Além do Cidadão Kane

segunda-feira, 18 de maio de 2009

América Latina: a ofensiva da direita

Guillermo Almeyra

Como em toda grande crise, juntamente com a radicalização de setores dos explorados e oprimidos, produz-se o recrudescimento das alas extremas da direita, que temem perder novas franjas de poder ou decidem passar à ofensiva antes que seja demasiado tarde, contando com suas forças econômicas, sociais e políticas para ganhar posições.
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Essa direita não é abertamente golpista mas sim ocasionalmente, porque a relação de forças real não lhe permite, contudo é sim "destituidora", ou seja leva a desestabilização dos seus respectivos governos e sociedades ao limite do golpe de Estado. A sua arma principal são os meios de informação, com os quais tenta reforçar a sua hegemonia político-cultural. Por isso assistimos a um golpismo midiático que se concretiza por meio da desinformação, da tergiversação dos fatos, da utilização de qualificativos sem sustentação, da sátira mal intencionada, da criação de medos à insegurança, às pandemias, à crise econômicas, as quais não seriam o resultado – era o que faltava! – do sistema capitalista e sim do "populismo" e da "ineficácia" e "corrupção" dos governos que não são simples peões do capital financeiro (como, por exemplo, o da Venezuela, o de Cuba, o da Bolívia, o do Equador e até o moderadíssimo governo da Argentina).
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Podemos ver assim como a CNN pede em écran, diretamente, a renúncia do presidente guatemalteco ao qual entrevista e tritura todos os dias, dando como certo que o presidente Álvaro Colom ordenou um assassinato e ocultando que o ódio da direita contra esse governo provem das limpezas que ordenou às forças armadas e à polícia, e das suas tímidas medidas sociais. Também podemos observar como a Globovisión exorta os militares venezuelanos a "porem as calças" contra o governo, ou como todos os media do grupo argentino Clarín especulam sobre a necessidade da renúncia da presidenta Cristina Fernández se não ganhar de forma esmagadora as eleições, e dizem que o vice-presidente já tem um gabinete formado.
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Ao mesmo tempo, aumentam as provocações, como aquelas que faz o Peru ao dar asilo político a delinqüentes e assassinos da Venezuela e da Bolívia disfarçados para o efeito de opositores "democráticos" e, apesar de todas as acusações por corrupção e cumplicidade em homicídios contra Uribe, este avança a passo acelerado na Colômbia para a preparação da sua reeleição, pisoteando a Carta Magna. Mas também a direita veste a pelo de cordeiro, como no Chile, para que se esqueçam de Pinochet e da ditadura, e avança o proprietário da LAN [1], Sebastián Piñera, como candidato a presidente da República; Calderón apresenta-se como o garante da ordem contra a delinqüência, como o demonstram as declarações de De la Madrid sobre os Salinas); a direita brasileira prepara-se para acabar com o governo de Lula, e a direita argentina a retirar dos Kirchner a maioria nas Câmaras, para submeter a julgamento político a presidente ou sabotar a sua política todos os dias.
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Piñera pode chegar a ganhar no Chile; no Uruguai é possível um segundo turno que una as direitas para deixar a Frente Ampla em minoria; nas eleições de 28 de Junho o governo argentino, com o auxílio da abstenção e dos votos em branco, pode sacar menos votos que a aliança entre a extrema direita peronista, a oligarquia latifundiária, o capital financeiro e os partidos tradicionais anti-peronistas; existe a possibilidade de que a candidata de Lula perca e a sorte do Mercosul pende por um fio perante a possibilidade concreta de governos direitistas no Uruguai, Brasil e Argentina. Os fatores determinantes desses muito possíveis retrocessos e da reanimação da direita são fundamentalmente dois: o reflexo conservador das classes médias urbanas perante a crise mundial, a queda do seu nível de vida, a insegurança social e o aumento da luta de classes e, inter-relacionado com o mesmo, a incapacidade e o caráter timorato das políticas dos governos mal chamados "progressistas", que continuam a aplicar essencialmente as mesmas políticas neoliberais dos anos noventa.
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Eles, com os Kirchner ou Lula, não foram, com efeito, capazes de mobilizar uma força própria com medidas audazes: não nacionalizaram o comércio exterior de cereais, nem fixaram políticas anti-mineração nem protegeram o ambiente e, pelo contrário, financiaram a grande indústria (que é estrangeira e está ligada à oligarquia e ao capital financeiro internacional) e não lhes tocaram nem num fio de cabelo. Só as mobilizações populares e a perspectiva de políticas de mudança podem arrastar sectores pobres das classes médias, como na Bolívia ou no Equador, ou contrapor-se à base social na classe média da direita venezuelana. A tibieza da Concertación chilena, do kirchnerismo, de Lula, convertem-se em troca na força da direita frente a governos socialmente isolados e que persistem nas políticas e concepções neoliberais que levaram ao desastre mundial. Se acrescentarmos a isto que os trabalhadores estão a dar uma resposta muito débil e desunida à utilização capitalista da crise mundial e, em geral, não puderam elaborar um projeto próprio de saída da crise, vemos também porque a direita e o capitalismo podem manter a sua hegemonia político-cultural. Mais do que nunca, é essencial travar a batalha ideológica contra os valores e os meios do capital e organizar a atividades política independente das vítimas do mesmo!
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O original encontra-se em La Jornadal
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