Além do Cidadão Kane

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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Capitalismo não apresenta mais saídas para a crise, diz historiador

Por que discutir Marx hoje? Afinal, não diziam que o marxismo está morto e enterrado? Fomos ouvir dois participantes do Congresso Karl Marx sobre esse tema


Cristina PortellaCristina Portella

Lisboa - Por que discutir Marx hoje? Afinal, não diziam (alguns ainda insistem em dizer) que o marxismo está morto e enterrado? Fomos ouvir o que opinam sobre o assunto dois especialistas portugueses e participantes do II Congresso Karl Marx: os historiadores Fernando Rosas, um dos organizadores do congresso e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Manuel Loff, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 

Fernando Rosas:  “Capitalismo é incapaz de encontrar saídas para a crise”

Por que mais um Congresso sobre Karl Marx?

É o segundo (o primeiro foi em 2008) e pareceu-nos que era altura de convocar outro numa situação de crise internacional, de crise do capitalismo em grande escala, com reflexos económicos, sociais e políticos tremendos, e em que a leitura, o estudo, o regresso a Marx e aos contributos do marxismo parecem indispensáveis para compreender e atuar nesta situação. E neste sentido achamos que era exatamente este o momento de tornar a realizar um congresso. Tivemos cerca de 70 contribuições, praticamente sobre todos os domínios, economia, política, estética, movimentos sociais, luta de classes, história…

A crise económica iniciada em 2007/2008 comprova a falência do capitalismo e a necessidade de retomar com mais intensidade as ideias marxistas?

Exatamente, ela prova que Marx tinha razão ao dizer duas coisas muito importantes: o capitalismo quanto mais durava, mais putrefacto e parasitário se tornava. O capitalismo deixa sequer de produzir, e a atual crise é uma crise em grande parte fruto do caráter crescentemente parasitário do capitalismo, do caráter puramente especulativo, financeiro. Isso vem ao encontro daquilo que eram uma das grandes linha de previsão de Marx. E que as crises iam se tornando, simultaneamente mais frequentes, e sobretudo mais profundas e prolongadas.

Estamos em crise desde 2007, 2008, sem nenhuma perspetiva de saída fácil à vista, o que coloca o problema de que é preciso apresentar alternativas a este sistema político e buscar no horizonte socialista respostas a esta situação.

Portanto, é nas contribuições de Marx, e de outros também, que temos de buscar muitas das respostas às questões com as quais somos confrontados. 

O que é ser marxista hoje?

Há muitas correntes do marxismo hoje, não há nem nunca houve um marxismo.
Acho que o que unifica essas correntes todas é a conscientização de que o capitalismo é um sistema que chegou ao fim, como capacidade de resposta para os desafios da sociedade, e que temos de procurar uma solução alternativa em sociedades de outro tipo, em sociedades socialistas. Ainda que a própria concepção do socialismo seja objeto de polêmica. Mas que estamos a entrar na época do socialismo parece-me claro. O capitalismo está a entrar numa fase incapaz de encontrar saídas. Portanto, acho que as esquerdas por todo o mundo têm que buscar inspiração no socialismo para ver o caminhos que vêm a seguir. 

Então o neoliberalismo morreu?

O neoliberalismo é a expressão política e ideológica de um capitalismo desesperado e moribundo, disso não tenho dúvida nenhuma. 

Manuel Loff: “As notícias sobre a morte do marxismo eram exageradas”

O marxismo morreu ou renasceu no rescaldo da crise de 2007/2008?

O marxismo é uma proposta de leitura do mundo, que tem, como todas aquelas que resistem ao tempo, características suficientemente flexíveis para poderem ser aplicadas a qualquer contexto histórico. E isso só depende daqueles que quiserem utilizar essa forma de leitura do mundo. Outra história é se me perguntas se o marxismo como produção política, ideológica à escala internacional está renovada ou não. Como proposta de leitura da realidade ela está sempre presente e é evidente que todas as notícias sobre a sua morte algures no final dos anos 80 e início os anos 90 eram claramente exageradas.

E o capitalismo, está no fim? O marxismo pode ser uma ferramenta teórica para a construção de uma alternativa?

É uma ferramenta essencial. De resto, naquela que é uma das pré-condições essenciais para a construção de qualquer alternativa que é a conscientização da exploração, da opressão e da necessidade de emancipação. Agora, o que o capitalismo demonstrou e demonstra nos seus 200 anos, na fase industrial e pós-industrial, é uma enorme capacidade de renovação e resistência. Mas isso já sabíamos desde o início. O que não significa que a interpretação central de Marx das contradições essenciais do sistema capitalista não permaneçam perfeitamente válidas. 

Sim, mas o Marx até agora não conseguiu grande coisa...

Os marxistas conseguiram muitas coisas na transformação do capitalismo.
Conseguiram, em determinados momentos da história, o seu fim, a sua ruptura em várias escalas nacionais e numa grande escala internacional. E conseguiram o mal chamado Ocidente desenvolvido, que deu origem à versão mais consolidada do capitalismo que conhecemos, a partir de meados do século XIX, e que conseguiu transformações essenciais no período posterior à II Guerra Mundial. A tal ponto foram essas transformações importantes na construção de políticas sociais básicas, às quais hoje associamos à versão mais avançada de democracia sob as regras da permanência de um mercado capitalista, o Estado Social, que os neoliberais estão hoje totalmente apostados no seu desmantelamento.

O que é ser marxista hoje?

É antes de mais produto de uma vontade de conhecer de forma crítica o mundo, de nos equiparmos para uma capacidade de leitura independente, autônoma, das formas de ideologia dominantes e hegemônicas, que as nossas próprias condições materiais de vida nos impõem, nos ajudam a reproduzir e sob as quais vivemos. É também um convite, uma necessidade intrínseca à ação política no sentido da transformação. Como dizia o Marx, não basta simplesmente interpretar o mundo, é preciso transformá-lo.


Créditos da foto: Cristina Portella

Fonte: CartaMaior

sábado, 26 de maio de 2012

De ex a anti-esquerdistas

Emir Sader


Isaac Deutscher tem um artigo que ele intitula “De hereges a renegados”, delineando o caminho de gente que começa rompendo com teorias e posições esquerdistas, para terminarem como furibundos anti-esquerdistas. São figuras que povoam a direita de todo o mundo, ao longo do tempo.

Alguns se valeram do stalinismo para terminarem condenando a Lenin e, finalmente, a Marx e ao marxismo. Não por acaso uma proporção não desprezível deles teve origem trotskista, para absolutizar o “totalitarismo stalinista”, passando a identificá-lo com o nazismo e dali estão já a um passo do liberalismo e do anti-comunismo.

Há os tipos padrão, os que foram de esquerda, militantes mesmo, de repente “se arrependem”, largam tudo, renegam, denunciam seu passado e seus companheiros, os ídolos em que acreditaram cegamente, para se entregar de armas, bagagens e, frequentemente, emprego, para a direita.

Alguns se mantem na esquerda, no seu espaço mais moderado, com um tom fortemente anti-esquerdista, denunciando o que não seria “democrático” em correntes da própria esquerda. São adeptos fortes de alianças com correntes do centro e mesmo da direita, tendem a diluir as distinções entre direita e esquerda.

Outros, os casos mais conhecidos, se tornam militantes da direita, de suas correntes mais fundamentalistas, no velho estilo anti-comunista da guerra fria. Ganham espaços na mídia de direita – desde direção de revistas a colunas em jornais, convites para a televisão – como prêmio pela sua adesão.

Há ainda escritores, intelectuais, músicos, decadentes, em triste fim de carreira, que abandonam posturas rebeldes que tiveram no passado para submeter-se aos donos do poder e dos meios de comunicação em troca de espaços para escrever, prêmios, elogios, que confirmam sua perda de dignidade no fim da carreira.

Fonte: Blog do Emir
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Marx e a fábula do lacrau


Aurélio Santos
 
Conta uma velha fábula que o lacrau pediu à rã para o ajudar a atravessar um rio. A meio da cor­rente cravou-lhe no dorso o seu ferrão, dizendo enquanto ambos se afogavam: «Que queres? Eu não posso fugir à minha natureza».

O capitalismo, instalado nas costas do mundo, está fazendo como o lacrau da fábula: Que querem? Ele não pode fugir à sua natureza...

Marx e Engels, no seu «Manifesto do Partido Comunista», essa obra que marcou a nossa época, já apontavam a natureza maléfica do capitalismo:

A burguesia – dizia o Manifesto – «é incapaz de assegurar ao seu escravo (o assalariado) a própria existência no quadro da escravidão, porque é obrigada a deixá-lo afundar-se numa situação em que tem de ser ela a alimentá-lo em vez de ser alimentada por ele». A sua dominação – concluía – «já não é compatível com a sociedade».

Basta um mergulho na história do capitalismo para lhe sentir a natureza exploradora, farejadora de lucros, com o internacionalis­mo latente, permanente e determinado de ladrão profissional.

O capital não possui qualquer ideal que vise o bem estar da sociedade. Nos dias de hoje, como se está vendo, a sua principal produção é a pobreza.

Desde o século XVI ele é o grande roubador da riqueza feita de atividade humana. Roubando trabalho e idéias, que também são trabalho. Faz promessas eufóricas a quem aceite obedientemente a sua natureza: explorar para uns quantos privile­giados; ser explorado para a esmagadora maioria produtora do trabalho real que faz mover o mundo.

Obviamente, o capital concentra no socialismo o alvo preferencial da sua raiva, promovendo com ódio campanhas anticomunistas, que pretende utilizar como vacina pelo terror, caluniando-o como idéia utópica de sonhadores loucos, levada à prática por ditadores cruéis. Campanha que abocanhou raivosamente a experiência breve de construção do socialis­mo em menos de um século, enquanto o capitalis­mo, após quatro séculos de dominação arras­ta o mundo para o seu afogamento: que querem, ele não pode fugir à sua natureza...

Que o nosso mundo não se resigne a ser a rã transportando docilmente no seu dorso o lacrau capitalista.

Original em Avante!
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os Indiferentes

Antonio Gramsci

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.

A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso.

Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então se zangam, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.

Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir o pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

CRÉDITOS
Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917
Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"
Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.
Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive
HTML de: Fernando A. S. Araújo
Publicado em PCB
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License

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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Uma festança patética e extemporânea

Preparada ao longo de semanas, todos os setores reacionários da mídia, organizados internacionalmente sob a batuta da central de intoxicação ideológica do imperialismo estadunidense, lançaram uma colossal campanha midiática anticomunista com o pretexto de "comemoração" da data da demolição do muro de Berlim, ocorrida há vinte anos, no auge da ofensiva contra-revolucionária que conduziu à liquidação dos regimes socialistas até aí existentes em vários países europeus.

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O ato encenado em Berlim, no passado dia 9/11, foi patético e denunciando o seu caráter de festança da contra-revolução, marcado por um saudosismo extemporâneo de toda aquela gentalha "ilustre" convidada. De fato, nestes vinte anos decorridos, a realidade já se encarregou de mostrar aos berlinenses e a todos os alemães - bem como aos restantes povos dos países à época socialistas - que nada de bom têm para comemorar, muito pelo contrário.

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Sobrou esta gigantesca ação propagandística global, cuja preparação e laboriosa montagem cenográfica só vem confirmar que são eles, os imperialistas e os seus governos de turno que continuam a ter muitas e redobradas razões para temer o socialismo, apavorados com a perspectiva real de, face à monumental crise mundial do capitalismo e suas duras conseqüências para os trabalhadores, o objetivo de uma sociedade socialista redobre a sua capacidade de atração para os explorados, como parece ocorrer de forma crescente por todo o mundo.

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Alguns governos e parlamentos, alarvemente sintonizados pela tônica do mais execrável anticomunismo, apressaram-se a associarem-se aos propósitos daquela bufa encenação política em Berlim.

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Pelo seu interesse e oportunidade, transcreve-se a seguir o texto da intervenção de Bernardino Soares, membro da comissão política do PCP, na Assembléia da República, na discussão dos provocatórios e caninos votos que ali foram apresentados sobre tal "comemoração”.

O triunfalismo comemorativo a que temos assistido nos últimos dias, de que alguns aqui na Assembléia da República também reivindicam o seu quinhão, mais do que o fato histórico que se verificou há 20 anos atrás, visa reescrever a história e tentar decretar, para o presente e para o futuro, a vitória definitiva do sistema capitalista como se do fim da história se tratasse. É, aliás,
extraordinário, mas não certamente um acaso, que isso aconteça no momento em que uma gravíssima crise internacional põe a nu as contradições do capitalismo e arrasta os povos para a degradação das suas condições de vida, para o aumento da pobreza e para uma ainda maior exploração dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos.


É ainda extraordinário e inaceitável que esta gigantesca reescrita da história procure fazer tábua rasa dos contributivos do campo socialista em aspectos decisivos do progresso da humanidade no século XX, como são os casos do contributivo determinante para a derrota do nazi-fascismo da luta e derrota do colonialismo,
do progresso social econômico e cultural e dos direitos dos trabalhadores em todo o mundo, da paz e da manutenção de um equilíbrio militar estratégico.


É aliás significativo que se ignorem importantes conseqüências das alterações ocorridas há cerca de 20 anos no Leste europeu, como a drástica redução da esperança de vida, a destruição dos sistemas sociais, o desemprego, o aumento exponencial da pobreza, da fome e da marginalidade. Ou como o retrocesso social e nos direitos dos trabalhadores entretanto verificado e em curso, incluindo no nosso país. O Imperialismo norte-americano e o seu pilar na União Européia crescentemente militarizada encontraram um campo mais liberto para a ingerência, a invasão e o desmembramento de países soberanos. Pela primeira vez desde 1945 a guerra voltou à Europa e um país soberano – a Iugoslávia - foi desmembrado com a participação ativa e direta de potências estrangeiras.

O que foi derrotado não foram os ideais e o projeto comunistas, mas um «modelo» historicamente configurado, que se afastou, e entrou mesmo em contradição com características fundamentais de uma sociedade socialista, sempre proclamadas pelos comunistas, onde são indispensáveis entre outras a democracia política e a liberdade.
O PCP rejeita por isso o teor dos votos em análise, registrando diferenças substanciais entre eles, em especial os que fingem
ignorar os muros reais que hoje existem contra a liberdade, a dignidade, que impõem a exploração agravada, ou que suportam a guerra e a ocupação.


O afã comemorativo destes dias visa sobretudo o presente e o futuro; visa a luta dos povos contra a natureza agressiva do capitalismo, deseja desmobilizar a esperança e esconder que há alternativa a este sistema.

Não o conseguiram no passado e não o conseguirão no futuro. “

Original em O Assalto ao Céu

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Saudação do CC do PC( b)TU aos 92 anos da Grande Revolução Socialista de Outubro

Nota do Partido Comunista (bolchevique) de Toda a União no aniversário da Grande Revolução Russa.

Salve os 92 anos da Revolução de Outubro

Caros amigos – militantes de nosso partido, irmãos de luta de outros países, camaradas militantes de outros Partidos Comunistas e simpatizantes! O Comitê Central do Partido Comunista Bolchevique de Toda a União vos parabeniza pelos 92 anos da Grane Revolução Socialista de Outubro! Desejamos a todos saúde e sucesso em nossa luta conjunta contra o imperialismo e a contrarrevolução burguesa e pelo renascimento da nossa grande Pátria – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas!

Fomos condenados a viver e trabalhar em tempos difíceis e a lutar contra um inimigo fortíssimo – o imperialismo internacional e sua força de choque – o sionismo com intenções de senhorio mundial. Devido a eles hoje derrama-se o sangue da população mundial nos quatro diferentes cantos do mundo e seus esforços organizam massacrantes guerras locais. Devido a eles morre de fome o povo da África. Atrapalham a construção do socialismo na RPDC, em Cuba e nos países da América Latina que escolheram para si um caminho de vida livre e independente da ditadura dos EUA. Devido a eles e às suas marionetes (Israel) é que jorra o sangue do povo palestino que há muitas décadas é impedido de retornar à sua pátria histórica e construir seu estado independente.

A contrarrevolução na URSS foi ricamente financiada pelo Ocidente (pelos EUA, acima de tudo) e foi meticulosamente preparada não apenas do lado de fora de nossas fronteiras, mas também dentro de nossa própria sociedade. Os inimigos da Pátria, escondidos ao longo do tempo em seus bueiros e tocas estavam até o pescoço envolvidos em inúmeros atos de sabotagem que visavam a desintegração da nação. Agora eles se mostram a olhos vistos: dançam pelas televisões e pelos jornais de conteúdo diverso, sempre envenenando o povo com ódio contra tudo o que for soviético e tentando obscurecer nossa gloriosa história soviética e seus grandes líderes – V. I. Lênin e I. V. Stálin.

Assaltando o povo soviético, tendo nos roubado tudo aquilo que a nós pertencia por direito, eles agora constroem para si castelos, compram ilhas no Mediterrâneo (e não só lá, acreditem) e escondem o dinheiro roubado do povo em paraísos fiscais e bancos ocidentais. Mas seu banquete nestes tempos de cólera por eles mesmo espalhado irá sem a menor sombra de dúvida acabar, e o povo recuperará o que lhe foi roubado o os forçará a responder pelos crimes cometidos: a ascensão da taxa de mortalidade, o crescente nascimento de crianças deficientes, a desintegração moral da sociedade, a falta de perspectiva da juventude, o tão popular em nossos dias suicídio, a miséria e a falta de direitos de nossos aposentados que deram suas vidas e forças defendendo nossa Pátria e aumentando nossos bens coletivos, a depredação carniceira de nossas riquezas naturais, a traição e a mudança por muitos deles do juramento soviético feito ao povo trabalhador uma vez subidos até o topo da escada do funcionalismo público, ao controle do Estado. Nenhum deles poderá fugir ou escapar do julgamento popular.

A enorme pressão sobre nós por parte do Estado dos possuidores, a miséria das condições de vida da maioria da população nos dias de hoje fizeram com que caíssem alguns pontos de apoio e a crença na vitória da Nova Revolução Socialista. Entretanto temos certeza – não há razão para largar a toalha! É preciso levantar dos joelhos – como já fazem muitos – e passar ao ataque. Nós, bolcheviques, conseguimos já fazer muito nos anos da contrarrevolução. Fizemos virar a opinião pública sobre Stálin em sua campanha de mentiras e enlameamento do líder. Através da comparação efetivamente mostramos a superioridade dos valores socialistas em relação aos valores burgueses e acendemos em muitos o desejo de lutar pelo renascimento do socialismo. Nós eficazmente escolhemos nosso caminho nas condições que nos impôs nosso tempo. Marchamos junto com a História na luta contra a contrarrevolução, adiante rumo à sociedade sem classes com a qual sonhou Karl Marx. E nós necessariamente venceremos! Conosco está a VERDADE DA HISTÓRIA.

N. A Andreeva

Secretária Geral do CC do PC(b)TU

domingo, 27 de setembro de 2009

Adalberto Monteiro: do governo Lula aos novos desafios do PCdoB

Dois temas — o balanço do governo Lula e as perspectivas de luta para os comunistas — dominaram, na manhã desta segunda-feira (14), o primeiro “Debate dos Projetos de Resolução do 12º Congresso do PCdoB”. Com exposição de Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois e secretário de Formação do PCdoB, a atividade teve como eixo o mote “Garantir a continuidade do ciclo progressista, aberto em 2002 no Brasil, promovendo a aprofundamento das mudanças”.
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Em sua fala, Adalberto sintetizou os 27 pontos do Projeto de Resolução Político ao 12º Congresso do PCdoB sobre a Situação Conjuntural do Brasil. O documento já foi debatido e aprovado pelo Comitê Central do partido. Seu texto final será apresentado justamente no Congresso, após servir de base para discussões nas mais variadas esferas e bases comunistas.
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De acordo com Adalberto, os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram marcados por um mesmo confronto dentro e fora do governo. “Esse conflito opunha duas vertentes — uma de mudança, desenvolvimentista, e a outra de continuísmo, neoliberal. A resultante foi um governo Lula de modelo intermediário, com nítidos avanços, mas sem grandes choques — sem uma ruptura maior.
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”De positivo, segundo Adalberto, o governo deixa um legado de muito mais democracia institucional, melhores relações com os movimentos sociais e dezenas de conferências temáticas para refletir sobre políticas públicas. “Isso sem contar a presença de comunistas no governo federal — o que é um fato novo para nós”, lembra o dirigente do PCdoB.
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Na área de Relações Exteriores, é de louvar o trabalho desenvolvido pelo o Itamaraty nos últimos anos. “O Brasil fortaleceu sua soberania, praticou uma política externa independente e foi decisivo para o processo de integração sul-americana. O enterro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a construção de um G20 ajudaram a construir pólos alternativos à grande hegemonia dos Estados Unidos”, frisa Adalberto. Com a recuperação — sobretudo material — das Forças Armadas, o Brasil sob Lula fortaleceu também a defesa nacional.
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Nesta correlação de forças, um novo projeto nacional de desenvolvimento se torna mais viável. O PCdoB, assim, propõe quatro pilares para tal projeto: mais democracia, consolidação da soberania nacional, impulso à integração latino-americana e ampliação das conquistas sociais.
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As críticas
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Para Adalberto Monteiro, um dos pontos mais fracos do governo Lula é a política de comunicações. “Acredito que democratizar a mídia hoje, em pleno século 21, terá um impacto tão simbólico e importante quanto a conquista do sufrágio universal pelos operários no século 19”, comparou o dirigente. A criminalização crescente das rádios comunitárias e a concentração da publicidade oficial para a grande mídia foram outros pontos criticados por Adalberto.
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A política econômica não escapou de contestações. De um lado, com a valorização constante do salário mínimo e o êxito de programas como o Bolsa-Família (que beneficia mais de 53 milhões de brasileiros), o governo Lula possibilita distribuição de renda e mobilidade social. Em contrapartida, a política macroeconômica — conforme as palavras de Adalberto — é “ortodoxa, liberal”, “expõe a força do capital financeiro no Banco Central (BC)”, “reflete a Carta aos Brasileiros de 2002” e, por isso, “honra compromissos firmados com o setor rentista e especulador”.
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Por consequência dessa política “híbrida” e com a eclosão da crise do capitalismo, o Brasil foi abatido “quando chegava à altura do cruzeiro”. A “relação promíscua” entre o BC e o capital privado favorece “a desnacionalização da economia, a sangria do Estado nacional”. Parte da dívida pública é atrelada à Selic (taxa básica de juros, regulada pelo Comitê Político Monetário — Copom — do Banco Central. “Pagamos um preço alto por ter mantido os juros altos”, afirma Adalberto.
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O segundo mandato
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Na opinião do PCdoB, o segundo governo Lula, iniciado em 2007, apresenta limitações, apesar de ter acumulado forças para uma “viragem” e de haver implantado ações de relevo, como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). “O segundo mandato não superou a Carta aos Brasileiros, embora o campo desenvolvimentista tenha se fortalecido”, diz Adalberto. Em sua opinião, o governo padece de “debilidades na esfera das convicções”, do “estilo do presidente em favor de situações de moderadas” e do “aceno ao centro, com negligência ao papel da esquerda”.
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Como se comportam os comunistas diante desse cenário? Adalberto resgata uma deliberação da 9ª Conferência Nacional do PCdoB, de 1995. “Dizíamos lá que, nos marcos do capitalismo, os comunistas têm condições de participar de governos de coalizão como força minoritária, mantendo lealdade — mas também autonomia — a esses governos. É o que fazemos na gestão Lula.”
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O dirigente comunista evocou também o manifesto “O governo Lula numa encruzilhada”, de autoria de Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB. No texto, Renato defende que “é chegada a hora de reconstruir o pacto político”, que dê “maior força à base popular e democrática, aos trabalhadores e as camadas médias, em aliança com os empresários da produção e do comércio. Construir assim um grande pacto pela defesa e impulso do desenvolvimento, da economia nacional e do mercado interno, da renda do trabalho e do emprego”.
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O objetivo, agora, é dar “continuidade e aprofundamento ao ciclo aberto pelas duas eleições de Lula” — cujo governo consistiu numa “via alternativa ao neoliberalismo sem rupturas profundas”. Para 2010, a oposição vai credenciada, segundo Adalberto, pela tendência de coesão entre PSDB e DEM, pela hegemonia nos dois maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais), pelo apoio desabrido da mídia e pelo dinheiro incomensurável para a campanha.
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Adalberto conclui: “Para derrotar uma vez mais a direita, o que nós, do campo progressista e democrático, devemos construir é uma aliança ampla — mas com liderança da esquerda, e não do centro”. O PCdoB, por sua vez, deve buscar um desempenho eleitoral que simbolize e reflita seu crescimento — a destacada participação no governo Lula. “Temos condições de ampliar consideravelmente nossa presença na Câmara Federal e no Senado.”
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André Cintra
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Original em Vermelho

domingo, 23 de agosto de 2009

Há 70 anos, URSS assinava pacto estratégico


por Osvaldo Bertolino

Neste domingo (23), completam-se 70 anos do pacto entre a Alemanha nazista e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Difamado pela direita internacional, o acordo aconteceu depois das manobras das potências ocidentais — principalmente França e Inglaterra — para empurrar a máquina de guerra nazista para cima da URSS. O país socialista era alvo confesso de Adolf Hitler, que liderou o “Pacto de Aço” anti-Komintern — um tratado belicista e anticomunista entre Alemanha, Itália, Japão e outros países fascistas.

Em janeiro de 1933, quando se tornou chanceler alemão, Adolf Hitler já havia publicado sua plataforma política. Era o livro Mein Kampf (Minha Luta), um best-seller que naquele tempo contava com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. Nele, estavam claras as idéias do novo chanceler alemão: ódio aos comunistas, aos judeus, aos eslavos, aos proletários, etc.

Nova ordem nazista

Logo, a venda da obra nazista explodiria. “Com exceção da Bíblia, nenhum outro livro foi tão vendido durante o regime nazista”, escreveu William L. Shirer no livro Ascensão e Queda do 3° Reich, parcialmente traduzido para o português pelo histórico dirigente do Partido Comunista do Brasil, Pedro Pomar.

Na obra, Hitler expôs com clareza o modelo de governo que ele queria implantar na Alemanha. A “nova ordem” que o líder nazista pretendia impor ao mundo tinha no Estado de seu país — que um dia se tornaria “o soberano da terra” — o alicerce para uma ditadura absoluta.

A “nova ordem” nazista também teria uma “ideologia universal”. Para tanto, segundo Minha Luta, a Alemanha deveria ajustar contas com a França, “o inexorável e mortal inimigo do povo alemão”. Hitler considerava esse passo decisivo como meio para mais tarde “dar ao nosso povo a expansão que venha a ser possível alhures”.

Estratégia nazista

Ele estava dizendo que a Alemanha tinha como alvo final a União Soviética. “A Alemanha deve expandir-se para o Leste, em grande medida às custas da Rússia”, escreveu. No primeiro volume de Minha Luta, Hitler discorreu longamente sobre o problema do “espaço vital” — Lebensraum, em alemão. “Se na Europa de hoje falarmos em terras, haveremos de ter em mente apenas a Rússia e as nações vizinhas a ela subordinadas”, afirmou o líder nazista. Ele perseguiria esse objetivo até à morte. Para Hitler, o destino tinha sido generoso ao entregar a região à direção dos comunistas — o que, segundo sua teoria, era o mesmo que entregá-la aos judeus.

A estratégia nazista estava clara. Primeiro, era preciso aniquilar a França apenas como condição para o avanço de seus exércitos rumo ao Leste. No decorrer da guerra, essa promessa foi fielmente executada. Hitler tomou a Áustria, a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia, e a parte ocidental da Polônia. Em setembro de 1938, os líderes da Alemanha, Inglaterra e França assinaram o “Pacto de Munique”, permitindo ao exército alemão iniciar sua marcha para a Tchecoslováquia. A ameaça à União Soviética estava mais perto do que nunca.

Segurança coletiva

Logo depois da ocupação nazista da Tchecoslováquia, a União Soviética propôs uma conferência das seis potências (Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética) para debater formas de evitar futuras agressões. Mas a proposta foi considerada “prematura”. Os movimentos no xadrez político ocidental deixavam claro a intenção de manter a União Soviética fora do concerto das potências européias. Moscou voltou a acenar, em vão, com um pacto de assistência mútua com a França e a Inglaterra. Esses movimento evoluíram para a aproximação entre União Soviética e Alemanha.

Discursando no 18° Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em março de 1939, Josef Stalin disse que Inglaterra e França haviam abandonado o princípio da segurança coletiva, com a finalidade de orientar os Estados agressores para “outras vítimas”. Stalin advertiu que os países ocidentais estavam empurrando os alemães ainda mais para Leste, prometendo-lhes uma presa fácil. Segundo o líder soviético, os princípios orientadores do país socialista eram o de seguir uma política de paz, de fortalecimento das relações econômicas em todos os países e não permitir que a União Soviética fosse arrastada para conflitos pelos provocadores de guerra.

A batalha de Stalingrado

O recado foi entendido em Berlim. A Alemanha tinha interesse em atacar a Polônia sem temer uma intervenção soviética. As conversações evoluíram para o pacto de não-agressão mútua. Quando Hitler invadiu a Polônia, a União Soviética movimentou suas tropas para os Estados Bálticos. A etapa principal do pacto estava vencida. A Alemanha nazista preparava-se para “uma campanha rápida” para “esmagar a União Soviética”. Em junho de 1941, um ano depois da queda da França, as tropas nazistas atacaram o país socialista. Um general alemão disse que a guerra estaria ganha em catorze dias.

A batalha de Stalingrado representou a chegada da reviravolta. Dali para diante, o poder de Hitler declinaria, minado pela crescente contra-ofensiva soviética. Um representante do “Ministério para os Territórios Ocupados do Leste”, criado pelo governo nazista, disse na ocasião que os soviéticos “estavam lutando com excepcional bravura e com espírito de renúncia, nada mais visando que o reconhecimento da dignidade humana”. O resultado seria o esmagamento da máquina de guerra criada por Hitler. Em junho de 1944, as forças anglo-americanas atacaram na frente ocidental. A muralha nazista foi rompida em poucas horas. À meia-noite de 8 para 9 de maio de 1945, os canhões silenciaram fogo na Europa pela primeira vez desde 1939.

Rendição japonesa

Em 2 de setembro de 1945, os japoneses renderam-se a bordo do encouraçado norte-americano Missouri, ancorado na baía de Tóquio. Era o fim de uma luta que se iniciara em meados de 1937, na China, expandindo-se mais tarde para praticamente todo o Pacífico. É impossível calcular o volume de perdas econômicas causadas pela guerra. Quanto à perda de vidas, há uma estimativa, embora longe de ser exata. Morreram cerca de 50 milhões de pessoas, fardadas ou não. Uma média de 8,3 milhões por ano de luta.

Tomada em seu conjunto, a Segunda Guerra Mundial é um fato sem paralelo na história. Nunca tantos países haviam se envolvido num conflito armado. Nunca se produziu tanto armamento. Raramente se aplicou tanta pesquisa e dinheiro no desenvolvimento de equipamentos militares. A guerra começou numa época em que os exércitos ainda usavam cavalos. Quando terminou, os caças a jato já voavam. No final da década de 30, as armas mais destrutivas ainda eram os canhões de grande calibre. Meia dúzia de anos mais tarde o planeta tomava contato com as armas nucleares e com os mísseis balísticos. O mundo não poderia ser o mesmo após o término da Segunda Guerra Mundial.
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sábado, 1 de agosto de 2009

Direitos reservados

Visito o sítio do Partido Comunista Brasileiro em busca de artigos para publicar no BVC.
Ao tentar copiar, uma surpresa: não é que a cópia é proibida por ter “Direitos reservados”?
O que é isso, camaradas! O conhecimento da humanidade pertence à humanidade. Ninguém cria nada sem utilizar o conhecimento prévio de TODAS as outras pessoas.
Propriedade privada: isso não é socialismo!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Teoria Marxista

O trabalho teórico e a luta revolucionária
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A teoria revolucionária é a conseqüência do estudo da realidade política e social nada tendo a ver com a repetição empolgada de chavões ou a aplicação mecânica de princípios gerais a uma situação em específico, sem olhar a novas configurações do capitalismo, do Estado e da correlação de forças, por isso, não se confunde com o verbalismo vazio dos esquerdistas, nem com a chamada renovação que caracteriza o reformismo. “a teoria revolucionária não abdica nem dos princípios fundamentais do marxismo-leninismo (…), nem da necessidade de compreender novos fenômenos; a teoria revolucionária aplica criativamente os conceitos nucleares do marxismo ao contexto em que os revolucionários atuam numa determinada época e sociedade”.

João Aguiar*

Na ciência burguesa é relativamente difundida a idéia que a célebre XI Tese sobre Feuerbach – «todos os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo, trata-se agora de transformá-lo» – seria uma afirmação em que Marx acharia desnecessária toda e qualquer teorização do real. Na realidade, tais noções não fazem sentido. Basta lembrar toda a imensa obra teórica de Marx (o atual projeto de publicação das obras completas de Marx e Engels em alemão será de 120 volumes, portanto, cerca de 72.000 páginas!) para se perceber o colosso intelectual do grande revolucionário alemão. Por outro lado, o marxismo nunca desqualificou o labor teórico. Mais uma vez, lembrem-se duas clarividentes lições de Lenine: «não há movimento revolucionário sem teoria revolucionária" e a importância para os Partidos Comunistas da "análise concreta da situação concreta». Por conseguinte, há em toda a história do marxismo-leninismo uma ligação indissolúvel entre trabalho teórico e prática revolucionária.
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Qual a relação entre teoria revolucionária e luta prática?
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Para responder a esta questão, importa considerar dois elementos principais:
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1. A teoria revolucionária não existe fora da luta revolucionária.
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Quer dizer, Marx não nasceu comunista e até atingir os seus 25-26 anos de idade nunca se considerou socialista ou comunista, apesar de já ter entrado em contacto com as correntes anticapitalistas da época. Para além da ruptura com o hegelianismo e da leitura do artigo «Esboço para uma crítica da economia política» de Engels e publicado nos Anais Franco-Alemães em 1844, foi o contacto de Marx com emigrantes e refugiados políticos socialistas de origem alemã em Paris e, sobretudo, com o desenvolvimento da luta operária – por exemplo, os tecelões da Silésia em luta no ano de 1843 – que iriam estar na gênese do marxismo como teoria revolucionária.
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Outro exemplo. A obra de teoria (científica e política) mais brilhante de Lenine é, não por acaso, "O Estado e a Revolução". Obra escrita em Julho e Agosto de 1917 em pleno fogo da luta revolucionária em ebulição. A percepção do poder de classe do Estado e a percepção das tarefas que cabiam (e cabem) ao proletariado num contexto de transição para o socialismo seriam aspectos de todo inacessíveis fora da luta revolucionária.
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2. A teoria revolucionária permite perspectivar as condições gerais e específicas em que decorre a luta revolucionária.
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Não se pense que o marxismo é um mero pragmatismo. De fato, a luta e a prática nas organizações marxistas necessitam sempre de um programa, de resoluções políticas, de debate político e ideológico. É quase como que «o pão para a boca» das organizações políticas e sociais da classe trabalhadora. Para recorrer a outro exemplo, repare-se que, ao contrário do preconceito dos media dominantes de que o PCP** seria um partido enquistado, sectário, sem debate político e condenado a desaparecer, a verdade é que o PCP não teria a força eleitoral e, fundamentalmente, social e sindical se não debatesse e aplicasse enunciados políticos e ideológicos que se ajustam à realidade concreta das massas populares.
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Conseqüentemente, a teoria revolucionária enquadra a luta das organizações operárias em dois níveis. Por um lado, a teoria revolucionária enquadra a luta em termos das condições gerais em que ocorre. Isto é, a teoria revolucionária permite compatibilizar a luta quotidiana com o processo histórico global, portanto, entre luta reivindicativa de massas e a luta geral contra o capital. Por outro lado, a teoria revolucionária permite compatibilizar a luta quotidiana na conjuntura nacional, social e temporal em que se desenrola num determinado momento.
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Assim, considere-se a relação entre teoria e luta revolucionária a partir das seguintes noções:
• a teoria revolucionária faz parte da luta de idéias, da batalha política e ideológica contra a ideologia dominante;
• a teoria revolucionária não é o repetir de chavões ou o aplicar mecânico de princípios gerais a uma situação em específico, sem olhar a novas configurações do capitalismo, do Estado e da correlação de forças – a teoria revolucionária não se confunde com o verbalismo oco do esquerdismo;
• a teoria revolucionária não é igual à revisão de princípios do marxismo em favor da busca de pretensas soluções novas para uma realidade social capitalista que, apesar de novos ajustamentos, continua a reproduzir os seus pilares fundamentais (exploração da força de trabalho; mercantilização de todas as atividades sociais, culturais e naturais; Estado de classe controlado pela burguesia; força e peso da ideologia dominante, etc.) – a teoria revolucionária não se confunde com a busca da “renovação" pela “renovação” típica do reformismo;
• a teoria revolucionária não abdica nem dos princípios fundamentais do marxismo-leninismo (primado da luta de classes, papel de vanguarda da organização revolucionária, natureza de classe das várias instituições da sociedade, etc.), nem da necessidade de compreender novos fenômenos;
• a teoria revolucionária aplica criativamente os conceitos nucleares do marxismo ao contexto em que os revolucionários atuam numa determinada época e sociedade.
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Aplicações necessárias da teoria revolucionária à realidade atual: algumas questões que se colocam e que importa dar resposta
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1ª necessidade: aprofundar a compreensão da real dimensão da atual crise estrutural do capitalismo.
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Aspectos a aprofundar:
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a) relação do capital fictício em hipertrofia com as dificuldades de produção de mais-valia na esfera produtiva.
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b) de que forma a bolha financeira desencadeará uma crise ainda mais profunda ao nível das relações de produção capitalistas.
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c) de que modo se relacionam crises cíclicas no seio da crise estrutural mais geral do capitalismo.
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Importância prática desta questão:
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a) desmontar a mecânica interna do imperialismo, como forma de explicitar as raízes estruturais de um sistema explorador e opressor dos povos e dos trabalhadores.
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b) compreendendo a essência do funcionamento do capitalismo, torna-se mais fácil rebater soluções políticas supostamente «de mudança» (como Obama e toda a campanha propagandística em seu torno) e, ao mesmo tempo, de rebater soluções pretensamente milagrosas para o sistema financeiro. A crise estrutural do capitalismo não pode ser regulada, como defendem certas concepções próximas ao keynesianismo, nem é superada por receitas que passem por introduzir «mais mercado» como apregoam as correntes mais abertamente neoliberais. De fato, a crise estrutural do capitalismo demonstra, por um lado, a vulnerabilidade do indivíduo perante toda a mecânica do sistema onde é apenas mais um recurso para extrair mais-valia e, por outro lado, que a sociedade alicerçada na exploração do trabalho humano tem limites estruturais profundos. Compreender a existência destes últimos não significa, evidentemente, que o capitalismo poderia desaparecer por si mesmo mas que, tendo em conta as dificuldades do sistema para incrementar a extração de crescentes volumes de mais-valia, só a luta coletiva dos trabalhadores e dos povos pode ultrapassar uma sociedade ancorada na exploração do homem pelo homem.
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2ª necessidade: aprofundar a compreensão do desenvolvimento da configuração interna dos Estados e correlativas vias de fascistização de novo tipo.
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Aspectos a aprofundar:
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a) papel da securitização do Estado na prevenção (e criminalização) de futuras movimentações operárias e populares.
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b) possibilidade de o capitalismo tentar controlar politicamente a grave crise econômica e o crescente caos associado por via do recurso a vias de fascistização da vida política.
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c) compreender como estas tendências fascistizantes convivem com instituições formalmente democráticas e, mais importante, com a assunção de que tais processos seriam democráticos e realizados no interesse de todos os cidadãos.
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Importância prática desta questão:
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a) reafirmar a natureza de classe no Estado e dos processos políticos. O Estado nunca foi, e hoje muito menos, um aparelho neutro e desligado de interesses de classe. A existência de naturais diferenças entre várias formas de Estado (liberal, ditadura militar, fascismo, etc.) não deve obscurecer a tendência imanente de em situações históricas de crise o capital abraçar empreendimentos militaristas, repressivos e fascistizantes.
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b) compreendendo a substância dos Estados – cada vez menos democráticos e cada vez mais autoritários na sua atuação quotidiana – mais facilmente se colocará perante as massas que a superação do sistema implica uma transformação do aparelho de Estado, num sentido da sua democratização e do seu controlo político pelo povo e pelos trabalhadores.
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3ª necessidade: aprofundar a compreensão das transformações na esfera cultural e ideológica.
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Aspectos a aprofundar:
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a) compreender como ideologias de classe (pós-modernismo, teorias sobre a sociedade do conhecimento e correlativo fim do trabalho e das classes, teses sobre a superioridade numérica das chamadas classes médias e dos «colaboradores», etc.) se apresentam como pretensamente não-classistas e compreender o seu impacto nas dificuldades de identificação coletiva de camadas da classe trabalhadora.
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b) perceber a relação entre crise estrutural do capitalismo/tendência fascistizante de organização do poder político/estetização da política e da vida quotidiana. Por outro lado, a crise do capitalismo, do ponto de vista dos interesses do grande capital, implica que os trabalhadores adotem comportamentos individualistas e refratários à luta reivindicativa. Neste capítulo, a difusão de ideologias consumistas junto de novas camadas de trabalhadores atua como um poderoso fator para fazer recuar a consciência operária e popular nas suas forças.
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Importância prática desta questão:
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a) compreender a ligação entre a produção cultural, a difusão ideológica, os mecanismos de condicionamento na formação da opinião e a legitimação do capitalismo.
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b) desconstruir a noção de que o que os indivíduos pensam (e que lhes transmitem na mídia e noutras instâncias culturais) é natural, lógico e inquestionável, mas que se encaixa perfeitamente nos processos de dominação ideológica do grande capital.
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c) um mais apurado entendimento destes fenômenos permite um avanço na luta ideológica contra o capital e, portanto, na luta mais geral contra o capitalismo.
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4ª necessidade: aprofundar a compreensão das causas fundamentais do findar da ex-URSS.
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Aspectos a aprofundar:
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a) decifrar como se operou a interação causas internas e causas externas na derrota do socialismo. Quer dizer, a relação complexa e vasta entre: o colossal cerco imperialista; a relação triangular edificação do Estado socialista – transformação das relações de produção – desenvolvimento das forças produtivas; as modalidades específicas e a variável intensidade da luta de classes no processo de construção do socialismo; o sucesso ou insucesso na formação de quadros e no maior ou menor fomento da participação popular, etc.
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Importância prática desta questão:
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a) uma compreensão sólida do que se passou nas experiências de construção do socialismo assegurará que o ideal comunista se afirme como alternativa ao capitalismo. Ou seja, o socialismo só passará à ofensiva ideológica se for capaz de compreender mais cabalmente esta questão. Um dos eixos mais relevantes que o capital tem aproveitado na luta ideológica passa pela assunção de que não existiria alternativa ao atual sistema. A criminalização do socialismo soviético aparece aqui como central nesse desígnio ideológico do grande capital e do imperialismo. Nesse sentido, a reposição da verdade sobre as experiências de construção do socialismo consubstancia-se como um passo fundamental nesse processo.
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Conclusão
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Uma compreensão mais profunda dos fenômenos acima mencionados permitirá a desmontagem de enunciados da ideologia dominante. Evidentemente, os comunistas e revolucionários têm um largo patrimônio teórico sobre estas questões. Assim, trata-se aqui da necessidade de se aprofundar ainda mais esse patrimônio e não de descartá-lo ou ignorar.
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Com efeito, a própria teoria revolucionária será tanto mais eficaz quanto mais se avançar na discussão coletiva dos problemas em causa. Discussão coletiva que tem de estar sempre inserida no quadro de fortalecimento da luta de massas e das organizações da classe trabalhadora. Só a luta dos trabalhadores e dos povos e das suas organizações de classe poderá transformar o mundo.
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Animada por esse objetivo, a teoria poderá interpretar mais corretamente o mundo social e político, por conseguinte, melhorando as probabilidades de sucesso da luta popular pela transformação da sociedade. E porque o marxismo consagra essa unidade entre pensamento e ação, só a luta (teórico-ideológica e de massas) é o caminho!
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*Sociólogo
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** Partido Comunista Português

segunda-feira, 15 de junho de 2009

América Latina, lições para a esquerda européia

Parece que sete anos depois, a esquerda do velho continente ainda não aprendeu a lição. Poderia fazer um curso intensivo na América Latina. Reaprender que nada substitui a ação política feita em sintonia com os movimentos sociais.
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Gilson Caroni Filho(*)
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O resultado da eleição para o Parlamento Europeu não deixa margem para qualquer dúvida. Há uma incontestável hegemonia conservadora no Velho Continente. Partidos de centro-direita obtiveram expressivas vitórias na Alemanha, França, Irlanda, Espanha, Grã-Bretanha e Irlanda. Agremiações de extrema-direita têm avançado na Hungria, Holanda e Romênia. Como já assinalou Emir Sader, a Europa está na contramão dos avanços obtidos na América Latina.
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Longe de ser um fato surpreendente, o resultado parece demonstrar que a esquerda européia, ao contrário da latino-americana, ainda não conseguiu se desvencilhar da armadilha em que caiu quando, para se tornar “assimilável”, optou pela indeferenciação programática com o campo conservador. Há mais de uma década é incapaz de apresentar um projeto alternativo, contra-hegemônico.
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Lênin, o bolchevique, dizia que a melhor maneira de se apreender a verdadeira dinâmica da história era "a análise concreta de uma realidade concreta". De Lênin pouco se fala. O bolchevismo se traduziu num socialismo burocratizado e a realidade, para fins de análise, deixou de ser concreta. Capturada pelo espetáculo, se apresenta fluida e fragmentada. A indigência analítica dá mostras do estrago feito pelo neoliberalismo nos últimos anos.
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A história, percebida como registros pontuais e sem articulação entre si, passou a ser uma sucessão de raios em dia de céu azul. Um dia, do nada, surgiam o Iraque e Saddam Hussein. Ao nada retornavam por determinação conjunta do Pentágono e da CNN.
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Duas torres viraram pó em Nova York, e o cenário que emergiu foi o do inóspito Afeganistão e seu relevo beirando a impossibilidade geográfica. O Oriente Médio era percebido como local de morticínio perpetrado por um louco general contra fanáticos suicidas. Da América Latina surgiam panelaços na Argentina e golpes e contragolpes na Venezuela. Com som e fúria, nada parecia fazer sentido. Ledo engano
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Em meados de 2002, uma gritaria ecoaria na imprensa mundial. Para "estupor" do cidadão francês, a extrema-direita foi para o segundo turno das eleições presidenciais. A Frente Nacional do fascista Jean-Marie Le Pen derrotou o socialista Lionel Jospin e enfrentaria o candidato Jacques Chirac, da direitista RPR. O que mais nos espantava era o espanto. Não tínhamos bola de cristal, mas análise de conjuntura não faz mal a ninguém. Desconhecer a força política do fascismo francês é ignorar parte integrante da cultura política daquele país. A mesma que nos deu Bourdieu, Foucault, Levi-Strauss, Guattari, Sartre, Deleuze, entre tantos outros. Eles são parte de uma formação social que gesta atores e processos que lhes são, em tudo e por tudo, antípodas.
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Sem o colaboracionismo de tantos franceses, teria sido impossível à Alemanha nazista implantar o regime de Vichy, após ter invadido o país. E o marechal Pétain não pecou por impopularidade. Convém lembrar que o anti-semitismo e o ódio ao imigrante, clara e gema do ovo da serpente, nunca deixaram o imaginário francês. Latentes em períodos de prosperidade econômica, sempre se fizeram manifestos em período de crise e desemprego.
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Nas eleições de 1995, Le Pen conseguiu, com um discurso tão simplório quanto racista, obter 15% do eleitorado. Era visto, pela imprensa internacional, como algo exótico. Um espécime raro da majestática Quinta República. Quase um convite para se ver o passado como algo inerte numa sala escura do Louvre. Fazia parte de uma parcela reativa da população às injunções do neoliberalismo na vida nacional. Nada a temer, embora seu eleitorado permanecesse fiel. E em crescimento constante.
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Nesse ponto gostaríamos de fazer uma inflexão: o crescimento do voto na extrema-direita ocorria num cenário marcado por três vetores que não podiam, como ainda não podem, ser desconsiderados.
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O primeiro diz respeito ao declínio das formações socialistas e de sua crise identitária – instalada a partir da fragmentação da clássica base de apoio: a velha classe trabalhadora, atomizada pela nova dinâmica do capital. Sem movimento social de corte clássico, a esquerda optou por eleger o campo institucional como único espaço de ação. Adotou o figurino das forças conservadoras e elegeu o discurso gerencial como substituto da proposta transformadora. Queria ser percebida como tão competente quanto a direita na gestão da ordem solicitada pelo capital. Descolou-se inteiramente da realidade, buscando uma farsesca terceira-via.
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Decorrente do primeiro vetor, a descrença na ação política leva à intolerância e ao atendimento imediato ao chamado fascistóide. Tanto mais sedutor quanto mais simplista. Estabelece uma relação causa-efeito que retira da conjuntura qualquer necessidade de reflexão crítica. Não há que se perder tempo com considerações históricas. Segurança pública é questão de repressão policial, e "não se fala mais nisso". Desemprego é provocado por imigrantes que devem ser banidos. O "outro” volta à sua recorrente função de bode expiatório.
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O terceiro reside no papel da imprensa. Mostrando a política como apêndice de manuais de economia e candidatos como possíveis gestores de uma ordem inconteste, o jornalismo há muito colabora para o esvaziamento do campo político e seus principais atores.
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Qualquer ameaça aos interesses do capital é vista a partir das reações negativas do mercado, das oscilações do câmbio e da queda da bolsa. A despersonalização é a contraface do fetiche. A perda da substância histórica é retratada no noticiário político. Seus personagens tornam-se anódinos, os partidos extensões das idiossincrasias das lideranças, e os processos sucessórios momentos tediosos que nada dizem. Rituais de eterno retorno que os jornais noticiam por dever de ofício. Nada mais simplificador. Nada mais semelhante à lógica fascista.
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O problema não é o fascismo como projeto. Sua formatação requer condições objetivas que não estão presentes. O desapreço pela democracia representativa e pelo Estado de Direito foi o recado claro da expressiva votação de Le Pen. E, nesse crime, a mídia deixou suas impressões digitais.
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A esquerda plural (comunistas, socialistas e verdes) caiu na armadilha em 2002. Chegou a dizer, na fase inicial da campanha, que seu programa não era socialista, e nada propôs como alternativa ao credo neoliberal. A julgar pelos resultados dos grupos de extrema-esquerda, fez o cálculo errado. A Liga Comunista Revolucionária (4,4% dos votos) e os 2% dos votos obtidos pela candidata do Partido Radical de Esquerda, Christhiane Taubira, teriam garantido Jospin no segundo turno. Contra os 17,02% dos votos de Le Pen, a esquerda, dividida entre sete partidos, obteve 45% dos votos. Quando Jospin assumiu a derrota como sendo pessoal, não estava longe da verdade. Votos a esquerda européia ainda tinha. Contanto que tivesse se reinventado.
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Muito se diz sobre a política: sua época heróica acabou, sobrevive apenas uma teatralização desprovida de historicidade, e a rua não é mais locus da cidadania. A extrema-direita não acreditou nos arrazoados teórico-políticos da suposta razão pós-moderna, partiu para os slogans surrados e para a militância ameaçadora.
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Apostou no passado, dado como morto, e logrou capitalizar dividendos presentes. O pungente "NON" que estampava a primeira página do Liberátion era uma súplica vã. Seríamos "salvos" por Chirac e sua corrupta RPR (Reunião pela República). Esse era o consolo que restava àqueles que lutaram contra a banalização promovida pela imprensa, contra a indiferença do cidadão comum e contra um socialismo que se quer palatável custe o que custar.
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Pretendendo ser moderno, esse tipo de socialismo é a reedição dos seus antepassados de salão, tão deliciosamente denunciados por Marx no Manifesto.
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Parece que sete anos depois, a esquerda do velho continente ainda não aprendeu a lição. Poderia fazer um curso intensivo na América Latina. Reaprender que nada substitui a ação política feita em sintonia com os movimentos sociais. O balanço das eleições de 2009 apenas confirma o que já se prenunciava em 2002. Onde a esquerda nasceu a direita continua nadando de braçada.
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(*)Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.
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Original em Carta Maior

sábado, 6 de junho de 2009

Saudação de Alfonso Cano no 45º aniversário das FARP-EP

Nesta semana em que a midia internacionais ao serviço da ditadura midiática imperialista procuram apresentar as FARC-EP como uma força beligerante exangue e em extinção, e censuram, por omissão, as pesadas baixas das forças repressivas colombianas nos seus combates com as FAR-EP («mais de 1.000 mortos e 1.100 feridos desde Janeiro de 2008 até 29 de Abril de 2009»), esta saudação do Comandante-Chefe daquelas forças revolucionárias reafirma, uma vez mais, as razões da justa confiança numa «democracia com justiça social e soberania na marcha para o socialismo» para a Colômbia.
Alfonso Cano*
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Camaradas: ao celebrar 45 anos de resistência à agressão oligárquica e ao mesmo tempo de luta das FARC-EP pelo poder político que construa democracia com justiça social e soberania na marcha para o socialismo, venho trazer-lhes a minha saudação bolivariana pleno de otimismo e confiança no triunfo.

A heróica resistência que desenvolvemos desde o primeiro dia em Marquetalia permitiu-nos forjar uma organização sólida, definida na sua concepção revolucionária, séria, capaz de enfrentar as inumeráveis ofensivas da reação militarista e sair delas fortalecidos e ainda mais comprometidos, convictos que perante a violência, a corrupção, a indignidade e a ausência de escrúpulos da classe dominante colombiana o levantamento armado popular é a opção legítima.

Os nossos persistentes esforços para encontrar saídas políticas benéficas para o conjunto da sociedade e, em primeiro lugar, para o povo colombiano, foram sistematicamente sabotados por esta oligarquia sanguinária e rapace que só tem pretendido vergar a nossa vontade e decisão de luta, sem jamais ter considerado a possibilidade real de acordar saídas de fundo para os grandes problemas do país.

Apesar disso, continuaremos a lutar no espírito e na concepção de Manual e Jacobo, para forjar espaços de encontro com todos os que, como nós, estejam profundamente convencidos do transcendente que será construir cenários civilizados assentes no respeito mútuo, na perspectiva da convivência democrática da nossa sociedade.

Na ordem do dia encontra-se a troca de prisioneiros de guerra, ao que se opõe o presidente Uribe com diversos sofismas, como expressão da sua cega estratégia fascista e totalitária de PAZ ROMANA, o que derrotaremos entre todos os que consideramos viáveis as soluções políticas para os problemas estruturais do país.

A sua intransigência e falta de grandeza, tão aplaudida pelos militares de todos os matizes, leva-o a intrometer-se, em caprichosa e encolerizada atitude, à libertação unilateral do cabo do exército Pablo Emílio Moncayo, enquanto nas centenas de combates que diariamente se dão por todos o país aumentam os riscos para os prisioneiros e, caiem prisioneiros mais militares, que quiseram esquecer para não reconhecer a existência do grave conflito social e armado que sofre o nosso país.

Reafirmando os princípios revolucionários que sustentam a concepção e a prática das FARC-EP desde há 45 anos, bem como a nossa decisão de chegar até às últimas conseqüências pela pátria democrática, justa e soberana pelos quais lutamos saúdo calidamente neste aniversário os meus camaradas do Secretariado, do Estado-Maior Central, dos Estados-Maiores dos Blocos e Frentes, os membros dos Comandos Conjuntos, comandantes de colunas, redes urbanas e companhias, todos os comandos e o conjunto dos guerrilheiros, os milicianos e os militantes do PC, todo o Movimento Bolivariano, os nossos amigos e apoiadores, e incentivo-os a perseverar e incrementar esforços e criatividade na luta diária, nas trincheiras, em atalhos e veredas, nas prisões, nas universidades e colégios, nos sindicatos e nas fábricas, nos bairros populares e nas freguesias indígenas, nas diferentes reuniões, dentro e fora do país, com governos amigos ou com organizações e movimentos políticos, nas assembléias, nas mobilizações populares reivindicativas, nos tumultos, no cimo das cordilheiras, nas zonas costeiras ou nas inclementes planícies da nossa geografia pátria, no posto da guarda ou na sala de aula, na convalescença de malária ou na recuperação de alguma ferida, na parada de formação ou na tensa espera de uma emboscada, nas explorações e descobertas ou na transposição dos nossos caudalosos rios, no rigor e na transparência de uma reunião de célula ou na intensidade do combate, em todo o momento e perante qualquer situação, ali onde quer que seja que a luta nos tenha colocado, incentivo-os a atuar com a inteireza, o caráter e a responsabilidade com que o fizeram Manual, Jacobo, Raul, Nariño, Iván e todos os que deram o melhor de si por uma Colômbia socialista. Evocar Simón, Ivan Vargas, Sônia e todos os guerrilheiros presos no território nacional, como exemplo temperança revolucionária, particularmente nas mais adversas circunstâncias.

Tanta propaganda oficial contra nós, tão intensa luta ideológica para desvirtuar a nossa conduta é apenas o resultado do ódio e o medo que professa a oligarquia aos interesses populares que representamos, e a sua plena consciência que as FARC-EP são a verdadeira alternativa revolucionária.

Porque hoje mais que nunca: «Manuel vive!»
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Pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo!
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Juramos vencer e venceremos
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Revolucionariamente
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Alfonso
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03 de Junho de 2009
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* Chefe do Estado-Maior Central das FARC-EP
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Tradução de José Paulo Gascão
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Original em ODiario.info

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