Além do Cidadão Kane

terça-feira, 6 de maio de 2008

“Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores”

Por Ubiratan da Cunha Guilherme

O filme Olga, é baseado no livro de Fernando Morais a respeito da alemã comunista que foi mulher do líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes, que optou em entregar tudo em nome de um projeto revolucionário, pela luta anticapitalista.

Revolucionária, amante do maior nome do comunismo no Brasil, viveu no período entre - guerras e sofreu pela sua condição de judia. Filha de uma família de classe média alemã, rompeu com a mesma para se dedicar à causa socialista, unindo-se ao governo revolucionário soviético. Olga, o filme, mostra desde sua saída de casa, ainda jovem, pela incompatibilidade com a postura da família até sua morte (sim, qualquer espectador minimamente informado sabe que ela morreu nas mãos de Hitler e seu regime nazista) numa câmara de gás em 1942.
No Brasil ela se tornou conhecida e ganhou relevância histórica justamente por seu envolvimento com Prestes, o mesmo que se elevou contra o governo brasileiro na então chamada Coluna Prestes (uma referência apenas reverenciada no filme, que iniciou o contato e admiração de Olga pelo futuro esposo) e viveu quase a vida toda clandestinamente, preso ou perseguido por Getúlio Vargas. Seu romance com Prestes rendeu-lhe uma página de destaque na história do Brasil contemporânea, coisa que o livro de Fernando Morais engrandeceu e, num certo sentido, fez jus a seu nome.
O filme é formado por diversos flashbacks de Olga já presa e às vésperas de ser assassinada. De seu rosto sem cabelos, sofrido, mas que nunca deixou de transmitir emoção e compaixão.
O final do filme, com a leitura da última carta de Olga a Prestes e sua filha antes de ir para a câmara de gás, é um final importante para uma produção que quis emocionar com a história de uma revolucionária que se descobriu mulher e mãe, mas não esqueceu nunca de crer e lutar pelo que acreditava. Até a sua morte, triste morte de um capítulo da história da humanidade, capítulo que não deve jamais ser esquecido para que não volte jamais a acontecer.
A luta pela superação do capitalismo por uma sociedade de tipo mais avançado, iniciou-se há quase duzentos anos, buscando os caminhos onde a grande massa de trabalhadores assalariados e explorados pudesse se libertar. O ideal socialista mobilizou milhões e milhões de pessoas em todos os quadrantes do planeta. Conquistou grandes vitórias, sendo as primeiras experiências realizadas em países capitalistas atrasados, iniciadas há menos de 100 anos. Do ponto de vista histórico, este é um breve período para que uma nova formação econômica e social pudesse superar realmente o capitalismo.
Hoje, mais se afirma nossa convicção de que o socialismo é uma exigência histórica; e na conformação das condições da época atual, o socialismo é viável política, econômica e socialmente.
Na nossa compreensão, o imperialismo, sobretudo o norte-americano, em tempos de globalização e de modelo neoliberal, dá sinais de que o esquema e o status em que está assentado não é sustentável.
Isto tanto do ponto de vista econômico, onde se vive um clima com tendências à instabilidade, desequilíbrio, baixas taxas de crescimento e semi-estagnação, pontuado por crises nas esferas financeira, cambial e produtiva, nos países centrais e na periferia do sistema; quanto do ponto de vista político, com a intensificação da opressão nacional e o auge de uma hegemonia imperialista sustentada pela via da guerra indiscriminada, pela imposição do militarismo e decisões unilaterais.
A centralização do capital atinge níveis nunca vistos, há desenvolvimento como nunca das forças produtivas, mas, por outro lado, há milhões e milhões de pessoas desempregadas, pobres, doentes e marginalizadas e degradação acentuada da vida no planeta; cresce por todo o mundo a condenação à guerra imperialista, assim como a insatisfação pelo aprofundamento do fosso que separa os países ricos dos países pobres. É cada vez maior o anseio dos povos e da grande maioria das nações por sua soberania, pela democracia e pelo desenvolvimento e bem-estar material e espiritual, pela paz e uma nova ordem mundial.
Em suma, do ponto de vista histórico tudo isto vai confluindo para a busca de uma nova e superior forma de organização econômica, política e social – a luta pela sociedade socialista. No estágio que atravessa o capitalismo, quanto maior for o tempo em que viva na cena da história, mais crescerão os fatores de um mundo de barbárie.
Outra questão que gostaria de mencionar é sobre a situação do movimento socialista. Logo antes que terminasse o século XX, ele sofre uma derrota de caráter estratégico, mesmo que se considere o imenso valor da manutenção da perspectiva socialista na China, no Vietnã, em Cuba e em outros lugares; mesmo que se destaque, merecidamente, a fidelidade aos princípios de um número grande de partidos em todo o mundo. Desde então, vimos discutindo exaustivamente as causas deste revés de repercussão histórica. Que lições poderiam ser lembradas das primeiras experiências socialistas?
Uma, é que não há modelos universais de socialismo, nem quanto ao caminho de lá se chegar, nem quanto às formas concretas de organizá-lo.
Cada caso é distinto do outro. Para chegar ao socialismo e para construí-lo, não há passagem direta do capitalismo ao socialismo, é preciso passar por uma série de etapas e transições , num processo relativamente prolongado, sobretudo nos países pouco desenvolvidos e de grandes carências, onde várias formas de propriedade convivem durante um largo tempo e para que, com desenvolvimento econômico, se criem as condições para passar às etapas superiores;
E ainda, que não se pode subestimar a capacidade das forças dominantes do capitalismo e dos seus aparatos que impedem o avanço para nova sociedade. Eles souberam se reorganizar do golpe recebido com as revoluções proletárias e impuseram à humanidade – com base na força e na pressão ideológica – o fomento de uma onda conservadora de longa duração, que ainda prossegue.
De tudo isto se pode concluir que o movimento passa por um período de acumulação estratégica de forças onde, através de um processo de lutas políticas, econômicas, teóricas e ideológicas, que adquire as mais variadas formas, o povo vai fazendo sua própria experiência e se preparando para batalhas de maior envergadura. Para as forças da transformação ainda fora do poder está o desafio de construir uma ampla base política e social entre os trabalhadores e seus possíveis aliados, estratégicos e conjunturais, que seja o elemento protagonista nas transformações. Nos países socialistas atuais esta acumulação está centrada no desenvolvimento contínuo de suas economias, tendo em vista a rápida expansão das forças produtivas.
A última questão que eu gostaria de apresentar é que os processos transformadores, revolucionários, dependem da deflagração de profundas mudanças e de grandes acontecimentos em escala mundial, mas o curso revolucionário se dará nos marcos das realidades específicas, peculiares, de cada país.
Em se tratando da experiência no Brasil, em função da sua realidade estrutural, podemos definir que a “transição preliminar do capitalismo ao socialismo” é o objetivo central programático a ser alcançado, não se tratando, portanto, da socialização plena. Para se aproximar deste objetivo estratégico de uma transição ao socialismo, nas condições do Brasil atual, é imprescindível o êxito da luta pela superação do projeto neoliberal. . Nas condições do capitalismo, essa atuação, para ser conseqüente e eficaz, tem que ser social, tem que envolver a ação conjunta das classes sociais interessadas na transformação da sociedade. Tem que ser partidária. Foi essa compreensão que levou o trabalhador a organizar-se em partido político e desenvolver alianças com outras classes e setores sociais descontentes com o capitalismo.
A atuação no organismo partidário é a chave para a mobilização do povo em todo o lugar, visando à construção do projeto revolucionário. É a ação política consciente, coletiva e organizada para a construção de uma nova sociedade, digna, justa, socialista.


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