Além do Cidadão Kane

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

As seguradoras gastam um milhão de euros por dia, para fazer fracassar a reforma de Obama

Charlotte Bozonnet

Nos Estados Unidos, o setor privado quer impedir a todo custo que se lhes escape esta verdadeira mina de dinheiro. Por trás das espetaculares manifestações de rua contra a reforma sanitária – na semana passada dezenas de milhares desfilaram em Washington acusando a Obama de conduzir o país ao socialismo - se encontra outra oposição, menos espetacular, mas muito poderosa: a das companhias de seguros e dos laboratórios farmacêuticos. “Para eles, é imensamente grande o que está em jogo e estão dispostos a gastar muito dinheiro para defender sua fatia do bolo”, diz Catherine Sauviat, economista do Instituto de Investigações econômicas e sociais (IRES). E que fatia! Cerca de 70% dos norte-americanos que têm cobertura da saúde estão segurados por meio de seguros privados e o mercado da saúde representa um sexto do PIB norte-americano. “A indústria dos seguros de saúde viu aumentar a sua participação no PIB de 1,5 % em 1979 para 5,5 % em 2007”, assinala o premio Nobel de economia Paul Krugman em um artigo no New York Times.

Conseqüência: “um ator menor se converteu em um monstro político que gasta 1,4 milhões de dólares – 1 milhão de euros - cada dia para fazer pressão sobre o Congresso.” Ultrapassando a própria reforma, os protagonistas da saúde - indústrias farmacêuticas e seguradoras à frente - são os principais financiadores dos representantes do Congresso. Sua influencia no projeto de reforma é, por tanto, maior. “Se aceitam alguns pontos da reforma, é só com importantes contrapartidas, afirma Catherine Sauviat. De maneira que se aceitaram terminar com a seleção de riscos, é unicamente porque a obrigatoriedade do seguro lhes vai trazer dezenas de milhões de novos clientes.” A indústria dos seguros também se tem oposto ferozmente à instauração de uma saúde pública que poderia competir com ela. Com êxito, sem duvida, já que a comissão de finanças do Senado, cujo papel será decisivo na redação do projeto final, se declarou contra. “A reforma tería dois objetivos, recorda Catherine Sauviat. A instauração de uma cobertura universal que deveria levar ao estabelecimento de um sistema se não obrigatório, com muitos estímulos e a redução de custos, o que se está dificultando. Enquanto não se toque na fatia do bolo das seguradoras privadas, será muito difícil estabelecer políticas de redução de custos.” Com este enfoque, a reforma não questionará seu caráter secreto de negócios.
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Publicado em L'Humanité

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