Além do Cidadão Kane

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segunda-feira, 28 de julho de 2014

DECLARAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA DE ISRAEL



TRIBUNA POPULAR
O Partido Comunista de Israel (IPC, sigla em inglês) e a Frente Democrática pela Paz e a Igualdade (Hadash) expressam sua ira e angústia no assalto brutal, criminoso e desumano levado a cabo pelo governo de Israel contra o povo de Gaza. Estamos transmitindo nossa profunda simpatia e solidariedade com o povo de Gaza e, também, com aqueles que foram mortos ou prejudicados por um governo vicioso, cuja intenção é manter a ocupação e a colonização dos territórios palestinos ocupados e prosseguir com o cerco a Gaza.
Desde que começou o cerco a Gaza, o IPC e a Hadash vem organizando e liderando uma serie de manifestações e atividades contra esse assalto, reivindicando o cessar fogo imediato e a manutenção de todos os civis, palestinos e israelense, fora deste sangrento conflito.
Por conta de nossas atividades e iniciativas, as turbas fascistas e racistas nos atacaram física e verbalmente, enquanto a polícia israelense nada tem feito para evitar isso. Esses ataques violentos foram praticamente promovidos pelo governo neofascista israelense, que incita continuamente contra todas as forças progressistas e democráticas em Israel, especialmente contra o IPC e a Hadash e, mais ainda, contra a população árabe-palestina que reside dentro do estado de Israel.
No sábado passado, dia 19 de julho, centenas de nós – judeus e árabes-palestinos juntos – manifestaram-se na cidade de Haifa contra a agressão israelense. Temos sido golpeados e perseguidos pela máfia neonazista judia, alguns foram feridos por pedras e garrafas lançadas. A polícia deteve 13 de nossos membros, ainda que nenhum deles estivesse envolvido em qualquer ação violenta.
Camaradas, vamos continuar! Nunca nos renderemos à intimidação e à violência. Gaza, nós do IPC e da Hadash, judeus e árabes juntos, vamos manter nossa luta pela libertação do povo palestino!
Os judeus e os árabes não são inimigos, mas companheiros – irmãos e irmãs!
Gaza Livre!
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

domingo, 20 de julho de 2014

Iraque: terrorismo ou revolta popular?

De acordo com meios de comunicação ocidentais, o Iraque está ameaçado de conquista por EIIL [Estado Islâmico do Iraque e do Levante - Inglês: ISIS], um movimento jihadista. Mas esta versão corresponde aos fatos reais?


Surgida do nada, uma organização terrorista conquista a segunda maior cidade do Iraque.Outras cidades também estão ocupadas, e agora esses movimento jihadista corre em direção a capital Bagdá.  Parece um roteiro de Hollywood, um cenário que se encaixa perfeitamente na "guerra ao terror" e à crescente islamofobia. Não há praticamente ninguém que conteste o que a mídia publica para esta versão.

Infelizmente, esta versão não resiste ao teste da realidade. O que está em jogo vai além do avanço selvagem repentino jihadista. Como de costume, a realidade resiste aos cenários infantis tipos de Hollywood.

A realidade remete a uma série de perguntas.

Primeiro, a organização terrorista EIIL não tem o pessoal necessário para conquistar e ocupar Mosul, uma cidade de quase 2 milhões de pessoas, para não mencionar as diferentes áreas da cidade. Isso é o que diz  Charles Lister do Instituto Brookings.

Tal operação bem coordenada também requer um conhecimento profundo do terreno (urbano) e capacidades logísticas avançadas, coisas que estão faltando em um movimento terrorista, como EIIL.

Hoje os helicópteros sobrevoam a cidade. Isso só pode ser feito por pilotos experientes, os quai a EIIL não dispõe. Uma versão mais aceitável é  de The Telegraph, que aponta para os combatentes da resistência sunita que lutaram contra a invasão dos Estados Unidos.

A cidade foi invadida de uma forma particularmente disciplinada e sem derramamento de sangue. É bastante curioso para uma organização terrorista. Além disso, a população local acolheu os rebeldes e distribuiu chocolates para os invasores.

Maliki, primeiro-ministro do Iraque, queria decretar estado de emergência no país, mas ele nem sequer obteve uma maioria no Parlamento. Rafi al-Rifai, o principal líder sunita do país, disse que os rebeldes não tinha que ser descritos como terroristas,pois eles estão tentando libertar o Iraque do governo de Nouri al-Maliki.
 

O véu

Ainda é muito cedo para saber os prós e contras de cada caso. Mas uma coisa é clara: o roteiro de Hollywood não se sustenta.

Aqui a seguir algumas peças do quebra-cabeça:

No final de 2013, o exército iraquiano perdeu o controle de Fallujah. É precisamente a cidade onde o antigo exército de Saddam Hussein mais resistiu à invasão. Desde então, um "Conselho Militar Revolucionário iraquiano geral" foi criado. Ele é composto de líderes locais tribais, antigos líderes da resistência (em oposição à invasão dos EUA) e é dirigida por ex-oficiais superiores do exército de Saddam Hussein.

"Hoje nos encontramos no meio de uma insurreição armada com um comando central", disse o xeque Mohammed Bashar Faidhi. Ele proferiu estas palavras em março de 2014. Significa que aqueles que conhecem o campo já sabiam o que iria acontecer.

De acordo com o correspondente do Financial Times, poucas centenas de combatentes EIIL participou da conquista de Mosul, mas ao lado de um número muito maior de homens mascarados, lutadores mais prováveis ​​de resistência sunita local. "Muitas pessoas ficaram muito felizes em pegar em armas. Era o início de uma revolução sunita ", disse um comerciante local.

Rafie al-Rifai, grande mufti do Iraque, concorda. Segundo ele, o que aconteceu foi "uma revolução das tribos sunitas". Enquanto isso, os rebeldes nomearam um novo governador para Mosul. É Hashem al-Ja-que que não é um jihadista, mas um oficial do antigo regime de Saddam.

Sem a aprovação da população local e dos líderes tribais e sem apoio militar da resistência sunita, o rápido crescimento teria sido impensável. A população resiste a administração do primeiro-ministro Maliki armada, especialmente a partir do antigo exército de Saddam Hussein, em grupos organizados por mais de 10 anos de resistência, primeiro contra os Estados Unidos, em seguida, contra o exército iraquiano.

De acordo com o Financial Times, esses grupos formaram uma aliança com o EIIL. Os recentes acontecimentos são apenas a consequência. No momento, é difícil prever ao que tudo isso vai levar, mas poderia ser o início de uma partição final Iraque em três partes: a dos curdos no território norte, uma área sunita no centro e um território Shia no sul. Essa partição, sem dúvida, trsris consequências pesadas para toda a região.


Tradução do Holandês: AMM Investig'Action
Tradução eletrônica do francês para português

 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Quem tem medo da Ira Muçulmana?

A capa de uma revista dos EUA (veja abaixo) mostra a posição obtusa da mídia de massa nas duas últimas semanas: um mundo muçulmano está ardendo em um sentimento de ira contra o ocidente por conta de um filme islamofóbico e hordas de manifestantes violentos pelas ruas ameaçam a todos nós... Mas é verdade isso? Cidadãos e as novas mídias estão respondendo, e o site Gawker fez uma sátira brilhante desta onda mostrando imagens alternativas à "ira muçulmana" (no Twitter, várias pessoas responderam à 'hashtag' #MuslimRage, usada ao longo deste artigo):


7 coisas que não lhe contaram sobre a "#MuslimRage":

Como qualquer pessoa, a maioria dos muçulmanos acharam o vídeo islamofóbico de 13 minutos de má qualidade e ofensivo, e os protestos se espalharam rapidamente, tocando em feridas compreensíveis e duradouras sobre o neo-colonialismo dos EUA e a política externa ocidental no Oriente Médido, assim como a sensibilidade religiosa no que diz respeito a representações do profeta Maomé. Mas frequentemente a cobertura de mídia omite algumas informações importantes:

1.As estimativas iniciais mostram que a participação em protestos contra o filme representam de 0,001 a 0,007% da população mundial de muçulmanos: 1.5 bilhão de pessoas -- essa porcentagem representa uma pequena fração do número de pessoas que marcharam pela democracia durante a Primavera Árabe.

2.A grande maioria dos protestos foram pacíficos. As violações das embaixadas estrangeiras foram quase todas organizadas ou nutridas por indivíduos do movimento salafista, um grupo radical islâmico que se preocupa mais com destruir os grupos islâmicos populares moderados.

3.Oficiais líbios e americanos de alto escalão estão divididos sobre se o assassinato do embaixador dos EUA na Líbia foi planejado previamente para coincidir com o aniversário do 11 de setembro, e portanto não estaria relacionado com o filme.

4.Além dos ataques feitos pelos grupos militantes radicais na Líbia e Afeganistão, uma avaliação das notícias atuais feita no dia 20 de setembro sugeriu que os manifestantes mataram, ao todo, zero pessoas.

5.Quase todos os líderes mundiais, muçulmanos ou ocidentais, condenaram o filme, e quase todos eles condenaram qualquer tipo de violência que possa vir a acontecer enquanto resposta.

6.O papa visitou o Líbano no auge da tensão, e líderes do Hezbollah participaram do sermão papal, abstiveram-se de protestar sobre o filme até que a santidade deixasse o local, e clamaram por mais tolerância religiosa. Sim, isso aconteceu.

7.Após o ataque em Bengazi, cidadãos comuns foram às ruas da cidade e em Tripoli com cartazes, muitos deles escritos em inglês, com pedidos de desculpas e afirmando que a violência não os representava, nem sua religião.

Além dos pontos listados acima, há um grande número de notícias que foram ignoradas pela mídia na semana passada para dar margem a capa da revista Newsweek, a #MuslimRage e a cobertura dos conflitos. Na Rússia, dezenas de milhares protestaram nas ruas de Moscou contra o presidente russo Vladimir Putin. Centenas de milhares de portugueses e espanhois marcharam em protestos contra austeridade; e mais de um milhão de catalãos marcharam por independência.


Ira Muçulmana ou Estratégia Salafista

Conheça o Sheikh Abdallah, o apresentador de TV salafista que divulgou publicamente o filme. Foto: Ted Nieter

O filme "A Inocência dos Muçulmanos" foi escolhido e distribuído com legendas por Salafistas da extrema direita -- seguidores radicais de um movimento islâmico apoiado há muito tempo pela Arábia Saudita. O filme era uma produção barata, desastre no YouTube até que o apresentador de TV egípcio salafista, Sheikh Khaled Abdullah (à direita) começou a divulgá-lo para seus espectadores no dia 8 de setembro. A maioria dos muçulmanos insultados ignoraram o filme ou protestaram pacificamente, mas os salafistas, de posse de suas bandeiras pretas, lideravam os provocadores dos protestos mais agressivos que invadiram embaixadas. Os líderes do partido salafista egípcio participaram do protesto em Cairo que culminou na invasão da embaixada dos EUA.

Como a extrema direita nos EUA ou na Europa, a estratégia salafista e arrastar a opinião pública para a direita, aproveitando-se de oportunidades para espalhar o ódio e demonizar os inimigos de sua ideologia. Essa abordagem lembra muito o apelo anti-muçulmano do pastor americano Terry Jones (o primeiro a divulgar o filme no Ocidente) e outros extremistas nesse lado do mundo. Entretanto, nas duas sociedades os moderados ultrapassam (e muito!) em número os extremistas. Uma figura pública da Irmandade Muçulmana do Egito (o mais forte e popular oponente político dos salafistas no Egito) escreveu um artigo no New York Times dizendo: "Não responsabilizamos o governo americano ou seus cidadãos pelos atos daqueles que abusam das leis que protegem a liberdade de expressão".


A boa cobertura jornalística

Um solitário grupo de jornalistas e acadêmicos se aproximaram dos protestos com a intenção de entender de verdade as forças por trás das manifestações. Entre eles, Hisham Matar, que descreve com afinco a tristeza na cidade de Benghazi após a morte do embaixador Steven, e Barnaby Phillips, que explora como os conservadores islâmicos manipularam o filme em prol de si mesmos. A antropóloca Sarah Kendzior alerta para que não se trate o mundo muçulmano como uma unidade homogênea. E o professor Stanley Fish aborda a seguinte questão: porque tantos muçulmanos são tão sensíveis a representações muito pouco lisonjeiras do Islã.
 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

As sanções econômicas a Cuba sob o governo Obama


Salim Lamrani

A chegada ao poder do presidente Obama nos Estados Unidos, em 2008, marcou uma ruptura de estilo frente à administração de Bush em relação a Cuba. No entanto, exceto pela retirada de algumas restrições a viagens, as sanções econômicas ainda são aplicadas, até mesmo fora do território nacional. Eis aqui alguns exemplos recentes.

Durante sua campanha eleitoral em 2007, o então candidato Barack Obama fez uma lúcida observação sobre a ultrapassada política dos EUA em relação a Cuba. Uma vez eleito, declarou sua intenção de buscar “um novo começo com Cuba”. “Acredito que podemos conduzir a relação entre EUA e Cuba por uma nova direção e iniciar um novo capítulo de aproximação que continuará durante o meu mandato”, afirmou. [1].

Obama havia denunciado a política de seu antecessor em relação a Cuba, que havia restringido drasticamente as viagens da comunidade cubana dos EUA. “Trata-se tanto de uma questão estratégica quanto humanitária. Esta decisão (...) teve um impacto profundamente negativo sobre o bem-estar da população cubana. Vou conceder aos cubano-americanos direitos ilimitados de visitar seus familiares e enviar dinheiro para a ilha”, assegurou. [2].

Obama manteve sua palavra. Em abril de 2009, anunciou a retirada de algumas restrições que afetam os cubanos residentes nos EUA e que têm familiares na ilha, que entrou em vigor em 3 de setembro de 2009. Desde então, podem viajar ao seu país natal sem nenhum obstáculo (em vez de catorze dias a cada três anos) e enviar remessas ilimitadas para suas famílias (em vez de cem dólares por mês). [3].

Aplicação extraterritorial das sanções econômicas contra Cuba

Néanmoins, Washington n’a pas hésité à appliquer les sanctions économiques, y compris de manière extraterritoriale, contrevenant ainsi gravement au droit international. En effet, celui-ci stipule que les législations nationales ne peuvent pas être extraterritoriales, c’est-à-dire s’appliquer au-delà du territoire national. Ainsi, la loi brésilienne ne peut pas s’appliquer en Argentine. De la même manière, la législation vénézuélienne ne peut pas s’appliquer en Colombie. Or, la loi étasunienne sur les sanctions économiques contre Cuba s’applique à tous les pays du monde.

No entanto, Washington não tem hesitado ao aplicar as sanções econômicas, até mesmo fora do território nacional, violando gravemente o direito internacional. Na verdade, este estipula que as leis nacionais não podem ser extraterritoriais, ou seja, ser aplicadas fora do território nacional. Dessa forma, a lei brasileira não pode ser aplicada na Argentina, assim como a legislação venezuelana não pode ser aplicada na Colômbia. E, no entanto, a lei norte-americana de sanções econômicas contra Cuba é aplicada em todos os países.

Em junho de 2012, o banco holandês ING recebeu a maior punição já proferida desde o início do cerco econômico contra Cuba em 1960. O Escritório para o Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês) do Departamento do Tesouro multou a instituição financeira em 619 milhões de dólares por efetuar transações em dólares com Cuba, através do sistema financeiro americano, entre 2002 e 2007. [4].

O Departamento do Tesouro também obrigou o banco holandês a cortar relações comerciais com Cuba e anunciou que o “ING garantiu ao Escritório para o Controle de Ativos Estrangeiros que havia posto fim às práticas que levaram ao acordo atual”. Assim, Washington proibiu um banco europeu de realizar qualquer transação comercial com Cuba. [5].

O governo cubano denunciou esta nova aplicação extraterritorial das sanções econômicas, que, além de impedir qualquer tipo de comércio com EUA (exceto as matérias primas alimentícias), são o principal obstáculo ao desenvolvimento das relações comerciais de Cuba com o resto do mundo. “O governo dos EUA penalizou unilateralmente o banco ING por tramitar, junto com subsidiárias na França, Bélgica, Holanda e Curaçao, transações financeiras e comerciais de entidades cubanas, proibidas pela política de bloqueio contra Cuba”, destacou a nota oficial. [6].

Adam Szunin, diretor da OFAC, aproveitou a ocasião para advertir as empresas estrangeiras que têm relações comerciais com Cuba. Esta penalidade “deveria servir como um aviso claro a qualquer um que considere tirar proveito das sanções dos EUA”, declarou, reafirmando que Washington continuaria aplicando suas medidas extraterritoriais. [7].

Outras empresas estrangeiras também foram penalizadas por suas relações comerciais com Cuba. A multinacional sueca Ericsson, por exemplo, teve de pagar uma multa de 1,75 milhões de dólares por consertar nos EUA, através de sua filial situada no Panamá, equipamentos cubanos por um valor de 320 mil dólares. Três funcionários, envolvidos no caso, foram demitidos. [8].

Em 10 de julho de 2012, o Departamento do Tesouro impôs uma multa de 1,35 milhões de dólares à empresa norte-americana Great Western Malting Co. por vender cevada a Cuba, através de uma de suas filiais estrangeiras, entre agosto de 2006 e março de 2009. No entanto, o direito internacional humanitário proíbe qualquer tipo de embargo sobre as matérias-primas alimentícias e medicamentos, mesmo em tempos de guerra. Isso porque, oficialmente, Cuba e EUA nunca estiveram em conflito. [9].

Na França, Mano Giardini e Valérie Adilly, diretores da agência de viagens norte-americana Carlson Wagonlit Travel (CWT), foram demitidos por vender pacotes turísticos com destino a Cuba. A empresa corre o risco de receber uma multa de 38 mil dólares por pacote vendido, o que suscitou a ira de alguns funcionários que mal compreendem a situação. “Por que a empresa não tirou do sistema de reservas os produtos Cuba que não podíamos vender?”, perguntou um funcionário. [10].

Da mesma forma, é possível que a CWT não tenha permissão para participar das concorrências de viagens do governo norte-americano, que representam uma parcela substancial de seu faturamento. A administração da CWR manifestou-se a respeito: “Nestas condições, devemos aplicar a regra norte-americana que proíbe o envio de passageiros para Cuba, mesmo as filiais”. Assim, uma filial instalada na França é obrigada a aplicar a lei norte-americana de sanções econômicas a Cuba, ridicularizando a legislação interna vigente. [11].

Censura ao Google e um orçamento de 20 milhões de dólares para a “democracia digital” »

Mais raramente, as sanções econômicas proíbem os cubanos de utilizar alguns recursos da ferramenta de buscas Google, como o Google Analytics (que permite calcular o número de visitas a um site, assim como sua origem), Google Earth, Google Destktop Search, Google Toolbar, Google Code Search, Google AdSense e Google AdWords, privando Cuba do acesso a essas novas tecnologias e a vários programas de download. A empresa norte-americana ofereceu uma explicação por meio de sua representante Christine Chen: “Nós tínhamos escrito em nossos termos e condições. Não é possível usar Google Analytics nos países sob embargo”. [12].

Ao mesmo tempo, enquanto Washington exige que a Google limite o uso de seus serviços em Cuba e proíbe que Havana se conecte ao seu cabo de fibra ótica para Internet, o Departamento de Estado anunciou que iria gastar, através da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), a quantia de 20 milhões de dólares a “ativistas de direitos humanos, jornalistas independentes e bibliotecas independentes na ilha”, com o objetivo de difundir a chamada “democracia digital”. [13].

Longe de adotar “um novo começo com Cuba”, a administração Obama continua impondo sanções econômicas que afetam a todas as camadas da população cubana, a começar pelas mais vulneráveis, ou seja, as mulheres, as crianças e os idosos. Não hesita em penalizar empresas estrangeiras, violando o direito internacional ao aplicar medidas extraterritoriais. Também se recusa a ouvir o apelo unânime da comunidade internacional, que condenou, em 2011, pelo vigésimo ano consecutivo, a imposição de um estado de sítio anacrônico, cruel e ineficaz, que consiste no principal obstáculo ao desenvolvimento da nação.

 
[1] The Associated Press, « Obama Seeks ‘New Beginning’ With Cuba », 17 avril 2009.

[2] Barack Obama, « Our Main Goal : Freedom in Cuba », The Miami Herald, 21 août 2007.

[3] Office of Foreign Assets Control, « Hoja informativa : Tesoro modifica reglamento para el control de bienes cubanos a fin de implementar el programa del Presidente sobre visitas familiares, remesas y telecomunicaciones », Treasury Department, 3 septembre 2009.

[4] Office of Foreign Assets Control, « Settlement Agreement ING », Department of the Treasury, juin 2012. http://www.treasury.gov/resource-ce... (site consulté le 10 juillet 2012).

[5] Ibid.

[6] Ministry of Foreign Affairs of Cuba, « Statement by the Ministry of foreign Affairs », 20 juin 2012. http://www.cubaminrex.cu/english/St... (site consulté le 10 juillet 2012).

[7] Ibid.

[8] Steve Stecklow & Bail Katz, « U.S. to Fine Ericsson in Panama $1,75 Million Over Cuba Shipments », Reuters, 24 mai 2012.

[9] Office of Foreign Assets Control, « Enforcement Information for July 10, 2012 », Department of the Treasury, 10 juillet 2012. http://www.treasury.gov/resource-ce... (site consulté le 12 juillet 2012)

[10] Jean da Luz, « Carlson Wagonlit Travel : l’embargo cubain fait tomber des têtes en France », Tourmag, 2 juillet 2012 ; Geneviève Bieganowsky. « Licienciements, Carlson redoute la perte des budgets voyages de l’administration US », Tourmag, 3 juillet 2012.

[11] Ibid.

[12] Michael McGuire, « Google responde a denuncias de Cuba », The Miami Herald, 20 juin 2012.

[13] Juan O. Tamayo, « Estados Unidos busca romper censura tecnológica en Cuba », El Nuevo Herald, 23 juin 2012.

Fonte:Voltaire.org Topo

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A SÍRIA NA MIRA DO IMPERIALISMO



Após a conquista da Líbia, e antevendo uma guerra de rapina contra o Irã, o imperialismo mira a Síria



A “primavera árabe” foi um levante popular que questionou profundamente as ditaduras títeres da região num momento de crise econômica, mas, devido aos conflitos religiosos internos e à forte repressão, sem uma organização política forte nestes locais que levasse o movimento às suas últimas conseqüências. Por esta razão, não pode ser confundida com as ações armadas e/ou “manifestações” organizadas por uma oposição diretamente ligada ao capital internacional em países que ainda mantêm uma postura mais independente, como Líbia, Síria ou Irã. Esta oposição apropriou-se de uma conjuntura de levantes autênticos no mundo árabe, que enfraqueceram politicamente o Estado de Israel e fragilizaram seu discurso racista. As recentes “manifestações pró-democracia” na Síria não podem, portanto, ser compreendidas como parte do mesmo fenômeno que estremeceu Tunísia, Egito, Bahrein e Iêmen.

Salim Kheirbek, ativista sírio dos direitos humanos, disse: “com o governo de Gaddafi a ponto de terminar, a OTAN vai provavelmente lançar suas forças contra a Síria. Nosso presidente acredita que eles estão se preparando para um ataque contra nós, o que dificilmente facilitará mudanças democráticas. Eu não faço a mínima idéia do que poderá acontecer com a Síria neste caso”. Com efeito, a retórica contra Assad se assemelha muito à usada contra Gaddafi: o ditador anti-ocidental que tem reprimido protestos pacíficos em seu país e, pela “responsabilidade de proteger”, as potências imperialistas têm o dever humanitário de impor sanções e, caso necessário, preparar uma guerra para a proteção da população. O problema é que o cenário sírio apresenta algumas especificidades que tornam sua abordagem mais complexa do que a da Líbia.

Na Síria, a grande imprensa tem defendido os assim chamados “manifestantes pacíficos” contra o “regime opressor de Assad”. No entanto, há registros de que, ao lado das movimentações pacíficas, há uma insurgência armada no país sobre a qual não se comenta.

O professor Michel Chossudovsky do site canadense GlobalResearch denuncia que “o governo turco do primeiro-ministro Recep Tayyib Erdogan está apoiando grupos de oposição sírios no exílio e ao mesmo tempo também os rebeldes armados da Irmandade Muçulmana no Norte da Síria.”. O governo de Assad também tem acusado a Turquia de apoiar diretamente a incursão de forças rebeldes ao norte e oficiais sírios que conduzem investigações nas áreas de conflito têm constatado que os combatentes estão usando armas e munições turcas. Estes insurgentes são, na verdade, terroristas islâmicos organizados e treinados pela OTAN e pela Turquia, que têm dividido a sociedade síria. Os esquadrões da morte, sob a orientação do general David Petraeus, apontado por Obama como novo chefe da CIA, formaram o chamado Conselho de Salvação Nacional, uma espécie de governo sírio no exílio.

Uma invasão à Síria integraria os separados palcos de guerra dos países árabes, a saber, AfPaq, Iraque, Palestina e Líbia, abarcando toda uma região que se estende do norte da África à Ásia Central. A Síria constitui o único estado independente e secular do mundo árabe, dispondo de uma forte base anti-imperialista, e o objetivo da OTAN é desestruturá-lo para estabelecer um regime títere pró-ocidental.

No caso sírio, porém, a Rússia expressa uma oposição mais contundente a uma eventual saída militar e insiste numa solução negociada de reformas políticas internas. Por isso mesmo, o país euro-asiático e a China vetaram as “medidas dirigidas” contra Damasco do Conselho de Segurança da ONU. O Irã também tem defendido uma retórica considerada mais moderada, referindo-se a “demandas legítimas” dos opositores e advogando também uma reforma política no país.

Deve-se levar em consideração que, diferentemente da Líbia, a existência de um inimigo externo tão agressivo e intransigente como Israel permite uma coesão interna bem mais significativa entre o povo sírio, fator fundamental durante uma guerra. Assad está disposto a realizar as reformas internas indicadas por Rússia e Irã, já tendo se comprometido com uma considerável mudança constitucional, eleições diretas e até um sistema multipartidário. Isso, de fato, não alterará a disposição da OTAN em invadir o país, mas é um elemento retórico a mais ao qual Rússia e China poderão recorrer para a manutenção de seu apoio na ONU. Como a invasão ao Iraque já demonstrou, este veto só será efetivamente respeitado se estes países dispuserem de real capacidade de contenção militar. E, além do mais, a guerra contra a Líbia e a manutenção do conflito em países como Iraque e Afeganistão-Paquistão têm exaurido muito os recursos das grandes potências que compõem a OTAN, as quais estão enfrentando uma crise econômica interna sem precedentes.

Por fim, deve-se atentar que o representante estadunidense na Síria, Robert S. Ford, já tinha trabalhado na embaixada de Bagdá com John D. Negroponte. Este último adquiriu vasta experiência na formação de esquadrões da morte e forças paramilitares para a desestabilização de países. Embaixador em Honduras entre 1981 e 1985, infiltrou e apoiou os “contras” na Nicarágua sandinista e, depois, no Iraque, organizou esquadrões curdos e xiitas para combaterem a resistência. Ford, “discípulo” de Negroponte, mantém seus contatos com grupos opositores na Síria. Neste caso, os EUA podem vislumbrar a lenta desestabilização do governo de Assad por paramilitares até que a potência e seus aliados da OTAN estejam em melhores condições para se lançarem numa ofensiva definitiva.

Pode-se perceber então que, por um lado, a guerra contra pequenos e médios países do mundo árabe apresenta-se como uma forma de movimentar economicamente o poderoso complexo industrial-militar e saquear as reservas de petróleo para solucionar a crise energética. Por outro, os gastos nela implicados aumentam o déficit do governo dos EUA, evidenciam a hipocrisia dos argumentos imperialistas da OTAN para suas agressões e precipitam o sistema capitalista a sua crise inevitável.

Vinicius Cione

Publicado em Inverta

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Líbia - O que a mídia jamais vai mostrar

I – EM 2007, A ONU CONSTATOU EM RELAÇÃO À LÍBIA:



1 - Maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);

2 - Ensino gratuito até a Universidade;

3 - 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago;

4 - Ao casar, o casal recebe até US$ 50.000 para adquirir seus bens;

5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc.;

6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;

7 - Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo vem tornando o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.



II - POR QUE DETONAR A LÍBIA, ENTÃO?...



Três (3) principais motivos:

1 - Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;

2 - Fazer com que todo o Mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria;

3 - E o maior, provavelmente: O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema mundial Financeiro. Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda, o dinar, e desatrelando-o das flutuações do dólar. O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.



III - O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:



1 - A OTAN, comandada pelos EUA, já bombardeou as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e a infraestrutura de água, esgoto, gás e luz estão seriamente danificados;

2 - As bombas usadas contêm DU (Urânio depletado); tempo de vida 3 bilhões de anos (causa câncer e deformações genéticas);

3 - Metade das crianças líbias está traumatizada psicologicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas;

4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, principalmente as crianças sofrem com a falta de remédios e alimentos;

5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo, as crianças são as mais atingidas;

6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;

7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver ( Água, comida e remédios) de uma população de 6,5 milhões de pessoas. Em suma: O bombardeio "humanitário" acabou com a nação Líbia. Nunca mais haverá a nação Líbia. Foram varridos do mapa.

SIMPLES ASSIM

GOB - Parlamento (por email)
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terça-feira, 14 de junho de 2011

Os EUA fornecem bombas aos aliados para a guerra na Líbia

Manlio Dinucci


Os estoques de munições da força aérea aliada estão esgotados. Mas para continuar a destruição da Líbia, o pentágono aprovisiona a NATO. A guerra é assim um negócio rentável.
Em 60 dias de « Proteção unificada » os aviões da NATO efeuaram, segundo dados oficiais, mais de 9.000 missões na Líbia, entre as quais 3.500 ataques com bombas e mísseis. A maior parte é levada a cabo pela força aérea dos EUA, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá. Aviões italianos (Tornado, Eurofighter 2000, F-16 e outros) efetuaram, segundo uma estimativa, cerca de 900 missões. Com eles participam igualmente Suécia, Espanha, Holanda, Bélgica, Noruega, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Qatar e Turquia.

No total, mais de 300 aviões estão envolvidos, isto porque esta guerra permite igualmente testar em condições reais, novas armas, como o caça francês Rafale. A aeronáutica italiana está experimentando o avião Boeing KC767-A, que acabou de receber e que efetua operações de aprovisionamento em pleno voo de caças-bombardeiros e também transportes aéreos estratégicos. No seu batismo no aeroporto de Pratica di Mare, este foi apresentado como «o pilar para uma única e excepcional capacidade de projeção da componente aérea não só a nível nacional mas também de toda a NATO». Assim, um novo sistema de armas é testado na guerra da Líbia para potencializar a capacidade d NATO na projeção de forças aéreas e terrestres noutras guerras.

A operação « Proteção unificada » revela no entanto algumas deficiências. Com o incessante bombardeamento, as bombas esgotam-se. No entanto não há problema, sendo que o Pentágono continua a fornecer. O coronel Dave Lapan, porta-voz do departamento de Defesa afirma que «Desde que a ANTO tem liderado a campanha aérea, temos fornecido um apoio material, munições inclusive, aos aliados e aos parceiros participantes nas operações na Líbia». Lapan precisa que este fornecimento, cujo valor ascende agora a 24,3 milhões de dólares, inclui «bombas inteligentes teleguiadas de extrema precisão». Na Itália, estas bombas estão estocadas em enormes quantidades em Camp Darby, a base logística (estadunidense, NdT) que aprovisiona as forças aéreas dos EUA na zona mediterrânea e africana.

De Camp Darby as bombas e outros materiais de guerra podem depois ser enviados nas zonas de ação através do aeroporto de Pisa. A nossa situação, declara um dos comandantes dessa base EUA, oferece-nos «capacidades logísticas únicas porque o nosso depósito está a 30 minutos do aeroporto (italiano NdT)». Este aeroporto de onde surgirá o Hub aéreo nacional (italiano, NdT), a interligação aeroportuária de todas as missões militares no estrangeiro, será «colocado á disposição da NATO». Desde que a guerra na Líbia começou, C-130’s e outros aviões, com certeza carregados de bombas e mísseis fornecidos por Camp Darby, têm sobrevoado Pisa a baixas altitudes. Á cerca de um ano e meio atrás, um C-130 despenhou-se depois de descolagem, sem provocar nenhuma tragédia, por suposta sorte. As autoridades estabeleceram então uma «zona de segurança» quando, durante obras a decorrer no aeroporto fora encontrado uma bomba não explodida datando da Segunda Guerra mundial. Depois de ter desarmado o engenho, tudo voltou á normalidade : aviões militares retomaram os voos por cima da cidade, carregados de bombas made in USA que aliados irão largar sobre a Líbia.

Tradução David Lopes
Fonte Il Manifesto (Itália)

Publicado em Voltairenet

sábado, 9 de abril de 2011

Imperialistas semeiam novo atoleiro

O exército líbio rechaçou o avanço das forças rebeldes no território, que continua a ser fustigado pelos bombardeamentos imperialistas com um saldo de dezenas de mortos civis.


Depois de dias de avanço sobre as principais cidades da Líbia, impulsionados pelos bombardeio imperialistas, os rebeldes foram obrigados a recuar em toda a linha fruto da reação do exército regular do país.

Se nos primeiros dias da ofensiva iniciada pelos EUA, França e Grã-Bretanha, aliados às petromonarquias árabes, e, posteriormente, continuada pela NATO, a derrota das forças fiéis ao coronel Muammar Kahdafi parecia iminente, anteontem as informações divulgadas davam conta de que os insurrectos haviam sido empurrados para Leste até aos limites de Ajdabiya.

Fortes combates prosseguiam pelo controle da cidade de Misratah, cercada pelo exército líbio e onde os insurrectos permanecem apenas com o auxílio da Aliança Atlântica, que castiga as tropas de Tripoli a cada tentativa de assalto. Ras Lanuf já mudou de mãos quatro vezes desde o início do conflito e encontra-se dominada pelo exército, bem como Brega, no fecho desta edição.

O avanço do contingente leal ao governo da Líbia deve-se à indigência dos rebeldes, mas, também, ao uso por parte do exército de táticas que lhe permitem maior mobilidade, rapidez e capacidade furtiva aos intensos ataques imperialistas, técnicas ministradas em 2009 pelas forças especiais britânicas quando Kahdafi era ainda tido pelas potências capitalistas como um aliado no combate ao terrorismo.

Crimes comprovados

Entre os últimos dias de Março e os primeiros de Abril, a coligação despejou sobre a Líbia mais de 190 mísseis Tomahawk e cerca de 450 bombas lançadas por aviões, calculou a cadeia norte-americana ABC.

Entre as vítimas dos bombardeamentos estão dezenas de civis, elevando para quase uma centena e meia ao número de mortos civis na sequência das operações da NATO. Só a meio da semana passada, pelo menos 40 pessoas terão morrido em consequência dos raides sobre Tripoli, denunciou o representante do Vaticano na capital líbia, Giovanni Martinelli.

«Não me venham dizer que se bombardeia para defender a população civil. Por mais que sejam precisos os bombardeamentos contra objetivos militares, claramente envolvem também os edifícios civis circundantes. Sei que pelo menos dois hospitais sofreram danos indiretos dos bombardeamentos. Saiba-se que as ações militares estão a causar vítimas entre os mesmos civis que se quer proteger com estas ações», disse o bispo à agência católica Fides.

No mesmo sentido, informações veiculadas por agências noticiosas internacionais indicam que pelo menos sete menores e adolescentes terão morrido durante um bombardeamento em Brega, e outras 25 pessoas ficaram feridas na sequência da mesma operação.

À sanha criminosa da NATO não escapam nem os rebeldes, que sexta-feira perderam cerca de 30 dos seus homens depois de um ataque perpetrado por um avião francês, informou a Al Jazeera.

Por outro lado, avolumam-se as preocupações das autoridades líbias quanto às consequências dos ataques imperialistas, já que, por exemplo, a destruição do aqueduto no eixo Bengazi-Sirte colocaria em causa o abastecimento de água potável a cerca de 70 por cento dos líbios, somando dificuldades nos aglomerados populacionais onde já se registam carências de todo o gênero.

Entretanto, dois professores e investigadores que se opõem à agressão à Líbia sustentam que as bombas contêm urânio empobrecido e exigem esclarecimentos cabais por parte da NATO, já que o uso desta substância provoca danos duradouros que fustigam em particular a população civil.

Treino, armas e comunicações

Em face da nova regressão rebelde, multiplicam-se as afirmações dos principais responsáveis imperialistas sobre a possibilidade de fornecimento de armas aos insurgentes. O mais significativo fato nesse aspecto prende-se com a revelação da Reuters, que garante que Barack Obama já terá assinado um memorando autorizando a entrega de armamento.

O assunto é polêmico e levanta reservas entre políticos e altos quadros militares norte-americanos, que, se têm certezas quanto aos chefes dos rebeldes, o mesmo não parecem poder dizer cabalmente quanto à lealdade dos combatentes.

Isso mesmo admitiu a secretária de Estado Hillary Clinton na conferência de Londres. «A oposição demonstrou um compromisso com a democracia», mas «não temos nenhuma informação específica sobre indivíduos ou organizações deste movimento», disse.

A declaração mascara em parte a realidade, dado que meios de comunicação como a Al Jazeera ou o New York Times asseguram que agentes da CIA e do MI6 já estão no terreno há muito tempo a recolher informações, a treinar e até a agilizar o comando dos rebeldes e os bombardeamentos imperialistas. Armamento está a ser enviado secretamente via Egito.

As palavras de Robert Gates, secretário da Defesa dos EUA, para quem «a oposição necessita, antes de mais, treino, comando e organização», e as do ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, que admite o fornecimento de equipamento de comunicações, não deixam dúvidas sobre quem manda. Mas mais claras são ainda as de um combatente rebelde, que, à Reuters, admitiu que «agora temos oficiais conosco. Antes íamos sozinhos para a frente».

Para mais, é público que França, EUA e Grã-Bretanha têm delegados em Bengazi junto do chamado Conselho Nacional Líbio, prova de que depois do Iraque e do Afeganistão, os imperialistas estão cada vez mais mergulhados num novo atoleiro, munidos com um mandato da ONU, organização que, como sublinhou Miguel D'Escoto, ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas e atual representante do governo líbio junto da ONU, «se converteu não apenas numa organização disfuncional e incapaz de cumprir os objectivos para os quais foi criada, mas agora numa arma mortal nas mãos dos agressores imperialistas e seus sequazes».

Original em Avante!
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Caso Posada Carriles mostra 'dupla moral' de Washington

O presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón, afirmou, nesta terça-feira (25), que o governo dos EUA demonstra mais uma vez sua "dupla moral" no julgamento de Luis Posada Carriles, a quem só acusa de mentir e não de ser terrorista, enquanto mantém a prolongada injustiça contra os Cinco Heroóis Cubanos, prisioneiros nesse país há 12 anos.

Alarcón lembrou que Caroline Heck-Miller, a promotora que julgou os Cinco em Miami, se negou a apresentar acusações por terrorismo contra Posada Carriles, o que, disse, "do ponto de vista legal, é uma confirmação absoluta da atitude dolosa e da prevaricação da promotoria neste caso".

Acrescentou que uma funcionária do Departamento de Segurança da pátria estadunidense, sob juramento, disse que ela tinha pedido a Caroline que julgasse Posada Carriles por suas atividades criminosas e esta se negou.

"O espantoso, frisou Alarcón, é que a declaração dessa funcionária foi anunciada na terça-feira, 18 de janeiro, e, nesse mesmo dia, a senhora Miller solicitou mais tempo para sua resposta ao pedido de habeas corpus a favor de Gerardo Hernández Nordelo (um dos cinco cubanos)".

"O que foi visto até agora (no julgamento em El Paso) é um teatro barato". Ele sublinhou que Posada Carriles desfruta da proteção oficial do governo dentro dos EUA, sob a condição de ilegal, em um país onde há 14 milhões de ilegais, aos quais expulsam aos pontapés, sem julgamento.

Acerca do pedido de habeas corpus apresentada no caso de Gerardo, explicou que se espera a resposta para meados de fevereiro, depois seria a réplica dos defensores e, posteriormente, decidiria a juíza Joan Lenard.

"Só um júri de milhões resolverá a situação de Gerardo" - afirmou Alarcón - "mas para isso é preciso que a mídia multiplique mensagens verídicas, e ela é controlada absolutamente nos EUA. Por isso, se torna necessário continuar martelando para que se saiba a verdade por parte dos norte-americanos".

"Gerardo Hernández é um Herói da República de Cuba, e o governo de Cuba fará tudo para salvá-lo", enfatizou o presidente do Parlamento, que afirmou que "o terrorismo impune, mostrado escandalosamente à luz do dia, nem sempre se poderá ocultar". E reafirmou sua convicção de que algum dia, não longínquo, a verdade virá à tona.

Publicado em Vermelho
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sábado, 15 de janeiro de 2011

Faluja: uso de urânio depletado pelas tropas dos EUA provocam deformações em 15% dos bebês

Uma nova pesquisa publicada na segunda-feira, 10, pelo International Journal of Environmental Research and Public Health (Jornal Internacional de Pesquisa Ambiental e de Saúde Pública, com sede na Suíça) mostra que as deformações congênitas apresentadas por recém-nascidos na cidade iraquiana de Faluja atingiram proporções de epidemia desde que a cidade fora arrasada há seis anos por tropas invasoras dos Estados Unidos. O Pentágono utilizou, de forma ampla e rotineira, armamentos que continham urânio depletado nas duas batalhas de Faluja, em abril e novembro de 2004. Embora os invasores não reconheçam esse crime, Washington já admitiu haver utilizado o não menos arrasador fósforo branco durante os ataques.

O estudo assinado pelos doutores Samira Alaani, Mozhgan Savabieasfahani, Mohammad Tafash e Paola Manduca examinou o alarmante aumento de malformações de nascença ocorridas em Faluja e concluiu, pela primeira vez, que os níveis sem precedentes de recém-nascidos com cânceres e tumores ósseos, cardíacos e neuronais são consequência dos ataques perpetrados pelo exército dos Estados Unidos contra a cidade iraquiana.

Os autores do trabalho, que se focaram na sanidade genética de Faluja, encontraram que as deformidades que apresentam os bebês são quase onze vezes superiores à média normal. Essas deformidades alcançaram seu pico mais alto na primeira metade de 2010.

O novo estudo aponta uma série de metais como fonte potencial de contaminação em Faluja, que estão afetando especialmente as mulheres grávidas. “Os metais estão implicados na regulação da estabilidade do genoma”, afirma o estudo. E acrescenta: “Sendo elementos que afetam o meio ambiente, os metais são os principais candidatos a causar defeitos congênitos”.

O primeiro assalto perpetrado contra Faluja pelo exército invasor foi realizado em abril de 2004, usando como álibi a morte de quatro mercenários estadunidenses da suposta “segurança” fornecida pela multinacional Blackwater. Implicou num amplo uso de aviões de combate para bombardear a cidade de forma indiscriminada, junto com ataques da artilharia pesada. O segundo ataque foi em novembro do mesmo ano. A total destruição da cidade foi perpetrada após o discurso de W. Bush proclamando “Missão Cumprida”.

A munição de urânio depletado deixa atrás de si resíduos tóxicos, afirmam os cientistas em sua pesquisa.

O atual estudo realizado em Faluja se concentrou em 55 famílias com recém-nascidos com graves deformidades entre maio e agosto de 2010. A doutora Samira Abdul Alaani, pediatra do Hospital Geral de Faluja, que dirigiu o estudo, assinalou que em maio os casos graves de defeitos de nascimentos atingiam a percentagem de 15% de 547 recém-nascidos. E o que é ainda pior, o estudo encontrou também que 11% dos recém-nascidos tinha menos de 30 semanas e que 14% das mães haviam abortado espontaneamente.

“É importante compreender que em condições normais, as possibilidades de que se produzam essas incidências são praticamente zero”, disse Zavabies-fahani, membro da comissão de pesquisadores que elaborou o estudo.

Original em Hora do Povo

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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A guerra invisível

Kamil Mahdi


Fonte: ODiario.info
Tradução de José Paulo Gascão

Os Estados Unidos continuam a pintar um panorama cor-de-rosa sobre o progresso no Iraque, mas a realidade é a de pobreza extrema, de violência, de tortura e de corrupção política num país que ainda sofre as sanções, a invasão e o saque imperial e contínuo dos seus recursos.

Continuam a recorrer à guerra e às sanções para manipular e controlar o Iraque. O recente livro de Joy Gordon sobre as sanções e a política estadunidense, mostra que estas não foram utilizadas pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha não como alternativa à guerra, como acreditaram muitos dentro da comunidade internacional, mas como o meio de debilitar o Iraque na preparação da guerra.

Por isso não foram feitas apenas uma vez, mas duas, em 1991 e em 2003. Esta guerra invisível, para usar os termos de Joy Gordon, faz parte de uma guerra dos Estados Unidos contra o Iraque que dura há vinte anos e que os sucessivos governos britânicos apoiaram desenvergonhadamente com entusiasmo.

Cada dia que passa, vemos e conhecemos novas provas do seu custo humano, apesar dos governos ocidentais tratarem de descartar a sua responsabilidade nos danos acumulados por uma guerra mantida ao longo de toda uma geração e que se persiste em manter.

Inclusive, atualmente sete anos depois da invasão e da ocupação, a guerra invisível ainda não acabou. Devido ás resoluções do conselho de Segurança da ONU, o Iraque continua a ser considerado pelas grandes potências como uma ameaça à paz internacional, sofrendo por isso as sanções e medidas aplicáveis no âmbito do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.

A guerra do Iraque continua, não só através da presença e das atividades das forças de ocupação estadunidenses e dos mercenários estrangeiros, mas também através de uma série de medidas punitivas aplicadas contra o Iraque com o fim de garantir o seu cumprimento como e tal os Estados Unidos desejam.

Como residual das sanções impostas em 1990, as receitas de petróleo do Iraque ainda são depositadas num fundo dos Estados Unidos supervisionado externamente e sujeito a restrições que atribuem aos Estados Unidos um grande poder decisório. Todas as reservas estrangeiras do Iraque são retidas pelos Estados Unidos e foram expressamente ameaçadas com ações legais em tribunais norte-americanos. Os Estados Unidos utilizaram o seu poder para obterem cedências nas negociações do governo iraquiano sobre o Acordo Estratégico em 2008. Em Setembro deste ano o governo de Al-Maliki concordou em pagar 400 milhões de dólares por algumas estranhas ações judiciais interpostas nos Estados Unidos contra o Iraque por cidadãos norte-americanos; reclamações que o governo estadunidense e o sistema judicial pode decidir, recorrendo aos ativos financeiros iraquianos. Esta finta ao Direito e às relações internacionais civilizadas lembra o saque dos ativos iraquianos no primeiro ano da ocupação e demonstra que as afirmações de que o Iraque recuperou a sua soberania são vazias de conteúdo.

No entretanto, as sanções continuam a ser utilizadas para coagir e prejudicar o Iraque.

O Iraque é hoje a parte prejudicada, tal como o vem sendo há 19 anos. No entanto, é o Iraque quem está a pagar ao Kuwait e a outros países as indenizações impostas pelo regime de compensação estabelecido pelas Nações Unidas em 1991. As reclamações ao abrigo do dito regime foram de montantes muito elevados e muitas vezes exageradas, em sentenças que se impuseram de forma injusta. Independentemente do grau e das provas dos abusos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha no Iraque nem o enorme sofrimento do povo iraquiano, os ricos e poderosos continuam a exigir a sua «compensação» a uma nação que ficou traumatizada pelos abusos das grandes potências. O Iraque deverá continuar a pagar as indenizações durante as próximas décadas, a menos que venha um governo que tenha a coragem de pôr termo a tal iniqüidade.

Enquanto os Estados Unidos impõem este castigo, o FMI, com a sua habitual imprudência criminosa, tem estado a abolir o sistema iraquiano da caderneta de alimentos que é essencial ao sustento diário de uma imensa percentagem da população iraquiana. Na província de Diyala, onde o sistema não tem funcionado eficazmente devido ao conflito, uma recente sondagem oficial demonstrou que 51% da população sofre de «carência de alimentos», isto é, o seu consumo de energia alimentar é inferior às necessidades energéticas mínimas. Em Basora, donde as forças britânicas se retiraram no ano passado, deixaram atrás de si 20% da população privada de alimentos, ainda que funcionando em regime de racionamento.

Quase 30% da população do conjunto do país não tem possibilidades de encontrar qualquer emprego, apesar de se terem alargado massivamente os postos de trabalho estatais e de segurança. Isto, sem contar os milhões de pessoas que se refugiaram em países vizinhos, nem com as mulheres que desistiram de procurar emprego. A inflação está outra vez a aumentar vertiginosamente, os serviços públicos, a eletricidade, as provisões de água potável, e a habitação continuam em grave crise. A economia continua em ponto morto e, no entanto, o Iraque vê-se obrigado a pagar indenizações injustas (e impostas) pelos que dizem tê-lo libertado.

As sanções obrigaram o governo a aceitar alterações fronteiriças que foram desenhadas para submeter o principal canal marítimo iraquiano à soberania do Kuwait, deixando o Iraque quase sem saída para o mar. Nas alterações das fronteiras impostas pelas Nações Unidas, o Iraque perdeu áreas que nunca foram reivindicadas pelo Kuwait. É esta a política defendida pelos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, uma política que cria, efetivamente, uma ameaça á segurança.

Apesar da retirada terrestre britânica do ano passado, há unidades da Marinha britânica dentro e nas proximidades do Iraque, aparentemente para proteger os principais terminais de exportação de petróleo do Iraque e as suas rotas de acesso marítimo. É uma proteção com uma faca apontada à garganta.

Naturalmente que existem perigos de segurança contra instalações vitais do Iraque, as um dos principais provém da agressiva atitude britânica e estadunidense contra o Irão e da sua contínua desestabilização na região. O que é preciso é um acordo de segurança regional que contemple a saída total das forças estrangeiras.

Os antecedentes britânicos no Iraque são abomináveis. Sabemos das torturas e assassínios cometidos pelas tropas que o Ministério da Defesa tratou de encobrir, como sabemos da sua incapacidade para proporcionar segurança em Basora e no sul do país. No entanto, o Ministério da Defesa britânico diz que «as Forças Armadas britânicas tem estado a ajudar os iraquianos para assegurar e reconstruir o seu país depois de anos de negligência e conflito».

A falsidade da reclamação dos que impuseram previamente o bloqueio contra o Iraque é igualmente desmentida no terreno. Há poucas semanas a amara da cidade de Basora informou que os diques junto à fronteira com o Irão estão em perigo de desmoronamento. O seu desmoronamento poderá provocar que uma área de terreno pejada de minas deslizará para dentro da cidade. Este é um dos exemplos de segurança e de reconstrução que as forças britânicas deixaram atrás de si. Que segurança e que reconstrução, pergunto-me, se o exército não faz frente aos perigos de minas terrestres a movimentarem-se sigilosamente numa cidade debaixo do seu controlo?

O Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID, na sua sigla em inglês), por sua vez, assegura que em 2009 concedeu 14 milhões de libras de ajuda ao Iraque e quase 19 milhões no ano anterior. Naturalmente que estas quantias são uma miséria em comparação com as dezenas de milhares de milhões gastos pela Grã-Bretanha na guerra. No entanto , uma olhar rápido sobre a denominada ajuda da Grã-bretanha ao Iraque demonstra que dos 32,8 milhões de libras desembolsadas entre 2008 e 2009, só 5% (quase um milhão e meio de libras) foi gasto em saneamento de águas e outras questões sociais, enquanto um terço foi investido foi investido em «governação», e cerca de metade numa categoria camada «outros», que parece incluir as contribuições para os esforços de ajuda humanitária. Quase nada foi gasto em projetos de desenvolvimento econômico ou na reconstrução real das infra-estruturas físicas.

Segundo o ministro iraquiano dos Recursos hídricos, no ano passado (2009), só no sul do Iraque houve trezentos mil iraquianos que se converteram em refugiados ecológicos porque se viram forçados a mudarem-se pela má qualidade da água disponível aos seus povos, também devido á deteriorização à seca. Hoje, em Bassorá, e ainda mais em Faluya, está a verificar-se um sério, mesmo um catastrófico, aumento do número de cancros e doenças congênitas.

O principal propósito do programa de ajuda do DFID não é aceitar a responsabilidade da Grã-Bretanha nos danos causados pela guerra ilegal, mas criar um clima de influência política e promover a inversão estrangeira. Talvez por isso o governo [britânico] de coligação de não vai diminuir o programa de ajuda.

Continuamos a ouvir que o Iraque e rico em petróleo, mas esse petróleo foi obscuramente arrematado por uma cleptocracia e um governo incompetente, assessorado por um exército de consultores internacionais. As empresas multinacionais foram brindadas com contratos por vinte anos que as recompensam sem quaisquer riscos, ao mesmo tempo que controlam a maior parte do petróleo do Iraque, campo a campo.

Muitas pessoas no Iraque já estão a falar da luta que aí vem pela nacionalização do petróleo. Não é estranho que nem todos os contratos tenham ido parar ás grandes companhias petrolíferas estadunidenses e britânicas. Se assim tivesse sido, as linhas da batalha seriam mais claramente definidas e a derrogação dos contratos mais fácil, mas essa é uma luta que, de qualquer modo, vai chegar.

Os restantes ativos industriais do Iraque também estão a ser arrematados e os investidores cobiçam com ansiedade parcelas primordiais do Estado. Os recursos de água do país estão a ser desviados por Estado vizinhos, e a pretexto do federalismo e da descentralização o país começa uma vez mais a afundar-se na dívida, que ameaça sair de controlo. É assim que as prometidas novas receitas do petróleo se estão de antemão a desbaratar.

Os ocupantes chegaram, destruíram, maltrataram e criaram o caos, Fomentaram a corrupção e agora, alto e bom som, dão conselhos sobre a política econômica, a distribuição eqüitativa de recursos, e um bom governo. Os ocupantes estadunidenses mantêm ainda cinqüenta mil soldados e dezenas de milhares de mercenários no país e retêm a linha de salvamento e as contas bancárias do Iraque. As atrocidades terroristas sucedem-se diariamente e o povo do Iraque é a vítima de uma derrota que os Estados Unidos recusam reconhecer. Um fracassado processo político tem o Iraque refém de esquemas corruptos e protegidos pelos Estados Unidos, de forças obscuras e regimes reacionários que fomentam o sectarismo e os prejuízos no Iraque e em toda a região.

Os Estados Unidos continuam a pintar um panorama de progresso cor-de-rosa que em larga medida é medido pela deriva do seu projeto para o controlo empresarial do país. A corrupção generalizada e as condições caóticas supõem que um tal projeto não se possa ainda confiar aos aliados políticos locais dos Estados Unidos, como também não acredito que a retirada militar completa que os Estados Unidos prometeram para Dezembro de 2011 se vá cumprir.

Para concluir, uma referência às recentes revelações de Wikileaks sobre os abusos das forças estadunidenses e das forças de segurança iraquianas. Revelou-se muita informação sobre matanças, torturas e sobre a incapacidade de dar proteção aos civis. As divulgações devem ser utilizadas para expor a política de ocupação e os crimes contra o povo iraquiano e para identificar as vítimas e os perpetradores.

No entanto seja lá o que for que se possa dizer e fazer, não se deve esquecer que o ponto-chave deve continuar a ser a saída de todas as forças dos Estados Unidos e de todos os mercenários do Iraque. Não poderão ser as forças estadunidenses responsáveis por terem cometido os abusos quem vai reformar as forças de segurança iraquianas, nem tampouco os mercenários.


Nota: Este artigo foi escrito com base na intervenção do autor na Conferência Stop the War Coalition.

* Professor de Economia do Médio Oriente na Universidade de Exeter.

Este texto foi publicado em www.counterfire.org/ através de Uruknet

Publicadoo em Tribunal Iraque
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Iraque, Afeganistão, NATO



A recente retirada do grosso das tropas norte-americanas do Iraque deve ser vista por dois lados: a situação do Iraque e a situação no Afeganistão. De fato as duas guerras estão estreitamente relacionadas, tanto por serem ambas made in USA, como pelo fato (é bom não esquecer) de Obama ter feito do Afeganistão a sua “guerra justa”.

A questão do Iraque não fica resolvida com esta retirada. Desde logo, porque continuam no território 50 mil tropas, com funções de garantir a permanência do governo fantoche e servir de força de recurso se as coisas descambarem. Depois, porque o rasto de destruição e de crimes cometidos nos mais de sete anos de guerra não se apaga – e as indenizações que são devidas pelos EUA não podem passar à história. Depois ainda, porque o Iraque não voltou a ser um país independente e soberano. E finalmente porque, enquanto os EUA teimarem em excluir as forças da Resistência Iraquiana de uma solução política, o país não terá sossego.

O Afeganistão é o outro atoleiro do imperialismo norte-americano. E é, neste caso também, um atoleiro da NATO, envolvida até ao pescoço na contenda ao lado dos EUA. Tal como no Iraque, a guerra está perdida e a saída das tropas ocupantes é a única medida sensata. Mas por cada dia mais que por lá permanecerem, só cresce o sofrimento das populações e só se degrada mais a situação do país. Abreviar a guerra significa portanto apoiar a resistência afegã e pugnar pela derrota dos EUA e dos seus aliados.

Mas há ainda um outro lado da questão que importa referir.

A doutrina militar dos EUA que enquadrou os assaltos ao Iraque e ao Afeganistão estabelecia que as suas forças armadas deviam estar preparadas para travar vitoriosamente duas guerras ao mesmo tempo. Neste sentido, as derrotas no Iraque e no Afeganistão representam um revés estratégico para os EUA. Talvez por isso, a nova doutrina, já da era Obama, estabelece que os EUA devem estar preparados para enfrentar múltiplo desafios em todo o Globo – com o apoio de aliados, o primeiro dos quais é a União Européia.

Ora, é no âmbito da NATO – reforçada e alargada – que os EUA pretendem agora constituir o aparato militar e policial que lhes permita estender a todo o Planeta os seus tentáculos; e obter assim a força que lhes faltou no Iraque e no Afeganistão. A nova linha estratégica para a NATO, a ser discutida em Novembro na cimeira de Lisboa, é justamente uma transposição para a Aliança Atlântica dos propósitos agressivos do imperialismo norte-americano.

Se for aprovada, e se for seguida, significará um maior envolvimento dos países membros nas aventuras militares dos EUA, uma maior cumplicidade com os crimes que forem cometidos e um maior dispêndio de verbas em tropas e armamento.

Manuel Raposo

Original em Tribunal Iraque 

domingo, 10 de outubro de 2010

Afeganistão: nove anos de ocupação sem resultados



 Manuel Navarro Escobedo(*)

O Afeganistão está sob a ocupação de uns 100 mil soldados dirigidos pelo Pentágono e outros 50 mil da ISAF. (Foto: Archivo) 
Após nove anos de sua invasão e ocupação, os Estados Unidos e a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) permanecem atolados e sem esperança alguma de eliminar aos insurgentes islâmicos, suposto objetivo de sua agressão ao Afeganistão.

No entanto, a julgar pelas operações desenvolvidas a partir de 7 de outubro de 2001 pelo Pentágono, dentro de sua campanha global contra o denominado terrorismo, o martirizado país centro-asiático estaria agora pacificado e ''governado por uma poderosa administração étnica anti-talibã''.

Daí que, a admissão de Washington de que se encontra na primeira fase de uma guerra (ocupação) potencialmente prolongada no Afeganistão mostra o auge da resistência e sua habilidade de adaptação nesse território islâmico.

Isto consta no informe elaborado pela secretaria norte-americana de Estado sobre o seu denominado terrorismo no mundo no qual reconhece que ''é provável que enfrentemos um inimigo resistente durante anos'', nessa martirizada nação islâmica fronteiriça com o Paquistão.

Daí que, ante essa ''preocupação'' surge a rapidez de seus aliados da OTAN em aumentar em dezenas de milhares de soldados suas unidades ocupantes no Afeganistão, ainda que com algumas resistências.

A violência se intensificou em todo o território afegão nos últimos anos e está em seu pior momento desde que os Estados Unidos, seguidos pela Grã Bretanha e pelas forças opositoras afegãs, derrotaram aos Talibãs em 2001.

É certo, em grande parte, que os muçulmanos armados afegãos e os segmentos que participam da insurgência começaram a aplicar nos últimos tempos contra as tropas ocupantes uma tática similar à iraquiana: os ataques suicidas, que causam grandes baixas.

Esses ataque fatais com carros bombas nas turbulentas províncias sulistas de Kandahar, Helmand, Uruzgan, Zabul, Kunar, Khost e inclusive Cabul são acontecimentos recentes, que antes nunca se empregaram nas três anteriores décadas da luta fratricida entre afegãos.

As cifras são eloqüentes: entre janeiro e setembro de 2010 quase 560 eletivos agrupados na Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF), comandada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e dos Estados Unidos perderam a vida. Tem sido o ano mais mortífero para ambas as organizações bélicas.

A ISAF, composta por militares de 40 países, foi criada em dezembro de 2001 pela ONU para apoiar às tropas do Pentágono na ocupação e pacificação do Afeganistão.

Até 5 de outubro, os Estados Unidos perderam 1.220 militares em nove anos de guerra.

Em seu desespero e incapacidade para frear o sustentado e crescente auge da resistência nacional, os Estados Unidos e seus aliados recorrem às fracassadas operações militares para tratar de aniquilá-la.

Essas ofensivas com dezenas de milhares de soldados, em especial marines da infantaria, ainda não rendem os frutos desejados por Washington, que se encontra estagnado e na bancarrota financeira.

O Afeganistão está sob a ocupação de cerca de 100 mil soldados comandados pelo Pentágono e outros 50 mil da ISAF.

No entanto, o que não se divulga é que durante essas ofensivas como sempre acontecem ''erros'' e “balas perdidas” sobre as aldeias e localidades atingidas nessa cirurgia militar, que figuram nos informes de guerra como santuários da insurgência, as baixas entre os civis são os chamados ''danos colaterais''.

Estatísticas da ONU mostram que este ano mais de 2.200 civis morreram em sua maioria pelos ataques aéreos dos Estados Unidos e da OTAN, cerca de 30 por cento mais do que em 2009.

Ainda que a meta da resistência e insurgência islâmica seja expulsar a todos os ocupantes estrangeiros e a administração de Cabul, instalada, respaldada e financiada pelos Estados Unidos desde 2002, o tempo dará a última palavra.

(*) O autor é Chefe da Redação Ásia e ex-correspondente na China, Coréia, Japão, Índia e Vietnam.

Original em TeleSURTV
Tradução de Rosalvo Maciel

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