Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 30 de abril de 2009

No corredor da morte

O Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o apelo para um novo julgamento de Mumia Abu-Jamal apresentado com base na alegação de racismo no procedimento judicial do seu julgamento em 1982. Esta decisão não representa apenas um sério revés para a luta de Abu-Jamal por um novo julgamento, aumenta também a possibilidade de se vir a consumar a sua sentença de morte. Os seus apoiantes recorreram de imediato à Internet e à Rádio para analisar as implicações da decisão de 6 de Abril e apelar a reuniões para organizar os próximos passos para exigir justiça para este preso político que está há 27 anos no corredor da morte na Pensilvânia.

O antigo Pantera Negra e jornalista de investigação Abu-Jamal está entre os presos norte-americanos conhecidos internacionalmente, como o líder nativo Leonard Peltier e os cinco patriotas cubanos que se infiltraram nas organizações terroristas anti-Castro. O seu primeiro julgamento em Filadélfia perante um júri declaradamente racista considerou-o culpado pela morte de um agente da polícia. Já na prisão, Abu-Jamal continuou a produzir cinco minutos de comentários de rádio sobre notícias relativas à luta contra o imperialismo e o racismo. Jornais de todo o mundo recolheram esses comentários e publicaram-nos.


Ninguém com um mínimo sentido de justiça e de lógica processual se espantará que o tribunal tenha rejeitado tão friamente o apelo de Abu-Jamal. O seu advogado argumentou que a decisão Batson deveria desqualificar imediatamente o julgamento original por parcialidade. No programa de 9 de Abril da WBAI, em Nova Iorque, Vincent Southerland, advogado assistente do NAACP Legal Defense Fund, explicou a questão Batson.


Como Southerland disse, «antes de o julgamento começar, tanto a defesa como a acusação têm oportunidade de escolher jurados que considerem que serão justos e imparciais. Ambos têm oportunidade de interrogar e eliminar jurados com base no fato de não os considerar adequados». Mas «não se pode selecionar jurados com base na raça», sublinhou Southerland. «Não pode haver nenhum traço de preferência racial no processo de selecção do júri. Se existir, a solução é pôr em dúvida o processo. Um caso designado Batson v. Kentucky [Supremo Tribunal dos EUA] deu essencialmente aos advogados a possibilidade de questionar se sim ou não outros advogados estavam a usar a sua possibilidade de rejeitar jurados por motivos racistas».


No caso de Abu-Jamal, a acusação recusou 11 dos 15 jurados negros para os afastar do júri. Para além disso, há também uma bem documentada cultura de discriminação por parte do procurador distrital (D.A.) de Filadélfia. Um número desproporcionado de afro-americanos foram excluídos como jurados de casos importantes. Houve mesmo uma lição gravada pelo principal D.A., Jack McMann, realizada em 1986, explicando como afastar jurados negros sem que o juiz se aperceba.


Robert R. Bryan, o advogado de Abu-Jamal, vai tentar uma reapreciação no Supremo Tribunal com base no caso Batson. «As possibilidades de o tribunal aceitar uma reapreciação não são grandes, mas é uma forma de chamar a atenção do tribunal para a discriminação registada durante a selecção do júri», disse Southerland.


Abu-Jamal, que teve oportunidade de se juntar ao programa de rádio através do telefone da prisão, disse a propósito do caso Batson: «Isto mostra que o precedente não significa nada; que a lei é a política por outras formas; e que a Constituição não significa nada; que um júri justo não significa nada».


E Abu-Jamal continuou: «Sempre houve regras diferentes para os negros. Batson não tem nada a ver com a acusação, com a defesa, com o julgamento pessoal. Batson, nos seus próprios termos, diz que protege os direitos daquelas pessoas que alegadamente são cidadãos americanos que viram negado o direito de servir como jurados. É o que isso diz. Mas Batson pode ser contornado e derrotado exactamente da forma como o D.A. disse que podia ser – por Iying – levantando-se e dizendo “Não, nós não tivemos motivações racistas”».


«Estes juízes não têm o direito de errar», disse por seu turno John Africa, dirigente do MOVE, questionando: «Por que é que temos de respeitar o que estes juízes fazem quando eles desrespeitam as suas próprias leis? Todo o mundo vê o que se passa, e muita gente está chocada com o que se passa aqui».


«Mumia está hoje vivo devido ao poder do povo», acrescentou Africa. «Ontem, um guarda prisional disse a um membro do MOVE que Mumia tinha sido encontrado morto na sua cela. Eu telefonei para a prisão pedindo para falar com Mumia, e gente de todo o mundo ligou para o gabinete do governador Rendell pedindo para que ele fosse autorizado a falar com a família. Em 45 minutos recebemos um telefonema dele. Isto mostra o poder do povo.»


No fim-de-semana a seguir à decisão, apoiantes de Abu-Jamal reuniram-se em Filadélfia e em Nova Iorque para decidir as próximas acções. E no dia 24 de Abril celebraram o 55.º aniversário de Abu-Jamal na igreja de Riverside.
.

Catástrofe humana

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), bem conhecidos pelas suas políticas anti-sociais, divulgaram um comunicado em Washington, no domingo, 26, onde afirmam que a economia mundial se deteriorou «consideravelmente» desde a sua última reunião e que essa evolução «tem consequências particularmente graves nos países em desenvolvimento, onde a crise financeira e económica se transforma em catástrofe humana e num desastre no plano do desenvolvimento».As duas organizações reconhecem hoje que «a crise já fez baixar à pobreza extrema 50 milhões de pessoas, sobretudo mulheres e crianças».
.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Vietnã festeja aniversário de vitória contra EUA

O Vietnã está em festa nessa quarta-feira (29) por causa do 34.º aniversário da libertação do sul do país, obtida com a derrota militar inflingida pelo país ao exército agressor dos Estados Unidos em 1975.

O secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nong Duc Manh, esteve presente às comemorações em Hanói, que festejam o dia da reunificação nacional (30 de abril) e o 1.º de maio, dia internacional dos trabalhadores.

Em um discurso de homenagem ao presidente Ho Chi Minh, o dirigente do PCV em Hanói, Nguyen The Cao, destacou a glória do líder da Revolução Vietnamita e dos mortos em combate durante a luta, ressaltando também as vitórias do país no empenho por fazer avançar a renovação na república socialista.

O Vitetnã festejará na quinta-feira, em uma grande comemoração, a entrada das tropas na antiga Saigón, agora Cidade de Ho Chi Minh, que colocou fim à presença de tropas americanas no território nacional.

Mulheres migrantes sofrem múltiplas discriminações na Europa

"As mulheres migrantes sofrem uma multiplicidade de discriminações. A primeira é motivada pela questão de gênero. Outra é por estar em situação de migração. Há ainda as discriminações racial e por tipo de trabalho. Essa problemática é ainda pouco tratada nas pesquisas. É preciso aprofundar os estudos sobre migração feminina". A afirmação é da antropóloga social e pesquisadora da Faculdade de Sociologia da Universidade de Federico II de Nápoles (Itália), Adelina Miranda.
.
Por Talita Mochiute, do Aprendiz
.
Para a pesquisadora, que esteve no Brasil para participar do Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos, em São Paulo (SP), a primeira questão a ser considerada é que as migrações das mulheres têm especificidades em relação à dos homens. Uma delas refere-se ao lugar ocupado pelas migrantes no mercado de trabalho do país que as recebem.
.
Segundo Adelina Miranda, na Itália, aproximadamente 70% das mulheres imigrantes trabalham no serviço doméstico ou em atividades ligadas ao cuidado de crianças e idosos. Essa proporção é semelhante em países como Espanha ou na Grécia.
.
"O trabalho doméstico não é considerado trabalho", afirma a pesquisadora.
.
A profissão e a tarefa dessas mulheres não têm o mesmo valor e reconhecimento social que as atividades produtivas. "O modo como essas mulheres se colocam no mercado de trabalho é atravessado pelas questões inter-étnicas. A maioria das migrantes domésticas é negra ou do Leste Europeu", complementou a professora.
.
Para Adelina, a divisão sexual do trabalho também ajuda a entender a colocação das mulheres migrantes no mercado e as formas de discriminação. A divisão entre trabalho feminino, associado à atividade doméstica e de assistência, e de trabalho masculino, ligado ao setor produtivo, expressa uma hierarquia de gênero e aponta para a desqualificação do trabalho feminino. "O maior problema é enxergar esse fenômeno histórico como natural. Outro aspecto que merece atenção é a invisibilidade dessas mulheres", enfatizou.
.
Demanda por profissionais
.
O grande número de mulheres nos serviços domésticos e de assistência a idosos e crianças pode ainda ser compreendido, conforme a visão da antropóloga, pelo problema do envelhecimento da população na Itália, Espanha e França e a falta de serviços do Estado para atender esse público.
A socióloga e membro do laboratório Migrinter da Universidade de Poitiers (França), Marie-Antoniette Hilly, analisando as migrações contemporâneas a partir da dinâmica do mercado de empregos, destaca o paradoxo que envolve as medidas contra as migrações tomadas pelos Estados europeus.
.
"Os Estados protegem suas fronteiras, mas necessitam de novos trabalhadores migrantes para suas economias", comenta a socióloga, que também estava presente no Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos. No entanto, só a mobilidade de pessoas qualificadas é encorajada.
Outro paradoxo apontado pela pesquisadora é que a globalização incentiva o intercâmbio entre as nações e a diminuição das fronteiras, enquanto o Estado tende a se proteger de acordo com a conjuntura econômica. "É preciso pensar na questão da hospitalidade e da cidadania num contexto de globalização", disse Marie-Antoniette.
.
.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Em depoimento, repórter desmente versão de cárcere privado no Pará

Max Costa *
.
O repórter da TV Liberal, afiliada da TV Globo, Victor Haor, depôs ao delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará. Em seu depoimento, negou que os profissionais do jornalismo tenham sido usados como escudo humano pelos sem-terra, bem como desmentiu a versão - propagada pela Liberal, Globo e Cia. - de que teriam ficado em cárcere privado.
.
Está de parabéns o repórter - um trabalhador que foi obrigado a cumprir uma pauta recomendada, mas que não aceitou mais compactuar com essa farsa. Talvez tenha lhe voltado a mente o horror presenciado pela repórter Marisa Romão, que em 1996 foi testemunha ocular do Massacre de Eldorado dos Carajás e não aceitou participar da farsa montada pelos latifundiários e por Almir Gabriel, vivendo desde então sob ameaças de morte.
.
A consciência deve ter pesado, ou o peso de um falso testemunho deva ter influenciado. O certo é que Haor não aceitou participar até o fim de uma pauta encomendada, tal quais os milhares de crimes que são encomendados no interior do Pará. Uma pauta que mostra a pistolagem eletrônica praticada por alguns veículos de comunicação e que temos o dever de denunciar.
.
Desde o início, a história estava mal contada. Um novo conflito agrário no interior do Pará, em que profissionais do jornalismo teriam sido usados como escudo humano pelo MST e mantidos em cárcere privado pelo movimento, em uma propriedade rural, cujo dono dificilmente tinha seu nome revelado. Quem conhecia e acompanhava um pouco da história desse conflito sabia que isso se tratava de uma farsa. A população, por sua vez, apesar de aceitar a criminalização do MST pela mídia e criticar a ação do movimento, via que a história estava mal contada.
.
As perguntas principais eram: como o cinegrafista, utilizado como escudo humano - considero aqui a expressão em seu real sentido e significados -, teria conseguido filmar todas as imagens? Como aconteceu essa troca de tiros, se as imagens mostravam apenas os "capangas" de Daniel Dantas atirando? Como as equipes de reportagem tiveram acesso à fazenda se a via principal estava bloqueada pelo MST? Por que o nome de Daniel Dantas dificilmente era citado como dono da fazenda e por que as matérias não faziam uma associação entre o proprietário da fazenda e suas rapinagens?
.
Para completar, o que não explicavam e escondiam da população: as equipes de reportagem foram para a fazenda a convite dos proprietários e com alguns custos bancados - inclusive tendo sido transportados em uma aeronave de Daniel Dantas - como se fossem fazer aquelas típicas matérias recomendadas, tão comum em revistas de turismo, decoração, moda e Cia (isso sem falar na Veja e congêneres).
.
Além disso, por que a mídia considerava cárcere privado, o bloqueio de uma via? E por que o bloqueio dessa via não foi impedimento para a entrada dos jornalistas e agora teria passado a ser para a saída dos mesmos? Quer dizer então que, quando bloqueamos uma via em protesto, estamos colocando em cárcere privado, os milhares de transeuntes que teriam que passar pela mesma e que ficam horas nos engarrafamentos que causamos com nossos legítimos protestos?
.
Pois bem, as dúvidas eram muitas. Não apenas para quem tem contato com a militância social, mas para a população em geral, que embora alguns concordassem nas críticas da mídia ao MST, viam que a história estava mal contada. Agora, porém, essa história mal contada começa a ruir e a farsa começa a aparecer.
.
*Max Costa é jornalista de Belém, é da secretaria geral do PSOL
.
Original em Blog do IZB

Ministério Público investiga contrato entre Serra e Abril

O Ministério Público Estadual (MPE) abriu o inquérito civil para apurar irregularidades no contrato firmado, sem licitação, entre a Secretaria de Educação de São Paulo e a Fundação Victor Civita – do Grupo Abril. O contrato trata da aquisição de 220 mil assinaturas anuais da revista Nova Escola, no valor de R$ 3,7 milhões.
.
A representação ao MPE foi proposta por três parlamentares Psol-SP — o deputado federal Ivan Valente e os deputados estaduais Carlos Giannazi e Raul Marcelo. Segundo ele, a Secretaria da Educação desconsiderou a existência de outras publicações da área, beneficiando a editora contratada.

Além disso, o governo Serra não consultou os educadores e passou para a fundação privada os endereços pessoais dos professores, sem qualquer comunicado ou pedido de autorização. Essa irregularidade permite outras destinações comerciais aos seus dados particulares.
.
O promotor Antonio Celso Campos de Oliveira Faria, designado para ocaso, oficiou a FDE — órgão do governo estadual responsável pela contratação —, solicitando que esclareça os motivos da contratação ecogitando a suspensão do contrato. A diretora de projeto especiais da FDE foi intimada a prestar depoimento nos próximos dias.
.
Faria também oficiou a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo) a informar se foi consultada sobre a escolha da Nova Escola — e se ocorreram reclamações por parte dos professores devido ao fornecimento de seus endereços particulares. O promoter ainda notificou outras editoras que atuam no ramo educacional, consultando se teriam condições de participar do processo licitatório que sequer foi aberto.
.
Na avaliação de Ivan Valente, o despacho inicial do Ministério Público já é uma importante vitória para o movimento dos professores diante das arbitrariedades e desmandos do governo Serra na área da educação. “Vamos acompanhar a tramitação do processo e pressionar para que os responsáveis por esta contratação que lesa os cofres e os interesses públicos sejam punidos com o rigor da lei”, declarou o parlamentar.
.
Original em Vermelho

Combatendo por dentro os terroristas do Alpha 66

por Gerardo Hernandez [*] entrevistado por Saul Landau

Esta conversa ocorreu a 1 de Abril de 2009. A nossa equipe de filmagens recebeu a aprovação do Departamento de Justiça para falar com "o prisioneiro", com um guarda da prisão presente na sala. Antes da sua detenção em 1998, Gerardo Hernandez dirigia as operações de agentes da Segurança do Estado Cubano que infiltravam grupos violentos na área de Miami com o objetivo de impedir que levassem a cabo ataques terroristas em locais turísticos em Cuba. Tomamos apontamentos completos e cuidadosos.

Saul Landau: Qual era a vossa missão e por quê?

Gerardo Hernandez: Nos EUA em geral e na Florida mais especificamente, muitos grupos contemplavam e executavam atos de terrorismo em Cuba. Estávamos a recolher informação acerca dos Alpha 66, F4 Commandos, a Fundação Nacional Cubana Americana e os Brothers to the Rescue. Passaram-se muitos anos e espero que nada me tenha escapado, mas estes eram os principais grupos nos quais estávamos a trabalhar [infiltrar].

SL: O que descobriram através da vossa infiltração?

GH: A primeira coisa que me chocou foi a impunidade com que estes grupos operavam, violando as leis dos EUA: os Atos da Neutralidade [dos anos 70] dizem que nenhuma organização pode usar solo norte-americano para praticar terrorismo contra outro país. No caso dos Alpha 66, os operativos iam com lanchas rápidas e atiravam sobre alvos ao longo da costa cubana. Quando regressavam a Miami, convocavam uma conferência de imprensa e diziam abertamente o que tinham acabado de fazer. E quando alguém lhes perguntava, "Hei, isso não é uma violação das leis da neutralidade?" eles respondiam: "Na verdade, não, porque primeiro fomos a uma das Keys, algures nas Caraíbas e depois, fomos a Cuba. Por isso, tecnicamente não partimos dos EUA". Eles faziam-no abertamente e nenhuma autoridade dos EUA assumia responsabilidade.

SL: Em que época se passou isto?

GH: Isto ocorre desde 1959. Eu comecei a lidar com o assunto pessoalmente nos anos 90. Estou nesta prisão em Victorville [Califórnia] e há cerca de 3 anos, penso que em 2005, prenderam um cubano neste mesmo condado, com um arsenal com todos os tipos de armas em sua casa. A primeira coisa que ele disse foi "Bem, eu sou um membro dos Alpha 66 e estou a usar estas armas na luta pela liberdade cubana". Esta foi a sua defesa.

SL: Os Cinco Cubanos eram todos voluntários? Como é que uma pessoa se prepara para infiltrar um grupo inimigo num país inimigo? E depois, como consegue agir como se fosse inimigo do seu próprio país e amigo deles?

GH: Sim, somos todos voluntários. No meu caso, não sou um militar de carreira. Estudei para ser diplomata. Levei seis anos a completar a minha licenciatura em Relações Políticas e Internacionais. Depois, fui para Angola como parte de uma missão voluntária internacional. E enquanto estive em Angola, parece que despertei a atenção dos serviços de informação cubanos e, quando voltei, abordaram-me com esta missão. Disseram-me "Sabemos que estudaste para ser diplomata, mas sabes que o nosso país está numa certa situação com estes grupos terroristas que estão a chegar da Florida para cometer toda a espécie de crimes e precisamos de alguém que vá para lá cumprir esta tarefa". Poderia ter dito "Não, estudei diplomacia, eu quero ser diplomata", mas os cubanos, aqueles que foram criados com a Revolução sabem que durante os últimos 50 anos o nosso país tem enfrentado uma situação de quase-guerra. Em Cuba, quem não conhece pessoalmente uma vítima de terrorismo, pelo menos sabe do avião que explodiu sobre Barbados, matando 73 pessoas [Outubro de 1976]. Quem é que não sabe da bomba [em 1997] que matou Fabio di Selmo [um turista italiano hospedado no Hotel Copacabana em Havana] detonada por um salvadorenho que disse ter sido contratado por Luís Posadas? Estou apenas a citar alguns dos casos. Havia escolas onde ensinavam os contra-revolucionários a rebentar garrafas de gás. Estas atividades estão presentes na consciência cubana. Disse então aos agentes dos serviços de informação, "Sim, estou preparado para desempenhar esta missão".

SL: Como conseguiram infiltrar estes grupos? Como os convenceram, pessoas como Jose Basulto [chefe dos Brothers to the Rescue ], por exemplo?

GH: Para os cubanos neste país, está tudo preparado. Os cubanos nos EUA têm privilégios enormes, que mais nenhum cidadão, qualquer que seja a sua nacionalidade, tem. Os cubanos chegam por qualquer via, incluindo com falsos passaportes, e tudo que têm de dizer é "venho à procura de liberdade", e os EUA dão-lhes imediatamente todos os documentos que eles precisam. Por isso, no caso de Basulto, por exemplo, um dos nossos camaradas que infiltrou os Brothers to the Rescue, afirmou ter "roubado" um avião de Cuba. Rene [Gonzalez, outro dos Cinco Cubanos] voou com o seu avião até aqui e, como é costume, foi recebido como um herói. Recebeu muita atenção e mais tarde juntou-se aos Brothers. A sua missão era obter informações acerca dessa organização. Por isso, se me pergunta como, posso dizer que utilizamos como base para a nossa infiltração esses mesmos privilégios de que desfrutam os cubanos que chegam a este país, mesmo aqueles que trouxeram outros cubanos contra a sua vontade, que seqüestraram aviões ou que apontaram uma arma à cabeça do piloto. Por exemplo, Leonel Matias [em 1994 seqüestrou um barco em Cuba e matou um oficial da Marinha para tal] matou uma pessoa num barco, chegou aqui nesse mesmo barco, trazendo a sua arma – e mesmo o corpo do homem que executara. Mas apesar de tudo isso, não teve de enfrentar qualquer processo judicial nos EUA. Essas pessoas estão automaticamente perdoadas. Então, usando exatamente esse tipo de privilégios, fomos capazes de infiltrar essas organizações até determinado nível. Quando eu menciono a Brothers to the Rescue, há pessoas que pensam, "Esta é uma organização humanitária que resgata balseros [jangadas]." Pelo contrário, enquanto as suas atividades se limitavam a salvar os balseros, não havia qualquer problemas com as autoridade cubanas. O que as pessoas normalmente não sabem é que Jose Basulto, líder da organização, tem um longo cadastro como terrorista. Treinou com a CIA e infiltrou-se em Cuba nos anos 60. Em 1962 chegou a Cuba numa lancha rápida e disparou ao longo de toda a costa, inclusivamente visando alguns hotéis. Até Basulto, com uma historia perfeitamente conhecida, não teve quaisquer problemas enquanto a sua ação se limitou a resgatar balseros. No entanto, em 1995 os EUA e Cuba assinaram acordos migratórios especificando que as embarcações interceptadas no mar não mais seriam trazidas para os EUA, mas sim devolvidas a Cuba. Nessa altura, as pessoas deixaram de contribuir para organização de Basulto porque, diziam "Porque é que vamos dar dinheiro à organização de Basulto? Quando ele chamar a Guarda Costeira, os balseros serão levados de volta para Cuba". Então, quando Basulto viu o seu negócio em perigo, inventou a invasão [em 1995] do espaço aéreo cubano como maneira de manter as doações das pessoas. Apresentamos estas provas no nosso caso. A imprensa não quis prestar muita atenção a isto… Bem, a imprensa não quer sequer tocar em material deste. Não é conveniente, quando nos referimos à imprensa corporativa. Os documentos estão todos no processo, demonstrando como Basulto e os Brothers to the Rescue estavam a testar armas de produção caseira para introduzir em Cuba. Quando Basulto testemunhou no nosso julgamento [2001], os nossos advogados perguntaram-lhe o que pretendia fazer com essas armas. Tudo isto está nos registros do tribunal, embora ninguém pareça particularmente interessado em prestar-lhes atenção. As pessoas tendem a falar dos Brothers to the Rescue como se estes fossem uma organização humanitária, omitindo a parte acerca do terrorismo; também omitem os fatos acerca da infiltração do FBI na mesma organização. O FBI tinha alguém dentro do grupo fornecendo-lhe informação acerca das atividades dos Brothers. Porque é que o FBI infiltraria uma organização humanitária?

[**] Saul Landau: atualmente está fazendo um filme acerca dos Cinco Heróis Cubanos (com Jack Willis). Os seus outros filmes estão disponíveis em DVD através de roundworldproductions@gmail.com . É parceiro do Institute for Policy Studies e autor de A Bush & Botox World .
· Ver também
http://www.granma.cubaweb.cu/miami5/index.html


Traduzido por João Camargo.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 26 de abril de 2009

Declaração contra os monopólios de sementes no Iraque

Rede Internacional Anti-ocupação
Traduzido para IraqSolidariedad por Paloma Valverde


“O objetivo da Ordem 81 (da Autoridade Provisória da Coalizão) é facilitar o estabelecimento de um novo mercado de sementes no Iraque, um mercado que força os agricultores iraquianos a comprar anualmente às corporações transnacionais sementes, inclusive as que estão geneticamente modificadas. A lei permite às empresas estadunidenses terem um controle absoluto sobre as sementes dos agricultores durante vinte anos. Os agricultores iraquianos tem que firmar um contrato e pagar uma ‘taxa tecnológica’, alem de outra taxa pela licença anual. A Ordem converteu a utilização das sementes em algo ilegal, o mesmo tempo que penaliza com pesadas multas e penas de prisão o uso de sementes ‘similares’.”
"Na imagem, através das tropas de ocupação e das novas autoridades iraquianas, os agricultores iraquianos estão obrigados a comprar anualmente das corporações transnacionais sementes, inclusive as que estão geneticamente modificadas.”.

Atualmente, existe uma conspiração contra a liberdade dos agricultores para utilizar as sementes que estavam usando durante gerações. Monsanto e outras corporações transnacionais tentam monopolizar a produção de alimentos no planeta. Nada menos. A resistencia a este plano é crucial. Na Alemanha, o intento da Monsanto de monopolizar o milho foi recentemente proibido pelo governo, em meados de abril. Mas os países mais fracos são presa fácil: como o Iraque.
.
Historicamente, a Constituição iraquiana proibia a propriedade privada dos recursos biológicos. Os agricultores no Iraque têm trabalhado de forma quase livre, sem regulamentações, mediante um sistema informal de provimento de sementes. As sementes de colheitas anteriores e o livre intercambio de plantas entre os agricultores tem sido desde sempre a essência da pratica da agricultura no Iraque.
.
A Ordem 81 da APC
.
No entanto, tudo isto já é historia. No dia 26 de abril de 2004, Paul Bremer, o administrador da Autoridade Provisória da Coalizão (APC), promulgou e firmou a Ordem 81, que proíbe aos agricultores reutilizar as sementes cultivadas das novas variedades relacionadas na lei. Quando se reclama a propriedade de uma colheita, as sementes que foram guardadas de colheitas anteriores estão proibidas e os agricultores têm que pagar royalties a quem tem registrada a semente: ao dono.
.
A Ordem tem sua origem na USAID no Iraque (Agencia estadunidense de ajuda para o desenvolvimento internacional), que confirma que os programas de ajuda estrangeira são fundamentalmente programas de “oportunidades de negocio”, desenvolvidos para beneficio das empresas estadunidenses e européias. Isto se encaixa perfeitamente com a estratégia estadunidense para o futuro da agricultura no Iraque, que vai de encontro a um sistema de dependência das grandes multinacionais que vendem produtos químicos e sementes.
.
O objetivo da Ordem 81 é facilitar o estabelecimento de um novo mercado de sementes no Iraque, um mercado que força aos agricultores iraquianos a comprar anualmente às corporações transnacionais sementes, inclusive as que estão geneticamente modificadas. A lei permite às empresas estadunidenses terem um controle absoluto sobre as sementes dos agricultores durante vinte anos. Os agricultores iraquianos têm que firmar um contrato e pagar uma “taxa tecnológica”, alem de outra taxa pela licença anual. A Ordem converteu a utilização das sementes em algo ilegal, ao mesmo tempo em que penaliza com pesadas multas e penas de prisão o uso de sementes “similares”.
.
O futuro da agricultura, em perigo
.
As empresas pretendem ter os mesmos direitos em todo o mundo, também nos Estados Unidos. Isto porá em perigo o futuro da agricultura ecológica e independente. Muitos países em vias de desenvolvimento na África, Ásia e especialmente Afeganistão, Índia e Iraque padecem estas leis ilícitas e o monopólio dos gigantes da agricultura. Estas leis injustas afetarão de maneira mortal ao futuro da agricultura. Temos de trabalhar contra esta intenção d monopolizar a agricultura, que pertence a todos porque é o produto da terra. Tal como o ar e al água, às sementes não se pode monopolizar.
.
Por tudo isso, fazemos um chamamento a todas as organizações, aos ativistas, aos defensores dos produtos ecológicos e aos agricultores, às organizações pela paz, ao movimento verde, ao movimento contra a globalização, aos sindicatos e às organizações de agricultores a que unam suas forças para exigir a liberdade de patentes sobre as sementes e a biodiversidade e a que informem sobre as práticas criminais das corporações.
.
Temos de apoiar e defender a desobediência civil dos agricultores no Iraque e em qualquer parte do mundo.
.
Exigimos dos governos europeus que protestem contra esta tentativa canalha de privatização da agricultura iraquiana e pedimos que sigam o exemplo alemão proibindo as tentativas de privatização e o monopólio da agricultura.
.
Exigimos das Nações Unidas e da FAO que condenem estas praticas.
.
Exigimos do presidente dos Estados Unidos que revogue a Ordem 81 e que empeça as tentativas da Monsanto e de outras empresas de monopolizar a produção de alimentos, o que se pressupõem um crime, não só contra os agricultores como também contra a humanidade e o planeta.
.
Esta declaração foi elaborada em comemoração ao Dia Internacional das Sementes, 26 de abril.

sábado, 25 de abril de 2009

Revista 'The Economist' prega desagregação da América Latina

Osvaldo Bertolino

A conservadora revista britânica The Economist, em um editorial publicado na edição desta semana, cobra uma nova postura do governo brasileiro em relação a Cuba e Venezuela, de denúncia dos que “usam o antiamericanismo como um pretexto para o autoritarismo”. O argumento é falso e capcioso — altivez, independência e democracia no sentido popular do termo nada têm a ver com “antiamercanismo”.
Fazendo um “balanço” da Cúpula das Américas e das novas políticas do presidente norte-americano, Barack Obama, para a América Latina, a revista afirma que os Estados Unidos estão tentando convencer a região de que são “uma força para o bem”. O “bem”, no caso são os interesses dos quais a The Economist é porta-voz — o capital monopolista.
Pregando a divisão da região, a revista diz que para responder a esta nova postura do governo norte-americano, segundo a revista, o Brasil e outros países deveriam mostrar uma atitude mais firme, para garantir que “a relativamente recente adoção da democracia e dos direitos humanos na região seja sustentável”. A revista repete o tom autoritário do regime liberal, para quem democracia e direitos humanos só valem se for de acordo com sua cartilha rota.
A publicação reconhece uma verdade parcial ao afirmar que o “antiamericanismo” na América Latina foi estimulado pela “atitude autoritária e arrogante” do governo de George W. Bush. O governo de Bush, segundo a revista, transformou os Estados Unidos em um “alvo fácil para aqueles que, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, gostam de culpar um bode expiatório estrangeiro pelos problemas de seus países”.
Bush tem lá sua parcela de culpa, mas a “atitude autoritária e arrogante” é do regime norte-americano, independentemente de quem seja o presidente. Citando a postura de Obama de tratar os países da região como “iguais” durante a cúpula de Trinidad e Tobago, a revista afirma que, no entanto, o novo presidente dos Estados Unidos “parece determinado a desarmar os críticos antiamericanos”.
Trata-se de mais uma falseta. Os críticos “antiamericanos” na verdade são os líderes democratas da região de lutam pela independência efetiva da América Latina. A crítica é ao regime norte-americano e não ao povo e ao país Estados Unidos.
Fazendo peças para dizer meias verdades e muitas mentiras, a revista afirma que entre as novas políticas de Obama para a região está o relaxamento das restrições a viagens e ao envio de remessas a Cuba por parte de cubano-americanos, mas cobra o fim definitivo do “embargo” à ilha, que classifica como “injusto, ilógico e contraproducente”.
Outras mudanças na diplomacia norte-americana citadas são o apoio de Obama à luta contra o narcotráfico no México e sua postura “polida” com Hugo Chávez. Para a The Economist, no entanto, “assim como seu antecessor (George W. Bush), Obama inteligentemente reconhece a nova posição do Brasil como o líder da América do Sul”. Pura malandragem!
.

Pôncio Pilatos lavou as mãos

Tão forte foi a pressão contra o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba, que no dia em que Raúl declarou categoricamente que o nosso país não ingressaria na OEA, o secretário-geral da desprestigiada instituição começou a preparar o terreno para a participação de Cuba numa eventual e futura Cúpula das Américas. A sua receita é derrogar a resolução que decidiu a expulsão da Ilha, por razões ideológicas. Tal argumento é verdadeiramente risível, quando importantes países como a China e o Vietnã, dos quais o mundo atual não pode prescindir, estão dirigidos por Partidos Comunistas que foram criados sobre as mesmas bases ideológicas.
.
Os fatos históricos demonstram a política hegemônica dos Estados Unidos em nossa região e o papel repulsivo da OEA como odioso instrumento do poderoso país.
.
A fórmula de Insulza é apagar do mapa o criminoso acordo. Raúl declarou em Cumaná que Cuba jamais se reintegrará à OEA. Utilizando uma frase lapidar de Martí expressou que primeiro "unir-se-á o mar do Sul ao mar do Norte, e nascerá uma cobra de um ovo de águia".
.
Nessa mesma ocasião, respondendo a um hipotético passo de Obama, que oferecia conversar com Cuba sobre democracia e direitos humanos, respondeu-lhe que o governo de Cuba estava disposto a discutir qualquer tema com ele, com base no mais absoluto respeito à igualdade e soberania dos dois povos. O nosso povo sabe muito bem o significado e a dignidade dessas palavras.

. Entre as demandas públicas de Obama está a libertação dos condenados à prisão por prestarem serviços aos Estados Unidos, que, ao longo de quase meio século, vêm agredindo e bloqueando nossa Pátria.
.
Raúl declarou que Cuba estava disposta a exercer clemência se os Estados Unidos os recebia e punha em liberdade os Cinco heróis antiterroristas cubanos.
.
Contudo, tanto o governo dos Estados Unidos quanto os contra-revolucionários de dentro e de fora de Cuba reagiram com todo tipo de arrogância.
.
A AP e algumas outras agências de notícias insinuaram divisões no seio do governo revolucionário.
.
Segundo a AP, "um destacado ativista dos direitos humanos" expressou que "a maioria das duas centenas de presos cubanos prefere cumprir longas sentenças na Ilha que ser trocada por cinco agentes comunistas presos nos Estados Unidos como sugeriu o presidente Raúl Castro.
.
"É opinião quase unânime entre os presos não serem trocados por militares presos em flagrância, fazendo espionagem nos Estados Unidos", disse a agência invocando o chefe da mal chamada "Comissão Cubana de Direitos Humanos e Conciliação". Seria bom saber agora quais qualifica com esse conceito. O papa João Paulo II não distinguia entre presos políticos e presos comuns quando visitou Cuba e pediu clemência para um número deles. Realmente, nos Estados Unidos, a maioria dos qualificados como presos comuns é, em geral, o pessoal mais pobre e discriminado.
.
"Obama, contudo — expressa mais para frente a agência AP —, poderia padecer consequências políticas graves se acedesse a trocar os cinco agentes comunistas condenados por espionagem em 2001. O chefe do grupo foi envolvido na morte de quatro exilados, quando seus aviões foram derrubados por aviões de guerra cubanos em 2001." Por acaso essa notícia não é uma ameaça ao presidente dos Estados Unidos?
.
O pretenso líder mercenário foi membro de uma facção, pois provinha da juventude do antigo Partido Comunista, que depois integrou o novo partido criado pela Revolução. Quando da Crise dos Mísseis, que discordamos da URSS pela decisão incorreta de negociar um acordo com os Estados Unidos sem consulta prévia com o nosso país, o sujeito se tornou inimigo da Revolução. Serviu à superpotência durante todo o mandato de Bush. Agora se dá ao luxo de ser instrumento para ameaçar Obama.
.
A AP não fala uma só palavra sobre as penas de prisão perpétua impostas aos Cinco Heróis em julgamentos arranjados, as mentiras elaboradas com a cumplicidade das autoridades, o tratamento cruel recebido e mais outros fatos relacionados com o caso. Essas são as calúnias que foram publicadas em muitas mídias do mundo.
.
Quando o estado de saúde dalgum dos mercenários o requeriu, o governo de Cuba nunca deixou de exercer a clemência, sem os Estados Unidos o exigirem.
.
O governo de Cuba, por outro lado, nunca praticou a tortura, é uma questão reconhecida pelo mundo. O presidente de Cuba não pode ordenar o assassinato de um adversário. Condenou o novo presidente dos Estados Unidos essa odiosa prática? Se o fizer, acreditem, não hesitarei em reconhecer a impressão de sinceridade que nos deu a todos no início.
.
Amanhã nos reuniremos novamente com Daniel. Em menos tempo que o que teve que esperar no avião da LACSA em Porto Espanha, sob o intenso calor do trópico, o avião cubano o levará de volta a sua querida pátria.



.


........... Fidel Castro Ruz

Original em Granma
Topo

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ahmadinejad tem razão

Lejeune Mirhan*
.
A última Conferência Mundial da ONU sobre o racismo tinha ocorrido em 2001, na cidade de Durban, na África do Sul. Ela já tinha sido polêmica, envolvendo justamente o sionismo praticado pelo Estado de Israel. Uma parte dos delegados também retirou-se da reunião e alguns países sequer foram para lá. Desta feita, mais uma vez, o pretexto foi Israel. Tem ou não razão o presidente do Irã, Mahmud Ahamadinejad, quando acusa Israel de ser um estado racista?
Nos últimos três meses e meio, tratei desse tema por diversas vezes. Israel é ou não um estado racista? Faço questão de esclarecer, mais uma vez, que o termo “racista” aqui empregado é mais usual e o empresto do movimento negro brasileiro. Ele é sinônimo de “discriminação”. Uma pessoa ou uma instituição é considerada “racista”, quando discrimina alguém pela sua origem étnica, pela eventual cor de sua pele, pela sua origem social. Há muitas formas no mundo, hoje, de discriminar pessoas. Pela origem é apenas uma delas. Aqui também vale o esclarecimento sobre a questão do termo ainda, pois não há que se distinguir uma pessoa da outra pela sua “raça”, pois neste caso consideramos a existência de apenas uma só raça, a de humanos em todo o planeta terra.
Esclarecido isso, temos tratado desse tema nesta coluna desde o dia 1º de Janeiro,, quando pedimos em alto e bom som: “Parem o Genocídio dos Palestinos”. Falávamos sobre o massacre, os bombardeios indiscriminados que Israel fazia na Faixa de Gaza, assassinando centenas de palestinos, na sua maioria crianças, mulheres e idosos. Na coluna do dia 2 de abril, usamos o título “Israel, um Estado racista”. E dávamos vários dados, fatos, notícias que, de nosso ponto de vista, confirmam essa afirmação.
A polêmica Conferência das Nações Unidas sobre Racismo teve início no dia 20 de abril e deve se estender até 24 de abril. Ela começou mal das pernas. Temendo terem suas posições discriminadoras derrotadas, boicotaram de cara a referida Conferência, países importantes como os Estados Unidos, a Alemanha, a Itália, Austrália, Nova Zelândia, Holanda entre outros. Mesmo depois da posse de Barak Obama, o primeiro negro eleito para presidir a maior potência do planeta, as coisas mantiveram-se no mesmo rumo da diplomacia anterior ditada por George W. Bush, ou seja, de boicotar a referida reunião.
Sim, sionismo já foi considerado racismo pela própria ONU. Senão vejamos. Na Assembléia Geral das Nações Unidas do dia 10 de novembro de 1975, portanto há quase 24 anos, foi votado uma Resolução, a de nº 3.379 que afirmava categoricamente que sionismo é racismo. A votação ocorreu por 75 votos a favor, 35 contrários e 32 abstenções (mesmo se todos esses votassem contra, ainda assim teriam 67 votos e a resolução teria sido aprovada da mesma forma”. Registre-se aqui que o Brasil votou pelo “sim” à época.
No entanto, em função da correlação de forças em vigor no mundo, com o fim do mundo bipolar e da vitória praticamente completa dos Estados Unidos na chamada Guerra Fria, a partir de 1991 com a derrota do Iraque na questão da ocupação do Kuwait, as coisas vão mudando de figura. Uma resolução como essa não duraria seis anos. Em 16 de dezembro de 1991, apenas seis anos e um mês depois, uma nova Resolução, de nº 4.686, também da Assembléia Geral, revogou a anterior por 111 votos a favor, 25 contrários e 13 abstenções (os árabes votaram contra a revogação e mais alguns outros, sendo que vários desses países árabes optaram em se ausentar da reunião do que votar pela sua manutenção, tamanha a pressão dos EUA e de Israel). Aqui, registre-se também, o Brasil não só votou pela revogação, como estava entre os países que patrocinaram a proposta de revogação, ao lado dos Estados Unidos.
Aqui uma lição de ciência política para as pessoas em geral. A mesma Organização política que congrega nações da Terra, num intervalo de seis anos apenas, modifica profundamente uma decisão de sua própria lavra tomada em outro momento histórico. O mundo mudou, as coisas mudaram, os referenciais também se alteraram. Um aprendizado para todos nós.
O modelo neoliberal, de financeirização do capital, que dominou o mundo por pelo menos 30 anos seguidos, desabou, ruiu em todo o mundo, mas segue ainda com força suficiente para continuar arrancando trilhões de dólares dos contribuintes para salvar os bancos falidos e seus ativos chamados tóxicos. A América Latina segue trilhando caminhos progressistas e para a esquerda, mesmo nos EUA, vence um candidato considerado progressista – para os padrões americanos, claro – e ainda agora, um discurso de um presidente, dizendo o que a própria ONU disse há 18 anos e isso é motivo de protestos de várias delegações que se retiraram da Conferência da ONU no último dia 20, na abertura do evento que deverá aprovar políticas anti-racistas para o mundo inteiro.

Que disse Ahmadinejad?
Convém listar aqui, pequenas passagens do que disse o presidente do Irã:

1. Israel e seu governo racista foram instalados pelo Ocidente para dominar o Oriente Médio;
2. O sionismo personifica o racismo que usa falsamente a religião para esconder o ódio;
3. O regime sionista nos ameaça com a guerra;
4. É preciso erradicar esse racismo.

Ahmadinejad não negou o Holocausto judeu, como dizem que ele fez em épocas passadas. Tampouco pregou a destruição de Israel em momento algum. Apenas disse que Israel viola todas as normas e leis do direito internacional, massacre e oprime o povo palestino e os discrimina em seu dia-a-dia. O que é absolutamente verdadeiro, conforme já amplamente demonstrado nesta coluna como em tantos outros artigos disponíveis pela Internet (carteira de identidade que pede a religião pessoal das pessoas; pagamento de salário para palestino pela metade do que ganham judeus para a mesma função; impossibilidade de palestinos adquirirem terras em Israel e tantas outras anomalias e odiosas discriminações).
Mas, o mundo ainda vive um momento delicado. As forças progressistas e populares, que vêm avançando a cada dia em suas lutas e suas conquistas, ainda não acumulam forças suficientes para fazer valer um ponto de vista como o de 1975, condenando Israel por práticas racistas, através de sua política sionista. Há muito ainda que se avançar.
O Irã, além de sua imensa população e seu poder estratégico decorrente do petróleo que possui e o coloca a serviço de seu povo, vem desenvolvendo pacificamente o seu programa nuclear, apesar das pressões americanas e de seus aliados para que ele seja interrompido. Mas mais do que isso, as ideias iranianas, através da corrente xiita do islamismo, vem mantendo sua influência em diversas organizações partidárias e populares que atuam em vários países, especialmente no Oriente Médio. Agora mesmo o próprio Obama acena em dialogar diretamente com o Irã e chama esse país pelo seu nome de “batismo”: República Islâmica do Irã, forma essa que seu antecessor, Bush, nunca utilizou.
Assim, ainda que vários países da União Europeia tenham se retirado da conferência após o discurso do presidente do Irã, as notícias que a imprensa veiculou é que o evento deverá adotar um documento final, de consenso, que poderia ser assinado por mais de 180 países. Uma pena que Obama tenha adotado essa posição equivocada neste delicado momento em que as portas do diálogo precisam permanecer abertas.
___________________________________________
*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological
.
Original em Pátria Latina

Mirando 2010, Serra evita aderir ao programa Minha Casa

Enquanto a maioria dos estados busca formas de ampliar a participação no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, com o qual o governo federal pretende construir 1 milhão de moradias em todo o país, o governo de São Paulo, comandado por José Serra (PSDB), cria obstáculos para evitar que o programa seja adotado em São Paulo. É bom lembrar que São Paulo concentra o maior déficit habitacional do país e já tem mais de meio milhão de famílias inscritas à espera da casa própria.
.
O pano habitacional do governo federal prevê que São Paulo tenha o maior lote de moradias: 183.995 casas ou apartamentos. O número se justifica pois o déficit habitacional paulista é bem maior que em qualquer outro estado do Brasil. Faltam 1.478.495 moradias em São Paulo.
.
Segundo observadores da política paulista, a postura do governador Serra ''é puro jogo eleitoreiro, com vistas exclusivamente a 2010''. Serra estaria incomodado com o fato do governo federal ficar com os ''bônus'' do programa, chefiado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, possível rival de Serra nas eleições presidenciais de 2010.
.
Os argumentos levantados pelo governo paulista contra o programa são de ordem burocrática. Serra quer que a verba destinada ao programa seja administrada pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), para, através dela, fazer os contratos com as construtoras e o gerenciamento das obras.
.
Para a opinião pública, o tucano usa como desculpa para não aderir ao programa que não concorda que o Estado só doe o terreno e cadastre as famílias. Ele quer, também, participar da construção dos imóveis.
.
Na verdade, os tucanos reivindicam o dinheiro porque a CDHU contingencia recursos para o superávit do Estado.
.
Para a secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, as condições impostas por São Paulo para aderir ao Minha casa, Minha Vida não são consistentes. Segundo ela, o programa federal não prevê esse repasse de verba, reivindicado pelo governador José Serra, para que Estados e municípios façam a construção dos imóveis.
.
Nesse programa habitacional de 1 milhão de casas, a prioridade é construir do zero para gerar emprego. ''Os Estados podem continuar com seus programas (habitacionais) e ainda aderirem ao Minha Casa, Minha Vida, explica a secretária ao rebater outra justificativa do governo paulista: a de que através de sua empresa de habitação já se constrói residências em São Paulo.
.
''Já há R$ 1 bilhão de recursos do PAC disponível para a CDHU'', lembra ela, mostrando que a companhia habitacional paulista já é contemplada com recursos do governo federal.
.
Pelo programa federal, as construtoras privadas recebem os recursos para a construção das casas mediante projetos aprovados pela União. Os imóveis são financiados para famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 1.395, atualmente), que pagarão prestações equivalentes a R$ 50,00 (hoje) por 10 anos.
.
Na interpretação do deputado estadual Simão Pedro (PT), coordenador da Frente Parlamentar de Habitação e Reforma Urbana paulista: ''a atitude do Estado é política, e não técnica. Serra evita a adesão por considerar que o programa dará visibilidade à candidatura (presidencial) de Dilma.''
.
Original em Vermelho

Mais um palestino morre devido ao cerco


Faixa de Gaza, 22 de abril de 2009, (Pal Telegraph) – O cerco sobre a Faixa de Gaza continua levando palestinos à sepultura. Um homem palestino morreu uma hora atrás, devido à impossibilidade de acesso à medicação e tratamento.

Nai'm El Ejla, 58, ficou gravemente doente, imediatamente após a guerra em Gaza. Médicos em Gaza falharam em diagnosticar o seu caso, apresentando vagos sintomas gerais até sua morte.
.
Ele foi detido na fronteira com o Egito muitas vezes. Ele tentou viajar para Israel para tratamento, mas foi impedido pelos israelitas. Ebrahim, 24, jornalista de Gaza e filho do Sr. Nai'm relatada pelo Palestina Telegraph a morte de seu pai.
.
"Tentamos dar a ele o tratamento, mas falhou. Ele é Shaid (Mártir), do cerco. Médicos em Gaza, não foram capazes de ajudá-lo. Tentamos levá-lo para o Egito, mas não conseguimos até que as sua condições saúde deterioraram-se.
.
Finalmente, conseguimos levá-lo para um médico indicado pelo hospital de Gaza, mas isto não o salvou. Autoridades egípcias não permitiram nem mesmo a sua entrada no hospital. Ele morreu na porta do hospital, pois médicos e autoridades egípcias se recusaram a tratá-lo". Diz Ebrahim enquanto chora.
.
A família El ejla está esperando os restos mortais da vítima chegarem em Gaza. Nai'm está ainda em território egípcio. O número de vítimas do cerco aumenta e chega a 323 pessoas.
.
A falta de acesso a tratamento médico ameaça as vidas dos palestinos diariamente. Todos os hospitais e clínicas em Gaza relatam grave escassez de medicamentos e equipamentos. Estoques de medicamentos básicos estão 50% abaixo do mínimo necessário.
.
Medicamentos para tratar a diabetes, doenças cardíacas, asma e outras enfermidades crônicas não estão disponíveis. Acessos à Oncologistas ou diálise são impossíveis. Um problema pungente dado às altas taxas de câncer resultantes da utilização de munições revestidas de urânio empobrecido pelo exército israelita.
.
Materiais esterilizados estão reduzidos em até 30%.
.
Os suprimentos de testes diagnósticos estão reduzidos em 40%, e afetam diretamente a saúde dos doentes. Mesmo as crianças nas incubadoras são afetadas pela escassez.
.
Os equipamentos hospitalares necessitam desesperadamente de peças e manutenção. O cerco impede que sejam reabastecidos. As transferências são freqüentemente bloqueadas ou atrasadas nas fronteiras. Contínuos cortes de energia e apagões têm danificado equipamentos hospitalares e sistemas de informação.
.
Sameh Akram Habeeb, desde a Faixa de Gaza

Tradução: Rosalvo Maciel

Oligarquias rurais: a ideologia do atraso

Rui Daher*
.
No Brasil, tudo o que parecer estapafúrdio pode estar contaminado por algum viés político. Não se espante, portanto, ao saber que a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), presidida pela senadora, pecuarista e potencial candidata ao governo de Tocantins, Kátia Abreu (DEM-TO), está orientando os produtores ''a botarem o pé no freio do plantio e do uso de tecnologia na safra 2009/10''.
.
É acompanhada das União Democrática Ruralista (UDR) e Sociedade Rural Brasileira (SRB), e formam o trio de ferro do atraso, pela recusa em aceitar os benefícios que as inclusões social e ambiental trariam ao País, se incorporadas à agropecuária. Como não podem dizer a que realmente vêm, argumentam que uma produção maior irá ampliar as dívidas e os excedentes provocados pela queda de consumo trazida pela crise. Notem que estão se referindo a uma colheita que ocorrerá no 1° semestre de 2010, futuro que bons analistas econômicos não arriscam prever.
.
É do conhecimento até do mundo mineral, para usar expressão do jornalista Mino Carta, que o impacto da crise sobre demanda, preços de alimentos e comércio internacional, faria a agropecuária ajustar-se a patamares inferiores aos recordes de 2008, longe ainda, no entanto, de caracterizar qualquer catástrofe. É necessário mais reflexão antes de estender à agricultura o pânico que se espalhou no final do ano passado.
.
Naquele momento, uma surpreendente e brutal escassez de crédito, tardiamente respondida pelo BC, contaminou toda a economia, em especial a indústria e a construção civil, que rodavam, há um bom tempo, acima da velocidade-cruzeiro da renda dos consumidores.
.
Projetar a mesma preocupação para o calendário agrícola futuro, depois de uma das mais bem sucedidas safras de nossa história, era apenas entrar no trupe da manada. A renda agrícola, que entre 2000 e 2007 teve média de R$ 127 bilhões, com dois picos próximos de R$ 145 bi, em 2008, chegou a R$ 161 bi. Pois bem, a mais recente estimativa do Ministério para 2009 é que ela atinja R$ 154 bi, 4,3% abaixo do recorde. Lembremos que, em janeiro deste ano, acompanhando a angústia existencial que se arrastava na tela da TV Globo com a minissérie sobre a cantora Maysa, o trio de ferro alertava para uma queda superior a 10% na renda da safra 2008/09.
.
Mesmo a safrinha de milho, que para os arautos do infortúnio poderia nem mesmo ser plantada, na estimativa da CONAB, deverá atingir 18 milhões de toneladas, uma queda de apenas 3,5% sobre 2008. Pelo lado das exportações agrícolas, o jornal China Daily informa que, depois da desaceleração do início do ano, as vendas brasileiras para aquele país cresceram 52,5% em março, fato que se repetiu com Índia e Irã.
.
Outro indicador de que o futuro da agropecuária não aparece tão ingrato é a contínua valorização dos preços das terras. Segundo o jornal Valor Econômico, citando levantamento da consultoria AgraFNP, ''o preço médio do hectare alcançou o recorde nominal de R$ 4.373''. Motivos: valorização das commodities no começo do ano, retomada do interesse de investidores internacionais e desvalorização do real que devolveu competitividade aos produtos de exportação.
.
Fica difícil, assim, entender qual a base que faz aconselhar plantios e usos menores de tecnologia na próxima safra. Os comandantes do trio de ferro cercam-se de profissionais competentes e são, em sua maioria, donos de terras e de empresas agropecuárias. Para terem sucesso, é provável que não sigam suas predições nos negócios próprios. Será que é justo usar as associações para subordinar o desenvolvimento do país e de milhares de produtores rurais a interesses políticos pessoais?

*Administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.
Fonte: Terra Magazine/Pátria Latina

Desemprego pode causar convulsões sociais, diz deputado comunista português

O aumento do desemprego em Portugal é de tal forma galopante que o deputado comunista Honório Novo teme o surgimento de convulsões sociais.

“Posso acusar um pai ou uma mãe que se revolte e se indigne e tome atitudes porventura ilegais porque tem de dar de comer à família?”, questiona.

Ele fala de um “exército” de desempregados e explica por que teme repercussões sociais graves.

Para evitar males maiores e porque a tendência é de o desemprego aumentar, o deputado comunista aconselha o governo a seguir as recomendações do PCP e alterar o subsídio de desemprego no tempo de duração, no valor e nas condições de acesso.

Segundo ele, é preciso aumentar a dotação financeira para canalizar verbas para investimentos públicos — os que têm efeito imediato, as pequenas obras, com efeitos imediatos na economia e no emprego

Honório Novo diz que é preciso investir na recuperação patrimonial da habitação, nos centros históricos há milhares de casas por recuperar, construir habitação social é cada vez mais premente, a par das obras nas escolas e da construção de pequenas unidades de saúde e instalações para as forças de segurança

Segundo ele, o aumento do consumo das famílias, que contribui 65 por cento para o PIB, também é essencial para a manutenção de muitas pequenas e micro-empresas.

Para que isso aconteça, defende Honório Novo, é preciso aumentar os rendimentos.

As informações são da TVI
.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Terrorismo: Evo anuncia investigação internacional

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou uma investigação internacional sobre os três mercenários mortos pela polícia boliviana na última quinta-feira, mas repudiou que esta será realizada a pedido de Croácia, Irlanda e Hungria.

Os três terroristas — um irlandês, um romeno de origem húngara e um boliviano, com cidadanias húngara e croata — foram mortos na madrugada de quinta-feira durante investigações das autoridades bolivianas sobre um plano para assassinar o presidente.

Morales qualificou como “muito grave” que os governos da Croácia, Irlanda e Hungria peçam uma investigação internacional sobre o ocorrido, mas anunciou que esta será realizada para determinar as circunstâncias dos fatos.

“Autoridades e instituições de Croácia, Irlanda e Hungria não têm nenhuma autoridade para pedir (a investigação)”, afirmou o presidente, questionando a intenção dos governos desses países de defender os mercenários, declarando que a atitude poderia dar a entender que os países teriam mandado essas pessoas para atentar contra a democracia da Bolívia.

Sobre a investigação, Morales afirmou que “se é importante a presença da comunidade internacional, ela será bem-vinda”, porque “não manipulamos coisas ocultas, não somos especialistas para ações encobertas”.

Na última semana, em visita à Venezuela, onde participou de uma reunião da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), Morales denunciou que o grupo de mercenários estrangeiros pretendia atentar contra sua vida e contra o vice-presidente do país, Álvaro García Linera.

García Linera, por sua parte, declarou no último domingo que estas três pessoas faziam parte de “uma estrutura conspiratória e terrorista”, cujas atividades eram financiadas por “pessoas vinculadas a atividades empresariais” em Santa Cruz de la Sierra.

Arpad Magyarosi (romeno de origem húngara), Michael Martin Dwyer (irlandês) e Eduardo Rozsa Flores (boliviano, com cidadanias húngara e croata) foram mortos na última quinta-feira em uma operação da polícia boliviana.

Em outra ação policial, foram presos Mario Francisco Tadic Astorga (boliviano, com passaporte croata) e Elot Toazo (húngaro).

O mercenário irlandês Michael Dwyer viajou para ao país sul-americano com um grupo de 17 comparsas, informou o jornal The Irish Times.

Segundo a versão da família, ele chegou à Bolívia no final do ano passado para fazer um curso de três meses dado por uma empresa de segurança, sobre o qual não há mais informações.

No entanto, o jornal irlandês indica que o próprio Dwyer, de 24 anos, pagou de seu bolso a viagem e que não há evidências de que ele estivesse estudando.

A família tenta agora entra em contato com membros desse grupo de 17 comparsas dos quais ele perdeu contato após começar a trabalhar para uma companhia local, acrescentou o Irish Times.

Na Irlanda, Dwyer trabalhou para, pelo menos, duas firmas de segurança, após se formar pelo Instituto de Tecnologia Galway/Mayo, mas as duas negam que não o enviaram à Bolívia.

O mercenário também havia feito curso de guarda-costas, acrescenta o jornal irlandês.

O chanceler boliviano, David Choquehuanca, informou na segunda-feira que a embaixada da Bolívia no Peru recebeu da embaixada croata uma nota, na qual a Croácia expressa sua “preocupação” pela vida de Tadic Astorga.

Choquehuanca garantiu também que o governo “proporcionará todas as informações sobre o assunto” aos interessados.

Na última sexta-feira, a Organização dos Estados Americanos (OEA) considerou como “gravíssimos” os planos para assassinar Morales e condenou a ação do grupo terrorista.

Após uma reunião com Choquehuanca, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, declarou que “há evidências claras de que existiu um grupo que tentou (perpetrar) atentados terroristas na Bolívia contra o presidente e o vice-presidente e outras pessoas do governo e provavelmente outras ações com o fim da desestabilização do governo constitucional da Bolívia”.

A Câmara dos Deputados da Bolívia também abriu uma comissão de investigação sobre o grupo terrorista.

A comissão será formada por cinco deputados do partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), além de outros três de cada uma das legendas de oposição com deputados: Poder Democrático e Social (Podemos), Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) e União Nacional (UN).

A comissão parlamentar também investigará os ataques com dinamite contra as casas do cardeal Julio Terrazas, na semana passada, e do vice-ministro de Autonomias, Saúl Ávalos, há quase um mês, que a polícia atribui a esta mesma quadrilha.

O presidente Evo Morales disse que eles planejavam matá-lo dentro de um plano para “tomar o poder pela via violenta” ou “dividir alguma região”.

O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Sacha Llorenti, disse que a segurança pessoal de Morales foi reforçada.

“O governo vai tomar todas as medidas para preservar a segurança do presidente Morales, porque há gente interessada em frear este processo”, informou.
.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

'Pobres no Rio vivem dias de horror’

Gabriel Brito e Valéria Nader

Estamos na porta de entrada de tempos (ainda mais) difíceis no país. Com crise, desemprego e muita violência nas grandes cidades, os políticos, sem romper seus pactos, precisam apresentar soluções para combater tal quadro. Dessa forma, é produzida uma série de medidas que mais combatem os pobres do que a pobreza. Pintam as paredes, mas não mexem na estrutura interna do ‘prédio’.

Por conta disso, o Rio de Janeiro vem sendo palco de seguidas políticas de limpeza e segregação social, como mostram os choques de ordem e agora o levantamento de muros no entorno de favelas, levados a cabo por prefeitura e governo do estado, respectivamente.

Para a socióloga Vera Malaguti, do Instituto de Criminologia Carioca, o que vemos é a expressão de um fascismo estatal mancomunado com grandes interesses econômicos. O governo pretende levantar 11 mil metros de muros, com 3m de altura, começando pela zona sul, cuja expansão de favelas não chegou à metade do aferido na zona oeste, de 11,5% - dados do Instituto Pereira Passos.

Malaguti aponta que os pobres no Rio de Janeiro são vítimas de crescente truculência oficial e vistos como ‘lixo humano’ que precisa ser removido da cidade, uma vez que a presença dessa parcela da população é prejudicial aos grandes negócios e à especulação imobiliária.

Correio da Cidadania: Como você vê a idéia do governo local de construir muros no entorno de favelas, sob a alegação de preservar algumas áreas verdes da cidade?

Vera Malaguti: É um absurdo e vem junto do circo de horrores do qual vem sendo palco o Rio de Janeiro, através de extermínios da polícia (a que mais mata no mundo), das remoções dos pobres, demolição de casas em áreas populares ilegais...

Enfim, é todo um festival de truculência, em articulação da prefeitura com o governo do estado, completamente ligados aos grandes negócios privados, como os esportivos, e impondo um cerco fascista sobre os pobres. E, além do muro, que é uma vergonha, as remoções voltaram à pauta.

Todo o processo é capitaneado pelas Organizações Globo, com campanha diária no RJTV, no jornal O Globo, sempre focalizando a pobreza como detrito, como algo que conspurca o ambiente. E tudo em nome dos grandes negócios privados, uma vergonha.

O Rio de Janeiro talvez esteja passando pelo seu pior momento desde Lacerda. Parece uma volta com força total da UDN, terrível.

CC: O que pensa do fato de as favelas escolhidas para receberem os primeiros muros se localizarem em bairros mais nobres ou de classe média, mesmo com a expansão recente de tais favelas estando abaixo de índices considerados preocupantes, inclusive em comparação com outras?

VM: Aí fica clara a parceria do governo com a especulação imobiliária, afinal, são áreas nobres, e ter os pobres ali não lhes interessa.

É tão chocante, tão óbvia, essa mistura de truculência fascista com Parcerias Público-Privadas sinistras! Estou sendo enfática, mas é que chegamos num ponto... Ontem mesmo houve o assassinato pela polícia de um menino da Maré, a população tentava protestar e era reprimida da pior forma possível pela mesma polícia. E tudo sempre sob a desculpa do tráfico.

Acho que o fim do brizolismo no Rio foi muito ruim. Para exemplificar, uma das coisas que O Globo fez para comemorar os 45 anos do golpe militar foram acusações levianas sobre o Brizola, ao mesmo tempo em que o associava ao crescimento das favelas. O vazio criado por sua morte, junto ao estraçalhamento das forças de esquerda, deixou o fascismo ocupar a cidade.

CC: Ao se juntar tal ação com a também recente medida dos choques de ordem, vemos que as políticas de higienização nas grandes cidades têm sido levadas ao paroxismo, não?

VM: Exatamente. O velho projeto fascista, com essa maneira de olhar os pobres como lixo humano na cidade, se consolidou, sendo orquestrada também pela grande imprensa tal proposta de apartheid.

Os pobres no Rio de Janeiro vivem dias de horror. Acho que as forças de esquerda, libertárias, precisam se organizar contra isso. Tudo começou pela questão criminal, o que é um problema, pois até a esquerda embarca no discurso de luta contra o tráfico, sempre localizada nas favelas.

Daí para choques de ordem, remoções, muros, é um passo. É um projeto higienista reciclado, em nome da ordem na cidade, dos grandes negócios de Copa, Olimpíadas, dos grandes capitais que circulam no Rio. Tais negócios são uma obsessão para o governo e a prefeitura, que sempre estão em viagem buscando grandes investimentos.

Enquanto isso, pau nos pobres aqui. É um projeto sinistro.

CC: Essas medidas não podem potencializar o ódio entre classes, na medida em que reforçam uma idéia segregacionista?

VM: Claro, isso não vai dar certo. Durante um tempo, algumas forças progressistas do Rio aceitaram a pauta criminal da direita, e assim o fascismo encontrou sua brecha, sendo que acaba se alastrando para a questão habitacional, ambiental, onde muitas vezes se refugia, como neste caso dos muros, aliás.

Uma vereadora do PT foi uma das que mais defenderam os muros, sempre fala em remoções nas favelas da zona sul, como a dos Tabajaras, uma vez que as áreas verdes na cidade se concentram mais na zona sul e posto 9.

Tais equívocos abrem o caminho para o fascismo mais explícito, que vemos nessa mistura de truculência contra os pobres e grandes negócios (com ilegalidades) particulares.

CC: Você acredita que o levantamento dos muros vai impactar de alguma maneira, ainda que a curto prazo, nos índices de criminalidade?

VM: Acho que vai emparedar os pobres e produzir outros efeitos, intra e extramuros. É mais uma grande violência, portanto, entrará nesse moinho gerador de ódios.

Espero que isso possa ser barrado, apesar de todo o esforço da grande imprensa. Fazem pesquisas dizendo que os favelados são favoráveis à remoção, pesquisas para legitimar tais ações... Não deve faltar sociólogo para fazer esse tipo de trabalho e dizer que os pobres estão doidos para serem emparedados e removidos da cidade.

No Rio de Janeiro, neste momento, essas forças, que envolvem institutos de opinião, empresas de publicidade, grande imprensa, setor imobiliário, estão totalmente articuladas na varredura da pobreza da cidade. E da pobreza rebelde, que é uma marca do Rio de Janeiro há muito tempo, pois foi uma cidade quilombola, depois janguista, brizolista...

Estamos diante de um conjunto de interesses escusos, mais uma ‘blitzkrieg’.

CC: Diante do quadro atual, quais medidas seriam efetivas a seu ver, tanto a curto como a longo prazos?

VM: O inverso disso tudo, uma outra maneira de olhar a cidade. Construir políticas habitacionais democráticas, projetos em que as classes populares sejam protagonistas.

Não bastam bons projetos para os pobres, é preciso que esses setores estejam no centro, que a juventude, ao invés de ser criminalizada, seja participante central dos projetos que a libertem dessa concepção de muros, cadeias, extermínio. Temos de produzir outro projeto brasileiro, que não contenha essas conjugações.

É complicado resolver a violência, ninguém tem a solução. Mas uma cidade democrática é gerida de outra forma, e assim produz soluções também democráticas e libertadoras, capazes de permitir que todos usufruam a cidade, apesar das diferenças.

Em suma, é o oposto de tudo isso.
________________________________________
Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.
.

Greve geral no Chile

Trinta mil desfilam em Santiago
.
Milhares de chilenos aderiram à greve geral convocada pela principal central sindical do país. Os trabalhadores rejeitam pagar a crise capitalista, reclamam o aumento do salário mínimo e exigem o fim da lei que afasta os seus representantes dos cargos de eleição popular.
.
Embora a paralisação tenha tido particular adesão no setor público – dado que no privado ainda pesam sobre os trabalhadores práticas e normas herdadas dos tempos da ditadura de Pinochet – a Central Única dos Trabalhadores do Chile (CUT) avalia como um êxito a greve geral realizada na passada quinta-feira. Em Santiago, capital do país, pelo menos 30 mil pessoas desfilaram em quatro marchas que confluíram num grande comício.
Significativo, ainda, o fato dos trabalhadores terem resistido com firmeza e serenidade às provocações policiais. As autoridades metropolitanas da capital impediram um dos percursos pelo centro da cidade. Chegaram a registar-se confrontos entre os manifestantes e o forte contingente de carabineiros ali colocado, que respondeu aos protestos com canhões de água e deteve 46 pessoas. Não obstante, e apesar de terem sido obrigados a alterar o trajeto, a esmagadora maioria dos participantes conseguiu chegar ao local da concentração. Noutras cidades do Chile, a CUT informou que muitos saíram igualmente à rua. Mais de 135 mil no total das iniciativas levadas a cabo em Temuco, Valparaíso, Iquique, La Serena, Arica, e nas regiões de Maule ou Biobío.
.
Força para lutar
Os patrões têm a dar e não a receber, expressou Arturo Martínes, presidente da CUT, na intervenção de encerramento das manifestações em Santiago. «Tem que devolver parte da mais-valia com que enriqueceram ao longo destes anos», acrescentou lembrando o lema da greve geral, «não podem ser os trabalhadores a pagar a crise».Quando em cima da mesa o patronato coloca como proposta o congelamento do salário mínimo, os trabalhadores respondem com a exigência de um aumento daquela remuneração. «O clamor do Chile é mais justiça social e um salário mínimo decente que esteja acima do limiar da pobreza», disse Martínez.
O presidente da CUT deu ainda voz à exigência de revisão da lei que impede dirigentes e ativistas sindicais de serem eleitos para o parlamento, afirmando que o povo tem força para lutar por esta justa medida.
.
Original em Avante!

A evidência

Luis Fernando Verísismo
.
É fácil ter opiniões firmes sobre, por exemplo, o câncer (contra) e o leite materno (a favor). Já outros assuntos nos negam o conforto de pertencer a uma unanimidade, ou mesmo a uma maioria. São assuntos em que os argumentos contra e a favor se equilibram e sobre os quais a gente pode ter opiniões, mas elas estão longe de ser firmes. Até opiniões que você julgaria indiscutíveis - exemplo: nada justifica a tortura - são controvertidas, e basta ler as seções de cartas dos jornais para ver como a pena de morte, oficial ou extra-oficial, tem entusiastas entre nós. Em assuntos como aborto, cotas raciais nas universidades, etc. coisas como a religião, a formação, a ideologia e até o saldo bancário de cada um determinam as opiniões divergentes. E não vamos nem falar nos extremos opostos de opinião provocados por qualquer avaliação do governo Lula.
.
Mas há um assunto sobre o qual você talvez ingenuamente imaginasse que nenhuma discordância seria possível. A brutal evidência - geográfica, cartográfica, literalmente na cara, portanto independente de interpretação e opinião - da iniqüidade fundiária no Brasil, um continente de terra com poucos donos, era tamanha que durante muito tempo uma genérica "reforma agrária" constou do programa de todos os partidos, mesmo os dos poucos donos da terra. Era uma espécie de reconhecimento da injustiça inegável que desobrigava-os de fazer qualquer coisa a respeito, retórica em vez de reforma. O aparecimento do Movimento dos Sem Terra acrescentou um novo elemento a essa paisagem de descaso histórico: os próprios despossuidos em pessoas, organizados, reivindicando, enfatizando e até teatralizando a iniqüidade, para contestar a hipocrisia. A evidência insofismável transformada em drama humano.
.
Pode-se discutir os métodos do MST, e até que ponto as invasões e a violência não dão razão à reação e não desvirtuam o ideal, além de agravar a truculência do outro lado. Mas sem perder de vista o que eles enfrentam: não só a injustiça que perdura, apesar de programas governamentais bem intencionados e de alguns avanços, como um Congresso recheado de grandes proprietários rurais, o poder político e financeiro dos agro-business e uma grande imprensa que destaca a violência mas sempre ignorou a existência de acampamentos do MST que funcionam e produzem - inclusive exemplos de cidadania e solidariedade. É a minha opinião.
.
Publicado originalmente no jornal O Globo, em 12/4/2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

Rede Globo e Daniel Dantas: um caso de polícia

Por Osvaldo da Costa
.
Não se trata de cobertura dos fatos, se trata de um ataque à consciência dos telespectadores. Na noite de 19 de abril, o programa de variedades Fantástico, da Rede Globo, apresentou uma suposta reportagem sobre um conflito ocorrido numa fazenda do Pará, envolvendo "seguranças" (o termo procura revestir de legalidade a ação de jagunços) da fazenda do banqueiro Daniel Dantas e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
.
Só pude descobrir que se tratava de propriedade do banqueiro processado por inúmeros crimes e protegido por Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, após ter vasculhado algumas páginas na internet em busca de meu direito de escutar o outro lado da notícia, a versão dos fatos dos sem terra, pois na reportagem eles aparecem como invasores, baderneiros, seqüestradores da equipe de reportagem da Rede Globo, assassinos em potencial, e ao final, corpos de militantes aparecem baleados no chão, agonizantes, sangrando, sem nenhum socorro, e a reportagem não fornece nenhuma informação sobre o estado de saúde das vítimas.Sem ter acesso às causas do conflito, e a nenhum dos dois lados envolvidos, o telespectador se vê impelido a acompanhar o julgamento que o narrador da reportagem e a câmera nos sugere. No caso, tendemos a concordar com a punição dada aos desordeiros: “que sangrem até morrer!”, ou “quem mandou brincar com fogo?!” podem ser algumas das bárbaras conclusões inevitáveis a que os telespectadores serão levados à chegar.
.
Nós, em nossas casas, consumidores do que a televisão aberta nos apresenta, não temos direito ao juízo crítico, porque o protocolo básico das regras do jornalismo não é mais cumprido. Nós somos atacados em nosso direito de receber informações e emitir julgamentos, nós somos saqueados por emissoras privadas que mobilizam nosso sentimento de medo, ódio e desprezo, para em seguida nos exigir sorrisos com a próxima reportagem.
.
Como um exercício de manutenção da capacidade de reflexão, precisamos nominar esse tipo de ataque fascista com os termos que ele exige. A ilusão de verdade deve ser desmontada, a suposta neutralidade deve ser desmascarada, caso a caso, na medida de nossas forças.
.
Seguem questionamentos à reportagem, com o intuito de expor o arbítrio de classe da Rede Globo, para que esse texto possa endossar a documentação que denuncia a irregularidade das emissoras privadas e protesta contra a manutenção de concessões públicas para empresas que não cumprem com as leis do setor.
.
1º) Por que a Globo protege Dantas? Por que a emissora não tornou evidente que as terras pleiteadas pelo MST para Reforma Agrária são de Daniel Dantas? Qual o grau de envolvimento da emissora nas manobras ilícitas do banqueiro?
.
2°) Por que o MST não foi escutado na reportagem? Quais os motivos do movimento para decidir ocupar aquela fazenda?
.
3°) As imagens contradizem os fatos. A câmera da equipe de reportagem aparece sempre posicionada atrás dos seguranças da fazenda, e nunca à frente dos sem terra. E vejam informação da Agência Estado: “A polícia de Redenção informou a Puty [Cláudio Puty, chefe da Casa Civil do governo do Pará] não ter havido cárcere privado de jornalistas e funcionários da Agropecuária Santa Bárbara, pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas e que tem 13 fazendas invadidas e ocupadas pelo MST. Os jornalistas, porém, negam a versão da polícia e garantem que ficaram no meio do tiroteio entre o MST e seguranças da fazenda” http://br.noticias.yahoo.com/s/19042009/25/manchetes-pm-desarmar-mst-segurancas-no.html. Quer dizer, nem mesmo os grandes jornais conservadores estão fazendo coro com a cobertura extremamente parcial da Rede Globo.
.
4°) Ocorreu um tiroteio mesmo? Só aparecem os jagunços da fazenda atirando, e com armas de calibre pesado. E a imagem dos feridos mostra os sem terra baleados e um jagunço de pé, com pano na cabeça, possivelmente contendo sangramento de ferimento não causado por arma de fogo, dado o estado de saúde do homem.
.
5º) Por que os feridos não são tratados com o mesmo direito à humanidade que as vítimas de classe média da violência urbana? Eles não têm nomes? O que aconteceu com eles? Algum morreu? Quem prestou socorro? Em que hospital estão? Por que essas informações básicas foram omitidas?
.
6°) Por que mostrar como um troféu a agonia de seres humanos sangrando no chão, sem nenhum socorro?
.
Original em MST

ESCLARECIMENTOS SOBRE ACONTECIMENTOS NO PARÁ

Em relação ao episódio na região de Xinguara e Eldorado de Carajás, no sul do Pará, o MST esclarece que os trabalhadores rurais acampados foram vítimas da violência da segurança da Agropecuária Santa Bárbara. Os sem-terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda nem fizeram reféns. Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, que apenas fecharam a PA-150 em protestos pela liberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Os jornalistas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria, como sustenta a Polícia Militar. Esclarecemos também que:
.
1- No sábado (18/4) pela manhã, 20 trabalhadores sem-terra entraram na mata para pegar lenha e palha para reforçar os barracos do acampamento em parte da Fazenda Espírito Santo, que estão danificados por conta das chuvas que assolam a região. A fazenda, que pertence à Agropecuária Santa Bárbara, do Banco Opportunity, está ocupada desde fevereiro, em protesto que denuncia que a área é devoluta. Depois de recolherem os materiais, passou um funcionário da fazenda com um caminhão. Os sem-terra o pararam na entrada da fazenda e falaram que precisavam buscar as palhas. O motorista disse que poderia dar uma carona e mandou a turma subir, se disponibilizando a levar a palha e a lenha até o acampamento.
.
2- O motorista avisou os seguranças da fazenda, que chegaram quando os trabalhadores rurais estavam carregando o caminhão. Os seguranças chegaram armados e passaram a ameaçar os sem-terra. O trabalhador rural Djalme Ferreira Silva foi obrigado a deitar no chão, enquanto os outros conseguiram fugir. O sem-terra foi preso, humilhado e espancado pelos seguranças da fazenda de Daniel Dantas.
.
3- Os trabalhadores sem-terra que conseguiram fugir voltaram para o acampamento, que tem 120 famílias, sem o companheiro Djalme. Avisaram os companheiros do acampamento, que resolveram ir até o local da guarita dos seguranças para resgatar o trabalhador rural detido. Logo depois, receberam a informação de que o companheiro tinha sido liberado. No período em que ficou detido, os seguranças mostraram uma lista de militantes do MST e mandaram-no indicar onde estavam. Depois, os seguranças mandaram uma ameaça por Djalme: vão matar todas as lideranças do acampamento.
.
4- Sem a palha e a lenha, os trabalhadores sem-terra precisavam voltar à outra parte da fazenda para pegar os materiais que já estavam separados. Por isso, organizaram uma marcha e voltaram para retirar a palha e lenha, para demonstrar que não iam aceitar as ameaças. Os jornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara, acompanharam o final da caminhada dos marchantes, que pediram para eles ficarem à frente para não atrapalhar a marcha. Não havia a intenção de fazer os jornalistas de “escudo humano”, até porque os trabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças. Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pela Agropecuária Santa Bárbara, o que demonstra que tinham tramado uma emboscada.
.
5- Os trabalhadores do MST não estavam armados e levavam apenas instrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro, que vive em outro acampamento na região, estava com uma espingarda. Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os trabalhadores sem-terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram as imagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas uma tentativa de massacre dos sem-terra pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara.
.
6- Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara. O sem-terra Valdecir Nunes Castro, conhecido como Índio, está em estado grave. Ele levou quatro tiros, no estômago, pulmão, intestino e tem uma bala alojada no coração. Depois de atirar contra os sem-terra, os seguranças fizeram três reféns. Foram presos José Leal da Luz, Jerônimo Ribeiro e Índio.
.
7- Sem ter informações dos três companheiros que estavam sob o poder dos seguranças, os trabalhadores acampados informaram a Polícia Militar. Em torno das 19h30, os acampados fecharam a rodovia PA 150, na frente do acampamento, em protesto pela liberação dos três companheiros que foram feitos reféns. Repetimos: nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, mas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria. Os sem-terra apenas fecharam a rodovia em protesto pela liberação dos três trabalhadores rurais feridos, como sustenta a Polícia Militar.
.
MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA - PARÁ
.

Copyleft - Nenhum Direito Reservado - O conhecimento humano pertence à Humanidade.