos como mediador das negociações com Israel, a miragem se torna quase palpável. Mas ainda é miragem.

Plano B: “Unidade para a paz”

Como ficariam os palestinos, por exemplo, se soubessem que o Conselho de Segurança, em sua primeira reunião, dia 26 de setembro, praticamente concluiu que guindar a Palestina à posição de membro pleno foge ao escopo da Resolução 377? A informação, dada por um dirigente da OLP à Carta Maior em 27 de setembro, sob a condição de anonimato, acabaria com o que ainda resta da miragem.

A Resolução 377, também conhecida como “Unidade para a paz”, estabelece que, quando o Conselho de Segurança falha em seu papel de resguardar a paz e a segurança, por falta de unanimidade entre seus membros, a questão pode ser levada à Assembleia Geral, em que a Palestina tem ampla maioria. Lá, esperava a direção da OLP, o status de membro pleno seria alcançado. Francis Boyle, consultor da OLP, professor de direito internacional que dedicou a vida à defesa da causa palestina em seu campo de estudo, defendeu essa possibilidade, assim como Gabriela Shalev, ex-embaixadora de Israel na ONU.

Richard Schifter, ex-secretário assistente de Estado dos EUA, citou o caso da Namíbia, que em 1981 teve a ajuda da 377 para obter sua independência. A Assembleia Geral da ONU, à época, solicitou a todos os países-membros “aumentar e manter apoio material, financeiro, militar e outros tipos de ajuda para a Organização dos Povos do Sudoeste da África, a fim de permitir-lhe intensificar sua luta pela libertação da Namíbia”.

Também exortou-os a encerrar “todos os negócios com a África do Sul, para isolá-la por completo nos campos político, econômico, militar e cultural”.

Mas o Conselho de Segurança da ONU, na segunda-feira, tendia a considerar que a Resolução 377 é aplicável a todos os casos, menos à aceitação de um Estado como membro pleno. “Eles ainda estão negociando”, disse o dirigente da OLP, “mas é quase certo que não permitam a utilização da 377”.

Não é preciso pensar muito para entender que Estados Unidos e Israel estão por trás dessa tendência. Até já conseguiram os seis votos necessários para vetar a solicitação palestina sem que o ônus da decisão pese apenas nos ombros dos EUA. Quanto à Palestina, até agora pode contar, com certeza, com os votos de China, Rússia, Brasil, Líbano, Índia e África do Sul. Embora nove países do CS tenham reconhecido seu Estado, apenas seis já deram a certeza de estar a seu lado. Conquistar o voto dos outros dois, com tanta pressão contrária, não é tarefa fácil. Um deles, provavelmente, é a Colômbia: Maria Angela Holguin, ministra das Relações Exteriores, recebeu na segunda-feira a visita de Hillary Clinton. O páreo está disputadíssimo.

Plano C: Estado-membro observador

A guerra de influências pende contra os palestinos, mas Ryad Mansour, embaixador da Palestina na ONU, diz confiar “em nossos amigos”. Caso algum desses amigos o traia, há outra saída. A Assembleia Geral pode reconhecer a Palestina como “Estado não-membro” ou como “Estado-membro observador”. Hoje ela é “entidade observadora”. Com esse reconhecimento, a Palestina pode solicitar participação em outros órgãos, nos quais o veto dos EUA não tem valor, e em tratados internacionais.

O ideal seria ter acesso ao Tribunal Penal Internacional (TPI), para abrir processos individuais contra os responsáveis por atos criminosos contra os palestinos. Essas pessoas, caso condenadas, não poderão viajar para os 117 países signatários do Estatuto de Roma (que estabeleceu o TPI), ou serão presas. Também é possível levar Israel ao TPI por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Estados não membros também podem recorrer ao TPI, solicitando-lhe que assuma jurisdição sobre seus territórios. A Palestina fez isso em 2009, denunciando os oficiais do exército israelense que participaram do ataque militar a Gaza em 2008-2009 e por “atos anteriores cometidos na Palestina”. O problema é que o TPI até hoje não decidiu se a “entidade” Palestina tem direito a fazer essa queixa. O reconhecimento do Estado pela Assembleia Geral daria esse direito ao país.

Nesse caso, os palestinos também poderiam denunciar os colonos da Cisjordânia, com base na proibição, estabelecida nas Convenções de Genebra, de deslocamento forçado de populações. E isso preocupa muito o governo israelense.

O problema é que o TPI, assim como a ONU, é um órgão político, o que significa que suas decisões não são baseadas exclusivamente na lei. E esse problema, de decisões políticas, vem impedindo os palestinos de fazer valer seus direitos desde a partilha de 1947. Elas são tomadas com base no poder dos lobbies, não nos direitos humanos.

Plano D: “Toma que o filho é teu”

É o plano mais radical de todos. Mas defendido por muita gente, em especial os críticos da solução de dois Estados. Trata-se de dissolver a ANP, a OLP e deixar que os sionistas se responsabilizem pela Palestina. Na prática, significa abdicar do Estado próprio e fundir a Cisjordânia com Israel.

Embora essa seja uma proposta tentadora para a direita israelense, defensora do estabelecimento do Grande Israel em toda a Palestina histórica, apresenta problemas sérios para Israel. Ideia nesse sentido foi aventada em 2010 pelos sionistas linha-dura, mas logo abandonada, ou postergada, talvez pelas dificuldades que levanta. Uma delas é o que fazer com os quase 4 milhões de palestinos da Cisjordânia num Estado que em outubro de 2010 aprovou a “Lei de juramento de fidelidade”. Essa lei exige que todo cidadão de Israel jure fidelidade ao “Estado judeu democrático”, o que, definitivamente, nenhum palestino muçulmano ou cristão fará. Sem contar os aspectos econômicos, políticos, eleitorais, culturais e da tradição.

Outro problema é a chamada “bomba demográfica”. As muçulmanas palestinas têm, no mínimo, 3 ou 4 filhos, enquanto a maioria das israelenses prefere 1 ou 2. Segundo estudo da CIA divulgado em 2010, em 20 anos Israel entrará em colapso. Por isso, o professor Francis Boyle aconselha que os palestinos não assinem nenhum acordo com Israel. “É tempo de adotar uma nova estratégia”, escreveu ele em “The Impending Collapse of Israel in Palestine”, publicado no portal My Catbird Seat em 2 de outubro de 2010. “Com muito respeito, recomendo a eles que considerem esta: não assinem nada e deixem Israel desintegrar-se!”

[1] Essa exigência é incompreensível, uma vez que Israel foi fundado como “Estado judeu” e como tal foi reconhecido por Yasser Arafat, em carta ao então primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin, datada de 9 de setembro de 1993 (veja em http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Peace/recogn.html), e no Roadmap de 2003. Em entrevista ao jornal israelense Haaretz antes de morrer, em 2004, Arafat confirmou que reconhecera Israel como Estado judeu. É impossível que políticos e diplomatas são saibam disso. Mas é possível que entrem no jogo de Netanyhau a fim de criar mais obstáculos para a Palestina.


*Jornalista, autora de diversos livros e pós-graduanda em Filosofia. Mora em Ramallah, Palestina, onde é correspondente do jornal Brasil de Fato.

Publicado em CartaMaior

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sábado, 10 de setembro de 2011

A Revolta de Londres: um sinal

Osvaldo Coggiola

A recente revolta em bairros periféricos de Londres, que se estendeu rapidamente para outras cidades inglesas, foi apresentada pela grande imprensa como uma série de atos de vandalismo, sem outro conteúdo. Nada mais longe da verdade. O brutal assassinato de Mark Duggan, um taxista negro de 29 anos alvejado pela polícia londrina em Tottenham – uma zona que conta com as maiores taxas de desemprego e de imigrantes da capital britânica – produziu uma reação da juventude que, por sua magnitude e composição, foi rapidamente comparável com o levantamento dos jovens árabes e norte-africanos nos subúrbios parisienses em 2005, ou à sublevação da juventude grega em fins de 2008. Esta vez, no entanto, a bancarrota capitalista mundial vinculou a revolta com a crise dos Estados chamados ao resgate do capital. O movimento também teve lugar no quadro da revolução nos países árabes e da irrupção da juventude européia dos "indignados", na Espanha especialmente. O assassinato de Duggan produziu uma manifestação de cerca de 300 vizinhos que, com o decorrer das horas e frente às manobras de encobrimento da polícia, converteu-se em uma revolta popular. O governo britânico respondeu com uma brutal repressão, junto a uma operação midiática que buscava instalar a versão de um "enfrentamento" da polícia com Duggan, acusado de ser "traficante de armas".

Tottenham tem uma longa história de resistência contra a opressão policial por sua composição majoritariamente imigrante, incluído um levantamento popular em 1985 só comparável ao que ocorreu recentemente. No bairro vivem africanos, caribenhos, polacos, judeus ortodoxos, turcos e ingleses brancos, que sofrem dia a dia a extorsão da polícia. A zona é também representativa da crise que atravessa o país. Mais de 10 mil jovens de Tottenham vivem graças à assistência social e se estima que uns 54 jovens concorrem por cada posto de trabalho. Outro dado alarmante é a alta taxa de gravidez adolescente - a mais alta do Reino Unido. Este quadro social de decomposição é a base sobre a qual opera a rebelião dos subúrbios britânicos. A repressão policial nas ruas de Londres deixou o saldo de cinco mortos, dezenas de feridos e centenas de detidos. No entanto, os protestos aumentaram, em novos bairros, como Oxford Circus e Enfield, e inclusive outras cidades, como Leeds, Birmingham, Liverpool, Manchester e Bristol, o que obrigou ao governo a proceder a uma mobilização inusitada de forças - uns 16 mil policiais. Estes fatos revelam que a pauperização das condições de vida das massas é um fenômeno que se estende ao conjunto do país.

A crise não poderia chegar em pior momento para o regime político britânico que, sacudido pela crise política gerada pela revelação das escutas telefônicas de personagens ou figuras públicas por parte do império midiático de Rupert Murdoch, com a cumplicidade da polícia britânica, Scotland Yard (cujos chefes tiveram que renunciar por sua relação com o escândalo) e dos políticos britânicos. O premiê britânico, o conservador David Cameron, foi obrigado a regressar de suas férias – destinadas a afastá-lo da crise política - ante a extensão da rebelião juvenil contra a força policial. A crise e a rebelião social desatada pela repressão policial voltou a colocar a Cameron no olho da tormenta. Este assumiu com o objetivo de aplicar um rigoroso plano de ajuste frente à crise mundial, e agora luta por manter a seu governo. A rebelião dos jovens explorados da Grã-Bretanha tem lugar enquanto os sindicatos discutem um plano de luta contra o corte às aposentadorias, depois de protagonizar a maior paralisação de funcionários públicos em 80 anos, e no meio de uma grande mobilização estudantil contra o plano de cortes à educação proposto pelos conservadores. A conjunção da crise política com a crise capitalista e com um processo de mobilização de massas excepcional reúne os elementos de uma tormenta que poderia significar o fim do governo conservador na Grã-Bretanha em um quadro de aguçamento da crise mundial.

Na Espanha, um pacote de austeridade reduziu em 5% os salários públicos em 2010, e fez um corte de 600 milhões de euros nos investimentos públicos. Essas medidas foram exigências do FMI, para “enfrentar a crise” nesses países. O pacote de austeridade foi enfrentado com uma massiva paralisação nacional dos trabalhadores, convocada pelas centrais sindicais. Os trabalhadores de outros países europeus também reagiram com grandes manifestações, uma resistência bem superior à de 2008. A classe operária começou a manifestar-se: greves de massas, mobilizações massivas, ocupações de fábricas, tomada de reféns de patrões por trabalhadores, revoltas de jovens e operários. As greves gerais na Grécia e Turquia, as greves e as manifestações na França e Espanha, as numerosas ocupações de fábricas na Itália, são uma mostra da crescente combatividade do proletariado contra o desemprego massivo, a flexibilização trabalhista, as reduções salariais, a destruição dos sistemas sociais.

Nos últimos anos, houve uma recomposição da classe operária mundial, com a incorporação de milhões de novos trabalhadores, que protagonizam novos combates de classe, na Grécia, França, Itália, Alemanha, passando pela América Latina, sem esquecer a recuperação da classe operária russa e na Europa do Leste, os trabalhadores sul-africanos, e a classe operária chinesa, que começa a levantar cabeça com greves extraordinárias. Antes da explosão árabe, a Europa estava no centro da luta classista. Em novembro de 2010, 150 mil pessoas protagonizaram uma grande mobilização em Dublin para rejeitar o resgate da Irlanda por parte da União Européia (UE) e do FMI – um ataque aos salários, ao gasto social e ao emprego. Poucos dias antes, havia ocorrido uma grande greve geral em Portugal, grandes mobilizações estudantis na própria Irlanda, Inglaterra e Itália, e nas semanas anteriores manifestações em toda a França. A crise capitalista se estende a Portugal, Espanha e Itália, e inclusive à França, ao ponto de se colocar na pauta dos governos um desdobramento da Europa em um bloco do norte e outro do sul – com diferentes moedas (Grécia, Portugal, Espanha e Itália sairiam da “zona euro”). A rebelião árabe, que “cruzou o estreito de Gibraltar” para chegar às praças da Espanha, encontrou no velho continente um terreno propício.

A revolta londrina, certamente desorganizada, não foi um tiro no escuro de uma juventude desesperada, mas um sinal anunciador do terremoto social nas próprias metrópoles do capitalismo.

Osvaldo Coggiola é historiador, economista e professor da Universidade de São Paulo

Original em Correio Caros Amigos

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Líbia - O que a mídia jamais vai mostrar

I – EM 2007, A ONU CONSTATOU EM RELAÇÃO À LÍBIA:



1 - Maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);

2 - Ensino gratuito até a Universidade;

3 - 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago;

4 - Ao casar, o casal recebe até US$ 50.000 para adquirir seus bens;

5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc.;

6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;

7 - Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo vem tornando o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.



II - POR QUE DETONAR A LÍBIA, ENTÃO?...



Três (3) principais motivos:

1 - Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;

2 - Fazer com que todo o Mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria;

3 - E o maior, provavelmente: O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema mundial Financeiro. Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda, o dinar, e desatrelando-o das flutuações do dólar. O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.



III - O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:



1 - A OTAN, comandada pelos EUA, já bombardeou as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e a infraestrutura de água, esgoto, gás e luz estão seriamente danificados;

2 - As bombas usadas contêm DU (Urânio depletado); tempo de vida 3 bilhões de anos (causa câncer e deformações genéticas);

3 - Metade das crianças líbias está traumatizada psicologicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas;

4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, principalmente as crianças sofrem com a falta de remédios e alimentos;

5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo, as crianças são as mais atingidas;

6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;

7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver ( Água, comida e remédios) de uma população de 6,5 milhões de pessoas. Em suma: O bombardeio "humanitário" acabou com a nação Líbia. Nunca mais haverá a nação Líbia. Foram varridos do mapa.

SIMPLES ASSIM

GOB - Parlamento (por email)
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sábado, 3 de setembro de 2011

FHC foi facinho

Sebastião Nery

“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”.

Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro de 69.

FUNDAÇÃO FORD

Em 13 de dezembro de 1968, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.

E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.

AGENTE DA CIA

Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.

Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e européias.

Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.

QUEM PAGOU

Há dois anos, chegou às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).

Quem “pagava a conta” era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:

“Consistente e fascinante” (“The Washington Post”). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (“Spectator”). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (“The Times”).

MILHÕES DE DÓLARES

1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).

2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).

3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).

FHC FACINHO

4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).

5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritórios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).

6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45).

Fernando Henrique foi facinho.


Leandro B. da Costa.
Bacharel em História - FURG.
Mestrando em História - UFRGS.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

40 mil médicos cubanos prestam serviços pelo mundo

O trabalho dos médicos cubanos no mundo pode ser qualificado de grandioso. Hoje, mais de 40 mil especialistas do setor prestam serviço gratuito em 68 países, principalmente em localidades afastadas ou comunidades carentes.

Um exemplo disso é a brigada médica cubana “Ernesto Che Guevara”, que chegou à Nicarágua em 2007. Lá, atende a população em zonas pobres, entre elas Puerto Cabeza, Bluefields e Siuna.

O grupo já deu mais de quatro milhões de consultas. Também colabora nas campanhas de prevenção, indicando às famílias como melhorar a higiene doméstica e evitar a propagação de doenças como a dengue, freqüente nessa área geográfica.

Dos 172 colaboradores presentes na Nicarágua, 43 estão engajados na chamada Missão Milagre. Seu propósito é facilitar atendimento oftalmológico gratuito a pessoas de baixa renda. O programa, instaurado em várias nações do hemisfério, permitiu recuperar a visão de milhares de nicaragüenses.

Os indicadores de saúde no país centro-americano melhoraram notavelmente após Daniel Ortega ter assumido a presidência. A partir daí, o governo nicaragüense deu prioridade ao setor da saúde pública. No ano passado, quase 9% do Produto Interno Bruto foi investido nessa área.

Centenas de jovens nicaragüenses estudam na Escola Latino-americana de Medicina de Havana. Muitos deles estão completando seus estudos na Nicarágua sob a direção de especialistas e professores cubanos.

Fonte: Rádio Havana/Vermelho

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