Por que discutir Marx hoje? Afinal, não diziam que o marxismo está morto e enterrado? Fomos ouvir dois participantes do Congresso Karl Marx sobre esse tema
Além do Cidadão Kane
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Capitalismo não apresenta mais saídas para a crise, diz historiador
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sábado, 26 de maio de 2012
De ex a anti-esquerdistas
Emir Sader
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segunda-feira, 30 de abril de 2012
O significado vivo do 1º de Maio de 1886 em 2012
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Marx e a fábula do lacrau
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Os Indiferentes
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sábado, 19 de junho de 2010
O capitalismo é responsável pela deterioração ambiental
Orfilio Peláez
Original em Granma
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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Socialismo científico ou marxismo
Partindo do estudo histórico sobre a transição de umas sociedades a outras, Karl Marx e seu colaborador e amigo Federic Engels realizaram uma análise da sociedade capitalista, investigando as suas contradições e propondo os meios para sua destruição.
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O marxismo se distanciava dos postulados teóricos, reformistas, idealistas e supostamente irrealizáveis do socialismo utópico.
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A Revolução de 1848 constituiu um momento chave no desenvolvimento desta nova corrente socialista, pois, uma vez frustrada, o marxismo substituiu o socialismo utópico como corrente ideológica trabalhista dominante, elegendo-se em motor e referencial de boa parte dos movimentos revolucionários da segunda metade do século XIX y XX. Foi precisamente em 1848 quando se publicou o "Manifesto comunista”, a obra mais conhecida do marxismo.
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As idéias marxistas não se resumem a um bloco unitário, pois os escritos de Marx vêm sendo completados com o tempo e têm sido objeto de profundos estudos.
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O socialismo científico ou marxismo apresenta influencias de correntes anteriores, destacando as que precedem da filosofia alemã hegeliana (materialismo diabético), a do ideário de revolucionários como Babeuf e a de ativistas operários como Blanqui.
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Em seus escritos "Tese sobre Feuerbach" (1845), "Miséria da Filosofia" (1847), o já aludido "Manifesto Comunista" e sobre tudo "O Capital", Marx e Engels desenvolveram uma teoria na qual destacam os seguintes aspectos:
* O materialismo histórico
* A lei da acumulação do capital
* A mais valia
* A luta de classes
* A ditadura do proletariado
* A sociedade sem classes
O materialismo histórico
Para o marxismo, são as circunstâncias materiais e não as idéias ou a vontade dos homens o que determinam os fatos históricos. Em tal sentido, diferencia entre infra-estrutura (a economia) e superestrutura (a organização do Estado, os aspectos políticos, jurídicos, ideológicos, o pensamento filosófico, as crenças religiosas, a produção artística, os costumes, etc.).
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Entre ambas instancias existe uma estreita relação dialética. A infra-estrutura econômica constitui a base da historia e gera umas determinadas relações de produção. As variações na infra-estrutura provocam por sua vez mudanças na superestrutura, mas não de forma mecânica automática, mas que cada instancia exerce uma peculiar influencia sobre a outra. Em longo prazo, no entanto, o papel determinante corresponderá à infra-estrutura.
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Esta dinâmica deve ser situada na ação que exerce sobre o marxismo a teoria do processo diabético de Hegel. Segundo este filósofo cada fato ou circunstancia (tese) leva em seu seio sua própria contradição (antítese). Da luta entre ambas surge uma nova realidade (síntese) que implica na superação das anteriores e que por sua vez se transforma em uma nova tese.
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A humanidade tem passado por vários estágios com diferentes estruturas e suas próprias contradições: sociedade comunitário-tribal, escravista, feudal e capitalista. Nesta última a burguesia criou algumas condições (econômicas, legais, alguns modos de vida e até a religião) que lhe permitem prosperar material e socialmente, mas as custa do proletariado. Do maior ou menor desenvolvimento do movimento operário depende que a classe trabalhadora reconheça quais são realmente seus interesses e lute por eles através da ação revolucionaria.
A acumulação do capital
A intensificação da exploração dos operários (aumento do ritmo de trabalho, emprego de mão de obra infantil, jornada de trabalho abusiva, etc.), permite ao capitalista incrementar seus ganhos. No entanto, os lucros se concentram em cada vez menor número de empresários devido a que uma parte destes - os menos competitivos - vão desaparecendo e engrossando as filas dos pobres, o proletariado.
A mais valia
Poderia definir-se como a diferença entre a riqueza produzida pelo trabalho do operário e o salário que este recebe do patrão. Essa remuneração serve para fazer frente aos gastos de alimentação, vestuário e moradia que necessita para subsistir e seguir trabalhando, mas não satisfaz o total do valor do trabalho realizado. Este fato implica no enriquecimento do capitalista, produto da apropriação de parte da atividade realizada. A mais valia seria por tanto, a parte do trabalho que o empresário deixa de pagar ao trabalhador.
A luta de classes
As classes sociais para o marxismo estão definidas pelas relações de produção, isto é, pela forma como os homens produzem mercadorias. No seio das relações de produção, o papel que ocupa cada individuo está determinado pela divisão do trabalho, isto é, aqueles que desenvolvem uma mesma atividade - e por tanto estão submetidos a idênticas condições - Forman uma classe social. As classes sociais são determinadas pelo lugar que ocupam no processo de produção da riqueza. Alguns a produzem e outros se apropriam de uma porção da mesma. Dessa relação não cabe esperar senão o antagonismo e a hostilidade entre explorados e exploradores. Marx y Engels.
Ao longo da historia sempre tem havido classes colocadas frente a frente. Nas sociedades escravistas (Grécia e Roma na Antiguidade) foram antagônicos os proprietários livres e os escravos; no seio da sociedade feudal o enfrentamento se estabeleceu entre nobres e eclesiásticos por um lado e servos por outro.
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No seio da sociedade capitalista ocorre igual: a luta de classes é protagonizada pela burguesia, proprietária dos meios de produção (capital, fábricas, máquinas, transportes, etc.) e pelo proletariado que, ao dispor unicamente de sua força de trabalho, se vê obrigado a vender-la em troca de um salário que escassamente serve para satisfazer a sobrevivência.
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Os interesses de ambas as classes são antagônicos e incompatíveis e conduzirão inevitavelmente ao enfrentamento. À medida que o capitalismo vá se desenvolvendo o número de operários aumentará o que, unido à deterioração de suas condições de vida, conduzirá à revolução.
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A revolução terá como objetivo conseguir uma sociedade perfeita onde não existam nem exploradores nem explorados. Para isso será imprescindível a abolição da propriedade privada, isto é, a socialização dos meios de produção, evitando a mera substituição dos antigos proprietários por outros novos.
A ditadura do proletariado
Uma vez que a classe operaria tenha tomado consciência da exploração e opressão que sofre, se organizará entorno de partidos de caráter revolucionário, sendo dirigida por uma vanguarda especialmente capacitada e ativa, empenhada em planificar a destruição do sistema capitalista.
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Essa ação que não deveria limitar-se a um só país já que, sendo as condições e os interesses da classe trabalhadora idênticos em todo o mundo capitalista, deveria ser solucionada internacionalmente.
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Através da ação revolucionaria os operários devem derrubar o governo da burguesia e substituí-lo por um de caráter proletário. Isso pode requerer o uso da violência, pois os trabalhadores se encontram em oposição da classe dominante (¹).
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Uma vez conseguido o controle do Estado será necessário salvaguardar as conquistas realizadas mediante o exercício de uma ditadura dos trabalhadores (²), constituindo este o primeiro passo para a construção de uma sociedade comunista sem classes.
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O novo Estado que surge da revolução deverá suprimir a propriedade privada dos meios de produção (elemento primordial na exploração da classe operaria) e substituí-la pela propriedade coletiva.
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A tese da ditadura do proletariado tem sido uma das mais controvertidas do marxismo, já que implica na conquista de uma das chaves da superestrutura social: o Estado. O modo de consegui-lo tem sido criticado por alguns autores posteriores a Marx, chamados pelos marxistas clássicos de revisionistas.
A sociedade sem classes
Uma vez consolidado o novo Estado, o peso deste tenderá a diminuir até desaparecer, pois ao haver desaparecido as ameaças que posavam sobre ele, o aparato opressor deixará de ter sentido e cada individuo trabalhará voluntariamente em beneficio da comunidade.
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As relações de produção se terão transformado e os meios de produção não estarão concentrados nas mãos de uma minoria, pois que serão coletivos. Por tanto, já não haverá nem opressores nem oprimidos, tão somente uma classe social, a trabalhadora. Em seu seio reinará a solidariedade e a harmonia entre homem e trabalho, este já não será fonte de sofrimento e desequilíbrio. Dissipar-se-ão por isso mesmo as diferenças entre campo e cidade, entre trabalho manual e intelectual. Em suma, se terá alcançado uma espécie de paraíso na terra, o da sociedade comunista.
(¹) A colocação pode parecer um tanto forte, mas não é também uma violência a exploração sem limites da classe operária por parte da burguesia? A operária que não pode ficar cuidando filho doente sob pena de demissão, não é uma violência? E o salário de fome, não será uma violência? (NT)
(²) O termo “ditadura dos trabalhadores” é utilizado em contraposição à “ditadura da burguesia” que rege a sociedade capitalista. (NT)
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Original em Tribuna Popular
Tradução Rosalvo Maciel
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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
A lição da RBS
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Dentre os trabalhadores da rede, havia um por quem eu tinha muita ternura. Não vou aqui dizer o seu nome, mas ele atuava na área da engenharia. Era um pouco assim como eu. A empresa era sua primeira pele. Tudo fazia por ela e os colegas diziam que ele tinha trabalhado com Maurício (o criador da RBS) desde os tempos de Passo Fundo. Amava a RBS mais que a si mesmo, mas era totalmente puxa-saco. Como ele vinha muito à Caxias a gente sempre conversava muito e eu, espevitada, me irritava um pouco com aquilo. A gente brigava.
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Naqueles dias de 1983 eu já incursionava pelas reuniões de sindicato da cidade, por conta das reportagens e admirava uma mulher, presidente do sindicato dos gráficos, que iniciava a construção do Partido dos Trabalhadores por lá. Foi quando comecei a me enredar nestas coisas da política e a perceber que as empresas capitalistas existem para sugar o sangue dos trabalhadores. Comecei a observar melhor minha relação com a RBS. Entrei para o sindicato dos radialistas e passei a exercer a função de delegada sindical. Tudo mudou pra mim e nas conversas que eu tinha com esse amigo, ele me dizia: “Olha, tu deixa isso pra lá, tu vai te queimar. A empresa te dá um pé na bunda. Larga de política e vai trabalhar”. Óbvio que não larguei, ao contrário, e quem me incentivou a mergulhar nisso foi a própria RBS.
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Ocorre que esse meu amigo estava para se aposentar. Ele fazia planos, mas sofria por se saber fora daquele lugar que era a sua vida. E a gente falava muito sobre isso. Então, um dia, sem mais, nem porquê, nos chegou a notícia: o companheiro havia sido demitido. Tinha mais de 25 anos na empresa, a um passo da aposentadoria. Ficou sem eira nem beira, no chão. A RBS era seu mundo. Estava acabado. Cheguei a vê-lo meses depois, um homem arruinado. Então, na aurora do despertar da minha consciência de classe eu percebi: quando a gente vende a força de trabalho para uma empresa capitalista, duas coisas podem acontecer.
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1 – Tu luta, e é demitido.
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2 – Tu não luta, se esforça, defende e ama a empresa, e é demitido também.
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A empresa me ensinou. Nunca mais tive dúvidas. E desde então, onde quer que vá, estou sempre na luta, no sindicato, nos movimentos. Porque o sistema que nos oprime não tem compaixão. O grande jornalista José Martí já educava. Melhor morrer de pé que viver ajoelhado.
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No último mês de janeiro deste 2010 vários companheiros jornalistas desta mesma empresa foram demitidos. Muitos deles com mais de 15 anos de casa. Gente que deu seu sangue, sua vida pela RBS. Foram mandados embora assim, sem mais, nem menos. Talvez a empresa os considere velhos, sem criatividade e afinal, há um exército de meninos e meninas à espreita, esperando uma vaga na prima-irmã da platinada. Estes companheiros e companheiras fizeram tudo certinho, trabalharam com afinco e dedicação, raros se meteram em lutas laborais. E esta é paga. Eu aqui me solidarizo com estes companheiros, por quem tenho profundo respeito e admiração. Posso imaginar a dor e a perplexidade, assim como senti naquele longínquo amigo.
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Então escrevo essas linhas, para lembrar aos jovens esta triste lição: o trabalho duro e comprometido junto às empresas capitalistas não nos garante qualquer compaixão. Neste sistema perverso só a luta coletiva nos leva a conquistas de vida digna. Só a luta solidária nos aproxima e nos irmana na busca de um mundo novo. Estarmos juntos e em comunhão é nossa única opção contra a rapina do capital!
Elaine Tavares é jornalista.
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Original em Brasil de Fato
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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Força de vontade, a falácia capitalista
Para ser eficaz, a ideologia de dominação capitalista deve impregnar o sujeito dominado, contaminá-lo com suas premissas e torná-lo um de seus divulgadores. Para isto é vital que este sujeito sinta-se incluído no seleto rol dos que merecerão alguma recompensa, que o fará distinguir-se dos demais.
Por isto o capitalismo produz seus mitos. Talvez um dos piores e mais cruéis, a nefasta teoria da força de vontade. Segundo este dogma basta querer e trabalhar muito e qualquer um pode tornar-se rico, realizar seus sonhos, entrar no pequeno círculo dos poderosos. A saída é individual; as chances são para os melhores. Quem já participou de algum workshop de vendas quase se convenceu que, vendendo cabides inteligentes, descascadores de ovos ou assinaturas de revistas, pode, em curto prazo, tornar-se um empreendedor de sucesso e enriquecer. É só força de vontade: O capitalismo é o sistema onde quem quer, consegue, dizem eles.
Aqui não se fala em fortunas seculares e acumuladas as custas de exploração e sacrifício de trabalhadores, de heranças indecentemente não tributadas, de especulação financeira. Pessoas com força de vontade não prescindem de dinheiro familiar, nem privilégios: trabalham e constroem suas próprias fortunas, tendo como ponto de partida a premissa da sociedade de chances, maior esforço e talento nato. Alguns, segundo eles, nascem para a riqueza, outros para o trabalho. Como se alguém tivesse vocação nata para ser explorado. E os (milhões) que não alcançam o sucesso, afinal, podem sempre contentar-se em ser pobres, porém felizes.
A força de vontade como panacéia universal encontra terreno fértil no neoliberalismo dos dias atuais, quando depois de toda a luta do movimento sindical para reduzir a jornada, o trabalho a mais é vendido como alternativa para aumentar os ganhos e impulsionar carreiras. Com a precarização do trabalho e burlando a legislação vigente, os trabalhadores transformados em colaboradores dedicam horas a mais sem remuneração, já que se sentem parte integrante da engrenagem. E é justamente nestas empresas que se verifica a maior incidência dos casos de assédio moral, capazes de levar os trabalhadores da depressão ao suicídio.
A força de vontade, porém, cria outras exigências: Ela deve excluir do trabalhador seu sentimento de classe, transformá-lo num aspirante a executivo, um crítico contundente às entidades de classe e a sentimentos para eles piegas, como solidariedade. O bom futuro capitalista não deve envolver-se em política, ou caso isto ocorra, deve encarar este contato como possível carreira, como se políticos fossem todos ou corruptos ou fonte inesgotável de favores pessoais. Deve tratar algum favor pessoal prestado por ele aos superiores como uma oportunidade de reconhecimento e demonstração de sua boa vontade. Outros trabalhadores são seus concorrentes, e, na medida do possível, devem ser deixados para trás.
Força de vontade, segundo o capitalismo, é o que falta aos moradores de rua, aos desempregados, aos excluídos. Quem tem força de vontade não precisa nem mesmo de cotas para entrar na universidade. Prisões estão lotadas de seres sem... força de vontade. Força de vontade supera a falta de boas escolas, de boa alimentação ao longo da vida, assistência médica de qualidade. Força de vontade não leva em consideração nem mesmo a lógica dos cálculos que atestam falta de vagas, a precariedade dos empregos, a concentração de renda, ou seja, a impossibilidade de atender a todas as demandas criadas pelo capitalismo.
Enquanto lutamos pela redução da jornada, por condições de trabalho, pela solidariedade entre trabalhadores, por políticas inclusivas, vemos cada dia mais trabalhadores, geralmente os mais jovens, caírem no engodo da saída individual, de necessidades criadas que lhes consomem o salário do mês, da falácia de um dia tornar-se um dos vencedores. Mas a triste realidade para eles é que o máximo atingido em suas carreiras é algum posto de chefete, trabalhando horas a mais sem nada ganhar por isto, fazendo o papel de feitor moderno, oprimindo seus iguais enquanto sonha com a grande chance que o imperialismo nunca vai lhe conceder.
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
TEORIA MARXISTA
O Capitalismo e a Natureza
Abordar as «alterações climáticas» deve (…) ser uma tarefa de capital importância desde que desvendemos desde já as «armadilhas ideológicas» que estão montadas na tese catastrofista e da sua origem antropogênica. A encruzilhada em que a Humanidade se encontra é a que resulta das limitações históricas do capitalismo e que serão apenas solucionadas pelo poder criativo dos homens e das mulheres, superando a forma de organização social, econômica e política do capitalismo e capitalizando todos os meios já hoje disponíveis e os que mais possamos desenvolver no caminho da luta para substituir o capitalismo pelo socialismo, rumo ao comunismo”.
Miguel Tiago*
A Natureza é o substrato do desenvolvimento e o meio em que se desenvolve a luta de classes. É também na relação com os recursos naturais que se trava uma disputa de interesses de classe antagônicos, na medida em que a utilização desses recursos é uma base fundamental da construção da sociedade humana.
A atual fase do capitalismo, de evidente aproximação dos seus limites históricos, tem agravado os impactos da exploração capitalista também no quadro da relação entre as sociedades e a Natureza. A apropriação da produção é acompanhada por uma apropriação direta dos recursos, mercantilizando mesmo os bens ambientais, o que bem demonstra o caráter predatório do sistema capitalista e a urgente necessidade de o ultrapassar, na medida em que a Natureza contém o conjunto de recursos finitos que são fundamentais para o desenvolvimento integrado da Humanidade. O seu esgotamento, ou destruição têm implicações diretas sobretudo nas camadas trabalhadoras, tendo em conta a elitização galopante do acesso à qualidade de vida e ambiental. A luta dos trabalhadores e dos comunistas é, por isso mesmo, também uma luta em defesa da preservação e da gestão racional dos recursos naturais, subordinando a sua gestão aos interesses comuns e não à acumulação de lucros.
A atual campanha mediática e política em torno das preocupações ambientais não deve pois passar ao lado das preocupações do Partido, numa abordagem crítica e transformadora. Um dos eixos principais daquilo a que a Resolução Política do XVIII Congresso do PCP descreve como o «dogma ambientalista» é a campanha política em torno das «alterações climáticas». Significará essa nossa análise uma secundarização das preocupações ambientais? Antes pelo contrário, a desmistificação desse «dogma» é a única forma de intervir realmente sobre os problemas que cada vez mais se agudizam na relação capitalismo – Natureza. Esses problemas, traduzidos na dilapidação dos recursos e no conseqüente empobrecimento das camadas trabalhadoras que deles dependem direta ou indiretamente, são fruto de características intrínsecas ao funcionamento do sistema capitalista. Decorre da lei da baixa tendencial da taxa de lucro e das suas contradições internas, a necessidade de o capital [1] continuar permanentemente o seu esforço de expansão – o que é bem sintetizado por Engels quando afirma «[O capital] tem de permanecer em crescimento e expansão, ou terá de morrer.» [2], permitindo assim a continuidade da sua força motriz: a taxa de lucro. Isso tem implicações muito concretas na gestão de recursos naturais e na sua apropriação, sendo que são, em grande medida, a fonte de toda a matéria-prima ou elementos fundamentais à vida de todos os seres humanos. Nesse caminho de crescimento e acumulação, os bens ambientais tornaram-se mercadorias à luz da perspectiva da classe dominante.
É neste quadro que se torna decisiva a inclusão das questões ambientais na luta de massas e na luta dos trabalhadores. No atual cenário de crise global da economia capitalista, o próprio sistema é confrontado com um momento de decisões críticas em torno dos paradigmas produtivos, econômicos e financeiros que sustentam o capitalismo na sua fase de desenvolvimento atual. Depois de ampla e claramente falhada qualquer conseqüência positiva visível do Protocolo de Quioto, seria de esperar uma reavaliação dos instrumentos de intervenção por parte dos organismos internacionais, nomeadamente da Convenção Quadro para as Alterações Climáticas (UNFCCC), organismo das Nações Unidas. Ao invés disso, a Conferência das Partes dessa Convenção em Copenhagen assume-se como a clara sucessora de Quioto e Bali, mantendo precisamente os mesmos instrumentos, e centrando a intervenção das sociedades humanas nos aspectos meramente financeiros, sem assumir e, mais grave ainda, mascarando a necessidade urgente de proceder a profundas transformações de natureza anticapitalista.
É certo que após a explosão da crise econômica e estrutural do capitalismo, muitos são os que falam de «novo paradigma» e de «maior intervenção e regulação» do Sistema, acompanhados dos que supostamente promovem o «novo paradigma energético». No entanto, é revelador que sejam esses os primeiros a dogmatizar o funcionamento da economia capitalista como ponto de partida para qualquer «novo paradigma». Na esteira dos ensaios em torno de «sustentabilidade», «desenvolvimento sustentável» (ver Relatório Brundtland [3]), surgem as novas diversões ideológicas do sistema capitalista orientadas no essencial sempre pelo mesmo objetivo central: permitir a continuidade e aprofundamento da apropriação de mais-valias através da exploração do Trabalho. O equilíbrio em que o capital vai jogando estes novos «trunfos» da ofensiva ideológica é, porém, cada vez mais instável, tendo em conta as flagrantes assimetrias na distribuição dos benefícios tecnológicos, dos recursos naturais e da riqueza produzida.
Chegados a este ponto da História, dos seres humanos e do planeta, torna-se evidente a necessidade de harmonização entre as atividades humanas e a dinâmica da Natureza mas, ainda assim, muitas dúvidas, nomeadamente científicas, persistem sobre as formas e a extensão das influências de cada uma das atividades humanas na Natureza e, particularmente, no clima, sobre o qual recai grande parte do arsenal ideológico do capitalismo. Nesta sua fase de desenvolvimento, no limiar desse «novo paradigma econômico e energético», importa essencialmente desmontar as suas contradições inerentes.
No seguimento do Protocolo de Quioto, da criação dos mercados de licenças de emissão de Gases com Efeito Estufa (GEE), das negociações internacionais, surgem novas ofensivas globais que visam essencialmente apropriar a Natureza e o Meio Ambiente como mercadoria e filão de negócios absolutamente incomensuráveis, por um lado e servir de argumento para-científico de chantagem e de diversão ideológica, por outro. O sistema capitalista busca agora em cenários de alterações climáticas (depois de «aquecimento global» se ter revelado um termo equívoco) o elemento de distração sobre os reais problemas que se colocam no plano político e econômico-social. A solução para os problemas da relação entre o ser humano e a Natureza não reside em alterações de fachada no sistema, mas sim na ruptura radical com o próprio funcionamento do sistema, superando-o historicamente.
A comunicação social tem desempenhado um papel fundamental na difusão de um dogma ambientalista que, não funcionando como argumento em si mesmo, é revelador das pressões que existem para a criação de uma cultura supostamente científica em torno de um alarmismo e histeria que é contraditada por dúvidas e outros estudos científicos convenientemente escondidos pela comunicação social dominante. É importante ter a consciência de que a Investigação Científica é também um processo social, sujeito a instrumentalização pela classe dominante. Não é descartável o fato de existirem estudos diversos que não reconhecem existência de relação causa-efeito entre a concentração atmosférica de CO2 e a temperatura à superfície da Terra, da mesma forma que devemos ter presente a evidência segura de muitas variações climáticas ao longo da história do planeta, determinadas por fatores muito diversos. No que toca ao Ártico, por exemplo, o atual alarmismo deve ser questionado quando olhamos para a série de dados que retrata os mínimos de área de mar gelado e verificamos que não existe uma tendência tão alarmante quanto isso, sendo que o mínimo de 2007 (cerca de 4.200.000 km2) é bem inferior ao mínimo de 2009 (5.249.844 km2)[4]. Na verdade, muitos outros dados apontam para uma variabilidade climática do planeta muito significativa ao longo da sua história de mais de 4,6 mil milhões de anos, sem qualquer ligação que comprove dependência relativa às concentrações de CO2.
A climatologia e a paleo-climatologia não são propriamente ciências simplistas como se tem vindo a tentar fazer crer e não se compadecem com modelações baseadas em «regras de três simples» tão elementares quanto as que deram origem à tese ultrapassada do aquecimento global em «hockey-stick» (a primeira hipótese de subida de temperatura quase como se fosse diretamente proporcional às concentrações atmosféricas de CO2). É também urgente denunciar que, ao contrário do que se assume muitas vezes publicamente, o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) – ainda que constituído por uma vasta rede de investigadores – não é um organismo científico, mas político, do qual não resultam necessariamente conclusões científicas na verdadeira acepção do conceito, ou seja, os relatórios finais do IPCC não são alvo de avaliação independente nem sujeitos a confronto em testes experimentais, como se exige a qualquer trabalho científico para ser validado.
A mercantilização dos bens ambientais, a diversão ideológica, o branqueamento das responsabilidades de classe são todos efeitos diretos da histeria de massas que se pretende agudizar com a generalização do «dogma».
É, por exemplo, paradoxal que mesmo quando os custos de produção energética são menores cresçam os seus custos finais. Essa relação entre custos de produção e preço revela bem o inquantificável aumento de lucro que as companhias de produção energética obtêm da chantagem ambientalista, importante componente desse aumento de preço, aliada obviamente à pressão especulativa que controla todo o mercado dos combustíveis fósseis com repercussões nos custos da produção e distribuição de energia final. A alteração de «paradigma econômico e energético» de que a classe dominante tanto fala é, no essencial, resumida a um conjunto de alterações na produção, mas mantendo perfeitamente intocada a matriz que reside, não na produção mas na organização e posse dos meios de produção, ou seja, no modo de produção. O que está hoje em causa é mais do que saber se a energia pode ou não ser obtida de fontes renováveis e limpas, mas sim até que ponto o capital se apropria da produção energética proveniente dessas fontes. O grau de apropriação capitalista determinará o grau de utilização dessas fontes e dessas tecnologias e é essa barreira que os trabalhadores de todo o mundo devem vencer, sob pena de subsistir, não apenas a injustiça inerente à exploração capitalista, mas também a dilapidação da Natureza e dos seus recursos na medida em que constituem, não recursos econômicos comuns, mas apenas mercadorias a valorizar e a gerar lucro.
O mecanismo subjacente ao Protocolo de Quioto e, ao que tudo indica, ao futuro de Copenhagen está longe de ser uma solução para a diminuição da emissão de GEE, mas poderá vir a ser, sem dúvida, um dos mais importantes mercados da atualidade, na medida em que a bolsa de carbono poderá representar a curto prazo um mercado de mais de 700 mil milhões de dólares. Não podemos ignorar que a constituição de uma bolsa de licenças de emissão significa a transferência de riqueza entre diferentes sectores sociais e produtivos, bem como o aumento dos custos do consumo da energia, através da transferência de custos em torno de mecanismos não produtivos (como a transação em bolsa de licenças de emissões) para o consumidor.
Com esta política, não só se escamoteiam as reais responsabilidades de classe, como se dão os primeiros passos para a privatização dos recursos atmosféricos, como é o ar que respiramos. É absolutamente inaceitável que a resposta a uma hipotética influência antropogênica no clima seja resolvida com a privatização da atmosfera. Com essa estratégia o capital também encobre os mais graves impactos da poluição atmosférica, que são bastante mais vastos que os que se crêem existir sobre o clima, nomeadamente no que toca à saúde, aos equilíbrios ecológicos, à qualidade das águas e do ar. Pretende a classe dominante que se ignore que o uso dos solos, as impermeabilizações, os desmatamentos, a desertificação, são causas muito significativas no que toca às transferências de calor entre atmosfera, geosfera e Sol, assim contribuindo também para a agudização de fenômenos climáticos extremos.
Abordar as «alterações climáticas» deve, da nossa parte, ser uma tarefa de capital importância desde que desvendemos desde já as «armadilhas ideológicas» que estão montadas na tese catastrofista e da sua origem antropogênica.
A encruzilhada em que a Humanidade se encontra é a que resulta das limitações históricas do capitalismo e que serão apenas solucionadas pelo poder criativo dos homens e das mulheres, superando a forma de organização social, econômica e política do capitalismo e capitalizando todos os meios já hoje disponíveis e os que mais possamos desenvolver no caminho da luta para substituir o capitalismo pelo socialismo, rumo ao comunismo. Não será outra senão essa a resposta que os trabalhadores poderão dar aos grandes problemas que hoje se nos colocam. É essencial, pois, colocar a discussão da relação da Humanidade com a Natureza no espaço a que pertence: no espaço da luta de classes e da disputa do poder político e da posse dos bens e recursos naturais, com a plena consciência de que só o socialismo poderá criar as condições para a construção de uma relação harmoniosa entre a Humanidade e a Natureza.
Notas:
(1) Marx, Karl – O Capital, Vol. III, Livro III, Capítulo XV.
(2) Engels, Friederich - Prefácio à Segunda Edição Alemã (1892) de «A situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra» (1845).
(3) Relatório da ONU, sob o título «O Nosso Futuro Comum, onde se define pela primeira vez o conceito de «desenvolvimento sustentável».
(4) De acordo com os dados IARC (International Arctic Research Center) - JAXA (Japanese Aeorospace Exploration Agency), com análise de dados no IJIS (sistema de computação da IARC-JAXA), disponíveis em e
http://www.ijis.iarc.uaf.edu/en/home/seaice_extent.htm
* Membro da Comissão Política da Direção Nacional da JCP e deputado do PCP à Assembléia da República
Este texto foi publicado em “O Militante” nº 304 de Janeiro-Fevereiro de 2010.
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