por Jim Kunstler
O momento da verdade na semana passada foi o aparecimento de Robert Hirsh na CNBC, no programa financeiro matutino "Squawkbox", no qual sugeriu a probabilidade de US$500 por barril de petróleo dentro de "uns três a cinco anos". A apresentadora Becky Quick ficou claramente confusa diante do impassível Sr. Hirsch, autor de um (então) assustador relatório elaborado em 2005 para o Departamento de Energia (desde então mencionado como Relatório Hirsch e enterrado pelo secretário da Energia) que advertia quanto aos medonhos efeitos sobre o modo de vida americano quando a situação do Pico Petrolífero ganhasse velocidade. Talvez o maior contestador da realidade tenha sido o absolutamente idiota Larry Kudlow no show da noite sobre dinheiro, o qual se manteve a repetir a lenga-lenga "furem, fure, furem" quando lhe apresentaram sinais de que alguma outra coisa além dos "especuladores do petróleo" estava a conduzir os preços para cima e a criar escassez global. Estes idiotas retornam sempre ao amuleto de que "há muito petróleo fora daqui". O que eles não percebem é que mesmo no momento em que o mundo está a desfrutar o pico máximo da produção de todos os tempos (algo em torno dos 85 milhões de barris por dia), aquele mesmo mundo está a exigir pelo menos 86 milhões de barris – assim mesmo que se pense que há mais petróleo do que nunca, não há bastante. E o fosso só pode ficar maior. A diferença entre o que está disponível e o que é procurado está a ser sentida pelos países pobres e pessoas pobres nos países mais ricos. Os países do Terceiro Mundo que não têm petróleo estão simplesmente a retirar-se do mercado, e as classes mais baixas nos EUA estão a ter de escolher entre comprar gasolina e velveeta [1] . As inundações no cinturão do milho certamente agravarão o problema aqui nos EUA. Intervalos para almoço em breve podem ser uma coisa do passado para a WalMart Associates. Talvez eles se ponham apenas a jogar video games nos seus celulares no estacionamento de carros a fim de aliviar a fome. Enquanto isso, a noção de que furar furar furar no offshore dos EUA e mais acima no Alasca resolverá este problema mostra quão incrivelmente desinformados estão os noticiários dos próprios media. A probabilidade de ser encontrada qualquer coisa ao largo da Califórnia ou da Florida é próxima de zero, mesmo que compensasse em parte o esgotamento em curso no punhado de velhos e estabelecidos campos super-gigantes dos quais o mundo obtém a maior parte do petróleo. A propósito, apoio a idéia de furar na Reserva Natural do Alasca porque penso que isto pode ser feito de um modo higiênico e, o mais importante, faria com que os cornucopianos idiotas, imbecis da extrema-direita, finalmente calassem a boca acerca disso – antes de descobrirem que aquilo contém menos da metade do abastecimento anual de petróleo dos EUA às atuais taxas de utilização. Também na frente do "enquanto isso", a reunião de domingo da OPEP, em Jeddah, Arábia Saudita, foi simplesmente uma evasão desesperada, uma fantochada, um teatro kabuki de impotência. Mais uma vez os sauditas estão a pretender que podem aumentar a sua produção – em resumo, a pretender que realmente têm algum poder no jogo. Como destacou Jeffrey Brown em THEOILDRUM.COM, o reino ainda mostrará um firme declínio de três anos em relação às suas taxas de produção de 2005 mesmo se fossem capazes de aumentar a produção atual tanto quanto eles dizem que farão em 2008. Toda esta realidade principia a penetrar a consciência coletiva nos EUA, mas o resultado é sobretudo pânico ou descrença paralisada ao invés de qualquer conjunto de respostas inteligentes. Exemplo: recebi um telefonema de um dos produtores do Katie Couric no noticiário da CBS de sexta-feira. De algum modo, eles perceberam que os preços do petróleo estavam a tornar-se um problema na América. Chamaram-me para um comentário. A parte assustadora era que eles estavam claramente a tratar tal questão como uma estória "estilo de vida". Será que eu pensava que mais suburbanos mudar-se-iam para o centro das cidades? E seria isso uma boa coisa...? Eles não tinham a mais mínima pista sobre quão vastamente e profundamente estas dinâmicas afetarão a vida deste país, ou mesmo a nossa capacidade para permanecermos um país. Também, a propósito, isto demonstra como a rede dos noticiários noturnos tornou-se o equivalente das antigas "páginas da mulher" dos jornais diários. O universo paralelo do mundo financeiro está a mostrar a tensão resultante de toda esta ansiedade com o petróleo – uma vez que, afinal de contas, o petróleo é o recurso primário para movimentar economias industriais. Passou-se algum tempo desde que os rapazes a serviço dos banqueiros embarcaram na sua aventura fatal de alquimizar uma nova estirpe mutante de instrumentos de investimento para substituir as velhas ações e títulos, os quais representavam a esperança para a produção do excedente de riqueza da atividade industrial – agora posta em debate pela estória do petróleo. A idéia dos investimentos mutantes era produzir riqueza com nenhuma atividade real produtora de riqueza. Este velho truque, antigamente conhecido como finanças Ponzi ou um "esquema de pirâmide", era naturalmente auto-limitante, e de um modo que acabaria por se demonstrar muito destrutivo para sociedade como um todo. De fato, ele minou fatalmente a legitimidade de todo o sistema financeiro, e iniciou-se um estado de náusea abrangente quando testemunhamos todos a dissolução do fundamento da economia dos EUA sob um tsunami de dívidas que nunca serão reembolsadas. Os mercados parecem saber isto, os atos mais interventivos estão a guinchar mais acerca disso, alguns bancos estão a emitir amedrontadoras advertências "duck-and-cover" [2], utilizando frases de filme de horror tais como “... pior do que na Grande Depressão dos anos 30..." e o público geral está a afundar na areia movediça da bancarrota, devolução aos donos, e ruína. Não estive em quaisquer festas no relvado no Hamptons deste ano, mas imagino que borbulhas eczematosas de ansiedade estão a competir com queimaduras depois de acabado este ano. Realmente, estamos certos de voltar aonde estávamos por esta altura no ano passado, apenas pior. O petróleo duplicou, a comida está terrífica, as barragens romperam-se, as pessoas que dirigem as coisas estão a borrar as calças, e toda a gente está à espera da queda final.
23/Junho/2008
[1] Tipo de queijo nos EUA.
[2] Duck and Cover era o método sugerido de proteção pessoal contra os efeitos de uma detonação nuclear que o governo dos Estados Unidos ensinou a gerações de escolares dos Estados Unidos desde o fim da década de 1940 até a década de 1980. Este método era suposto protegê-los no caso de um ataque nuclear inesperado o qual, diziam-lhes, podia acontecer a qualquer momento sem advertência. Imediatamente depois de verem um clarão de luz eles tinham de parar o que estavam a fazer e ficar sobre o chão sob alguma cobertura – tal como uma mesa, ou pelo junto à parede – e assumir a posição fetal, deitadas com a cabeça para baixo e cobrindo as cabeças com as mãos. Os críticos consideram que tal treino seria de pouca, se é que alguma, valia em caso de guerra termonuclear, e tinha pouco efeito além de promover um estado de desconforto e paranóia. A finalidade era criar no povo a aceitação da possibilidade da guerra nuclear.
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