Além do Cidadão Kane

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Cinco motivos para a soberania argentina sobre as Malvinas

O anúncio dos trabalhos de prospecção petrolífera inglesa na placa continental das Ilhas Malvinas reacendeu o debate sobre a posse do arquipélago. O Reino Unido recusa-se a negociar com os argentinos e, apesar de descartar um conflito armado, a presidente argentina Cristina Kirchner busca o apoio internacional para pressionar a Grã-Bretanha.

Cláudia Macedo, em Opera Mundi

1 – É inadmissível haver, nos dias de hoje, um território colonial. O arquipélago malvino, chamado pelos ingleses de Falkland Islands, não é mais do que a negação do direito soberano de um povo. Quando a Inglaterra se apossou das ilhas, em 1833, a Argentina era um país recém-independente. Não tinha como enfrentar um Estado tão poderoso, ainda mais por haver uma dependência econômica em relação a ele. Contudo, desde a ocupação inglesa, o vizinho sul-americano, sistematicamente, reivindicou seus direitos sobre o território.

Alega-se que, devido ao princípio de autodeterminação dos povos, os habitantes do local deveriam escolher a que país ficar atrelados. Tenta-se demonstrar que a Inglaterra está no seu direito, apoiado pelo povo, e a Argentina tem pretensões expansionistas. Contudo, os ingleses, desde a ocupação à força, enviaram colonos para povoar as terras, negaram-se ao longo dos anos a dialogar e, dessa forma, puderam cada vez mais utilizar o argumento que compete a eles governar a região, visto que os habitantes assim o querem. É uma inversão de papéis.

Com todos os avanços promovidos na década de 1960, como os movimentos de independência das nações africanas, a consolidação internacional do princípio da não intervenção e o crescimento da participação das nações menos desenvolvidas nas instituições internacionais, como é possível ainda existirem colônias no mundo?

2 – O pleito argentino é legítimo e reconhecido pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Na Resolução 1514, de 1960, é definido o status colonial das Malvinas. Cinco anos depois, na resolução 2065, o Reino Unido e a Argentina foram convidados a negociarem sobre a posse do arquipélago. Após três anos de negociações diplomáticas secretas, a Inglaterra concordou em devolver as ilhas. Voltou atrás, entretanto. E, novamente, a Assembléia Geral formulou uma Resolução, 3160 de 1973, convidando os dois países ao diálogo.

Dessa vez, os países da região resolveram, conjuntamente, repudiar a atitude inglesa. Nesta semana, em Cancún, os 32 Estados participantes da Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe entraram em consenso para manifestar apoio oficial à reinvidicação argentina. Pode, por pertencer ao Conselho de Segurança, a Inglaterra negar-se a atender essa idéia aceita internacionalmente? Atitudes como essa apenas reforçam a necessidade de reforma dos organismos internacionais, para que se tornem mais representativos e democráticos.

3 - A situação atual é bastante diferente daquela de 1982, quando a Argentina entrou em guerra com a Grã-Bretanha em disputa pelo arquipélago. Havia um governo militar, opressor, liderado pelo general Leopoldo Fortunato Galdieri, que tentava por meio do conflito desviar a atenção dos problemas políticos internos.

Devido à “tática” de Galtieri, foram mortos 655 soldados argentinos, 255 britânicos e três malvinos. Em um pouco mais de dois meses, as forças militares do governo de Margareth Tatcher recuperaram a capital, Stanley. A presidente argentina, Cristina Kirchner, já descartou a possibilidade de um conflito armado. Continua, entretanto, a pressão para os dois países sentarem à mesa de negociações. Não há mais ameaça de guerras, o que podem os ingleses alegar para não estabelecer diálogo com os argentinos?

4 – É preciso assegurar o direito argentino aos recursos naturais da região. Devido à recusa inglesa de negociar e à falta de entendimento político, a Convenção da ONU sobre Direito do Mar (Convemar) afirmou não poder realizar uma avaliação técnica sobre o território marítimo reivindicado pela Argentina. De acordo com estudos geológicos preliminares recentes, especula-se que há mais de seis bilhões de barris de petróleo na plataforma continental das ilhas. A informação que empresas britânicas vão realizar trabalhos de prospecção no local é preocupante para todos os países sul-americanos.

Suponha-se que a situação envolvesse o Brasil, por exemplo. Em meados do século 19, a Inglaterra ocupou a Ilha da Trindade, no Oceano Sul Atlântico, no paralelo de Vitória, Espírito Santo. Após a ruptura de relações diplomáticas e forte pressão comandada pelo prestigiado imperador D. Pedro II, o Brasil conseguiu o retorno da posse sobre a região. Caso a reivindicação não tivesse sido atendida e, como nas Malvinas, houvesse um processo de ocupação de britânicos da Ilha, estariam agora os ingleses tentado apoderar-se do Pré-Sal?

5 – Inglaterra adota postura incoerente. Levem-se em consideração dois territórios: Gibraltar e Malvinas. Pelos mesmos tratados de Utrecht de 1713, ficaram estabelecidas as posses sobre essas duas regiões. A primeira, uma rocha contígua ao território espanhol, foi concedida à Inglaterra. A segunda, situada no Atlântico Sul, voltou ao domínio espanhol. Esses acordos encerraram o conflito acerca da sucessão espanhola, quando um membro da família dinástica francesa bourbônica assumiu o trono da Espanha.

Gibraltar continua pertencendo à Inglaterra. Houve, inclusive, dois plebiscitos, no qual a população confirmou seu interesse em manter seu status. As Malvinas, entretanto, foram aviltadas do domínio argentino. O que permite aos ingleses manterem apenas parte do pacto? Deve ser admitido que as regras só sejam cumpridas quando de acordo com a vontade dos poderosos?

São por esses motivos que as Ilhas Malvinas devem retornar ao controle da Argentina. Que o direito de explorar as prováveis riquezas petrolíferas deve pertencer aos argentinos. Que os países da região - inclusive o Brasil - negam-se a apoiar um domínio colonial no continente. Que não se pode admitir que continue o predomínio dos interesses de alguns países em detrimento da opinião da maioria dos povos do globo.
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*Cláudia Macedo, jornalista, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pós-graduada em História das Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Fonte: Opera Mundi.

Publicado em Vermelho

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sábado, 27 de fevereiro de 2010

NEM O PIG CONSEGUE ESCONDER (V)

Dilma cresce cinco pontos e encosta em Serra, aponta pesquisa

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Taxa de intenção de voto no governador de São Paulo recuou de 37% para 32%

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A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, cresceu cinco pontos nas pesquisas de intenção de voto de dezembro para janeiro, atingindo 28%, apontou a pesquisa Datafolha publicada na edição de domingo da Folha de S.Paulo.

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No mesmo período, a taxa de intenção de voto no governador de São Paulo, José Serra (PSDB), recuou de 37% para 32%. Com isso, a diferença entre os dois pré-candidatos recuou de 14 pontos para 4 pontos de dezembro até agora.

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Zero Hora

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Resistência hondurenha conclama solidariedade contra as perseguições, assassinatos e tortura

Em carta enviada aos chefes de Estado em 21 de fevereiro, a Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras defendeu que os países da região mantenham a pressão, não reconhecendo o governo de Porfírio Lobo, “conformado pelas pessoas que abertamente executaram e validaram o golpe de Estado”. “Ninguém em Honduras tem sido condenado pelas violações a nossos direitos, assassinatos, torturas e repressão. Prova disso é que a Corte Suprema de Justiça desculpou e liberou definitivamente de qualquer responsabilidade a cúpula militar, agente fundamental da violação a nosso Estado de Direito”, ressalta o documento.
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Conforme a Resistência, “agora mesmo, no departamento de Colón, grupos paramilitares e a policia usam a violência para privar a nossas irmãs e irmãos camponeses de seu direito à terra. Já houve assassinatos e muito provavelmente, a situação piorará”.
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Diante dessas circunstâncias, a Resistência conclama os chefes de Estado para que “mantenham sua posição de não reconhecer o regime de Porfirio Lobo Sosa, já que o mesmo é uma continuação da ditadura instalada com o Golpe de Estado e validada com um processo eleitoral ilegal e ilegítimo que não foi observado por nenhum governo, mecanismo de integração regional ou instituição com credibilidade”.
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“Condenem com energia e determinação a violação dos direitos humanos e os crimes de lesa humanidade em Honduras, exigindo o fim imediato da perseguição política e da intimidação contra os membros da Frente Nacional de Resistência Popular, crimes executados por corpos repressivos e paramilitares que devem ser desmantelados. Reconheçam a Frente como a representação legitima do povo hondurenho que busca voltar à ordem institucional e refundar o Estado para conseguir uma sociedade melhor.”
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O documento da Frente Nacional de Resistência Popular defende que os governantes “exijam que uma justiça imparcial e o devido processo sejam aplicados em todos os casos, permitindo o retorno de todo exilado político para que exerça seus direitos cidadãos como o estabelece a Constituição de Honduras”. E mais: “exijam que desapareçam da função pública os autores materiais e intelectuais do Golpe de Estado e se os julgue numa Corte Internacional, imparcial”.

Original em Hora do Povo

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Socialismo científico ou marxismo

Partindo do estudo histórico sobre a transição de umas sociedades a outras, Karl Marx e seu colaborador e amigo Federic Engels realizaram uma análise da sociedade capitalista, investigando as suas contradições e propondo os meios para sua destruição.

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O marxismo se distanciava dos postulados teóricos, reformistas, idealistas e supostamente irrealizáveis do socialismo utópico.

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A Revolução de 1848 constituiu um momento chave no desenvolvimento desta nova corrente socialista, pois, uma vez frustrada, o marxismo substituiu o socialismo utópico como corrente ideológica trabalhista dominante, elegendo-se em motor e referencial de boa parte dos movimentos revolucionários da segunda metade do século XIX y XX. Foi precisamente em 1848 quando se publicou o "Manifesto comunista”, a obra mais conhecida do marxismo.

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As idéias marxistas não se resumem a um bloco unitário, pois os escritos de Marx vêm sendo completados com o tempo e têm sido objeto de profundos estudos.

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O socialismo científico ou marxismo apresenta influencias de correntes anteriores, destacando as que precedem da filosofia alemã hegeliana (materialismo diabético), a do ideário de revolucionários como Babeuf e a de ativistas operários como Blanqui.

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Em seus escritos "Tese sobre Feuerbach" (1845), "Miséria da Filosofia" (1847), o já aludido "Manifesto Comunista" e sobre tudo "O Capital", Marx e Engels desenvolveram uma teoria na qual destacam os seguintes aspectos:

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* O materialismo histórico

* A lei da acumulação do capital

* A mais valia

* A luta de classes

* A ditadura do proletariado

* A sociedade sem classes

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O materialismo histórico

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Para o marxismo, são as circunstâncias materiais e não as idéias ou a vontade dos homens o que determinam os fatos históricos. Em tal sentido, diferencia entre infra-estrutura (a economia) e superestrutura (a organização do Estado, os aspectos políticos, jurídicos, ideológicos, o pensamento filosófico, as crenças religiosas, a produção artística, os costumes, etc.).

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Entre ambas instancias existe uma estreita relação dialética. A infra-estrutura econômica constitui a base da historia e gera umas determinadas relações de produção. As variações na infra-estrutura provocam por sua vez mudanças na superestrutura, mas não de forma mecânica automática, mas que cada instancia exerce uma peculiar influencia sobre a outra. Em longo prazo, no entanto, o papel determinante corresponderá à infra-estrutura.

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Esta dinâmica deve ser situada na ação que exerce sobre o marxismo a teoria do processo diabético de Hegel. Segundo este filósofo cada fato ou circunstancia (tese) leva em seu seio sua própria contradição (antítese). Da luta entre ambas surge uma nova realidade (síntese) que implica na superação das anteriores e que por sua vez se transforma em uma nova tese.

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A humanidade tem passado por vários estágios com diferentes estruturas e suas próprias contradições: sociedade comunitário-tribal, escravista, feudal e capitalista. Nesta última a burguesia criou algumas condições (econômicas, legais, alguns modos de vida e até a religião) que lhe permitem prosperar material e socialmente, mas as custa do proletariado. Do maior ou menor desenvolvimento do movimento operário depende que a classe trabalhadora reconheça quais são realmente seus interesses e lute por eles através da ação revolucionaria.

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A acumulação do capital

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A intensificação da exploração dos operários (aumento do ritmo de trabalho, emprego de mão de obra infantil, jornada de trabalho abusiva, etc.), permite ao capitalista incrementar seus ganhos. No entanto, os lucros se concentram em cada vez menor número de empresários devido a que uma parte destes - os menos competitivos - vão desaparecendo e engrossando as filas dos pobres, o proletariado.

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A mais valia

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Poderia definir-se como a diferença entre a riqueza produzida pelo trabalho do operário e o salário que este recebe do patrão. Essa remuneração serve para fazer frente aos gastos de alimentação, vestuário e moradia que necessita para subsistir e seguir trabalhando, mas não satisfaz o total do valor do trabalho realizado. Este fato implica no enriquecimento do capitalista, produto da apropriação de parte da atividade realizada. A mais valia seria por tanto, a parte do trabalho que o empresário deixa de pagar ao trabalhador.

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A luta de classes

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As classes sociais para o marxismo estão definidas pelas relações de produção, isto é, pela forma como os homens produzem mercadorias. No seio das relações de produção, o papel que ocupa cada individuo está determinado pela divisão do trabalho, isto é, aqueles que desenvolvem uma mesma atividade - e por tanto estão submetidos a idênticas condições - Forman uma classe social. As classes sociais são determinadas pelo lugar que ocupam no processo de produção da riqueza. Alguns a produzem e outros se apropriam de uma porção da mesma. Dessa relação não cabe esperar senão o antagonismo e a hostilidade entre explorados e exploradores. Marx y Engels.

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Ao longo da historia sempre tem havido classes colocadas frente a frente. Nas sociedades escravistas (Grécia e Roma na Antiguidade) foram antagônicos os proprietários livres e os escravos; no seio da sociedade feudal o enfrentamento se estabeleceu entre nobres e eclesiásticos por um lado e servos por outro.

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No seio da sociedade capitalista ocorre igual: a luta de classes é protagonizada pela burguesia, proprietária dos meios de produção (capital, fábricas, máquinas, transportes, etc.) e pelo proletariado que, ao dispor unicamente de sua força de trabalho, se vê obrigado a vender-la em troca de um salário que escassamente serve para satisfazer a sobrevivência.

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Os interesses de ambas as classes são antagônicos e incompatíveis e conduzirão inevitavelmente ao enfrentamento. À medida que o capitalismo vá se desenvolvendo o número de operários aumentará o que, unido à deterioração de suas condições de vida, conduzirá à revolução.

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A revolução terá como objetivo conseguir uma sociedade perfeita onde não existam nem exploradores nem explorados. Para isso será imprescindível a abolição da propriedade privada, isto é, a socialização dos meios de produção, evitando a mera substituição dos antigos proprietários por outros novos.

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A ditadura do proletariado

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Uma vez que a classe operaria tenha tomado consciência da exploração e opressão que sofre, se organizará entorno de partidos de caráter revolucionário, sendo dirigida por uma vanguarda especialmente capacitada e ativa, empenhada em planificar a destruição do sistema capitalista.

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Essa ação que não deveria limitar-se a um só país já que, sendo as condições e os interesses da classe trabalhadora idênticos em todo o mundo capitalista, deveria ser solucionada internacionalmente.

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Através da ação revolucionaria os operários devem derrubar o governo da burguesia e substituí-lo por um de caráter proletário. Isso pode requerer o uso da violência, pois os trabalhadores se encontram em oposição da classe dominante (¹).

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Uma vez conseguido o controle do Estado será necessário salvaguardar as conquistas realizadas mediante o exercício de uma ditadura dos trabalhadores (²), constituindo este o primeiro passo para a construção de uma sociedade comunista sem classes.

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O novo Estado que surge da revolução deverá suprimir a propriedade privada dos meios de produção (elemento primordial na exploração da classe operaria) e substituí-la pela propriedade coletiva.

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A tese da ditadura do proletariado tem sido uma das mais controvertidas do marxismo, já que implica na conquista de uma das chaves da superestrutura social: o Estado. O modo de consegui-lo tem sido criticado por alguns autores posteriores a Marx, chamados pelos marxistas clássicos de revisionistas.

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A sociedade sem classes

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Uma vez consolidado o novo Estado, o peso deste tenderá a diminuir até desaparecer, pois ao haver desaparecido as ameaças que posavam sobre ele, o aparato opressor deixará de ter sentido e cada individuo trabalhará voluntariamente em beneficio da comunidade.

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As relações de produção se terão transformado e os meios de produção não estarão concentrados nas mãos de uma minoria, pois que serão coletivos. Por tanto, já não haverá nem opressores nem oprimidos, tão somente uma classe social, a trabalhadora. Em seu seio reinará a solidariedade e a harmonia entre homem e trabalho, este já não será fonte de sofrimento e desequilíbrio. Dissipar-se-ão por isso mesmo as diferenças entre campo e cidade, entre trabalho manual e intelectual. Em suma, se terá alcançado uma espécie de paraíso na terra, o da sociedade comunista.

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(¹) A colocação pode parecer um tanto forte, mas não é também uma violência a exploração sem limites da classe operária por parte da burguesia? A operária que não pode ficar cuidando filho doente sob pena de demissão, não é uma violência? E o salário de fome, não será uma violência? (NT)

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(²) O termo “ditadura dos trabalhadores” é utilizado em contraposição à “ditadura da burguesia” que rege a sociedade capitalista. (NT)

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Original em Tribuna Popular

Tradução Rosalvo Maciel

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Assassinaram Claudia Brizuela membro da Frente Nacional de Resistência Hondurenha

Onda repressiva contra os lutadores hondurenhos, enquanto países pretender reconhecer o governo golpista de Porfírio Lobos
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No dia de ontem, às duas da tarde, pessoas não identificadas, chegaram à Colônia Celeo Gonzáles, ao norte desta cidade, bateram na porta onde vivia a jovem, Claudia Larissa Brizuela de 36 anos e imediatamente dispararam vários tiros causando-lhe morte instantânea.

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Este novo assassinato se dá no momento em que alguns países centro-americanos fazem gestões para que seja reconhecido o governo de Porfírio Lobos, nascido do golpe de estado e que lançou uma verdadeira caçada contra os dirigentes da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado.

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A jovem Claudia Larissa Brizuela era membro ativo da Frente Nacional de Resistência; é filha de Pedro Brizuela, um dos mais velhos militantes do Partido Comunista Hondurenho e que atualmente milita no Partido Unificação Democrática. Brizuela é colunista do diário La Prensa, ha sido histórico assessor sindical, apóia e milita ativamente no projeto da Pesquisa para a Quarta Urna, foi um dos rostos visíveis da Frente Nacional de Resistência na costa norte do país.

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Em conversa mantida com Pedro, ele manifesta que o assassinato de sua filha tem mensagem para ele e para os membros da Frente, pede que se divulgue este novo crime contra o povo hondurenho e, sobre tudo, manifesta que este é um crime covarde que demonstra a agressão sistemática por grupos terroristas que com a aquiescência do Estado estão cometendo esta escalada criminosa em Honduras.

Com o assassinato de Claudia ficam órfãos de mãe Said Meléndez Brisuela (2 anos) e Eduard Brizuela (8 anos).

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Sistemática agressão a dirigentes nos últimos dias

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São vários os dirigentes da Frente Nacional de Resistência que estão recebendo ameaças e agressões físicas diretas, por parte da polícia e de grupos paramilitares, presumivelmente importados da Colômbia.

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Antes de cometer este crime, a professora Reina Centeno, recebeu uma mensagem em seu telefone celular, onde lhe dizem “és a próxima”, esta chamada partiu do telefone (504) 87671727.

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Na terça-feira, 23, o jovem Guillermo Amador, ao sair de sua casa para o trabalho no escritório do CODEH, foi abordado por uma pessoa que começou a lhe fazer perguntas sobre sua participação na Frente Nacional de Resistência, posteriormente foi perseguido por uma motocicleta azul sem placas, como as usadas pela polícia.

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O contexto em que se dão estes assassinatos e ameaças

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Esta morte se dá em um contexto de agressão sistemática e seletiva aos membros da Frente Nacional de Resistência, a agressão está dirigida a membros do Movimento Sindical Hondurenho; o movimento sindical é atualmente uma das Forças organizadas que continua em sua luta por uma Assembléia Nacional Constituinte, a fundação da República e sobre tudo una nova Constituição. Esta agressão tem sido evidente.

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Para a agressão física do artista Hermes Reyes, membro do Movimento de Artistas em Resistência ocorrido em 12 de fevereiro deste ano, na cidade de Siguatepeque, os agressores utilizaram brocas de furadeira lesionando seriamente um de seus olhos.

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Nesse mesmo dia, na cidade de Tegucigalpa, Município do Distrito Central, foi invadida a residência do Senhor Porfírio Ponce, membro ativo do Movimento Sindical Hondurenho e da Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado, as pessoas que ingressaram a sua casa se identificaram como policiais, e destruíram parte de seus pertences, roubando-lhe o computador. A ação ficou em total impunidade.

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Outras das agressões é o seqüestro relâmpago, seguido de tortura, de Edgar Martínez fato ocorrido na quarta-feira 10 de fevereiro deste ano, na cidade de San Pedro Sula, este fato ocorreu na Colônia Cidade Planeta, no mesmo ato criminoso seqüestraram a sua esposa Carol Rivera e seus irmãos Meliza Rivera e Johan Martínez e a uma amiga deles que foram levados até a montanha El Venado, próximo ao lugar onde vivem; esta ação foi repudiada pelos vizinhos que organizaram, com mais de 40 homens, a busca sem resultados positivos.

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Somente na sexta-feira 12 que os deixaram em liberdade, todos (as) apresentavam sinais de tortura; neste vergonhoso ato, declaram pessoas próximas á família, duas das mulheres foram violadas. A família Martínez é membro ativo da Resistência Contra o Golpe de Estado.

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Dias antes foram seqüestrados os câmeras Manuel de Jesús Murillo e Ricardo Antonio Rodríguez da Globo TV e Noticiário Mi Nación, fato ocorrido no posto ESSO On the run que se encontra na entrada da Colônia El Hogar de Tegucigalpa Município do distrito Central, as duas pessoas foram barbaramente torturadas.

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O Comitê de Direitos Humanos (CODEH) lamenta a falta de diligencia de organismos regionais de diretos humanos, como a Comissão Interamericana de Diretos Humanos (CIDH), que retardam a comunicação de medidas cautelares e em alguns casos não responde com a rapidez que a situação do país requer.

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Original em Tribuna Popular

Tradução Rosalvo Maciel

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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Dalai Lama & Obama: O encontro entre dois Prêmios Nobel da mentira

Domenico Losurdo [*]

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A notícia é agora oficial. Dentro em breve o Dalai Lama será recebido por Obama na Casa Branca. O encontro entre estas duas almas gêmeas era inevitável: com vinte anos de separação entre um e outro (1989 e 2009), ambos receberam o Prêmio Nobel da Paz e ambos receberam esta distinção ad maiorem Dei gloriam ou, para mais exatidão, para a maior glória da "nação eleita" por Deus. 1989 foi o ano em que os EUA obtiveram o triunfo na guerra fria e preparavam-se para desmantelar a União Soviética, a Jugoslávia e também – como eles esperavam – a China. Nestas condições, aquele que ia ser coroado campeão da paz não podia ser senão o monge intrigante que desde há trinta anos, encorajado e financiado pela CIA, lutava para destacar da China um quarto do seu território (o Grande Tibete).

Em 2009, a situação havia mudado radicalmente: os dirigentes de Pequim haviam conseguido evitar a tragédia que se queria infligir ao seu país; ao invés de serem remetidos às décadas terríveis da China, oprimida, humilhada e muitas vezes condenada em massa à morte por inanição, à "China crucificada" de que falam os historiadores, um quinto da população mundial havia experimentado um desenvolvimento prodigioso, enquanto se verificava claramente o declínio e o descrédito que afligia a super-potência solitária que em 1989 havia acreditado ter o mundo aos seus pés. Nas condições que emergiram em 2009, o Prêmio Nobel da Paz coroava aquele que, graças à sua habilidade oratória e à sua capacidade de se apresentar como um homem novo e vindo de baixo, estava destinado a recuperar o lustro do imperialismo estadunidense.

Na realidade, o significado autêntico da presidência Obama está presente aos olhos de todos. Não há zona do mundo na qual não se tenha acentuado o militarismo e a política de guerra dos EUA. Ao Golfo Pérsico foi enviada uma f rota, equipada para neutralizar a possível resposta do Irão aos bombardeamentos selvagens que Israel prepara febrilmente graças também às armas fornecidas por Washington. Na América Latina, depois de ter encorajado ou promovido o golpe de estado em Honduras, Obama instala sete bases militares na Colômbia, relança a presença da IV frota, aproveita a urgência humanitária do Haiti (cuja gravidade é também a conseqüência da dominação neocolonial que os EUA ali exercem desde há dois séculos) para ocupar maciçamente o país: com uma deslocação de forças que é também uma forte advertência aos países latino-americanos. Na África, sob o pretexto de combater o "terrorismo", os EUA reforçam o seu dispositivo militar por todos os meios: a sua tarefa real é tornar o mais difícil possível o abastecimento de energia e matérias-primas de que a China tem necessidade, de modo a poder estrangulá-la no momento oportuno. Na própria Europa, Obama não renunciou à expansão da NATO para o Leste, e ao enfraquecimento da Rússia; as concessões são formais e visam apenas isolar a China o mais possível, o país que se arrisca a por em causa a hegemonia planetária de Washington.

Sim, é na Ásia que o caráter agressivo da nova presidência estadunidense emerge com toda clareza. Não se trata apenas do fato de que a guerra no Afeganistão foi estendida ao Paquistão, com o recurso dos aviões sem piloto (e a sua conseqüência de "danos colaterais") claramente mais maciço que na época da administração Bush júnior. É sobretudo no que se refere a Formosa que é significativo. A situação estava a melhorar nitidamente: entre a China continental e a ilha, os contactos e os intercâmbios retomavam-se e desenvolviam-se; as relações entre o Partido Comunista Chinês e o Kuomitang foram restabelecidas. Com a nova venda de armas, Obama quer atingir um objetivo bem preciso: se realmente não se pode desmantelar o grande país asiático, pelo menos é preciso impedir a reunificação pacífica.

É neste ponto que anuncia a sua chegada a Washington um velho conhecido da política de contenção e de desmantelamento da China. Eis que no momento oportuno entra de novo em cena Sua Santidade que, antes mesmo de por os pés nos EUA, benzeu à distância o mercador de canhões que tem sede na Casa Branca. Mas o Dalai Lama não é universalmente conhecido como o campeão da não-violência? Permito-me, a propósito desta manipulação refinada, remeter para um capítulo do meu livro (A não-violência. Uma história afastada do mito), que o editor Laterza (de Bari-Roma) lançará nas livrarias a 4 de Março próximo. Por enquanto limito-me a antecipar um único ponto. Obras que têm como autor ou co-autor ex-funcionários da CIA revelam uma verdade que jamais deve ser perdida de vista: a não-violência é um "écran" (screen) inventado pelo departamento dos serviços secretos estadunidenses empenhados, sobretudo, na "guerra psicológica". Graças a este écran, Sua Santidade foi mergulhado numa aura sagrada, quando desde há muito, após a sua fuga da China em 1959, ele promoveu no Tibete uma revolta armada, alimentado pelos recursos financeiros maciços, pela poderosa máquina organizadora e multi-midiática e pelo imenso arsenal estadunidense; revolta que, entretanto, fracassou por causa da falta de apoio por parte da população tibetana. Tratava-se de uma revolta armada – escrevem ainda os ex-funcionários da CIA – que permitiram aos EUA acumular experiências preciosas para as guerras na Indochina, ou seja, para guerras coloniais – sou eu que acrescento desta vez – que devem ser classificadas dentre as mais bárbaras do século XX.

Agora, o Dalai Lama e Obama encontram-se. Estava na lógica das coisas. Este encontro entre os dois Prêmios Nobel da mentira será tão afetuoso quanto pode ser um encontro entre duas personalidades ligadas entre si por afinidades efetivas. Mas ela não promete nada de bom para a causa da paz.

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[*] Ensina história da filosofia na Universidade de Urbino. Dirige desde 1988 a Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken, e é membro fundador da l' Associazione Marx XXIesimo secolo "Rievoluzione".

O original encontra-se em
Domenico Losurdo e a versão em francês em Le Grand Soir


Este artigo encontra-se em Resistir

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Colaboração da Associação José Martí - Rio Grande

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USAID financia os partidos políticos e grupos de oposição na Venezuela

Segundo o relatório anual de 2009 sobre as atividades da USAID na Venezuela, 32% dos seus fundos bilionários foram investidos em grupos estudantis e juvenis ligados à oposição. Dos 7,45 milhões de dólares entregues a grupos e projetos políticos na Venezuela em 2009, a maioria foi destinada a "promover o debate político entre os estudantes para elevar o nível do discurso sobre algumas das questões mais importantes para o povo venezuelano" e para "reforçar o uso de novas tecnologias de mídia (como o Twitter e o Facebook), melhorando o acesso à informação e permitir o debate aberto e produtivo na Internet".
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No ano passado houve uma explosão na Venezuela no que tange ao uso do Twitter e Facebook como mecanismos para promover campanhas contra o governo venezuelano e o presidente Chávez. Em setembro de 2009, foi lançada a campanha "Não mais Chávez” pelo Facebook, visando criar um sentimento exagerado a nível mundial sobre a dimensão e o potencial da oposição venezuelana. Ultimamente, o Twitter se tornou um meio dominado por jovens venezuelanos ligados à violenta oposição para promover “fontes primárias” de opiniões distorcidas sobre a realidade do país.
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Em outubro de 2009, foi fundada a Aliança dos Movimentos Juvenis, uma organização criada e patrocinada pelo Departamento de Estado que reunia as agências de Washington, os fundadores de novas tecnologias e os líderes estudantis e jovens políticos selecionados pelos EUA. Sua finalidade era combinar três setores que, juntos, criavam a “receita perfeita" para conseguir a mudança de regime em países estrategicamente importantes para Washington. Com a presença de três venezuelanos - Yon Goicoechea, Geraldine Alvarez e Rafael Delgado - fundadores do movimento estudantil de oposição, "Mãos Brancas".
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A USAID está ativa na Venezuela desde agosto de 2002, quando abriu um Escritório de Iniciativas para uma Transição (OTI, em sua sigla castelhana) em Caracas. Até está data, foram financiadas mais de 611 grupos e projetos políticos na Venezuela com mais de $ 50 milhões de dólares. Segundo os seus próprios relatórios, o financiamento tem sido dirigido a três questões específicas: o apoio a campanhas e processos eleitorais, a promoção do debate político, e incentivar a participação cidadã e a liderança democrática.
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Embora desde 2002 a USAID financie os partidos políticos e grupos de oposição na Venezuela, é no ano de 2005 que começou a apostar no movimento estudantil para formar em médio prazo uma nova liderança amigável para com os interesses de Washington. Um convênio entre a USAID e a Fundação “Educando o País", datado de 02 de Maio de 2005, teve como objetivo "a formação de estudantes e líderes juvenis”. O acordo, que concedeu cerca de 40 mil dólares para cursos de formação política para o setor estudantil, procurou também "reintegrar os jovens e os universitários na vida política da nação."
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Outros programas financiados pela USAID em 2005 foram dedicados a temas como "O papel do estudante universitário e da agenda universitária em torno da governabilidade, da democracia e da tolerância"; "O papel do movimento estudantil universitário na reconstrução e reconciliação da Venezuela”; "A construção de uma agenda comum que reflita o papel dos estudantes na política nacional" e "Fortalecimento as redes universitárias para promover a democracia"; entre outros.
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Cinco anos mais tarde, os investimentos da USAID no setor estudantil na Venezuela começam a dar frutos. Aqueles que participaram dos cursos de formação patrocinados pela USAID, ou que receberam os seus fundos para a criação de novas organizações políticas, são hoje os líderes e os dirigentes políticos da oposição, como Yon Goicoechea, Freddy Guevara e Stalin González. Alguns já conquistaram cargos políticos como conselheiros municipais, e outros são os candidatos para as próximas eleições parlamentares em Setembro de 2010. E outros seguem direcionando as atividades políticas do movimento estudantil de oposição, criando novas lideranças e ações para atrair jovens e incorporá-los em um plano de desestabilização.
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Em 2010, o orçamento da USAID na Venezuela dobrou. Agora são quase 15 milhões de dólares destinados a promover a desestabilização no país e tentar provocar uma mudança de regime favorável aos interesses dos EUA. O movimento estudantil opositor continua sendo o maior receptor dos fundos e das orientações do Norte.
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Colaboração: Associação José Martí - Rio Grande
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Discurso de Dilma abala senador tucano e colunista de Veja

Numa sessão esvaziada nesta segunda (22) no Senado, o tucano Álvaro Dias (PR) aproveitou para criticar o discurso feito por Dilma Rousseff ao ser oficializada como pré-candidata do PT à sucessão de Lula. Usou o blog do colunista da Veja Reinaldo Azevedo para afirmar que a ministra mente ao dizer que o PSDB queria privatizar a Petrobras. O tucano só ignorou que, como mentor da CPI da Petrobras, recebeu documento dos engenheiros da estatal que dá detalhes sobre a investida tucana contra a empresa.
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No trecho que irritou bastante o tucano e o colunista, a ministra não economiza criticas à política neoliberal e privatizante dos tucanos: “Aqui, o desastre só não foi maior, como em outros países, porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e conseguiram impedir a privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal ou de Furnas.”

Segundo o senador, não será através de mentira e da mistificação que conseguirão sepultar as conquistas anteriores. Em seguida, ele leu o que escreveu o colunista de Veja: “É uma mentira escandalosa afirmar que se tentou, alguma vez, privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil ou a CEF. A acusação é feita de modo covarde. Quem tentou? Cadê as evidências, os documentos, as provas, os indícios que sejam? Não há nada. há apenas terrorismo.”

Investida de FHC

As evidências já eram do conhecimento de Álvaro Dias, um dos principais mentores da CPI da Petrobras. Na época, a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) entregou a ele e os demais senadores da comissão o documento: “As 10 vezes que FHC tentou privatizar a Petrobras”. Para refrescar a memória, confira os principais pontos do manifesto:

1993 – Como ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso fez um corte de 52% no orçamento da Petrobrás previsto para o ano de 1994, sem nenhuma fundamentação ou justificativa técnica. Ele teria inviabilizado a empresa se não tivesse estourado o escândalo do orçamento, envolvendo vários parlamentares apelidados de `anões do orçamento`, no Congresso Nacional, assunto que desviou a atenção do País, fazendo com que se esquecessem da Petrobrás.

1994 – ainda como ministro da Fazenda, com a ajuda do diretor do Departamento Nacional dos Combustíveis, manipulou a estrutura de preços dos derivados do petróleo, de forma que, nos 6 últimos meses que antecederam o Plano Real, a Petrobrás teve aumentos mensais na sua parcela dos combustíveis em valores 8% abaixo da inflação. Por outro lado, o cartel internacional das distribuidoras derivados teve aumentos de 32%, acima da inflação, nas suas parcelas.

1995 – Em fevereiro, já como presidente, FHC proibiu a ida de funcionários de estatais ao Congresso Nacional para prestar informações aos parlamentares e ajudá-los a exercer seus mandatos com respaldo de informações corretas. Assim, os parlamentares ficaram reféns das manipulações da imprensa comprometida. As informações dadas aos parlamentares no governo de Itamar Franco, como dito acima, haviam impedido a revisão com um claro viés neoliberal da Constituição Federal.

Também em 1995, FHC deflagrou o contrato e a construção do Gasoduto Bolívia-Brasil, que foi o pior contrato que a Petrobrás assinou em sua história. FHC, como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, funcionou como lobista em favor do gasoduto. Como presidente, suspendeu 15 projetos de hidrelétricas em diversas fases, para tornar o gasoduto irreversível. Este fato, mais tarde, acarretaria o `apagão` no setor elétrico brasileiro.

Em 1995, o governo, faltando com o compromisso assinado com a categoria, levou os petroleiros à greve, com o firme propósito de fragilizar o sindicalismo brasileiro e a sua resistência às privatizações que pretendia fazer.

Durante a greve, uma viatura da Rede Globo de Televisão foi apreendida nas proximidades de uma refinaria, com explosivos. Provavelmente, pretendendo uma ação sabotagem que objetivava incriminar os petroleiros.

1995 – O mesmo Fernando Henrique comandou o processo de mudança constitucional para efetivar cinco alterações profundas na Constituição Federal de 1988, na sua Ordem Econômica, incluindo a quebra do monopólio Estatal do Petróleo.

As cinco mudanças:

1) Mudou o conceito de empresa nacional. A Constituição de 1988 havia estabelecido uma distinção entre empresa brasileira de capital nacional e empresa brasileira de capital estrangeiro. As empresas de capital estrangeiro só poderiam explorar o subsolo brasileiro (minérios) com até 49% das ações das companhias mineradoras. A mudança enquadrou todas as empresas como brasileiras. A partir dessa mudança, as estrangeiras passaram a poder possuir 100% das ações. Ou seja, foi escancarado o subsolo brasileiro para as multinacionais, muito mais poderosas financeiramente do que as empresas nacionais. A Companhia Brasileira de Recursos Minerais havia estimado o patrimônio de minérios estratégicos brasileiros em US$ 13 trilhões. Apenas a companhia Vale do Rio Doce detinha direitos minerários de US$ 3 trilhões. FHC vendeu essa companhia por um valor inferior a que um milésimo do valor real estimado.

2) Quebrou o monopólio da navegação de cabotagem, permitindo que navios estrangeiros navegassem pelos rios brasileiros, transportando os minérios sem qualquer controle;

3) Quebrou o monopólio das telecomunicações, para privatizar a Telebrás por um preço abaixo da metade do que havia gastado na sua melhoria nos últimos 3 anos, ao prepará-la para ser desnacionalizada. Recebeu pagamento em títulos podres e privatizou um sistema estratégico de transmissão de informações. Desmontou o Centro de Pesquisas da empresa e abortou vários projetos estratégicos em andamento como capacitor ótico, fibra ótica e TV digital;

4) Quebrou o monopólio do gás canalizado e entregou a distribuição a empresas estrangeiras. Um exemplo é a estratégica Companhia de Gás de São Paulo, a COMGÁS, que foi vendida a preço vil para a British Gas e para a Shell. Não deixou a Petrobrás participar do leilão através da sua empresa distribuidora. Mais tarde, abriu parte do gasoduto Bolívia-Brasil para essa empresa e para a Enron, com ambas pagando menos da metade da tarifa paga pela Petrobrás, uma tarifa baseada na construção do Gasoduto, enquanto que as outras pagam uma tarifa baseada na taxa de ampliação.

5) Quebrou o Monopólio Estatal do Petróleo, através de uma emenda à Constituição de 1988, retirando o parágrafo primeiro, elaborado pelo diretor da AEPET, Guaracy Correa Porto, que estudava direito e contou com a ajuda de seus professores na elaboração. O parágrafo extinto era um salvaguarda que impedia que o governo cedesse o petróleo como garantia da dívida externa do Brasil. FHC substituiu esse parágrafo por outro, permitindo que as atividades de exploração, produção, transporte, refino e importação fossem feitas por empresas estatais ou privadas. Ou seja, o monopólio poderia ser executado por várias empresas, mormente pelo cartel internacional;

1996 – Fernando Henrique enviou o Projeto de Lei que, sob as mesmas manobras citadas, se transformou na Lei 9478/97. Esta Lei contem artigos conflitantes entre si e com a Constituição Brasileira. Os artigos 3º, 4º e 21, seguindo a Constituição, estabelecem que as jazidas de petróleo e o produto da sua lavra, em todo o território Nacional (parte terrestre e marítima, incluído o mar territorial de 200 milhas e a zona economicamente exclusiva) pertencem à União Federal. Ocorre que, pelo seu artigo 26 — fruto da atuação do lobby sobre uma brecha deixada pelo Projeto de Lei de FHC — efetivou a quebra do Monopólio, ferindo os artigos acima citados, além do artigo 177 da Constituição Federal que, embora alterada, manteve o monopólio da União sobre o petróleo. Esse artigo 26 confere a propriedade do petróleo a quem o produzir.

Iram Alfaia

Original em Vermelho

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sábado, 20 de fevereiro de 2010

José Manzaneda


Tradução: ADITAL


Os aproximadamente 400 cooperantes da Brigada médica cubana no Haiti foram a mais importante assistência sanitária ao povo haitiano durante as primeiras 72 horas após o recente terremoto. Essa informação foi censurada pelos grandes meios de comunicação internacionais.


A ajuda de Cuba ao povo haitiano não começou por ocasião do terremoto. Cuba atua no Haiti desde 1998 desenvolvendo um Plano Integral de Saúde (1), através do qual já passaram mais de 6.000 cooperantes cubanos da saúde. Horas depois da catástrofe, no dia 13 de janeiro, somavam-se à brigada cubana 60 especialistas em catástrofes, componentes do Contingente "Henry Reeve", que voaram de Cuba com medicamentos, soro, plasma e alimentos (2). Os médicos cubanos transformaram o local onde viviam em hospital de campanha, atendendo a milhares de pessoas por dia e realizando centenas de operações cirúrgicas em 5 pontos assistenciais de Porto Príncipe. Além disso, ao redor de 400 jovens do Haiti formados como médicos em Cuba se uniam como reforço à brigada cubana (3).


Os grandes meios silenciaram tudo isso. O diário El País, em 15 de janeiro, publicava uma infografia sobre a "Ajuda financeira e equipamentos de assistência", na qual Cuba nem sequer aparecia dentre os 23 Estados que havia colaborado (4). A cadeia estadunidense Fox News chegava a afirmar que Cuba é dos poucos países vizinhos do Caribe que não prestaram ajuda.


Vozes críticas dos próprios Estados Unidos denunciaram esse tratamento informativo, apesar de que sempre em limitados espaços de difusão.


Sarah Stevens, diretora do Center for Democracy in the Americas (5) dizia no blog The Huffington Post: Se Cuba está disposta a cooperar com os EUA deixando seu espaço aéreo liberado, não deveríamos cooperar com Cuba em iniciativas terrestres que atingem a ambas nações e os interesses comuns de ajudar ao povo haitiano?(6)


Laurence Korb, ex-subsecretário de Defesa e agora vinculado ao Center for American Progress (7), pedia ao governo de Obama "aproveitar a experiência de um vizinho como Cuba" que "tem alguns dos melhores corpos médicos do mundo" e com quem "temos muito o que aprender"(8).


Gary Maybarduk, ex-funcionário do Departamento de Estado propôs entregar às brigadas médicas equipamento duradouro médico com o uso de helicópteros militares dos EUA, para que possam deslocar-se para localidades pouco accessíveis do Haiti(9).


E Steve Clemons, da New America Foudation(10) e editor do blog político The Washington Note(11), afirmava que a colaboração médica entre Cuba e EUA no Haiti poderia gerar a confiança necessária para romper, inclusive, o estancamento que existe nas relações entre Estados Unidos e Cuba durante décadas(12)


Porém, a informação sobre o terremoto do Haiti, procedente de grandes agências de imprensa e de corporações midiáticas situadas nas grandes potências, parece mais a uma campanha de propaganda sobre os donativos dos países e cidadãos mais ricos do mundo. Apesar de que a vulnerabilidade diante da catástrofe por causa da miséria é repetida uma e outra vez pelos grandes meios, nenhum quis se debruçar para analisar o papel das economias da Europa ou dos EUA no empobrecimento do Haiti. O drama desse país está demonstrando uma vez mais a verdadeira natureza dos grandes meios de comunicação: ser o gabinete de imagem dos poderosos do mundo, convertidos em doadores salvadores do povo haitiano quando foram e são, sem paliativos, seus verdadeiros verdugos.


Quadro Informativo 1. Dados da cooperação de Cuba com o Haiti desde 1998:


- Desde dezembro de 1998, Cuba oferece cooperação médica ao povo haitiano através do Programa Integral de Saúde;


- Até hoje trabalharam no setor saúde no Haiti 6.094 colaboradores que realizaram mais de 14 milhões de consultas médicas, mais de 225.000 cirurgias, atendido a mais de 100.000 partos e salvado mais de 230.000 vidas


- Em 2004, após a passagem da tormenta tropical Jeanne pela cidade de Gonaives, Cuba ofereceu sua ajuda com uma brigada de 64 médicos e 12 toneladas de medicamentos.


- 5 Centros de Diagnóstico Integral, construídos por Cuba e pela Venezuela, prestavam serviços ao povo haitiano antes do terremoto.


- Desde 2004 é realizada a Operação Milagre no Haiti e até 31 de dezembro de 2009 haviam sido operados um total de 47.273 haitianos.


- Atualmente, estudam em Cuba um total de 660 jovens haitianos; destes, 541 serão diplomados como médicos.


- Em Cuba já foram formados 917 profissionais, dos quais 570 como médicos. Cuba coopera com o Haiti em setores tais como a agricultura, a energia, a pesca, em comunicações, além de saúde e educação.


- Como resultado da cooperação de Cuba na esfera da educação, foram alfabetizados 160.030 haitianos.


Quadro informativo 2. Dados das atuações do Contingente Internacional de Médicos Cubanos Especializados em Situações de Desastres e Graves Epidemias, Brigada "Henry Reeve", anteriores à cooperação no Haiti:


- Desde sua constituição, a Brigada Henry Reeve cumpriu missões em 7 países, com a presença de 4.156 colaboradores, dos quais 2.840 são médicos.


- Guatemala (Furacão Stan): 8 de outubro de 2005, 687 colaboradores; destes 600 médicos.


- Paquistão (Terremoto): 14 de outubro de 2005, 2 564 colaboradores; destes 1 463 médicos.


- Bolívia (inundações): 3 de fevereiro de 2006-22 de maio, 602 colaboradores; destes, 601 médicos.


- Indonésia (Terremoto): 16 de maio 2006, 135 colaboradores; destes, 78 médicos.


- Peru (Terremoto): 15 de agosto 2007-25 de março 2008, 79 colaboradores; destes, 41 médicos.


- México (inundações): 6 de novembro de 2007 - 26 de dezembro, 54 colaboradores; destes, 39 médicos.


- China (terremoto): 23 de maio 2008-9 de junho, 35 colaboradores; destes, 18 médicos.


- Foram salvas 4 619 pessoas.


- Foram atendidos em consultas médicas 3.083.158 pacientes.


- Operaram (cirurgia) a 18 898 pacientes.


- Foram instalados 36 hospitales de campanha completamente equipados, que foram doados por Cuba (32 ao Paquistão, 2 a Indonésia e 2 a Peru).


- Foram beneficiados com próteses de membros em Cuba 30 pacientes atingidos pelo terremoto do Paquistão.



Notas:


(1) http://cubacoop.com

(2) http://www.prensalatina.cu/index.php?option=com_content&task=view&id=153705&Itemid=1

(3) http://www.ain.cu/2010/enero/19cv-cuba-haiti-terremoto.htm

(4) http://www.pascualserrano.net/noticias/el-pais-oculta-344-sanitarios-cubanos-en-haiti

(5) http://democracyinamericas.org

(6) http://www.huffingtonpost.com/sarah-stephens/to-increase-help-for-hait_b_425224.html

(7) http://www.americanprogress.org/

(8) http://www.csmonitor.com/USA/Military/2010/0114/Marines-to-aid-Haitian-earthquake-relief.-But-who-s-in-command

(9) http://www.washingtonpost.com/wpdyn/content/article/2010/01/14/AR2010011404417_2.html

(10) http://www.newamerica.net/

(11) http://www.thewashingtonnote.com/

(12) http://www.thewashingtonnote.com/archives/2010/01/american_diplom/

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FHC explora preconceito contra mulheres para atacar Dilma

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não é apenas preconceituoso contra as mulheres, conforme sugerido pela afirmação dele de que a ministra Dilma Rousseff seria "reflexo" de Lula, ou seja, não tem personalidade própria. FHC é de um tempo em que as mulheres aceitavam como "natural" subordinar seus interesses aos interesses dos homens.
Luiz Carlos Azenha

Afinal, qual é a lição do episódio em que uma repórter aceitou o exílio para esconder o filho que teve com o senador, quando isso foi "necessário" para proteger a carreira política de FHC? Ele se elegeu presidente da República. Ela e o filho ficaram "escondidos" no exílio, à espera da hora "certa", determinada única e exclusivamente pelo interesse pessoal do ex-presidente.

Mas FHC vai além, ao sugerir que Dilma não é democrata. Em entrevista a um colunista do Miami Herald, é isso o que afirmou, por linhas tortas, quando o gringo quis saber se ele achava a ministra mais próxima do presidente venezuelano Hugo Chávez:

Colunista: A Dilma seria mais próxima do esquerdista radical da Venezuela, presidente Hugo Chávez?

FHC: Provavelmente. De qualquer forma, você precisa considerar que as instituições do país são fortes e que as pessoas no poder não podem fazer tudo o que querem. Ela pode querer, mas a liderança de outros grupos políticos, a existência da imprensa livre, de companhias fortes, universidades, etc. tudo isso trabalha como contrapeso. Mas, tendo dito isso, o coração de Dilma é mais próximo da esquerda.

Ou seja, FHC sugere que Dilma não faria loucura, se eleita, não por ser democrata, mas porque a sociedade brasileira não deixaria.

Repito que, consciente ou inconscientemente, FHC revela todo o seu preconceito contra as mulheres. Numa ocasião, sugerindo que Dilma é uma "zé ninguém", sem vontade própria. Em outra, que representa algum tipo de perigo, que só será contido pela reação da sociedade brasileira.
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Notem que FHC não critica esta ou aquela ação da ministra, esta ou aquela idéia, este ou aquele programa que ela implantou. Faz uma crítica pessoal, cujo objetivo é explorar eventuais preconceitos de eleitores contra as mulheres em geral e Dilma em particular, ora dizendo que ela não sabe o que faz, que é manipulável, marionete na mão dos outros, ora que representa algum perigo descontrolado, uma mulher com TPM revolucionária. Seria cômico, não fosse um discurso machista, reacionário e ofensivo.
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Original em Vi o Mundo
Gravura em Patria Latina

Mais de um milhão de iraquianos já morreram sob a ocupação norte americana

Mais de 1,2 milhões de iraquianos sofreram mortes violentas desde a invasão em 2003, de acordo com um estudo realizado pelo prestigiado instituto de pesquisa britânico Opinion Research Business (ORB). Estes números sugerem que as mortes causadas pela invasão e ocupação do Iraque competem em número com os assassinatos em massa do século XX, o número de mortos no Iraque ultrapassa em 800 000 a 900 000 vítimas o genocídio em Ruanda, em 1994 e agora está já próximo ao número de 1,7 milhões de mortos nos famosos "campos da morte" do Khmer Vermelho, nos anos 70 do século passado.

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O levantamento ORB cobre quinze das dezoito províncias do Iraque. Entre as áreas não abrangidas estão as duas regiões mais instáveis do país, Kerbala e Anbar, e a província de Arbil, no norte, onde o instituto foi proibido de pesquisar por parte das autoridades locais. Depreende-se em face de entrevistas com 2 414 adultos que mais de um em cada cinco tiveram uma morte em sua casa por causa do conflito.

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Os autores, Joshua Holland e Michael Schwartz, constataram que a versão oficial, pela qual a violência contra os iraquianos é principalmente exercida pelos próprios iraquianos e não por tropas estadunidenses, é rejeitada. Em seu relatório de outubro de 2006, os pesquisadores revista The Lancet iraquianos sobre a forma como os seus parentes tinham morrido e 56% destas mortes foram atribuídas à ação das forças de Estados Unidos e seus aliados.

Schwartz observou que, se uma parte proporcional de metade das restantes mortes iraquianas foi causada por forças estadunidenses, o resultado final é que quase 80% do total dessas mortes foram causadas diretamente pelos Estados Unidos.

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Mesmo tendo confirmado as estimativas mais baixas no final de 2006, ele descobriu que as forças estadunidenses são responsáveis pela morte, em média, de 5000 iraquianos por mês desde o início da ocupação. No entanto, a taxa de vítimas mortais em 2006, foi duas vezes superior à média, o que significa que a média de mortes causadas pelas tropas norte americanas nesse ano ultrapassou a cifra de 10.000 por mês, mais de 300 por dia. Como a onda de violência começou em 2007, a cifra atual é provavelmente muito maior.

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Schwartz disse que a lógica desta avaliação reside no número divulgado pelos militares dos Estados Unidos e liberado pela Brookings Institution: para os primeiros quatro anos de ocupação militar, cada dia mais de mil patrulhas foram enviadas para os bairros hostil com ordens para capturar ou matar "insurgentes" e "terroristas". (Desde Fevereiro de 2007, o número destas patrulhas ascendeu a cerca de 5.000 por dia se você computar as realizadas por forças iraquianas controladas por forças norte americanas). Em média, cada patrulha realiza trinta incursões em casas de iraquianos, com a missão de interrogar, capturar ou matar os suspeitos. Neste contexto, qualquer homem com idade para lutar não é apenas uma suspeita, mas um adversário representando um perigo mortal. Assim são instruídos os soldados estadunidenses para não correr riscos.

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Segundo as estatísticas militares norte americanas, também publicadas pela Brookings Institution, essas patrulhas atualmente disparam cerca de 3.000 tiros por mês, ou pouco menos de 100 por dia em média (sem contar os 25 outros disparados pelos aliados iraquianos). Milhares de rondas e patrulhas resultaram na morte de milhares de iraquianos inocentes, e muitas prisões de extrema brutalidade.

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Refugiados: A crise ignorada

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Tentativas por parte dos iraquianos para escapar da violência provocaram uma crise de refugiados que tomou proporções enormes. De acordo com relatórios emitidos em 2007 pelo Alto Comissariado das Nações para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), quase 5 milhões de iraquianos foram deslocadas pela violência, a maioria das quais fugiram do país desde 2003. Estima-se que mais de 2,4 milhões tenham deixado suas casas para procurar abrigo em zonas mais seguras do país, 1,5 milhões estão refugiados na Síria, e mais de um milhão se refugiaram na Jordânia, Irã, Líbano, Turquia e países do Golfo.

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Os refugiados no Iraque, cujo número aumenta a uma média de quase 100.000 por mês, não têm personalidade jurídica e nem oportunidades de emprego na maioria das províncias e estados onde estão refugiados e a sua situação é a mais desesperadora. Porém, os iraquianos continuam a abandonar as suas casas em maior número do que aqueles que voltaram para casa, apesar das versões oficiais em contrário. Milhares de pessoas refugiadas acreditam que a segurança é tão má como antes e que o retorno significa morte. E a maioria dos que estão retornando rapidamente tornam a fugir.

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Jornalistas da Al-Maki Nazzal e Dahr Jamail entrevistaram um engenheiro iraquiano trabalhando agora em um restaurante em Damasco, Síria: "Voltar ao Iraque? Não há mais retorno ao Iraque, caro amigo, o Iraque só existe em nossos sonhos e lembranças!”

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Outro entrevistado disse ao autor: "Os militares norte americanos dizem que Fallujah agora é segura, enquanto que 800 homens estão detidos lá sob as piores condições... Pelo menos 750 dos 800 presos do sexo masculino não são combatentes da resistência, mas pessoas que se recusam a cooperar com as forças de ocupação e seus fantoches auxiliares.

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Outra refugiada de Bagdá, disse: "Eu voltei à minha casa com minha família em janeiro. Desde a primeira noite após a nossa chegada, os americanos investiram contra nossa casa e mantiveram-nos em um quarto enquanto os atiradores subiam no telhado para fotografar pessoas. Decidimos voltar para cá [Damasco] na manhã seguinte, depois de passar uma noite de horror que não se esquece.”

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Atualização Michael Schwartz

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As estatísticas de mortalidade citados em "A ocupação norte americana do Iraque mata 10.000 civis por mês ou muito mais?” É baseado em uma pesquisa de mortes causadas pela guerra no Iraque, publicado em outro artigo do Projeto Censurado. O artigo original, publicado em The Lancet em 2006, recebeu uma cobertura midiática desdenhosa antes de desaparecer por completo da vista dos leitores, enquanto a mídia começava a divulgar estimativas tendenciosas que colocavam o número de iraquianos mortos em um décimo do calculado pelo The Lancet. O bloqueio de informações exercido pelo consórcio da mídia se estendeu também para o meu artigo e não diminuiu em toda a mídia mundial, mesmo tendo o artigo do The Lancet resistido a vários ataques da crítica e mesmo quando outros estudos confirmavam ou atualizavam seu conteúdo.

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No início de 2008, uma estimativa melhor, com base em extrapolações e reproduções de estudos do The Lancet revelou que 1,2 milhões de iraquianos já morreram por causa da guerra. Tanto quanto sei, este número foi aceito em todos os meios de comunicação nos Estados Unidos.

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O bloqueio de informações sobre o número de vítimas tem sido acompanhado por outra forma de censura em outra evidência vital contidas no meu artigo: a estratégia militar do governo Bush no Iraque causou uma destruição física diária extensa e alta mortalidade. Os métodos de recrutamento exigem que milhares de patrulhas norte americanas, a cada dia, lutem contra qualquer ato hostil com enorme poder de fogo - de armas de grosso calibre, artilharia e operações aéreas, deixando para trás um rastro de sofrimento e causando muitas baixas entre a população civil -. Mas a grande mídia se recusou a cobrir o crime de mutilar, mesmo após as reuniões da organização "Soldados de Inverno, em março de 2003, durante o qual mais de uma centena de veteranos da guerra no Iraque admitiram que participaram do que eles chamavam de "situação geradoras de atrocidades"

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A eficácia do bloqueio de informações realizado pelos meios de comunicação foi confirmada por uma pesquisa realizada pela Associated Press, em Fevereiro de 2007, com uma amostra representativa de residentes norte-americanos, que foram perguntados se tinham idéia do número de iraquianos mortos na guerra. A média dos entrevistados disse que estimava em menos de 10 000, o que representa 2% do total real. Esta ignorância grosseira e geral, bem como a condução da guerra no Iraque não recebeu nenhuma cobertura da mídia, nem mesmo pela Associated Press, que encomendou a pesquisa.

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A organização "Veteranos contra a guerra no Iraque colocou a brutalidade da ocupação no centro da ação dos seus membros. O massacre do povo iraquiano é o cerne de suas reivindicações. Eles exigem a retirada imediata e total das tropas dos Estados Unidos, como a organização histórica das reuniões do "Soldiers Winter", em Baltimore.

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Embora este evento não tenha sido transmitido por qualquer meio de comunicação importante nos Estados Unidos, o fluxo de informações veiculadas pela Radio Pacifica e o site do IVAW tem registrado um alto índice de audiência, inclusive entre muitos soldados na ativa, com descrições de atrocidades cometidas pela máquina de guerra norte americana. Um crescente número de sites independentes oferecendo agora uma cobertura regular sobre este aspecto da guerra, incluindo Democracy Now, Tom Dispatch, Oriente Médio Dahr Jamail's Dispatches, Informed Comment, Antiwar.com e ZNet.

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Atualização Maki al-Nazzal e Dahr Jamail

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A nomeação do general norte americano David Petraeus, para a direção do CentCom e Raymond Odierno, como vice de Petraeus como chefe da Força Multinacional no Iraque, suscitou a ira dos iraquianos que vivem na Síria e na Cisjordânia . Estes dois generais convenceram os Estados Unidos e a comunidade internacional das chamadas "melhoria no Iraque, mas parecem ter conseguido convencer os refugiados iraquianos que não foi o" melhor "em suas pátrias.

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"Assim como o governo Bush, condecorou Paul Bremer (chefe da Autoridade Provisória da Coalizão), outros têm sido recompensados pela sua participação na destruição do Iraque", queixou-se Muhammad Shamil, um jornalista iraquiano que fugiu para a Síria em 2006. O que eles chamam de violência estava localizada em determinadas áreas do Iraque, mas agora o fenômeno foi espalhado por todo o país pelos heróis de guerra dos Estados Unidos. "Aqueles que matam, expulsam ou capturam aos milhares, de Basra (sul) a Mosul (no norte).

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A esperança um retorno é cada vez menor nas mentes dos refugiados iraquianos. Desde a publicação deste artigo, em março de 2008, a crise dos refugiados agravou-se. A situação é agravada pelo fato de que a maioria dessas pessoas não tem mais intenção de voltar para casa e preferem a reinstalação noutro local.

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"Eu decidi parar de sonhar em voltar para casa e tentar construir uma nova casa em qualquer lugar do mundo", disse Maha Numan, 32, refugiado na Síria. "Há três anos eu sou um refugiado e oque eu continuo a acalentar é o sonho de voltar lá, mas eu decidi parar de sonhar. Eu perdi a fé em todos os líderes do mundo após a onda de violência em Basra, Al-Sadr e agora Mosul. Isso não parece ter um fim, e eu preciso encontrar um refúgio seguro para a minha família.”

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"A maioria dos iraquianos na Síria estão mais conscientes de seu novo país que a maioria dos jornalistas. Em qualquer Sala de Internet, em Damasco, ao se comunicarem com suas cidades ou vilas cada um troca informações do dia-a-dia com outros refugiados iraquianos. As informações confirmam a violência em grande parte do Iraque para reforçar a sua convicção de permanecer no exterior.

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"Hoje, houve quatro explosões em Fallujah", exclamou Salam Almeida, que trabalhou como tradutor para as tropas estadunidenses em Fallujah em 2005. "E eles dizem que pode ir para casa, que a situação é segura! Retornar para quê? Para ser mortos por minas ou carros-bombas?”

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Para o governo Bush foi importante, do ponto de vista político, acreditar que a situação no Iraque está melhor. Tais informações foram transmitidas com a cumplicidade da mídia corporativa. No entanto, 1,5 milhões de iraquianos vivem na Síria e mais de 750 000 na Jordânia não partilha desta opinião. Caso contrário, teria ido para casa.

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Tradução: R. Maciel

Publicado em Voltairenet

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