Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes, revela WikiLeaks

Ainda que o Senado brasileiro venha a ratificar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas EUA-Brasil (TSA, na sigla em inglês), o governo dos Estados Unidos não quer que o Brasil tenha um programa próprio de produção de foguetes espaciais. Por isso, além de não apoiar o desenvolvimento desses veículos, as autoridades americanas pressionam parceiros do país nessa área - como a Ucrânia - a não transferir tecnologia do setor aos cientistas brasileiros.

A restrição dos EUA está registrada claramente em telegrama que o Departamento de Estado enviou à embaixada americana em Brasília, em janeiro de 2009 - revelado agora pelo WikiLeaks ao GLOBO. O documento contém uma resposta a um apelo feito pela embaixada da Ucrânia, no Brasil, para que os EUA reconsiderassem a sua negativa de apoiar a parceria Ucrânia-Brasil, para atividades na Base de Alcântara no Maranhão, e permitissem que firmas americanas de satélite pudessem usar aquela plataforma de lançamentos.

Além de ressaltar que o custo seria 30% mais barato, devido à localização geográfica de Alcântara, os ucranianos apresentaram uma  justificativa política: "O seu principal argumento era o de que se os EUA não derem tal passo, os russos preencheriam o vácuo e se tornariam os parceiros principais do Brasil em cooperação espacial" - ressalta o telegrama que a embaixada enviara a Washington.

A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que "embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil". Mais adiante, um alerta: "Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil".

O Senado brasileiro se nega a ratificar o TSA, assinado entre EUA e Brasil em abril de 2000, porque as salvaguardas incluem concessão de áreas, em Alcântara, que ficariam sob controle direto e exclusivo dos EUA. Além disso, permitiriam inspeções americanas à base de lançamentos sem prévio aviso ao Brasil. Os ucranianos se ofereceram, em 2008, para convencer os senadores brasileiros a aprovarem o acordo, mas os EUA dispensaram tal ajuda.

Os EUA não permitem o lançamento de satélites americanos desde Alcântara, ou fabricados por outros países mas que contenham componentes americanos, "devido à nossa política, de longa data, de não encorajar o programa de foguetes espaciais do Brasil", diz outro documento confidencial.

Viagem de astronauta brasileiro é ironizada

Sob o título "Pegando Carona no Espaço", um outro telegrama descreve com menosprezo o voo do primeiro astronauta brasileiro, Marcos Cesar Pontes, à Estação Espacial Internacional levado por uma nave russa ao preço de US$ 10,5 milhões - enquanto um cientista americano, Gregory Olsen, pagara à Rússia US$ 20 milhões por uma viagem idêntica.

A embaixada definiu o voo de Pontes como um gesto da Rússia, no sentido de obter em troca a possibilidade de lançar satélites desde Alcântara. E, também, como uma jogada política visando a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Num ano eleitoral, em que o presidente Lula sobe e desce nas pesquisas, não é difícil imaginar a quem esse golpe publicitário deve beneficiar.

Essa pode ser a palavra final numa missão que, no final das contas, pode ser, meramente 'um pequeno passo' para o Brasil" - diz o comentário da embaixada dos EUA, numa alusão jocosa à célebre frase de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na Lua, dizendo que seu feito se tratava de um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade.

Colaboração de Alexandre Nunes de Araújo por email
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Caso Posada Carriles mostra 'dupla moral' de Washington

O presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón, afirmou, nesta terça-feira (25), que o governo dos EUA demonstra mais uma vez sua "dupla moral" no julgamento de Luis Posada Carriles, a quem só acusa de mentir e não de ser terrorista, enquanto mantém a prolongada injustiça contra os Cinco Heroóis Cubanos, prisioneiros nesse país há 12 anos.

Alarcón lembrou que Caroline Heck-Miller, a promotora que julgou os Cinco em Miami, se negou a apresentar acusações por terrorismo contra Posada Carriles, o que, disse, "do ponto de vista legal, é uma confirmação absoluta da atitude dolosa e da prevaricação da promotoria neste caso".

Acrescentou que uma funcionária do Departamento de Segurança da pátria estadunidense, sob juramento, disse que ela tinha pedido a Caroline que julgasse Posada Carriles por suas atividades criminosas e esta se negou.

"O espantoso, frisou Alarcón, é que a declaração dessa funcionária foi anunciada na terça-feira, 18 de janeiro, e, nesse mesmo dia, a senhora Miller solicitou mais tempo para sua resposta ao pedido de habeas corpus a favor de Gerardo Hernández Nordelo (um dos cinco cubanos)".

"O que foi visto até agora (no julgamento em El Paso) é um teatro barato". Ele sublinhou que Posada Carriles desfruta da proteção oficial do governo dentro dos EUA, sob a condição de ilegal, em um país onde há 14 milhões de ilegais, aos quais expulsam aos pontapés, sem julgamento.

Acerca do pedido de habeas corpus apresentada no caso de Gerardo, explicou que se espera a resposta para meados de fevereiro, depois seria a réplica dos defensores e, posteriormente, decidiria a juíza Joan Lenard.

"Só um júri de milhões resolverá a situação de Gerardo" - afirmou Alarcón - "mas para isso é preciso que a mídia multiplique mensagens verídicas, e ela é controlada absolutamente nos EUA. Por isso, se torna necessário continuar martelando para que se saiba a verdade por parte dos norte-americanos".

"Gerardo Hernández é um Herói da República de Cuba, e o governo de Cuba fará tudo para salvá-lo", enfatizou o presidente do Parlamento, que afirmou que "o terrorismo impune, mostrado escandalosamente à luz do dia, nem sempre se poderá ocultar". E reafirmou sua convicção de que algum dia, não longínquo, a verdade virá à tona.

Publicado em Vermelho
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A pedagogia do grande irmão platinado

Elaine Tavares


Outro dia li um artigo de alguém criticando o que chamava de pseudo-esquerda que fica falando mal do BBB, mas que também dá sua espiadinha. E também li outras coisas de pessoas falando sobre o quanto há de baixaria no “show de realidade” da Globo. Fiquei por aí a matutar. E fui observar um pouco deste zoológico humano que a platinada oferece na suas noites. Agora é importante salientar que a gente nem precisa assistir para saber tudo o que se passa. É só estar vivo para saber. As notícias estão no jornal, no ônibus, no elevador, em todos os lugares. Então esse papo de que quem critica é hipócrita porque também vê não tem qualquer sentido. As coisas da indústria cultural nos são impostas de forma quase que totalitária. É praticamente impossível fugir destes saberes. Mesmo no terminal, esperando o ônibus, lá está o anúncio luminoso onde buscamos o horário do busão, dando as “notícias” dos broders. É invasivo e feroz.

Mas enfim, sou um bicho televisivo, e gosto de ficar feito uma couve em frente ao aparelho de TV analisando o que é que anda engravidando as gentes deste grande país que se alfabetiza por esta janelinha. Lá fiquei acompanhando alguns episódios do triste programa. Deveras, me causa espécie. Mas não falo pelo quê de promíscuo ou imoral possa ter o “show”, já que coisas do tipo que se vêem ali também são possíveis de ver na novela, nos filmes, etc... O que me apavora é capacidade de ser tão perverso e desestruturador de consciências. Está bem, as pessoas estão ali porque querem, elas mandam vídeos, se oferecem, morrem até para estar naquela casa, em busca do que pensar ser seu lugar ao sol. Mas, ainda assim, é perverso demais o que os “inventores” fazem com aquelas tristes criaturas.

Sempre pensei que a coisa nunca poderia ficar pior. Mas fica. Cada ano a violência fica maior. E o que me espanta é que não há gente a gritar contra isso. Agora inventaram a figura de um sabotador. Pois já não bastava colocar a possibilidade concreta de alguém (o espectador) eliminar outro (o broder “????”), o que, obviamente inaugura uma possibilidade por demais perversa de se apertar um botão e destruir o sonho de alguém, com requintes de crueldade. Uma coisa de uma maldade abissal. Então, o tal do sabotador é uma pessoa, do grupo, que precisa sabotar os seus companheiros para poder se safar. Inaugura-se assim mais uma instância da estúpida violência, a qual é parte intrínseca do “show”. Vi a cara do rapazinho. Estava em completo desespero. Precisava sabotar seus amigos. E o fez. Em nome do milhão.

Depois, um outro, ao atender ao telefone que sempre ordena uma sequência de maldades, obrigou-se a mandar sua colega para uma solitária, coisa que, nas cadeias, é motivo de grandes lutas dos grupos de direitos humanos. O garoto disse o nome da sentenciada, e seu rosto se cobriu de desespero. No dia em que ela saiu do castigo, enquanto os demais a abraçavam, ele se deixava cair, escorregando pela parede, chorando. Sabia, é claro, que aquela ação o colocava na mira da outra e na condição de um desgraçado que entrega seus colegas.

E assim vai o “grande irmão” propondo maldades e violências aos pobres sujeitos que ali entram em busca de um espaço na grande vitrine da vida. Confesso que a mim pouco se me dá se são homossexuais, trans, bi, héteros tarados, loucas, putas ou santas. Cada uma daquelas criaturas que ali estão quebrando todas as regras da ética do bem viver são pobres seres humanos, perdidos num mundo que exige da juventude bunda, músculo, peito e cabeça vazia. Não são eles os “imorais”. São vítimas. Querem mais do que as migalhas do banquete. Querem pegar com as unhas a promessa que o sistema capitalista traz na sua pedagogia da sedução: “‘qualquer um pode neste mundo livre”.

Tampouco me surpreende que um jornalista como Pedro Bial, dono de um texto refinado, esteja cumprindo o triste papel de fomentar a perda de todo o sentido ético que um ser humano pode ter. Ele, também buscando vencer nesse mundo que o capitalismo aponta como o melhor possível, fez a sua escolha. Optou por ser um sacerdote destes tempos vis. Um sacerdote muito bem pago.

O que me entristece é saber que essa pedagogia capitalista seguirá se fazendo todos os dias nas casas das gentes, que muitas vezes assistem ao programa porque simplesmente não têm outra opção. O melhor sinal é o da platinada. Pega em qualquer lugar deste grande país. Há os que vêem e nem gostam, mas ocorre que estas “lições” em que se eliminam pessoas, em que se traem os amigos, em que vale tudo, passam meio que por osmose. É a lavagem cerebral. É a violência extrema sendo praticada entre risos e apupos de “meus heróis”. Tudo pela “plata”.

Enquanto isso, como bem já levantaram alguns blogueiros, a Globo, junto com as companhias telefônicas, lucra rios de dinheiro com as ligações que as pessoas fazem para eliminar os “irmãos”. É galera, brother quer dizer irmão em inglês. E olha só o que se faz com um irmão? Essa é a “ética”. Os empresários globais lambem seus bigodes.

Então, fazer a crítica a esse perverso programa não é coisa de pseudo-esquerda. Deve ser obrigação de qualquer um que pensa o país. A questão do “grande irmão” não é moral. É ética. Trata-se da consolidação, via repetição, de uma pedagogia, típica do capitalismo, que pretender cristalizar como verdade que para que um seja feliz, outro tenha que ser “eliminado”. O show da Globo é uma violência explícita, cruel, nefanda, sinistra e miserável. É coisa ruim, malcheirosa. Penso que há outras formas de a gente se divertir, sem que para isso alguém tenha de se ferrar! Até mesmo os mais importantes cientistas mundiais já alardearam a verdade inconteste: vence quem coopera. Onde as pessoas, juntas, buscam o bem viver, ele vem...
 

BIG BROTHER BRASIL

Autor: Antonio Barreto,

Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.



Curtir o Pedro Bial

E sentir tanta alegria

É sinal de que você

O mau-gosto aprecia

Dá valor ao que é banal

É preguiçoso mental

E adora baixaria.



Há muito tempo não vejo

Um programa tão ‘fuleiro’

Produzido pela Globo

Visando Ibope e dinheiro

Que além de alienar

Vai por certo atrofiar

A mente do brasileiro.



Me refiro ao brasileiro

Que está em formação

E precisa evoluir

Através da Educação

Mas se torna um refém

Iletrado, ‘zé-ninguém’

Um escravo da ilusão.



Em frente à televisão

Lá está toda a família

Longe da realidade

Onde a bobagem fervilha

Não sabendo essa gente

Desprovida e inocente

Desta enorme ‘armadilha’.



Cuidado, Pedro Bial

Chega de esculhambação

Respeite o trabalhador

Dessa sofrida Nação

Deixe de chamar de heróis

Essas girls e esses boys

Que têm cara de bundão.



O seu pai e a sua mãe,

Querido Pedro Bial,

São verdadeiros heróis

E merecem nosso aval

Pois tiveram que lutar

Pra manter e te educar

Com esforço especial.



Muitos já se sentem mal

Com seu discurso vazio.

Pessoas inteligentes

Se enchem de calafrio

Porque quando você fala

A sua palavra é bala

A ferir o nosso brio.



Um país como Brasil

Carente de educação

Precisa de gente grande

Para dar boa lição

Mas você na rede Globo

Faz esse papel de bobo

Enganando a Nação..



Respeite, Pedro Bienal

Nosso povo brasileiro

Que acorda de madrugada

E trabalha o dia inteiro

Dar muito duro, anda rouco

Paga impostos, ganha pouco:

Povo HERÓI, povo guerreiro.



Enquanto a sociedade

Neste momento atual

Se preocupa com a crise

Econômica e social

Você precisa entender

Que queremos aprender

Algo sério – não banal.



Esse programa da Globo

Vem nos mostrar sem engano

Que tudo que ali ocorre

Parece um zoológico humano

Onde impera a esperteza

A malandragem, a baixeza:

Um cenário sub-humano.



A moral e a inteligência

Não são mais valorizadas.

Os “heróis” protagonizam

Um mundo de palhaçadas

Sem critério e sem ética

Em que vaidade e estética

São muito mais que louvadas.



Não se vê força poética

Nem projeto educativo.

Um mar de vulgaridade

Já tornou-se imperativo.

O que se vê realmente

É um programa deprimente

Sem nenhum objetivo.



Talvez haja objetivo

“professor”, Pedro Bial

O que vocês tão querendo

É injetar o banal

Deseducando o Brasil

Nesse Big Brother vil

De lavagem cerebral.



Isso é um desserviço

Mau exemplo à juventude

Que precisa de esperança

Educação e atitude

Porém a mediocridade

Unida à banalidade

Faz com que ninguém estude.



É grande o constrangimento

De pessoas confinadas

Num espaço luxuoso

Curtindo todas baladas:

Corpos “belos” na piscina

A gastar adrenalina:

Nesse mar de palhaçadas.



Se a intenção da Globo

É de nos “emburrecer”

Deixando o povo demente

Refém do seu poder:

Pois saiba que a exceção

(Amantes da educação)

Vai contestar a valer.



A você, Pedro Bial

Um mercador da ilusão

Junto a poderosa Globo

Que conduz nossa Nação

Eu lhe peço esse favor:

Reflita no seu labor

E escute seu coração.



E vocês caros irmãos

Que estão nessa cegueira

Não façam mais ligações

Apoiando essa besteira.

Não deem sua grana à Globo

Isso é papel de bobo:

Fujam dessa baboseira.



E quando chegar ao fim

Desse Big Brother vil

Que em nada contribui

Para o povo varonil

Ninguém vai sentir saudade:

Quem lucra é a sociedade

Do nosso querido Brasil.



E saiba, caro leitor

Que nós somos os culpados

Porque sai do nosso bolso

Esses milhões desejados

Que são ligações diárias

Bastante desnecessárias

Pra esses desocupados.



A loja do BBB

Vendendo só porcaria

Enganando muita gente

Que logo se contagia

Com tanta futilidade

Um mar de vulgaridade

Que nunca terá valia.



Chega de vulgaridade

E apelo sexual.

Não somos só futebol,

baixaria e carnaval.

Queremos Educação

E também evolução

No mundo espiritual.



Cadê a cidadania

Dos nossos educadores

Dos alunos, dos políticos

Poetas, trabalhadores?

Seremos sempre enganados

e vamos ficar calados

diante de enganadores?



Barreto termina assim

Alertando ao Bial:

Reveja logo esse equívoco

Reaja à força do mal…

Eleve o seu coração

Tomando uma decisão

Ou então: siga, animal…



FIM

Salvador, 16 de janeiro de 2010.

Colaboração: Alexandre Nunes de Araújo, por e-mail

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sábado, 22 de janeiro de 2011

Tragédia na região serrana do Rio expõe limites do capitalismo

“Dizer que o homem vive da natureza significa que a natureza é o corpo dele, com o qual deve se manter em contínuo intercâmbio a fim de não morrer. A afirmação de que a vida física e mental do homem e a natureza são interdependentes, simplesmente significa ser a natureza interdependente consigo mesma, pois o homem é parte dela.”

Karl Marx. Manuscritos econômico-filosóficos.


Nos últimos anos têm sido frequentes as catástrofes naturais, nas quais a classe trabalhadora tem sido a grande prejudicada. Podemos identificar duas causas principais. A primeira é a desestabilização ambiental causada pela ação inconsequente do homem (principalmente dos países ricos) e a segunda é a segregação geográfica que a população mais pobre vem sendo vítima, obrigada a se concentrar em locais de risco, onde conseguem terrenos baratos e livres de impostos.

Na serra fluminense, outros fatores geográficos contribuem ainda mais para calamidades deste tipo, pois além de ser uma área montanhosa, onde a terra da superfície é mais fraca, as nuvens de chuva concentram-se na região. Nos anos de 1988 e 2008 tivemos tragédias parecidas com a última, mas nada foi feito pelo poder público para impedir novas catástrofes. Apesar de respostas do governo e da sociedade em geral, através de abrigos, liberação de verbas, etc., as medidas são paliativas e ocorrem somente após o pior já ter acontecido. Na terça-feira (11/01) o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um boletim que foi ignorado pelas autoridades, informando sobre a possibilidade de chuvas fortes na região.

No mesmo período, a Austrália também foi vítima da fúria da natureza, porém o número de mortos nesse país (cerca de 20) não chega a 5% dos mortos na região serrana, demonstrando como as consequências da exploração capitalista junto ao meio ambiente cairão principalmente sobre os indivíduos pobres, concentrados nos países em desenvolvimento. De acordo com dados do próprio Banco Mundial, a população dos países ricos (20% da população mundial) é responsável pela emissão de cerca de 50% de todo CO2 emitido pela humanidade. Omar Baddour, especialista do WMO (World Meteorological Organization) atribui ao aquecimento global a intensificação de extremos meteorológicos, já que com o derretimento das geleiras e o aumento do vapor de água nos oceanos e florestas a atmosfera fica mais úmida, piorando as chuvas que já são típicas nesta época do ano. A ONU informou, nesta sexta-feira (14/01) que a tragédia ocorrida na região serrana está entre os 10 piores deslizamentos da década.

De acordo com a Defesa Civil, cerca de 40 mil pessoas de Petrópolis (13% da população) moram em áreas de risco. As atitudes do poder público têm se resumido a remoção forçada de parcela pífia destas pessoas e a destruição de suas casas, não respeitando os laços de amizade e afinidade com o local de moradia (algumas pessoas viveram a vida toda na região). A maior parte passa a receber um auxílio mensal que não passa de 300 reais, forçando-os a voltar a morar em locais de difícil acesso, só que dessa vez como locatários. Apenas algumas pessoas recebem uma nova moradia.

A crise ambiental é apenas mais um aspecto da crise capitalista, reflexo da falência do mesmo. Suas contradições não apresentam mais apenas entraves ao desenvolvimento das forças produtivas, mas sim uma ameaça real à própria espécie humana, tornando imperativa sua substituição pelo socialismo. Alguns apresentam as tragédias como um evento metafísico, supostas provas do final dos tempos, quando na verdade estamos diante de um evento histórico que deve ser analisado de maneira científica. Se existe algum fim próximo, este fim é o da era da exploração do homem pelo homem. A solidariedade demonstrada pela população em geral e principalmente por aqueles que mesmo sofrendo com as tragédias ajudam vizinhos e amigos, deixa claro que a classe trabalhadora está disposta a viver num mundo diferente.

Para terminar, deixo um relato particular. No final do ano passado conheci uma família moradora do Vale do Cuiabá, uma das regiões mais afetadas da região. O patriarca da família, seu José do Rego, tinha orgulho de mostrar a sua casa, pois demorou décadas para construí-la, no terreno do sítio de seu patrão. Poucas semanas depois, a chuva e a lama ocuparam tudo. De uma hora para outra o fruto do suor de uma vida inteira estava soterrado. Felizmente toda a família está viva e estão em casas de parentes. Mas para muitos, a realidade foi mais cruel, pois não perderam só o fruto de seu trabalho, mas a razão de viver, que foi embora com algum ente querido. Novamente o capitalismo mostra sua face mais terrível para aqueles que o sustentaram a vida toda. Chega de pagarmos pela crise capitalista! Lutemos para acabar com esse sistema maldito e por uma sociedade harmônica consigo mesma e com a natureza! Ou a humanidade constrói um futuro socialista ou não teremos futuro para construir nada.

Diego G.P

Original em Inverta
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AS DESGRAÇAS DO HAITI

Pobre e infeliz Haiti. Primeiro a longa e feroz ditadura de Duvalier, com os seus sinistros ton-ton macoute. Depois um brevíssimo governo democrático, cujo presidente foi deposto por uma intervenção militar dos EUA & da França. Segue-se uma longa ocupação militar, com a cumplicidade activa de países latino-americanos que se prestaram a enviar tropas para colaborar com o império. Mais recentemente um terramoto gigante que deixou o país destruído. E este foi seguido de imediato por uma invasão em grande escala de tropas estado-unidenses. O estado calamitoso do país, com as infraestruturas de saneamento básico arruinadas, levou à epidemia de cólera iniciada em 2010. E agora, 17 de Janeiro, para culminar, Baby Doc , o filhote do antigo ditador Duvalier, retorna de Paris . Ele volta protegido pelas tropas do imperialismo e dos governos latino-americanos que o servem – como o do Brasil, Chile e Uruguai. Vem tomar posse dos despojos. Tal como os abutres, também quer um naco do moribundo.

Original em Resistir.info

sábado, 15 de janeiro de 2011

Faluja: uso de urânio depletado pelas tropas dos EUA provocam deformações em 15% dos bebês

Uma nova pesquisa publicada na segunda-feira, 10, pelo International Journal of Environmental Research and Public Health (Jornal Internacional de Pesquisa Ambiental e de Saúde Pública, com sede na Suíça) mostra que as deformações congênitas apresentadas por recém-nascidos na cidade iraquiana de Faluja atingiram proporções de epidemia desde que a cidade fora arrasada há seis anos por tropas invasoras dos Estados Unidos. O Pentágono utilizou, de forma ampla e rotineira, armamentos que continham urânio depletado nas duas batalhas de Faluja, em abril e novembro de 2004. Embora os invasores não reconheçam esse crime, Washington já admitiu haver utilizado o não menos arrasador fósforo branco durante os ataques.

O estudo assinado pelos doutores Samira Alaani, Mozhgan Savabieasfahani, Mohammad Tafash e Paola Manduca examinou o alarmante aumento de malformações de nascença ocorridas em Faluja e concluiu, pela primeira vez, que os níveis sem precedentes de recém-nascidos com cânceres e tumores ósseos, cardíacos e neuronais são consequência dos ataques perpetrados pelo exército dos Estados Unidos contra a cidade iraquiana.

Os autores do trabalho, que se focaram na sanidade genética de Faluja, encontraram que as deformidades que apresentam os bebês são quase onze vezes superiores à média normal. Essas deformidades alcançaram seu pico mais alto na primeira metade de 2010.

O novo estudo aponta uma série de metais como fonte potencial de contaminação em Faluja, que estão afetando especialmente as mulheres grávidas. “Os metais estão implicados na regulação da estabilidade do genoma”, afirma o estudo. E acrescenta: “Sendo elementos que afetam o meio ambiente, os metais são os principais candidatos a causar defeitos congênitos”.

O primeiro assalto perpetrado contra Faluja pelo exército invasor foi realizado em abril de 2004, usando como álibi a morte de quatro mercenários estadunidenses da suposta “segurança” fornecida pela multinacional Blackwater. Implicou num amplo uso de aviões de combate para bombardear a cidade de forma indiscriminada, junto com ataques da artilharia pesada. O segundo ataque foi em novembro do mesmo ano. A total destruição da cidade foi perpetrada após o discurso de W. Bush proclamando “Missão Cumprida”.

A munição de urânio depletado deixa atrás de si resíduos tóxicos, afirmam os cientistas em sua pesquisa.

O atual estudo realizado em Faluja se concentrou em 55 famílias com recém-nascidos com graves deformidades entre maio e agosto de 2010. A doutora Samira Abdul Alaani, pediatra do Hospital Geral de Faluja, que dirigiu o estudo, assinalou que em maio os casos graves de defeitos de nascimentos atingiam a percentagem de 15% de 547 recém-nascidos. E o que é ainda pior, o estudo encontrou também que 11% dos recém-nascidos tinha menos de 30 semanas e que 14% das mães haviam abortado espontaneamente.

“É importante compreender que em condições normais, as possibilidades de que se produzam essas incidências são praticamente zero”, disse Zavabies-fahani, membro da comissão de pesquisadores que elaborou o estudo.

Original em Hora do Povo

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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A guerra invisível

Kamil Mahdi


Fonte: ODiario.info
Tradução de José Paulo Gascão

Os Estados Unidos continuam a pintar um panorama cor-de-rosa sobre o progresso no Iraque, mas a realidade é a de pobreza extrema, de violência, de tortura e de corrupção política num país que ainda sofre as sanções, a invasão e o saque imperial e contínuo dos seus recursos.

Continuam a recorrer à guerra e às sanções para manipular e controlar o Iraque. O recente livro de Joy Gordon sobre as sanções e a política estadunidense, mostra que estas não foram utilizadas pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha não como alternativa à guerra, como acreditaram muitos dentro da comunidade internacional, mas como o meio de debilitar o Iraque na preparação da guerra.

Por isso não foram feitas apenas uma vez, mas duas, em 1991 e em 2003. Esta guerra invisível, para usar os termos de Joy Gordon, faz parte de uma guerra dos Estados Unidos contra o Iraque que dura há vinte anos e que os sucessivos governos britânicos apoiaram desenvergonhadamente com entusiasmo.

Cada dia que passa, vemos e conhecemos novas provas do seu custo humano, apesar dos governos ocidentais tratarem de descartar a sua responsabilidade nos danos acumulados por uma guerra mantida ao longo de toda uma geração e que se persiste em manter.

Inclusive, atualmente sete anos depois da invasão e da ocupação, a guerra invisível ainda não acabou. Devido ás resoluções do conselho de Segurança da ONU, o Iraque continua a ser considerado pelas grandes potências como uma ameaça à paz internacional, sofrendo por isso as sanções e medidas aplicáveis no âmbito do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.

A guerra do Iraque continua, não só através da presença e das atividades das forças de ocupação estadunidenses e dos mercenários estrangeiros, mas também através de uma série de medidas punitivas aplicadas contra o Iraque com o fim de garantir o seu cumprimento como e tal os Estados Unidos desejam.

Como residual das sanções impostas em 1990, as receitas de petróleo do Iraque ainda são depositadas num fundo dos Estados Unidos supervisionado externamente e sujeito a restrições que atribuem aos Estados Unidos um grande poder decisório. Todas as reservas estrangeiras do Iraque são retidas pelos Estados Unidos e foram expressamente ameaçadas com ações legais em tribunais norte-americanos. Os Estados Unidos utilizaram o seu poder para obterem cedências nas negociações do governo iraquiano sobre o Acordo Estratégico em 2008. Em Setembro deste ano o governo de Al-Maliki concordou em pagar 400 milhões de dólares por algumas estranhas ações judiciais interpostas nos Estados Unidos contra o Iraque por cidadãos norte-americanos; reclamações que o governo estadunidense e o sistema judicial pode decidir, recorrendo aos ativos financeiros iraquianos. Esta finta ao Direito e às relações internacionais civilizadas lembra o saque dos ativos iraquianos no primeiro ano da ocupação e demonstra que as afirmações de que o Iraque recuperou a sua soberania são vazias de conteúdo.

No entretanto, as sanções continuam a ser utilizadas para coagir e prejudicar o Iraque.

O Iraque é hoje a parte prejudicada, tal como o vem sendo há 19 anos. No entanto, é o Iraque quem está a pagar ao Kuwait e a outros países as indenizações impostas pelo regime de compensação estabelecido pelas Nações Unidas em 1991. As reclamações ao abrigo do dito regime foram de montantes muito elevados e muitas vezes exageradas, em sentenças que se impuseram de forma injusta. Independentemente do grau e das provas dos abusos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha no Iraque nem o enorme sofrimento do povo iraquiano, os ricos e poderosos continuam a exigir a sua «compensação» a uma nação que ficou traumatizada pelos abusos das grandes potências. O Iraque deverá continuar a pagar as indenizações durante as próximas décadas, a menos que venha um governo que tenha a coragem de pôr termo a tal iniqüidade.

Enquanto os Estados Unidos impõem este castigo, o FMI, com a sua habitual imprudência criminosa, tem estado a abolir o sistema iraquiano da caderneta de alimentos que é essencial ao sustento diário de uma imensa percentagem da população iraquiana. Na província de Diyala, onde o sistema não tem funcionado eficazmente devido ao conflito, uma recente sondagem oficial demonstrou que 51% da população sofre de «carência de alimentos», isto é, o seu consumo de energia alimentar é inferior às necessidades energéticas mínimas. Em Basora, donde as forças britânicas se retiraram no ano passado, deixaram atrás de si 20% da população privada de alimentos, ainda que funcionando em regime de racionamento.

Quase 30% da população do conjunto do país não tem possibilidades de encontrar qualquer emprego, apesar de se terem alargado massivamente os postos de trabalho estatais e de segurança. Isto, sem contar os milhões de pessoas que se refugiaram em países vizinhos, nem com as mulheres que desistiram de procurar emprego. A inflação está outra vez a aumentar vertiginosamente, os serviços públicos, a eletricidade, as provisões de água potável, e a habitação continuam em grave crise. A economia continua em ponto morto e, no entanto, o Iraque vê-se obrigado a pagar indenizações injustas (e impostas) pelos que dizem tê-lo libertado.

As sanções obrigaram o governo a aceitar alterações fronteiriças que foram desenhadas para submeter o principal canal marítimo iraquiano à soberania do Kuwait, deixando o Iraque quase sem saída para o mar. Nas alterações das fronteiras impostas pelas Nações Unidas, o Iraque perdeu áreas que nunca foram reivindicadas pelo Kuwait. É esta a política defendida pelos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, uma política que cria, efetivamente, uma ameaça á segurança.

Apesar da retirada terrestre britânica do ano passado, há unidades da Marinha britânica dentro e nas proximidades do Iraque, aparentemente para proteger os principais terminais de exportação de petróleo do Iraque e as suas rotas de acesso marítimo. É uma proteção com uma faca apontada à garganta.

Naturalmente que existem perigos de segurança contra instalações vitais do Iraque, as um dos principais provém da agressiva atitude britânica e estadunidense contra o Irão e da sua contínua desestabilização na região. O que é preciso é um acordo de segurança regional que contemple a saída total das forças estrangeiras.

Os antecedentes britânicos no Iraque são abomináveis. Sabemos das torturas e assassínios cometidos pelas tropas que o Ministério da Defesa tratou de encobrir, como sabemos da sua incapacidade para proporcionar segurança em Basora e no sul do país. No entanto, o Ministério da Defesa britânico diz que «as Forças Armadas britânicas tem estado a ajudar os iraquianos para assegurar e reconstruir o seu país depois de anos de negligência e conflito».

A falsidade da reclamação dos que impuseram previamente o bloqueio contra o Iraque é igualmente desmentida no terreno. Há poucas semanas a amara da cidade de Basora informou que os diques junto à fronteira com o Irão estão em perigo de desmoronamento. O seu desmoronamento poderá provocar que uma área de terreno pejada de minas deslizará para dentro da cidade. Este é um dos exemplos de segurança e de reconstrução que as forças britânicas deixaram atrás de si. Que segurança e que reconstrução, pergunto-me, se o exército não faz frente aos perigos de minas terrestres a movimentarem-se sigilosamente numa cidade debaixo do seu controlo?

O Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID, na sua sigla em inglês), por sua vez, assegura que em 2009 concedeu 14 milhões de libras de ajuda ao Iraque e quase 19 milhões no ano anterior. Naturalmente que estas quantias são uma miséria em comparação com as dezenas de milhares de milhões gastos pela Grã-Bretanha na guerra. No entanto , uma olhar rápido sobre a denominada ajuda da Grã-bretanha ao Iraque demonstra que dos 32,8 milhões de libras desembolsadas entre 2008 e 2009, só 5% (quase um milhão e meio de libras) foi gasto em saneamento de águas e outras questões sociais, enquanto um terço foi investido foi investido em «governação», e cerca de metade numa categoria camada «outros», que parece incluir as contribuições para os esforços de ajuda humanitária. Quase nada foi gasto em projetos de desenvolvimento econômico ou na reconstrução real das infra-estruturas físicas.

Segundo o ministro iraquiano dos Recursos hídricos, no ano passado (2009), só no sul do Iraque houve trezentos mil iraquianos que se converteram em refugiados ecológicos porque se viram forçados a mudarem-se pela má qualidade da água disponível aos seus povos, também devido á deteriorização à seca. Hoje, em Bassorá, e ainda mais em Faluya, está a verificar-se um sério, mesmo um catastrófico, aumento do número de cancros e doenças congênitas.

O principal propósito do programa de ajuda do DFID não é aceitar a responsabilidade da Grã-Bretanha nos danos causados pela guerra ilegal, mas criar um clima de influência política e promover a inversão estrangeira. Talvez por isso o governo [britânico] de coligação de não vai diminuir o programa de ajuda.

Continuamos a ouvir que o Iraque e rico em petróleo, mas esse petróleo foi obscuramente arrematado por uma cleptocracia e um governo incompetente, assessorado por um exército de consultores internacionais. As empresas multinacionais foram brindadas com contratos por vinte anos que as recompensam sem quaisquer riscos, ao mesmo tempo que controlam a maior parte do petróleo do Iraque, campo a campo.

Muitas pessoas no Iraque já estão a falar da luta que aí vem pela nacionalização do petróleo. Não é estranho que nem todos os contratos tenham ido parar ás grandes companhias petrolíferas estadunidenses e britânicas. Se assim tivesse sido, as linhas da batalha seriam mais claramente definidas e a derrogação dos contratos mais fácil, mas essa é uma luta que, de qualquer modo, vai chegar.

Os restantes ativos industriais do Iraque também estão a ser arrematados e os investidores cobiçam com ansiedade parcelas primordiais do Estado. Os recursos de água do país estão a ser desviados por Estado vizinhos, e a pretexto do federalismo e da descentralização o país começa uma vez mais a afundar-se na dívida, que ameaça sair de controlo. É assim que as prometidas novas receitas do petróleo se estão de antemão a desbaratar.

Os ocupantes chegaram, destruíram, maltrataram e criaram o caos, Fomentaram a corrupção e agora, alto e bom som, dão conselhos sobre a política econômica, a distribuição eqüitativa de recursos, e um bom governo. Os ocupantes estadunidenses mantêm ainda cinqüenta mil soldados e dezenas de milhares de mercenários no país e retêm a linha de salvamento e as contas bancárias do Iraque. As atrocidades terroristas sucedem-se diariamente e o povo do Iraque é a vítima de uma derrota que os Estados Unidos recusam reconhecer. Um fracassado processo político tem o Iraque refém de esquemas corruptos e protegidos pelos Estados Unidos, de forças obscuras e regimes reacionários que fomentam o sectarismo e os prejuízos no Iraque e em toda a região.

Os Estados Unidos continuam a pintar um panorama de progresso cor-de-rosa que em larga medida é medido pela deriva do seu projeto para o controlo empresarial do país. A corrupção generalizada e as condições caóticas supõem que um tal projeto não se possa ainda confiar aos aliados políticos locais dos Estados Unidos, como também não acredito que a retirada militar completa que os Estados Unidos prometeram para Dezembro de 2011 se vá cumprir.

Para concluir, uma referência às recentes revelações de Wikileaks sobre os abusos das forças estadunidenses e das forças de segurança iraquianas. Revelou-se muita informação sobre matanças, torturas e sobre a incapacidade de dar proteção aos civis. As divulgações devem ser utilizadas para expor a política de ocupação e os crimes contra o povo iraquiano e para identificar as vítimas e os perpetradores.

No entanto seja lá o que for que se possa dizer e fazer, não se deve esquecer que o ponto-chave deve continuar a ser a saída de todas as forças dos Estados Unidos e de todos os mercenários do Iraque. Não poderão ser as forças estadunidenses responsáveis por terem cometido os abusos quem vai reformar as forças de segurança iraquianas, nem tampouco os mercenários.


Nota: Este artigo foi escrito com base na intervenção do autor na Conferência Stop the War Coalition.

* Professor de Economia do Médio Oriente na Universidade de Exeter.

Este texto foi publicado em www.counterfire.org/ através de Uruknet

Publicadoo em Tribunal Iraque
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Itália se nega a extraditar ex-capitão da ditadura uruguaia

O governo italiano, tão empenhado na extradição de Cesare Battisti, adota postura diferente no caso do uruguaio Jorge Troccoli.

Capitão da marinha uruguaia, Troccoli teve uma atuação bastante ativa na tristemente famosa “Operação Condor” (que contou com a participação das ditaduras militares do Uruguai e de outros países sul-americanos), tendo sido responsável pela tortura e morte de mais de uma centena de opositores desses regimes, entre 1975 e 1983. Em 2002, o governo do Sr. Silvio Berlusconi – em sua segunda passagem pela chefia do gabinete de ministros da Itália - concedeu cidadania italiana ao Capitão Troccoli, mesmo sabendo das acusações de crime contra a humanidade que pesavam contra ele.

Em setembro do ano passado, o ministro da justiça da Itália, Angelino Alfano, negou-se à extraditar Troccoli para o Uruguai, alegando que ele é cidadão italiano, tomando como base jurídica um tratado assinado entre os dois países em 1879. Portanto, o mesmo governo que nega-se a extraditar um notório torturador, utilizando dessas filigranas jurídicas, é o mesmo que se considera ofendido pela não-extradição de Battisti, que seguiu todas as normas da legislação brasileira, que por sua vez se baseia em uma série de convenções internacionais.

"O curioso é que o governo de Berlusconi negou a extradição de Troccoli para o Uruguai, alegando dupla cidadania", comentou o editor da página Gramsci e o Brasil, Luiz Sérgio Henriques. Henriques argumenta que o caso Troccoli tem "muitas semelhanças" com o de Battisti: "não faltaram pressões diplomáticas do governo uruguaio, recursos às instâncias do Judiciário italiano, etc.", e conclui: "mas o governo de Berlusconi parece irredutível na sua decisão sobre Troccoli, 'o Battisti uruguaio', no dizer do jornal L’Unità. E se trata de um episódio recente, cujas escaramuças diplomáticas e judiciárias mais dramáticas ocorreram em 2008".

Original em Vermelho

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fome nos EUA atingiu 50 milhões de pessoas durante o ano de 2009

Enquanto isso, Fed libera mais US$ 600 bilhões aos bancos ao invés de recursos para programas sociais e geração de empregos

O número de norte-americanos que dependeram de forma permanente de alimen-tos distribuídos por pro-gramas federais (conhe-cidos como food stamps – cupons de alimentos) duplicou em 2009, em relação a 2007, chegan-do a 6 milhões. O nú-mero de norte-america-nos que passou fome em algum momento no ano passado, chegou a 50 milhões, realidade que atingiu 17,4 milhões de lares daquele país, ou 15% do total de residências.

Os dados são do Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, sigla em inglês) e foram divulgados no dia 10.

Desde que estourou a crise provocada pelos bancos, o governo dos EUA colocou à disposição destes mesmos bancos oficialmente – através do chamado QE1 (primeiro “afrouxamento monetário” - uma verba de US$ 1,75 trilhão. Há alguns dias, o Fed (banco central) anunciou uma nova superemissão, o QE2, de US$ 600 bilhões.

Esse dinheiro não tem nenhum efeito, como observaram vários economistas, na expansão do mercado interno. Antes do anúncio da emissão de mais US$ 600 bilhões, os bancos já estavam com um “excesso de reserva” de US$ 1 trilhão. O crédito está paralisado, pois ninguém se apresta a tomar empréstimos, já que todos estão endividados - o endividamento das famílias, sem contar as empresas, equivale a 100% do PIB, ou seja, algo em torno do monstruoso valor de US$ 13 trilhões.

Certamente, para reanimar a economia dos EUA seria necessário uma política contra a monopolização do dinheiro pelos bancos, com a redução das dívidas de consumidores e empresas, além de medidas emergenciais contra o desemprego – e de desestimular as multina-cionais de instalarem suas fábricas no exterior, o que, desde 2007, redundou na destruição de 10 milhões de empregos. Em suma, um novo New Deal, tal como na época do presidente Franklin Delano Roosevelt.

Mas o caminho seguido pelo governo Obama tem sido o oposto: empoçar dinheiro nos mesmos bancos que causaram a crise, o que teve como resultado a elevação do desemprego, que hoje atinge 17,5% dos trabalhadores nos EUA, a quebra dos Estados, que demitiram em massa seus funcionários públicos e a queda ou manutenção da produção em patamares medíocres. Os bancos expropriam a poupança da população - milhões de casas foram açambarcadas através de despejos – e usam o dinheiro para especular em países onde os juros estão mais altos que nos EUA.

Em suma, o mercado interno – o emprego e os salários – é achatado em prol desse sistema financeiro meramente parasitário (se é que tal expressão não é uma redundância). A orientação da política econômica não é para o investimento em produção e infraestrutura dentro do país, mas fazer com que dobrem as exportações, ou seja que o mundo inteiro compre o dobro dos produtos norte-americanos. É passar as exportações norte-americanas do atual patamar de US$ 1,57 trilhão, para US$ 3,14 trilhões em 2014. O que implica, evidentemente, em desvalorizar o dólar – daí as gigantescas emissões de dólares - para que a invasão de produtos americanos conquiste espaço destruindo com a produção local dos países invadidos ou substituindo a importação vinda de outros países (ver matéria na página 2).

Por outro lado, a principal medida que o Departamento de Agricultura tomou não foi para aliviar a fome, mas para deixar de mencioná-la. Agora, os 15% do total de lares nos EUA que foram atingidos pela fome em algum momento de 2009 passaram a ser denominados de “alimentarmente inseguros”...

Os lares que passaram por esta situação aumentaram em 4 milhões (em 2007 foram 13 milhões), um aumento de 30%.

No entanto, a fome aparece em seguida, no informe do Departamento de Agricultura, exatamente onde se admite que não há uma política de combate à fome, mas, no máximo, o que antigamente, no Brasil, era denominado “o sopão”: “Os programas de assistência nutricional permitem o acesso aos que estão em estado de necessidade crítica, mas tratar a fome pela raiz exige uma estratégia mais ampla”.

Os níveis da fome medidos pelo informe são também os mais altos desde o ano de 1995 quando a pesquisa foi instituída.

O informe também destaca que as crianças são protegidas da fome mesmo nas casas necessitadas – onde adultos deixam de comer para que as crianças comam - mas existe uma parcela de lares em que mesmo as crianças enfrentam fome. Segundo os dados do departamento, esses lares se aproximam dos 600 mil em 2009, enquanto que os lares nos quais as crianças estiveram expostas constantemente à fome em 2007 foram cerca de 320 mil. Enquanto que 17 milhões de crianças viveram em condições de escassez de alimentos. Isso significa 22,5% das crianças do país, quase uma em cada quatro, também aí um aumento com relação a situação de 2007: 4 milhões de crianças a mais do que naquele ano.

O número de jovens que passaram o ano de 2009 encarando a fome passou de 700 mil em 2007 para 1 milhão e cem mil.

Já o papel reservado ao departamento encarregado de evitar a fome no momento atual não é muito alentador, é só ver as palavras do secretário do Departamento de Agricultura, Tom Vilsack, “o papel do USDA – junto com nossos parceiros – é garantir que os indivíduos não caiam pelos

Original em Hora do Povo
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domingo, 2 de janeiro de 2011

COLÔMBIA

Descoberta mais uma vala comum

Defensores dos direitos humanos na Colômbia anunciaram a descoberta de mais uma vala comum no departamento de Meta, região onde, em Dezembro de 2009, foi desvendada a maior vala comum do continente. Nela estavam dois mil cadáveres de «falsos positivos», homens apresentados pelo exército colombiano como combatentes das FARC abatidos, mas que, na verdade, eram, na sua maioria, jovens recrutados com promessas de trabalho e posteriormente executados sumariamente.

A nova vala comum contém mais de 1500 corpos e os representantes das vítimas dos crimes do Estado acreditam que se trata de «falsos positivos».

Os deputados do Pólo Democrático Alternativo Gloria Inés Ramírez e Iván Cepeda, que há alguns meses denunciaram no parlamento nacional os indícios da existência desta vala, deslocaram-se ao local junto com membros da procuradoria-geral a fim de observarem a exumação de 66 cadáveres.

As investigações forenses vão determinar se os corpos são de combatentes das FARC, ou se se trata, mais uma vez, de «falsos positivos», algo que o governo nega, tal como no caso anterior.

As organizações humanitárias e as estruturas de defesa das vítimas e dos desaparecidos sublinham que foi graças aos relatos dos familiares que se logrou descobrir mais uma vala comum, por isso instaram as comunidades a denunciar as situações conhecidas e a apresentar as suas suspeitas para que se proceda ao respectivo apuramento.

«A Colômbia pode ser uma gigantesca vala comum. O exército colombiano converteu-se num autêntico exército ocupante contra o seu próprio povo», disse à Telesur um dos advogados das vítimas e familiares reagindo à macabra descoberta.

Original em Avante!
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Partidos comunistas e operários da Europa alertam

O anticomunismo não passará

Reagindo a uma nova investida anticomunista na UE, 38 partidos comunistas e operários europeus emitiram uma declaração conjunta, que abaixo publicamos na íntegra, na qual denunciam os propósitos da campanha e apelam à unidade e luta de todas as forças democráticas, progressistas e anti-imperialistas.

«Os partidos comunistas e operários da Europa condenam a escandalosa e provocatória iniciativa dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Bulgária, Letónia, Lituânia, Hungria, Roménia e República Checa que exigem e instigam à perseguição jurídica de todos os que, na UE, não aceitem as campanhas reaccionárias de reescrita da História e a criminalização dos comunistas.

«Esta é uma perigosa tentativa de generalizar a perseguição judicial e outras medidas, em vigor em vários países da UE, contra todos aqueles que rejeitam as calúnias contra as experiências históricas de construção socialista e contra todos os que combatem as tentativas para apagar da História a decisiva contribuição dos comunistas na luta pelos direitos sociais e laborais e pela democracia na Europa, e rejeitam a distorção da história da 2.ª Guerra Mundial e a inaceitável equiparação do comunismo com o fascismo.
«Não é por acaso que esta iniciativa ocorre quando a classe operária e as lutas populares se estão a intensificar. A intensificação do violento assalto aos trabalhadores anda de mãos dadas com a intensificação de medidas anticomunistas. Os comunistas são alvo destes ataques porque estão na linha da frente das lutas não só para que os trabalhadores não arquem com o ónus da crise capitalista, mas também porque são os únicos que possuem uma verdadeira solução para a barbárie capitalista.
«A classe dominante, entendendo muito bem os impasses do sistema capitalista e as suas irreconciliáveis contradições, intensifica as perseguições, ameaças e crimes. Contudo, independentemente das medidas que tome, não pode impedir as leis inexoráveis do desenvolvimento social e a necessidade de derrubar o poder do capital. Não pode impedir o fortalecimento da organização da classe operária e o desenvolvimento da luta de massas pelo socialismo e o comunismo.
Luta de todos

«Firmemente declaramos que os planos anticomunistas da burguesia fracassarão. A superioridade da nossa ideologia, a justa causa da classe operária pode quebrar os seus mecanismos mais severos. Vamos continuar de uma forma ainda mais determinada e inflexível de modo a derrotar o poder antipopular do grande capital. A histeria anticomunista não enganará a classe operária e as forças populares que são duramente afectadas pelos problemas do desemprego, pelo retrocesso das políticas sociais, da segurança social e dos direitos dos trabalhadores, pela própria barbárie capitalista.
«Apelamos a todas as forças democráticas, progressistas e anti-imperialistas para que se unam a nós na luta contra o anticomunismo, directamente associada à luta pelos direitos dos trabalhadores e populares, assim como pela justiça social; por um mundo sem exploração do homem pelo homem».

Subscrevem a declaração:

Partido Comunista da Arménia; Partido Comunista do Azerbaijão; Partido Comunista da Bielorrússia; Partido do Trabalho da Bélgica; Partido Comunista Britânico; Novo Partido Comunista Britânico; Partido Comunista da Bulgária; Partido dos Comunistas Búlgaros; AKEL, de Chipre; Partido Comunista da Dinamarca; Partido Comunista da Estónia; Partido Comunista da Finlândia; Partido Comunista da Macedónia; Partido Comunista Alemão; Partido Comunista da Grécia; Partido dos Trabalhadores Comunistas Húngaros; Partido Comunista da Irlanda; Partido dos Comunistas Italianos; Partido Comunista do Cazaquistão; Partido Socialista da Letónia; Partido Comunista do Luxemburgo; Partido Comunista de Malta; Partido Comunista da Noruega; Novo Partido Comunista da Holanda; Partido Comunista da Polónia; Partido Comunista Português; Partido Comunista Romeno; Partido Comunista da Federação Russa; Partido Comunista da União Soviética; Partido Comunista dos Trabalhadores da Rússia – PC Russo; União de Partidos Comunistas – CPSU; Partido dos Comunistas da Sérvia; Partido Comunista da Eslováquia; Partido Comunista dos Povos de Espanha; Partido Comunista da Suécia; Partido Comunista da Turquia; Partido Comunista da Ucrânia; União dos Comunistas da Ucrânia.

Original em Avante!
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HAITI

Médicos cubanos no Haiti deixam o mundo envergonhado

Números divulgados na semana passada mostram que o pessoal médico cubano, trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tem tratado mais de 30.000 doentes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, tratando cerca de 40% de todos os doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve, uma equipe especializada em desastre e em emergência, chegou recentemente. Uma brigada de 1.200 médicos cubanos está operando em todo o Haiti, destroçado pelo terremoto e pela cólera. Enquanto isso, a ajuda prometida pelos EUA e outros países.O artigo é de Nina Lakhani, do The Independent.

Por Nina Lakhani - The Independent


Eles são os verdadeiros heróis do desastre do terremoto no Haiti, a catástrofe humana na porta da América, a qual Barack Obama prometeu uma monumental missão humanitária dos EUA para aliviar. Esses herois são da nação arqui-inimiga dos Estados Unidos, Cuba, cujos médicos e enfermeiros deixaram os esforços dos EUA envergonhados.

Uma brigada de 1.200 médicos cubanos está operando em todo o Haiti, rasgado por terremotos e infectado com cólera, como parte da missão médica internacional de Fidel Castro, que ganhou muitos amigos para o Estado socialista, mas pouco reconhecimento internacional.

Observadores do terremoto no Haiti poderiam ser perdoados por pensar operações de agências de ajuda internacional e por os deixarem sozinhos na luta contra a devastação que matou 250.000 pessoas e deixou cerca de 1,5 milhões de desabrigados. De fato, trabalhadores da saúde cubanos estão no Haiti desde 1998, quando um forte terremoto atingiu o país. E em meio a fanfarra e publicidade em torno da chegada de ajuda dos EUA e do Reino Unido, centenas de médicos, enfermeiros e terapeutas cubanos chegaram discretamente. A maioria dos países foi embora em dois meses, novamente deixando os cubanos e os Médicos Sem Fronteiras como os principais prestadores de cuidados para a ilha caribenha.

Números divulgados na semana passada mostram que o pessoal médico cubano, trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tem tratado mais de 30.000 doentes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, tratando cerca de 40% de todos os doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve, uma equipe especializada em desastre e em emergência, chegou recentemente, deixando claro que o Haiti está se esforçando para lidar com a epidemia que já matou centenas de pessoas.

Desde 1998, Cuba treinou 550 médicos haitianos gratuitamente na Escola Latinoamericana de Medicina em Cuba (Elam), um dos programas médicos mais radicais do país. Outros 400 estão sendo treinados na escola, que oferece ensino gratuito - incluindo livros gratuitos e um pouco de dinheiro para gastar - para qualquer pessoa suficientemente qualificada e que não pode pagar para estudar Medicina em seu próprio país.

John Kirk é um professor de Estudos Latino-Americanos na Universidade Dalhousie, no Canadá, que pesquisa equipes médicas internacionais de Cuba. Ele disse: "A contribuição de Cuba, como ocorre agora no Haiti, é o maior segredo do mundo. Eles são pouco mencionados, mesmo fazendo muito do trabalho pesado".

Esta tradição remonta a 1960, quando Cuba enviou um punhado de médicos para o Chile, atingido por um forte terremoto, seguido por uma equipe de 50 a Argélia em 1963. Isso foi apenas quatro anos depois da Revolução.

Os médicos itinerantes têm servido como uma arma extremamente útil da política externa e econômica do governo, gahando amigos e favores em todo o globo. O programa mais conhecido é a "Operação Milagre", que começou com os oftalmologistas tratando os portadores de catarata em aldeias pobres venezuelanos em troca de petróleo. Esta iniciativa tem restaurado a visão de 1,8 milhões de pessoas em 35 países, incluindo o de Mario Terán, o sargento boliviano que matou Che Guevara em 1967.

A Brigada Henry Reeve, rejeitada pelos norteamericanos após o furacão Katrina, foi a primeira equipe a chegar ao Paquistão após o terremoto de 2005, e a última a sair seis meses depois.

A Constituição de Cuba estabelece a obrigação de ajudar os países em pior situação, quando possível, mas a solidariedade internacional não é a única razão, segundo o professor Kirk. "Isso permite que os médicos cubanos, que são terrivelmente mal pagos, possam ganhar dinheiro extra no estrangeiro e aprender mais sobre as doenças e condições que apenas estudaram. É também uma obsessão de Fidel e ele ganha votos na ONU".

Um terço dos 75 mil médicos de Cuba, juntamente com 10.000 trabalhadores de saúde, estão atualmente trabalhando em 77 países pobres, incluindo El Salvador, Mali e Timor Leste. Isso ainda deixa um médico para cada 220 pessoas em casa, uma das mais altas taxas do mundo, em comparação com um para cada 370 na Inglaterra.

Onde quer que sejam convidados, os cubanos implementam o seu modelo de prevenção com foco global, visitando famílias em casa, com monitoração proativa de saúde materna e infantil. Isso produziu "resultados impressionantes" em partes de El Salvador, Honduras e Guatemala, e redução das taxas de mortalidade infantil e materna, redução de doenças infecciosas e deixando para trás uma melhor formação dos trabalhadores de saúde locais, de acordo com a pesquisa do professor Kirk.

A formação médica em Cuba dura seis anos - um ano mais do que no Reino Unido - após o qual todos trabalham após a graduação como um médico de família por três anos no mínimo. Trabalhando ao lado de uma enfermeira, o médico de família cuida de 150 a 200 famílias na comunidade em que vive.

Este modelo ajudou Cuba a alcançar alguns índices invejáveis de melhoria em saúde no mundo, apesar de gastar apenas $ 400 (£ 260) por pessoa no ano passado em comparação com $ 3.000 (£ 1.950) no Reino Unido e $ 7.500 (£ 4,900) nos EUA, de acordo com Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento.

A taxa de mortalidade infantil, um dos índices mais confiáveis da saúde de uma nação, é de 4,8 por mil nascidos vivos - comparável com a Grã-Bretanha e menor do que os EUA. Apenas 5% dos bebês nascem com baixo peso ao nascer, um fator crucial para a saúde a longo prazo, e a mortalidade materna é a mais baixa da América Latina, mostram os números da Organização Mundial de Saúde.

As policlínicas de Cuba, abertas 24 horas por dia para emergências e cuidados especializados, são um degrau a partir do médico de família. Cada uma prevê 15.000 a 35.000 pacientes por meio de um grupo de consultores em tempo integral, assim como os médicos de visita, garantindo que a maioria dos cuidados médicos são prestados na comunidade.

Imti Choonara, um pediatra de Derby, lidera uma delegação de profissionais de saúde internacionais, em oficinas anuais na terceira maior cidade de Cuba, Camagüey. "A saúde em Cuba é fenomenal, e a chave é o médico de família, que é muito mais pró-ativo, e cujo foco é a prevenção. A ironia é que os cubanos vieram ao Reino Unido após a revolução para ver como o HNS [Serviço Nacional de Saúde] funcionava. Eles levaram de volta o que viram, refinaram e desenvolveram ainda mais, enquanto isso estamos nos movendo em direção ao modelo dos EUA ", disse o professor Choonara.

A política, inevitavelmente, penetra muitos aspectos da saúde cubana. Todos os anos os hospitais produzem uma lista de medicamentos e equipamentos que têm sido incapazes de acesso por causa do embargo americano, o qual que muitas empresas dos EUA de negociar com Cuba, e convence outros países a seguir o exemplo. O relatório 2009/10 inclui medicamentos para o câncer infantil, HIV e artrite, alguns anestésicos, bem como produtos químicos necessários para o diagnóstico de infecções e órgãos da loja. Farmácias em Cuba são caracterizados por longas filas e estantes com muitos vazios. Em parte, isso se deve ao fato de que eles estocam apenas marcas genéricas.

Antonio Fernandez, do Ministério da Saúde Pública, disse: "Nós fazemos 80% dos medicamentos que usamos. O resto nós importamos da China, da antiga União Soviética, da Europa - de quem vender para nós - mas isso é muito caro por causa das distâncias."

Em geral, os cubanos são imensamente orgulhosos e apoiam a contribuição no Haiti e outros países pobres, encantados por conquistar mais espaço no cenário internacional. No entanto, algumas pessoas queixam-se da espera para ver o seu médico, pois muitos estão trabalhando no exterior. E, como todas as commodities em Cuba, os medicamentos estão disponíveis no mercado negro para aqueles dispostos a arriscar grandes multas se forem pegos comprando ou vendendo.

As viagens internacionais estão além do alcance da maioria dos cubanos, mas os médicos e enfermeiros qualificados estão entre os proibidos de deixar o país por cinco anos após a graduação, salvo como parte de uma equipe médica oficial.

Como todo mundo, os profissionais de saúde ganham salários miseráveis em torno de 20 dólares (£ 13) por mês. Assim, contrariamente às contas oficiais, a corrupção existe no sistema hospitalar, o que significa que alguns médicos e até hospitais, estão fora dos limites a menos que o paciente possa oferecer alguma coisa, talvez almoçar ou alguns pesos, para tratamento preferencial.

Empresas internacionais de Cuba na área da saúde estão se tornando cada vez mais estratégicas. No mês passado, funcionários mantiveram conversações com o Brasil sobre o desenvolvimento do sistema de saúde pública no Haiti, que o Brasil e a Venezuela concordaram em ajudar a financiar.

A formação médica é outro exemplo. Existem atualmente 8.281 alunos de mais de 30 países matriculados na Elam, que no mês passado comemorou o seu 11 º aniversário. O governo espera transmitir um senso de responsabilidade social para os alunos, na esperança de que eles vão trabalhar dentro de suas próprias comunidades pobres pelo menos cinco anos.

Damien Joel Soares, 27 anos, estudante de segundo ano de New Jersey, é um dos 171 estudantes norte-americanos; 47 já se formaram. Ele rejeita as alegações de que Elam é parte da máquina de propaganda cubana. "É claro que Che é um herói, mas aqui isso não é forçado garganta abaixo."

Outros 49.000 alunos estão matriculados no "Novo Programa de Formação de Médicos Latino-americanos", a ideia de Fidel Castro e Hugo Chávez, que prometeu em 2005 formar 100 mil médicos para o continente. O curso é muito mais prático, e os críticos questionam a qualidade da formação.

O professor Kirk discorda: "A abordagem high-tech para as necessidades de saúde em Londres e Toronto é irrelevante para milhões de pessoas no Terceiro Mundo que estão vivendo na pobreza. É fácil ficar de fora e criticar a qualidade, mas se você está vivendo em algum lugar sem médicos, ficaria feliz quando chegasse algum."

Há nove milhões de haitianos que provavelmente concordariam.

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