Além do Cidadão Kane

sábado, 17 de julho de 2010

Serristas querem cassar a cidadania de Lula e do povo

Carlos Lopes
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Citação justa e curta do presidente sobre o papel da sua ex-ministra da Casa Civil no projeto do trem-bala foi motivo para estranhos alaridos

A atual campanha eleitoral nem bem começou e, se outros méritos não tivesse, já teria o de expor à luz do sol alguns ratos da República, pequenos e repugnantes animais de recessos escuros e cafuas tenebrosas, que não se conformam quando não podem roer à vontade, impunemente, sem limites, a nação e aquilo que é do povo.

O leitor pensa que estamos exagerando? Veja-se, então, o charivari de guinchos estridentes, na terça e na quarta-feira, porque Lula pronunciou o nome da candidata Dilma Rousseff durante o lançamento do edital para a construção do TAV, também conhecido como trem-bala.

Dilma teve um papel central na consecução desse projeto. Portanto, Lula lembrou esse papel. Em discurso com 7 laudas e 190 linhas de texto, dedicou 5 linhas à Dilma: “... eu não posso deixar de dizer, aqui, que nós devemos o sucesso disto tudo que a gente está comemorando a uma mulher. Eu, na verdade, nem poderia falar o nome dela porque tem um processo eleitoral, mas a história a gente também não pode esconder por causa de eleição. A verdade é que a companheira Dilma Rousseff assumiu a responsabilidade de fazer esse TAV, e foi ela que cuidou, junto com a Miriam Belchior, junto com a Erenice”.

Tudo isso é inteiramente verdade. A única coisa que chama realmente a atenção é que o presidente, apesar de saber-se no seu direito, sabia também com quem estava lidando – daí sua rápida consideração de que “eu, na verdade, nem poderia falar o nome dela”. Trata-se de uma referência ao que os chicaneiros gostariam de fazer, ao clima que Lula sabia que eles tentariam fabricar, não um reconhecimento de que estava fazendo qualquer coisa errada – caso contrário, não falaria em Dilma.

Nisso, também, o presidente estava certo. O escândalo forjado nas manchetes garrafais do dia seguinte induzia leitores e telespectadores a achar que Lula tinha pronunciado uma arenga infinita e despropositada sobre Dilma. Não foi isso o que aconteceu, mas uma citação perfeitamente adequada – e, antes de tudo, justa - sobre o trabalho administrativo competente de sua principal auxiliar no governo.

Em suma, a questão é a seguinte: já que não conseguem ganhar a eleição fazendo campanha, os ratos da República querem proibir o presidente mais popular da História do Brasil de existir. Querem que ele seja o único cidadão do país proibido de manifestar a sua opinião, querem, inclusive, determinar o que ele pode ou não falar nas cerimônias oficiais – aliás, qual a cerimônia onde o presidente da República está presente que não se transforma em cerimônia oficial?

Porém, não se trata de saber o que é oficial e o que não é. O presidente tem direito a se manifestar onde quer que esteja, assim como qualquer um. Caso contrário, estaria estabelecida uma original legislação restringindo a liberdade de apenas um entre todos os brasileiros – e com nome, Luiz Inácio Lula da Silva, pois ninguém se lembrou de tal dispositivo na época de qualquer outro presidente, muito menos o protetor de Serra, Fernando Henrique Cardoso.

Essa rataria diz o que quer através de suas dezenas de jornais, TVs, rádios, etc., etc. & etc. Aliás, dizem até o que, de acordo com a lei, não podem dizer: insultam, afrontam, difamam, caluniam, enfim, mentem o tempo todo sem que nada lhes aconteça, fazem campanha o tempo todo, estejamos ou não em período eleitoral, pregam o golpe sem nenhum pudor ou mínimo traço de vergonha, usam concessões públicas, como são os canais de TV e rádios, em proveito de mesquinhos interesses políticos particulares.

Mas Lula não pode nem mencionar, mesmo de passagem, o nome de Dilma, que despejam uma enxurrada de imbecilidades sobre o público. O presidente não tem o dinheiro que eles têm, nem os bancos e multinacionais que os sustentam. O presidente tem apenas a sua voz, a sua opinião, a sua recusa a se submeter a esses ratos.

É risível que seu candidato venha falar em “uso da máquina”, logo ele, que se especializou em pedir por telefone a cabeça de jornalistas – ou em demiti-los diretamente, como na TV Cultura de São Paulo – quando suas opiniões não lhe agradam em alguma coisa, mesmo que seja mínima.

Evidentemente, se Lula tivesse elogiado Serra, nenhum desses ratos teria nada contra, nem o próprio. Não há neste país quem tenha dúvidas sobre qual seria a reação deles.

Logo, o que querem é que a lei seja diferente para uns e para outros. Que ela sirva para proibir Lula de falar em Dilma, e a proibição seja só para que Lula não fale em Dilma. Seria o único brasileiro a ter seu direito de expressão coibido.

No entanto, Lula é, no momento, a condensação do povo brasileiro. O que querem, portanto, é que a liberdade de todos seja restrita e só a deles seja ilimitada, infinita, sem qualquer trilho que a torne compatível com toda a sociedade, com toda a coletividade.

Se o leitor notou o parentesco desta descrição com aquela que os psiquiatras fazem dos psicopatas, ou sociopatas, ou personalidades antissociais, tem toda a razão. É essa a essência e a função dessa súcia: a de elementos antissociais. Se o leitor notou a parecença com o nazismo, também tem toda a razão.

Mas não é ruim que eles exponham tão explicitamente o seu caráter fascistóide ou a sua falta de caráter (na verdade, é a mesma coisa), para que o povo os conheça melhor ainda do que já os conhece. Não se limpa uma nação sem conhecer a sujeira que tem de ser varrida. Para Serra, tais tentativas são mais um prego cravado em seu caixão político.

No Brasil, o leitor sabe, existem há muito esses ratos da República. Nos melhores momentos de nossa história, eles tiveram menos espaço fora de seus esgotos natalícios. Mas nunca estiveram tão soltos, nunca proliferaram tanto, quanto no governo que teve o atual candidato do PSDB como principal ministro e herdeiro. São, antes de tudo, ratos submissos, sempre oferecendo serviços aos gatos de fora.

O presidente Lula tem razão: “não se pode esconder a história por causa da eleição”. Aliás, a campanha eleitoral é um momento privilegiado para resgatar a história. Lula não tem nenhuma culpa se Serra não fez nada que fosse digno de menção positiva. No caso do trem-bala, aliás, ele só serviu para atrapalhar, embora não tenha conseguido.

Original em Hora do Povo
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