Na explosiva entrevista à revista Rolling Stones o general McCrhystal dispara em todas as direções, não poupando sequer Barack Obama, a quem sempre apoiou. Será apenas o desespero pelo desenrolar da guerra no Afeganistão?
Além do Cidadão Kane
terça-feira, 29 de junho de 2010
O que faz correr o General McChrsytal
Tariq Ali*
A entrevista kamikaze do general Stanley McChrystal produziu o efeito desejado. O general foi demitido e substituído pelo seu superior, general David Petraeus. Mas por trás do drama em Washington há uma guerra que vai de mal a pior e não há conversa fiada jornalística que oculte isso.
O empertigamento de Holbrooke (que é uma criação de Clinton) é significativo, não por seus defeitos pessoais, que são muitíssimos, mas porque a tentativa de Holbrooke de derrubar Karzai sem ter alguém confiável para por em seu lugar enfureceu os generais. Convencidos de que não há meio pelo qual vencer aquela guerra, os generais ficarão absolutamente órfãos e perdidos, sem Karzai: sem um ponto de apoio pashun no país, o colapso da OTAN-EUA pode alcançar proporções de Saigon.
Todos os generais sabem que o beco sem saída é sem saída, mas todos anseiam por construir reputações e carreiras e esperam fazê-lo testando novas armas e novas estratégias (jogos de guerra sempre atraem os generais, desde que não haja riscos reais para os generais, pessoalmente considerados); por isso obedeceram ordens apesar de praticamente não haver nenhum tipo de acordo nem entre os generais, nem entre eles e os políticos.
Obama sempre foi apoiado por Stan [McChrystal] e Dave [Petraeus], mas não pelo general Eikenberry, ex-patrão dos dois supracitados e atual embaixador dos EUA em Cabul. Eikenberry já está bem vingado, pelo beco sem saída e pelo quanto custou e ainda custará. Todos os «avanços» e «conquistas» de que os jornais vivem cheios e que são aumentados até a loucura são ilusórios. As baixas, de soldados dos EUA e da OTAN, só fazem crescer, semana após semana; multidões de cidadãos europeus e norte-americanos já fazem aberta oposição à guerra e pregam a retirada; diferentes facções dos Talibãs preparam-se para assumir o poder do Afeganistão; o Iran foi definitivamente afastado pelas sanções e não colaborará; a Aliança do Norte está ativa, os líderes trabalham como nunca, como os irmãos de Karzai, fazendo dinheiro. E, com reservas de lítio e tudo, é cada dia mais difícil sustentar as forças da OTAN no país.
Os militares paquistaneses mantêm contato permanente e estável com as lideranças Talibã e um Karzai já desesperado pediu que os EUA retirassem o nome de Mullah Omar e outros anciãos Talibãs da lista de «terroristas», de modo a que possam viajar e participar na vida política do país. Resposta de Eikenberry: estamos preparados para considerar cada nome da lista, caso a caso, mas não haverá anistia geral. Com o tempo, ah, sim, também isso virá.
As eleições de meio de mandato nos EUA aproximam-se e Netanyahu é esperado como convidado especial da Casa Branca para ajudar a empurrar para cima a maré de apoio do lobby pró-Israel/AIPAC, a favor dos depauperados Democratas.
O que se ouve pelos salões de Washington é que Obama será obrigado a livrar-se de Gates no Pentágono e de Rahm na Casa Branca. O que ninguém parece estar percebendo é que McChrystal anda exibindo cara de muita fome.
Estará interessado em disputar a indicação pelo partido Republicano?
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*Tariq Ali é editor da New Left Review, diretor da Editorial Verso e membro do Conselho editorial de Sin Permiso
Este texto foi publicado em www.lrb.co.uk/
Tradução de Caia Fittipaldi
Postado por O Velho Comunista às 19:01
Marcadores: Afeganistão, Estados Unidos, guerra imperialista, Obama
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