Além do Cidadão Kane

domingo, 20 de junho de 2010

Um Imperialista num momento de verdade no Afeganistão

John Catalinotto
Tradução de F. Macias

Um político imperialista foi obrigado a demitir-se no dia 31 de Maio, não devido a nenhum escândalo nem mesmo por ter sido apanhado a mentir publicamente. Desta vez o Presidente Alemão Horst Köhler, do Partido Democrata Cristão (CDU), foi obrigado a resignar por dizer a verdade sobre o papel da Alemanha na guerra do Afeganistão.

Ao falar à Deutschlandradio no dia 22 de Maio, durante uma visita às tropas no Afeganistão, Köhler deixou escapar: “Mas a minha opinião é que, acima de tudo, nós começamos a compreender, mesmo a sociedade em geral, que um país da nossa dimensão, virado para o mercado externo e por isso também dependente do mercado externo, tem que estar ciente que em caso de dúvida quanto a uma emergência, a ação militar também é necessária para proteger os nossos interesses.” (O Local, de 27 de Maio)

Köhler deve-se ter esquecido que não estava a falar só para os seus correligionários da CDU. Ao falar verdade provocou uma tempestade nos social-democratas (SPD) e nos Verdes da Alemanha. Eles tinham andado a justificar a intervenção alemã no Afeganistão como necessária para defender a Alemanha do “terrorismo islâmico” assim como os direitos das jovens e mulheres afegãs a freqüentarem a escola.

Desde a participação alemã na invasão à Jugoslávia em 1999, estes partidos têm conduzido a Alemanha para guerras, alegadamente em nome dos direitos humanos. As observações de Köhler vieram denunciar esta hipocrisia. Por isso os seus dirigentes explodiram numa reação de críticas violentas ao presidente alemão por falar verdade em público.

O líder do grupo parlamentar do SPD, na oposição, Thomas Oppermann disse ao periódico Der Spiegel que Köhler estava “a prejudicar a aprovação das missões do Bundeswehr no estrangeiro”. Oppermann acusou Köhler de “ servir a causa do Partido da Esquerda”, o único partido no parlamento que se tem oposto firmemente à missão no Afeganistão. O Bundeswehr é as forças armadas alemãs.

As observações de Köhler expuseram a verdadeira razão da Alemanha estar a enviar os seus jovens para as montanhas da Ásia Central, a 3,000 milhas de distância. Combater por tal razão, viola a constituição da Alemanha. As suas palavras também abriram uma janela sobre toda a máquina do imperialismo do século XXI.

Os grandes países industrializados da Europa Ocidental, América do Norte e Japão, que também são os centros financeiros mundiais, exploram trabalhadores dentro das próprias fronteiras e em todo o mundo. Eles super-exploram trabalhadores e apoderam-se dos recursos dos países oprimidos – a maior parte das antigas colônias do imperialismo dos séculos XIX e XX.

Economicamente, as regras do comércio e investimento são estabelecidas pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio e outras instituições controladas pelas mesmas grandes potências.

Militarmente, o Pentágono fornece a principal força policial para impedir os oprimidos de se levantarem e reaverem o que lhes tem sido e continua a ser roubado, e apoderar-se de mais terra e explorar outras áreas para investir.

Ao mesmo tempo em que os imperialistas EUA querem manter a supremacia militar em todo o mundo, eles exigem que a Europa Ocidental e o Japão paguem parte do preço em dinheiro e tropas. Por outro lado, a Alemanha, França, Inglaterra, Japão, etc., perderam o lugar à mesa onde Washington se senta à cabeceira.

Os últimos planos de “Defesa Estratégica” de alguns governos proclamaram abertamente o objetivo da supremacia dos EUA O último, que entrou apenas em vigor em 27 de Maio pelo governo democrata, reafirmou esse objetivo. De acordo com a hipocrisia dos EUA, a secretária de estado Hillary Clinton afirmou que “os valores dos EUA” eram importantes. Se substituirmos “valores” por “lucros” soa mais verdadeiro.

“Parar os Talibãs”, “parar o terror” e “direitos das mulheres” fazem todos parte da propaganda para esconder a verdadeira razão por que a Alemanha, algumas outras potências européias e o governo dos EUA enviam os seus jovens para matar e morrer no Afeganistão. A verdadeira razão é ganhar mercados para investimentos, explorar mais trabalhadores, controlar os recursos, expandir o comércio, reforçar a submissão na região e guardar os lucros que vão rolando para os bancos.

Publicado em Tribunal Iraque
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