Além do Cidadão Kane

domingo, 4 de julho de 2010

Sobre o óleo derramado

Plataforma da British Petroleum (BP), que explodiu há 70 dias, chega a liberar 2,5 milhões de litros de óleo por dia no oceano

Clarissa Pont

Um dos maiores desastres ecológicos da história americana está há 70 dias sem solução. A plataforma da empresa British Petroleum (BP), que explodiu no Golfo do México e matou 11 trabalhadores, chega a liberar 2,5 milhões de litros de óleo por dia no oceano. Fauna e flora marítimas da região foram devastadas e algumas espécies nativas podem ser extintas. De acordo com o Departamento de Vida Silvestre e Pesca da Louisiana, nos Estados Unidos, estão ameaçadas 445 espécies de peixes, 134 de pássaros, 45 de mamíferos e 32 de répteis e anfíbios.

Milhares de pessoas tiveram as vidas destruídas, depois da explosão da plataforma Deepwater Horizon. A British Petroleum afirma que tem trabalhado dia e noite para estancar o vazamento. No entanto, foi anunciada esta semana, pela comunidade internacional de pesquisas colaborativas InnoCentive, que a petroleira acaba de recusar um documento com 908 possíveis soluções fornecidas pela comunidade de cientistas, engenheiros e médicos do mundo todo. Além disso, a BP é acusada de ter sido negligente e mentir sobre a extensão da tragédia.

A explosão na plataforma de petróleo aconteceu em 20 de abril e não tem data para ser contida. O custo de limpeza do acidente já alcançou os US$ 2,650 bilhões, informou a petroleira nesta segunda-feira (29) em seu site. O valor inclui as operações técnicas para conter o vazamento, assim como as indenizações aos estados do Golfo do México, nem todas pagas. A despesa média nos últimos três dias de trabalho foi de US$ 100 mil, a maior despesa diária desde o acidente. A BP recebeu mais de 80 mil pedidos de pagamentos e indenizações, dos quais atendeu 41 mil.

A pior das notícias é que, enquanto você lê esta matéria, a poluição causada pelo vazamento de petróleo e gás do poço da plataforma da British Petroleum está se espalhando por meio de colunas abaixo da superfície do mar, o que representa um perigo ainda maior para a vida marinha na região. Segundo Samantha Joye, da Universidade da Geórgia, as concentrações de metano da coluna que sai diretamente do poço são até 10 mil vezes maiores do que as normalmente encontradas em desastre deste tipo, com conseqüências ainda não sabidas sobre a fauna local. Algumas partes do Golfo do México já são consideradas "zonas mortas" devido à poluição. As informações são da Universidade Nacional de Brasília (UnB).

“É uma infusão de óleo e gás nunca vista antes, certamente não ao longo da História humana”, disse Joye, acrescentando que só esta coluna tem mais de 24 quilômetros de comprimento. Outra má notícia: é bem provável que continue jorrando petróleo do vazamento durante os próximos dois anos ou mais, se as tentativas de conter a tragédia continuarem falhando. As estimativas são baseadas em novos dados fornecidos pelo executivo-chefe da British Petroleum, Tony Hayward, durante sete horas de depoimento ao Congresso estadunidense na última quinta-feira (24).

Atualmente, trabalham na limpeza do acidente 39 mil pessoas, ajudadas por 5 mil cargueiros e 110 aviões. As altas ondas causadas pela tempestade tropical Alex devem atrasar os planos de aumentar a capacidade de bombeamento do petróleo. A informação é de Kent Wells, vice-presidente de exploração e produção da BP.

Apesar de todos os indicativos, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tentou diminuir, nesta segunda-feira (29), a importância do vazamento de combustível. "Não viemos aqui para condenar a BP pelo incidente", afirmou em Bruxelas o secretário-geral da Opep, Abdalla Salem El-Badri, ao término de seu encontro anual com a União Européia. Acrescentou que é necessário esperar pela conclusão das investigações para determinar se o vazamento foi um erro humano ou uma falha no desenho da plataforma.

Silêncio ensurdecedor

Pessoas interessadas em auxiliar na busca de uma solução não faltam. Além das incontáveis organizações ambientais que estão atuando de forma voluntária na região do acidente, a BP recebeu na semana passada quase mil idéias propostas por uma rede global de especialistas, a InnoCentive. Desde 2006, a rede internacional de pesquisa colaborativa oferece desafios patrocinados para seus mais de 200 mil "solucionadores". O grupo já resolveu questões complicadas para organizações como a NASA. Da prevenção da tuberculose à limpeza de outro derramamento de petróleo, no Alasca, os pesquisadores já desenvolveram todo tipo de solução. Uma das sugestões indica técnicas inspiradas na angioplastia para o desastre natural.

Quando o desafio foi lançado na InnoCentive, em 30 de abril, a rede testemunhou a resposta mais rápida da história da empresa. Dwayne Spradlin se diz especialmente emocionado com a resposta, porque foi o primeiro problema lançado sem que fosse oferecido patrocínio. "Este é o primeiro desafio que emitimos sem nenhum incentivo em dinheiro", desse Spradlin no site da InnoCentive. "Mais de mil solucionadores registrados alinharam uma enxurrada de telefonemas, e-mails e pacotes via correio contendo diagramas e amostras de materiais alternativos”, conta.

No início de junho, a InnoCentive conseguiu conectar a BP, que parecia interessada na ajuda para desenvolver sensores remotos de petróleo e melhores tecnologias de coletagem. "Em 19 de junho, a BP finalmente recusou a nossa ajuda alegando que seria muito complexa e onerosa. Respondemos que nossas idéias não custariam nada e, mesmo assim, a resposta da empresa foi um ensurdecedor silencio”, conta Spradlin.

(Com Agência EFE, The Guardian e Huffington Post)

Publicado em Brasil de Fato

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