Além do Cidadão Kane

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segunda-feira, 28 de julho de 2014

DECLARAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA DE ISRAEL



TRIBUNA POPULAR
O Partido Comunista de Israel (IPC, sigla em inglês) e a Frente Democrática pela Paz e a Igualdade (Hadash) expressam sua ira e angústia no assalto brutal, criminoso e desumano levado a cabo pelo governo de Israel contra o povo de Gaza. Estamos transmitindo nossa profunda simpatia e solidariedade com o povo de Gaza e, também, com aqueles que foram mortos ou prejudicados por um governo vicioso, cuja intenção é manter a ocupação e a colonização dos territórios palestinos ocupados e prosseguir com o cerco a Gaza.
Desde que começou o cerco a Gaza, o IPC e a Hadash vem organizando e liderando uma serie de manifestações e atividades contra esse assalto, reivindicando o cessar fogo imediato e a manutenção de todos os civis, palestinos e israelense, fora deste sangrento conflito.
Por conta de nossas atividades e iniciativas, as turbas fascistas e racistas nos atacaram física e verbalmente, enquanto a polícia israelense nada tem feito para evitar isso. Esses ataques violentos foram praticamente promovidos pelo governo neofascista israelense, que incita continuamente contra todas as forças progressistas e democráticas em Israel, especialmente contra o IPC e a Hadash e, mais ainda, contra a população árabe-palestina que reside dentro do estado de Israel.
No sábado passado, dia 19 de julho, centenas de nós – judeus e árabes-palestinos juntos – manifestaram-se na cidade de Haifa contra a agressão israelense. Temos sido golpeados e perseguidos pela máfia neonazista judia, alguns foram feridos por pedras e garrafas lançadas. A polícia deteve 13 de nossos membros, ainda que nenhum deles estivesse envolvido em qualquer ação violenta.
Camaradas, vamos continuar! Nunca nos renderemos à intimidação e à violência. Gaza, nós do IPC e da Hadash, judeus e árabes juntos, vamos manter nossa luta pela libertação do povo palestino!
Os judeus e os árabes não são inimigos, mas companheiros – irmãos e irmãs!
Gaza Livre!
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

sábado, 5 de novembro de 2011

Represália dos EUA pelo ingresso da Palestina na Unesco: corte de US$ 70 milhões

Ao aceitar a Palestina como membro pleno, a Unesco aceitou o desafio de funcionar com quase um quarto a menos de seu orçamento. Não é a primeira vez que os Estados Unidos chantageiam a Unesco com a retirada de sua contribuição financeira. Entre 1984 e 2003, Washington boicotou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para protestar por sua "péssima administração" e pela "ideologia terceiro-mundista". O artigo é de Eduardo Febbro.

Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris

Os palestinos deram um passo firme rumo ao reconhecimento pleno de seu Estado, enquanto a primeira potência mundial, os Estados Unidos, colocou o primeiro obstáculo frente à marcha palestina. Reunida em Paris até dez de novembro, a Conferência Geral da Unesco votou pela adesão da Palestina como Estado membro de pleno direito. O ingresso da Palestina à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura muda radicalmente o regime precedente dos palestinos uma vez que, até segunda-feira, 31 de outubro, a Palestina só tinha um estatuto de missão observadora. A adesão da Palestina como Estado de pleno direito foi aprovada por 107 votos a favor, 14 contra e 52 abstenções.

Os Estados Unidos, que se opuseram à medida, decidiram de imediato suspender seu financiamento à Unesco. Tal medida privará a organização de 22% do seu orçamento, em torno de 70 milhões de dólares. Washington aplicou, sem concessões, duas leis que datam dos anos 90 e que proíbem os Estados Unidos de financiarem qualquer agência das Nações Unidas em que a Palestina seja aceita como Estado pleno enquanto não se chegue a um acordo de paz com Israel.

Mas os já claríssimos interesses da administração norte americana e seu favoritismo para com Israel, não são os da maioria dos países da comunidade internacional. A França, a quase totalidade dos países árabes, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), Argentina e, excetuando o México que se absteve e o Panamá que votou contra, os países de América Latina fecharam fileiras a favor dos palestinos. Os Estados Unidos, a Alemanha e o Canadá se opuseram enquanto a Itália e o Reino Unido se abstiveram. Israel também antecipou que retiraria sua contribuição financeira à Unesco.

O embaixador israelense na organização, Nimrod Barkan, disse que o ingresso da Palestina como Estado era una “tragédia para a Unesco”. Barkan tirou do bolso as já desgastadas ameaças contra os países que apoiaram os palestinos. O embaixador israelense advertiu que isso “debilitará” a capacidade desses países de “influenciar a posição israelense”. Barkan qualificou de “ficção científica” o ingresso dos palestinos na Unesco e ressaltou que este era “um dia triste” porque marcava o momento em que “uma organização decide desconectar-se da realidade”.

A disputa de declarações entre os principais atores do conflito israelense palestino permite medir a distância abismal que existe para se chegar a um acordo de paz. Washington, através de seu embaixador na Unesco, David Killion, avaliou que a iniciativa da Unesco era “prematura” e “contraproducente”. Na direção contrária, o Ministro Palestino de Relações Exteriores, Riyad Al-Malki, declarou que estamos vivendo “um momento histórico que devolve à Palestina parte de seus direitos”. Al-Malki refutou o argumento israelense norte americano que consiste em vincular o novo estatuto da palestina com a paz na região.

A Palestina se converteu no Estado número 195 da UNESCO graças aos estatutos que regem essa organização dependente da ONU. Diferentemente do que acontece no Conselho de Segurança onde cinco países (Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Rússia e China) têm direito de veto e podem bloquear, entre outras coisas, a adesão de um novo Estado, na Unesco só se requer dois terços dos votos da Conferência Geral para adquirir o estatuto de Estado de pleno direito. O novo regime permitirá aos palestinos que alguns dos territórios ocupados por Israel, entre eles Belém, Hebrón e Jericó, sejam reconhecidos como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Para o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, trata-se de um êxito diplomático de grande alcance que torna um pouco mais tangível o reconhecimento da Palestina como Estado. No dia 23 de setembro passado, Abbas propôs oficialmente a aceitação da Palestina como Estado membro da ONU. O Conselho de Segurança examinará a solicitação no próximo dia 11 de novembro, mas ela tem poucas possibilidades de ser aceita uma vez que Washington já adiantou que exerceria seu direito de veto.

Por enquanto, a Unesco aceitou em Paris o desafio de funcionar com quase um quarto a menos de seu orçamento. Não é a primeira vez que os Estados Unidos chantageiam a Unesco com a retirada de sua contribuição financeira. Entre 1984 e 2003, Washington boicotou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para protestar por sua péssima administração e pela ideologia terceiro-mundista que imperava na Unesco. A Diretora Geral da organização, Irina Bokova, admitiu que de agora em diante terá que “cortar programas e reajustar o equilíbrio do nosso orçamento”.

Entretanto, para a responsável da organização, já não se trata de um “problema financeiro”, mas de um “problema que concerne à universalidade da nossa organização”. Como já se pôde corroborar no conflito israelense palestino e tantos outros dramas que sacodem o mundo, as grandes potências mundiais têm uma visão variável da “universalidade” dos direitos. Estes são “universais” segundo o peso dos interesses e não como valor supremo da humanidade.

Tradução: Libório Junior

Publicado em Carta Maior
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Há saída para a Palestina?

Como sempre acontece em épocas que envolvem negociação, Israel aproveita para expandir seu projeto colonizador. Na terça-feira, 27, anunciou a construção de mais 1.100 casas na colônia de Gilo, em Jerusalém oriental, início de um projeto destinado a separar o sul da Cisjordânia das vilas palestinas vizinhas a Jerusalém.

Baby Siqueira Abrão*

Com o Quarteto e os Estados Unidos exigindo, em uníssono, negociações diretas com Israel, a impressão é que não há solução viável para o caso palestino. As superpotências, sua insistência em acordos impossíveis e sua mobilização frenética não levam em consideração, evidentemente, os milhões de cidadãos da Palestina e de praticamente todos os países do mundo que saíram às ruas para apoiar o pleito à ONU.

Os termos da proposta do Quarteto, porém, nada estabelecem sobre as questões centrais: colônias israelenses em terras palestinas, fronteiras, Jerusalém oriental e retorno dos refugiados. Tampouco tratam do reconhecimento do “Estado judeu”, exigido por Israel [1] . O documento limita-se a estabelecer datas: chamada para conversas iniciais em um mês, sugestões de ambos os lados sobre fronteiras e segurança em três meses e assinatura do acordo de paz no final de 2012.

A proposta foi enviada aos dirigentes dos dois países. Divulgou-se que Netanyhau, primeiro ministro de Israel, a apoiaria, mas uma reunião que se estendeu da noite de terça-feira à madrugada de quarta-feira, com oito membros de seu gabinete, mudou tudo. Não houve consenso. Quanto à ANP, reuniu-se dia 28 para estudar o documento, mas ainda não tomou nenhuma decisão.

Como sempre acontece em épocas que envolvem negociação, Israel aproveita para expandir seu projeto colonizador. Na terça-feira, 27, anunciou a construção de mais 1.100 casas na colônia de Gilo, em Jerusalém oriental, início de um projeto destinado a separar o sul da Cisjordânia das vilas palestinas vizinhas a Jerusalém. A denúncia é de Khalil Toufajki, especialista palestino que estuda as colônias israelenses. Ele informou à rádio Voz da Palestina que, além dessas 1.100 casas, uma nova área residencial, Givat Yael, será construída nas terras da vila palestina de Al-Walajah e vai se estender até a porção oeste de Gilo, abrigando milhares de israelenses. No total, o projeto prevê a construção de 58 mil unidades até 2020, o que significa que Israel não tem a menor intenção de incluir o fim da construção de colônias em nenhum acordo, ou que não pretende assinar acordo algum.

Na quarta-feira, 28, o exército israelense entregou ordens de confisco de terras na vila de Battir, em Belém. Os 148 dununs (cada dunum corresponde a mil metros quadrados) pertencem a 40 famílias e contêm casas, plantações de frutas, vegetais e oliveiras, além de poços de água. A região, segundo a notificação entregue aos moradores, será evacuada por “razões militares e de segurança”, ou seja, para servir à expansão da colônia de Gilo, que fica perto dali.

Também no dia 28 a municipalidade de Beit Ummar, no norte de Hebron, foi notificada de que perderá 800 dununs de terra para a construção de uma estrada exclusiva para a colônia de Etzion, com oito quilômetros de extensão e 160 metros de largura. Israel não perde tempo.

Realidade e miragem

Como se vê, há motivos de sobra para a indignação e a impaciência dos milhões de palestinos que apoiaram a ida da OLP à ONU, e dos 40 mil vindos de todos os pontos da Palestina para a recepção a Mahmoud Abbas no domingo, 25. Seriam bem mais, caso os soldados israelenses não tivessem detido vários ônibus lotados nos checkpoints. A Autoridade Palestina está sem dinheiro, e o país registra um déficit em conta corrente de U$ 610,7 milhões, segundo dados divulgados em 27 de setembro, mas nada disso impediu novos gastos para o encontro entre a população e Abbas, que chegou de Nova York via Amã.

Recebido como herói nacional depois do discurso feito na ONU no dia 23, Abbas foi sucinto. Em cerca de cinco minutos disse que dera o recado dos palestinos ao mundo, que a Primavera Palestina começara, que a luta seria longa e difícil, que a firmeza do povo levaria à vitória e terminou conclamando todos a levantar a cabeça pelo simples fato de serem palestinos. Ovacionado, com o retrato colado em centenas de cartazes carregados pela multidão e em enormes banners nos prédios vizinhos à Muqata, sede da ANP, Abbas teve seu dia de glória.

De personagem político desacreditado – em especial depois que os Palestine Papers, liberados pelo Wikileaks à rede de TV Al-Jazeera, revelaram pesadas concessões a Israel, como partes de Jerusalém oriental e a negação dos direitos dos refugiados, além de apoio ao ataque militar sionista a Gaza, em 2008-2009 –, acusado de corrupto pela população, ele foi guindado, graças a sua performance na ONU, para o patamar dos super-homens. Comentava-se o conteúdo do discurso, a coragem de Abbas por ter mantido a promessa de ir à ONU apesar da pressão dos enviados de Estados Unidos e União Europeia, o fato de ele ter denunciado ao mundo, item por item, a tragédia palestina.

Naquela tarde cinzenta e chuvosa de domingo, o Conselho de Segurança deixou de ser o assunto da semana. Deu lugar à personagem da semana, do dia, do mês: Abu Mazen, codinome de luta pelo qual os palestinos chamam o velho líder. Pelo levantamento informal feito pela reportagem de Carta Maior, ele venceria qualquer candidato se a eleição fosse naquela tarde. E, caso não concorresse às eleições, o nome que apoiasse seria o ganhador.

Encerrar o ciclo estéril de negociações que serviram de cobertura a confiscos de terra e água, à expansão de colônias israelenses em território palestino e à manutenção da Palestina como vitrine da tecnologia bélica sionista foi um alívio para a maioria da população. Jogar o conflito no colo do mundo, dentro da organização que o formalizou, em 1947, foi objeto de críticas até o começo da semana do discurso, mas depois recebeu aprovação quase geral dentro da Cisjordânia e em Gaza. A verdade é que o desespero dos palestinos é tamanho que qualquer miragem de alívio é bem-vinda. Os governos israelenses, de 1948 até hoje, parecem testar na Palestina os limites da paciência humana. Por enquanto, estão perdendo. Mesmo exaustos, os palestinos continuam a resistir à ocupação.

E agora, com a OLP carregando o problema para o campo diplomático internacional, na tentativa de acabar com o monopólio dos Estados Unidos como mediador das negociações com Israel, a miragem se torna quase palpável. Mas ainda é miragem.

Plano B: “Unidade para a paz”

Como ficariam os palestinos, por exemplo, se soubessem que o Conselho de Segurança, em sua primeira reunião, dia 26 de setembro, praticamente concluiu que guindar a Palestina à posição de membro pleno foge ao escopo da Resolução 377? A informação, dada por um dirigente da OLP à Carta Maior em 27 de setembro, sob a condição de anonimato, acabaria com o que ainda resta da miragem.

A Resolução 377, também conhecida como “Unidade para a paz”, estabelece que, quando o Conselho de Segurança falha em seu papel de resguardar a paz e a segurança, por falta de unanimidade entre seus membros, a questão pode ser levada à Assembleia Geral, em que a Palestina tem ampla maioria. Lá, esperava a direção da OLP, o status de membro pleno seria alcançado. Francis Boyle, consultor da OLP, professor de direito internacional que dedicou a vida à defesa da causa palestina em seu campo de estudo, defendeu essa possibilidade, assim como Gabriela Shalev, ex-embaixadora de Israel na ONU.

Richard Schifter, ex-secretário assistente de Estado dos EUA, citou o caso da Namíbia, que em 1981 teve a ajuda da 377 para obter sua independência. A Assembleia Geral da ONU, à época, solicitou a todos os países-membros “aumentar e manter apoio material, financeiro, militar e outros tipos de ajuda para a Organização dos Povos do Sudoeste da África, a fim de permitir-lhe intensificar sua luta pela libertação da Namíbia”.

Também exortou-os a encerrar “todos os negócios com a África do Sul, para isolá-la por completo nos campos político, econômico, militar e cultural”.

Mas o Conselho de Segurança da ONU, na segunda-feira, tendia a considerar que a Resolução 377 é aplicável a todos os casos, menos à aceitação de um Estado como membro pleno. “Eles ainda estão negociando”, disse o dirigente da OLP, “mas é quase certo que não permitam a utilização da 377”.

Não é preciso pensar muito para entender que Estados Unidos e Israel estão por trás dessa tendência. Até já conseguiram os seis votos necessários para vetar a solicitação palestina sem que o ônus da decisão pese apenas nos ombros dos EUA. Quanto à Palestina, até agora pode contar, com certeza, com os votos de China, Rússia, Brasil, Líbano, Índia e África do Sul. Embora nove países do CS tenham reconhecido seu Estado, apenas seis já deram a certeza de estar a seu lado. Conquistar o voto dos outros dois, com tanta pressão contrária, não é tarefa fácil. Um deles, provavelmente, é a Colômbia: Maria Angela Holguin, ministra das Relações Exteriores, recebeu na segunda-feira a visita de Hillary Clinton. O páreo está disputadíssimo.

Plano C: Estado-membro observador

A guerra de influências pende contra os palestinos, mas Ryad Mansour, embaixador da Palestina na ONU, diz confiar “em nossos amigos”. Caso algum desses amigos o traia, há outra saída. A Assembleia Geral pode reconhecer a Palestina como “Estado não-membro” ou como “Estado-membro observador”. Hoje ela é “entidade observadora”. Com esse reconhecimento, a Palestina pode solicitar participação em outros órgãos, nos quais o veto dos EUA não tem valor, e em tratados internacionais.

O ideal seria ter acesso ao Tribunal Penal Internacional (TPI), para abrir processos individuais contra os responsáveis por atos criminosos contra os palestinos. Essas pessoas, caso condenadas, não poderão viajar para os 117 países signatários do Estatuto de Roma (que estabeleceu o TPI), ou serão presas. Também é possível levar Israel ao TPI por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Estados não membros também podem recorrer ao TPI, solicitando-lhe que assuma jurisdição sobre seus territórios. A Palestina fez isso em 2009, denunciando os oficiais do exército israelense que participaram do ataque militar a Gaza em 2008-2009 e por “atos anteriores cometidos na Palestina”. O problema é que o TPI até hoje não decidiu se a “entidade” Palestina tem direito a fazer essa queixa. O reconhecimento do Estado pela Assembleia Geral daria esse direito ao país.

Nesse caso, os palestinos também poderiam denunciar os colonos da Cisjordânia, com base na proibição, estabelecida nas Convenções de Genebra, de deslocamento forçado de populações. E isso preocupa muito o governo israelense.

O problema é que o TPI, assim como a ONU, é um órgão político, o que significa que suas decisões não são baseadas exclusivamente na lei. E esse problema, de decisões políticas, vem impedindo os palestinos de fazer valer seus direitos desde a partilha de 1947. Elas são tomadas com base no poder dos lobbies, não nos direitos humanos.

Plano D: “Toma que o filho é teu”

É o plano mais radical de todos. Mas defendido por muita gente, em especial os críticos da solução de dois Estados. Trata-se de dissolver a ANP, a OLP e deixar que os sionistas se responsabilizem pela Palestina. Na prática, significa abdicar do Estado próprio e fundir a Cisjordânia com Israel.

Embora essa seja uma proposta tentadora para a direita israelense, defensora do estabelecimento do Grande Israel em toda a Palestina histórica, apresenta problemas sérios para Israel. Ideia nesse sentido foi aventada em 2010 pelos sionistas linha-dura, mas logo abandonada, ou postergada, talvez pelas dificuldades que levanta. Uma delas é o que fazer com os quase 4 milhões de palestinos da Cisjordânia num Estado que em outubro de 2010 aprovou a “Lei de juramento de fidelidade”. Essa lei exige que todo cidadão de Israel jure fidelidade ao “Estado judeu democrático”, o que, definitivamente, nenhum palestino muçulmano ou cristão fará. Sem contar os aspectos econômicos, políticos, eleitorais, culturais e da tradição.

Outro problema é a chamada “bomba demográfica”. As muçulmanas palestinas têm, no mínimo, 3 ou 4 filhos, enquanto a maioria das israelenses prefere 1 ou 2. Segundo estudo da CIA divulgado em 2010, em 20 anos Israel entrará em colapso. Por isso, o professor Francis Boyle aconselha que os palestinos não assinem nenhum acordo com Israel. “É tempo de adotar uma nova estratégia”, escreveu ele em “The Impending Collapse of Israel in Palestine”, publicado no portal My Catbird Seat em 2 de outubro de 2010. “Com muito respeito, recomendo a eles que considerem esta: não assinem nada e deixem Israel desintegrar-se!”

[1] Essa exigência é incompreensível, uma vez que Israel foi fundado como “Estado judeu” e como tal foi reconhecido por Yasser Arafat, em carta ao então primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin, datada de 9 de setembro de 1993 (veja em http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Peace/recogn.html), e no Roadmap de 2003. Em entrevista ao jornal israelense Haaretz antes de morrer, em 2004, Arafat confirmou que reconhecera Israel como Estado judeu. É impossível que políticos e diplomatas são saibam disso. Mas é possível que entrem no jogo de Netanyhau a fim de criar mais obstáculos para a Palestina.


*Jornalista, autora de diversos livros e pós-graduanda em Filosofia. Mora em Ramallah, Palestina, onde é correspondente do jornal Brasil de Fato.

Publicado em CartaMaior

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A História se repete...


Produzido por Associação Cultural José Martí - Rio Grande
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domingo, 6 de junho de 2010

Inexplicável?

Juan Gelman

Tradução Rosalvo Maciel

Circulam várias hipóteses sobre a razão da operação militar israelense que causou a morte de 9 a 16 passageiros do navio de bandeira turca Mavi Marmara, dezenas de feridos, o seqüestro da frotilha que transportava 10 toneladas de ajuda humanitária para Gaza - bloqueada desde 2007 e invadida em 2008 - e a detenção de quase 700 pessoas, postas em liberdade depois de sofrer vexames de todo tipo. As explicações oficiais de Tel Aviv beiram o ridículo: os agredidos são agressores e os agressores, agredidos; os levados a Israel à força são imigrantes ilegais, aqueles que socorrem a palestinos famintos sãos cúmplices do Hamas primeiro, terroristas do Hamas depois, etc. É velha, muito velha, a técnica do vitimador vitimado.

O primeiro ministro Netanhayu justificou o ataque porque há que impedir que o Hamas receba armas “por ar, mar e terra” - obviando o fato de que as recebe por túneis convenientemente escavados - e afirmou que nenhum protesto o levará a levantar o bloqueio a Gaza. É a questão de fundo: Tel Aviv não renunciou ao sonho do Grande Israel e o cerco imposto a Gaza prejudica, mais que o Hamas, a seus habitantes, que já sofreram a Operação Chumbo Derretido, que tirou a vida de 1300 civis palestinos. Isto, em boa linguagem, se chama limpeza étnica e também sua história é velha.

O ideólogo do sionismo revisionista, Zeev Jabotinsky, declarou faz 87 anos que a única maneira de impor o Estado judeu era arrasar os árabes. Não é de estranhar que Ron Torossian, o organizador da manifestação Estamos com Israel em frente à missão da Turquía junto à ONU, tenha expressado esta opinião: “Creio que devemos matar a cem árabes ou a mil árabes por cada judeu que eles matam” (//gravker.com, 1610). Por que não cem mil, um milhão? Acaso Ariel Sharon não foi responsável, em 1982, pela matança de quase 500 civis palestinos desarmados nos campos de refugiados de Sabra e Shatila? Se isto é ideologia, há que mudar a definição da palavra ideologia.

A ação israelense parece guiada por outro conceito central de Jabotinsky: “Sustentamos que o sionismo é moral e justo. E dado que é moral e justo, há que fazer justiça ainda que José ou Simon ou Ivan ou Ajmed não estejam de acordo”, sustentou em um ensaio que publicou a revista russa Raavyet em novembro de 1923. Carlo Strenger, professor da Universidade de Tel Aviv, chamou “mentalidade de bunker” à imperante no país: Israel “não escuta a crítica, seja interior ou exterior. Essa incompetência é reforçada pela soberba: Israel está enamorado da idéia de que tem razão e que todos os demais se equivocam; por tanto, é incapaz de admitir que a política que aplica aos palestinos tem sido desastrosa” (www.haaretz.com, 2610). Strenger cita ao filósofo francês Bernard-Henri Lévy, um fervoroso defensor de Israel, o qual apelidou de “autismo político” este pensamento que atribui aos dirigentes israelenses: “O mundo não nos entende e nos condena se fazemos e nos condena se não fazemos, assim, fazemos o que queremos”. Jabotinsky redivivo.

Os EE.UU. sempre têm oferecido o espaço internacional necessário para que essa vontade se cumpra apesar a tudo. “A única democracia na região”, segundo a Casa Branca, não vacila em observar ao governo estadunidense nesse fazer o que queira. A reação de Obama ante o ataque ao navio turco e o “banho de sangue” conseqüente foi débil. Sequer o condenou, só pediu uma explicação dos fatos e aceitou que Tel Aviv rechaçasse a criação de uma comissão investigadora internacional. O mandatário norte-americano se converte assim em cúmplice da não investigação que haverá. Foi o vice-presidente Joe Biden quem ofereceu uma espécie de posição oficial sobre o tema: defendeu o bloqueio de Gaza e manifestou que Israel “tem o direito de saber” que carga levava o navio. Recorde-se que Netanyahu deu uma bofetada política em Biden quando este o visitou em março passado: o vice vinha para reforçar o processo de paz palestino-israelense e o primeiro ministro anunciou a construção de 1600 edifícios novos em território palestino ocupado. Vê-se que Biden é um homem que perdoa. É improvável que se produzam mudanças na estreita, muito íntima, relação EE.UU./Israel.

Cabe reconhecer que, à diferença de Tel Aviv, Washington não tem problema em abandonar os seus cidadãos em apuros. Cerca de dez estadunidenses viajavam no comboio de ajuda humanitária a Gaza, entre eles Joe Meadors, sinaleiro da fragata USS Liberty quando a bombardearam aviões e lanchas lança-torpedos de Israel em 1967; Ann Wright, coronel (R) do exército dos EE.UU.; Edward L. Peck, ex subdiretor do grupo de tarefas antiterrorista do gabinete de Reagan. Todos terroristas, naturalmente.


Publicado em Cuba Debate

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Agora, estamos todos sitiados em Gaza

Pepe Escobar

Imaginem se fossem comandos mascarados iranianos, atacando uma frota multinacional de seis barcos carregados com materiais de ajuda humanitária, em águas internacionais. EUA, União Européia e Israel, fariam desabar uma avalanche apocalíptica de “choque e horror” sobre o Irã.Em vez disso, foram israelenses mascarados; e perpetraram um golpe de diplomacia-de-assalto e assassinato na calada da noite – de ‘autodefesa’ –, em águas internacionais, a cerca de 130 km do litoral de Gaza.

E se fossem piratas da Somália? Não, não. São piratas israelenses, combatendo nebulosos “terroristas” muçulmanos. E pouco importa que a opinião pública no mundo árabe, os turcos, a Europa e todos os países em desenvolvimento estejam furiosos. E daí, que estejam furiosos? Israel sempre se safa, mesmo quando comete – como os turcos estão dizendo – “assassinatos” (e também quando pratica atos de “terrorismo de Estado”, nas palavras do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan da Turquia).

Cenas filmadas no convés do barco turco “Mavi Marmara” – que estão rodando o mundo, mas são quase invisíveis nas redes norte-americanas – não permitem qualquer dúvida sobre o que aconteceu. Comandos vestidos de negro, em trajes à prova de bala, armados até os dentes, israelenses, claro, abordaram o comboio de barcos em infláveis de alta velocidade, detonaram granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo e atiraram a esmo, munição real, contra tudo o que viam –, e um helicóptero militar sobrevoava os barcos. A certa altura, ouve-se o comandante turco do Marmara dizer, em inglês: “Ninguém tente qualquer resistência. Estão armados com munição [real].”

Ah, a “resistência”… A agência Debka, de fato, agência-máquina de distribuir falsas notícias, comandada pelo centro de inteligência digital do governo de Israel, descreveu os ativistas que viajavam como “armados com bombas, granadas de efeito moral, vidro quebrado, estilingues, barras de ferro, machadinhas e facas.” E para os comandos israelenses? Sobrou o quê? Pistolinhas de paintball?

E aí está – Monty Python mais um vez, tragicamente remixed para o século 21. As mais bem treinadas “forças especiais” do planeta, assaltam um barco no meio do mar, no meio da noite; e só queriam “conversar”. Mas foram atacados por um bando de terroristas armados com machadinhas e facas, num barco turco, abarrotado de remédios, sacos de cimento, material escolar, comida, purificadores de água, brinquedos – para 1,5 milhões de gazenses que estão morrendo morte lenta sob bloqueio de Israel já há três anos… porque elegeram democraticamente um governo do Hamás.

A agência Debka lamenta, só, que o exército de Israel [ing. Israel Defense Forces (IDF)] – “famoso pela capacidade no campo da eletrônica militar de inovação” – não tenha conseguido impedir a distribuição de sinais eletrônicos, de forma que continuaram a jorrar, dos barcos, texto e imagens enviadas de dentro. Melhor seria, comenta a Debka, que o mundo nada visse. A Debka também lamentou que o ataque tenha ocorrido em águas internacionais: “a zona de bloqueio começa a 20 milhas náuticas de Gaza. Acontecesse ali, seria mais fácil justificar a abordagem.” Obviamente, sabem que Israel não tem qualquer direito, pela lei internacional, nem dentro das tais 20 milhas náuticas, que são território de Gaza, sob ocupação ilegal de Israel.

“Estamos sofrendo muito…”

Ninguém suplanta Israel, em matéria de duplifalar a língua orwelliana do “guerra-é-paz”. Não só os comandos terroristas israelenses foram apresentados como vítimas.

Todo o mundo está sendo alvo, hoje, de um black-out de notícias, orquestrado por Israel. Ninguém sabe com certeza quantos civis morreram (nove, 19 ou 20? A maioria turcos? Talvez dois argelinos? Algum norte-americano ou europeu?) Ninguém sabe se tinham ou não tinham “armas”. Ninguém sabe em que momento os comandos israelenses perderam a cabeça, enlouqueceram e puseram-se a atirar contra tudo e todos (há testemunhas que falam de pessoas assassinadas nas próprias camas, dormindo).

Todos os passageiros, várias centenas, que viajavam nos barcos – muçulmanos, cristãos, diplomatas, funcionários de organizações não-governamentais, jornalistas – foram, de fato, seqüestrados pelos comandos israelenses. Ninguém sabe exatamente onde estão.

No rádio, só estática. Hoje, só alguns milhares de “porta-vozes” de Israel controlam toda a informação, em todo o mundo.

Nas palavras de Avital Liebovitch, porta-voz do exército de Israel, chamando a atenção para a felicidade que foi os comandos estarem lá “com aquelas armas” para se defenderem! (Em Israel, hoje, estão sendo saudados como “bravos heróis”).

E por aí vai, a novilíngua de Israel. “Terroristas” do Hamás vestidos como pessoas comuns, ocuparam aqueles barcos e acorreram às praças no mundo, só para aparecerem na televisão como “manifestantes” em “manifestações” internacionais. Nos barcos, usaram outros manifestantes como escudos humanos. E abriram fogo contra os comandos mascarados israelenses.

Assessor do ministro dos Negócios Exteriores Daniel Ayalon, por exemplo, disse que o comboio é “uma armada movida a ódio e violência, a serviço da al-Qaeda”. Como se o Hamás e a al-Qaeda tivessem mudado de ramo e, agora, ganhassem a vida no contrabando de cimento, suco de laranja e brinquedos chineses.

Absolutamente não importa, em nenhuma das versões israelenses, que a Organização Mundial da Saúde, em relatório recente, tenha insistido em que Gaza, hoje – por causa do bloqueio israelense e ilegal que a frotilha tentava romper – está a caminho da pobreza absoluta, desemprego absoluto, absoluta falta de remédios e equipamentos médicos e está, literalmente, sendo assassinada, morta por fome; não menos de 10% dos gazenses, a maioria crianças, estão fisicamente condenadas a não crescer normalmente, por efeito da desnutrição.

Os comandos mascarados israelenses que assaltaram os barcos estavam, ali, defendendo o bloqueio ilegal de Gaza. Trata-se disso.

Judeus progressistas, vivam onde viverem, são os primeiros a admitir que a Israel de hoje vive sob governo de extrema-direita, paranóicos, convencidos de que são vítimas de uma guerra global de propaganda. Por isso a eterna sempre mesma mensagem dirigida ao mundo – convenientemente envelopada em dólares dos contribuintes norte-americanos. Calem a boca! Shut up. As vítimas somos nós! Nós sempre somos as vítimas. E quem não concorda é anti-semita.

O bobo na Colina

Para felicidade de Israel, sempre há a terra pátria original da liberdade, terra de bravos. Só grandes fatias da população dos EUA, hoje, estão clamando por sanções contra o Irã e a RPDC, ao mesmo tempo em que fecham os olhos para o genocídio em que Israel trabalha, metodicamente, dia após dia, no Gulag israelense.

E só há um local, em todo o planeta, onde ainda há quem creia na narrativa vitimária de Israel (“somos as vítimas! Os judeus sempre são as vítimas!”) – vítimas, os israelenses, de uma frota de ativistas desarmados. Esse único local do mundo onde essa mentira ‘cola’ é o Congresso dos EUA. O Departamento de Estado dos EUA, em nota oficial, praticamente já processou, julgou e condenou os militantes pacifistas.

Quanto ao presidente Barack Obama dos EUA, até aqui se manteve tão mudo e invisível (imobilizado? Embaraçado? Assustado?) quanto nas primeiras semanas do vazamento do petróleo da BP no Golfo do México. A Casa Branca, de produção própria, só conseguiu “lamentar muito as mortes”. E nada disse contra Israel.

O israelense-em-chefe dentro da Casa Branca, Rahm Emanuel, em visita a Israel semana passada, convidara o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a visitar Obama, para fazer as pazes com Obama. O convescote estava previsto para essa 4ª-feira. Ontem, 2ª-feira, Netanyahu cancelou a viagem.

Diz-se em Washington que Obama, agora, esquecerá a questão das novas construções exclusivas para judeus na Cisjordânia e as abomináveis condições em que vivem os palestinos no Gulag de Gaza, tudo esquecido para sempre, em troca de um dinheiro extra, crucialmente necessário para que os Democratas vençam as eleições legislativas de novembro próximo. Obama esquece, e os doadores judeus metem a mão no bolso. Depois do massacre da madrugada da 2ª-feira, não há dúvidas de que o dinheiro aparecerá: basta que Obama não ultrapasse o limite da lamentação de mortes, e pronto.

Mais uma vez, Obama – pobre Obama, infeliz Obama! – é emasculado, tratado como satrapa de República de Bananas; e Netanyahu canta-de-galo, patético travesti da música Macho-macho-man, do [grupo] The Village People.

Dado que os barcos da frota humanitária viajavam sob bandeiras turca, grega e irlandesa, os comandos israelenses, de fato, atacaram um microcosmo-amostra da verdadeira “comunidade internacional” de carne e osso e sangue. – Netanyahu está sossegado, certo de que, mais uma vez, Israel se safará.

Presidente, presidente… Como é fazer o papel de bobo da Colina em Washington?

E quanto a nós, o resto do mundo, como é, fazermos também nós o papel de bobos da Colina – exceto países que, como Brasil, Rússia, Índia e China, mais Turquia, França e Espanha, podem manifestar-se livre e claramente, com horror, sobre o assalto israelense?

Há algo que podemos fazer – possibilidade que já se discute em algumas poucas latitudes: boicotar produtos israelenses, ou impor sanções a Israel. Ferir a economia deles. Isolá-los diplomaticamente. Se, para a maioria dos israelenses, todo o mundo é seu inimigo – governos, organizações, ONGs, agências de socorro humanitário, opinião pública – porque não os fazer experimentar o próprio remédio?

Original em Fundação Maurício Grabois
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A marcha da insensatez

Como disse o historiador judeu Avi Shlaim vivemos uma situação surreal onde uma parte significativa da comunidade internacional não impôs sanções econômicas contra o ocupante, mas contra a ocupação, não contra o opressor, mas contra o oprimido. Por que o direito de Israel em "se defender" o exime de ter responsabilidades morais? Chegou a hora da chamada comunidade internacional ser um pouco mais sensata. O artigo é de Reginaldo Nasser.
Reginaldo Mattar Nasser (*)

Quanto mais o governo de Israel e seus apoiadores tentam explicar o ato de pirataria cometido nas embarcações de ajuda humanitária, mais se explicita uma tentativa desesperadora de afirmar uma realidade que escapa a todo o momento e que se torna cada vez mais insustentável. A porta-voz das forças armadas israelenses justificou o ataque fora do mar territorial como uma ação preventiva e imputou a responsabilidade pelo confronto e pelas mortes aos ativistas. Para arrematar forneceu uma informação extremamente relevante para justificar o direito à defesa, os ativistas tinham a intenção de linchar os soldados e estavam portando “barras de ferro, bolas de gude, e estilingues” e alguns integrantes dos comandos israelenses estavam com armas do paintball !

Se isso não bastasse, duas semanas antes a BBC (15 de Maio de 2010) teve acesso a documentos apresentados num tribunal israelense, por solicitação de uma organização israelense de direitos humanos (Gisha), que contém detalhes sobre o bloqueio da Gaza. Israel descreve as severas restrições como "um conjunto meios de que dispõe o Estado de Israel no conflito armado com o Hamás" e lá constam estimações sobre a quantidade mínima de calorias que necessitam consumir os habitantes de Gaza. Os produtos que Israel permite introduzir em Gaza têm mudado com o tempo, obrigado as organizações humanitárias adivinhar o que é permitido ou não. Entre a ampla gama de produtos que atualmente estão proibidos se incluem marmelada, chocolate, madeira para moveis, sucos de frutas e produtos têxteis!!

Entretanto esses relatos bizarros revelam algo trágico. De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 61% da população de Gaza tem acesso precário aos alimentos. Desde a imposição do bloqueio econômico triplicou o número de refugiados palestinos que não tem meios para comprar itens básicos (alimentos, água potável e material escolar). Entre 2008 e 2009, a pesca, em Gaza, diminuiu 47%, como conseqüência da restrição imposta por Israel aos barcos a apenas três milhas da costa. As sanções econômicas impostas por Israel e o Quarteto (grupo formado pela ONU, União Européia, Rússia e EUA) tiveram início após as eleições legislativas de janeiro de 2006 que levaram o Hamas democraticamente ao poder e foram suspensas em junho de 2007 após a invasão militar de Gaza, mas o bloqueio de Israel se intensificou desde então.

A operação militar de Israel (2008-2009) danificou 15 dos 27 hospitais de Gaza e danificou ou destruiu 43 das 110 instalações de cuidados primários de saúde, nenhuma das quais foram reparadas ou reconstruídas por causa da proibição de materiais de construção. Cerca de 20% por cento dos medicamentos essenciais são comumente fora de estoque e há falta de muitos itens de equipamentos médicos de acordo com o relatório da OMS. (os dados podem ser encontrados em http://www.irinnews.org/Report.aspx?ReportId=89302)

A precária situação de Gaza se deteriorou significativamente desde 2005. Naquele momento uma série de fatores no Oriente Médio proporcionou uma onda de otimismo nos EUA fazendo com que muitos avaliassem que se tratava da “primavera árabe”: o falecimento de Arafat em 2004, seguido da eleição de Abbas à presidência da Autoridade Palestina e a participação do eleitorado iraquiano nas eleições após a queda de Sadam Hussein. O impacto foi tão forte que até mesmo vários críticos do governo Bush reconheciam que a política dos EUA finalmente começava a produzir bons resultados, a prova cabal de que os EUA estavam realmente determinados a apoiarem a democracia no Oriente Médio. No entanto, o que houve foi a manifestação de um grande descontentamento e um profundo desejo de mudança na “rua árabe”. Podendo competir livremente nas eleições Hezbollah e Hamas emergiram triunfantes nas eleições no Líbano e Palestina (2005-2006). A reação pode ser avaliada nas palavras do articulista do Times: a democracia está sendo “seqüestrada”, os terroristas estão usando as eleições para perseguir islamizar o mundo árabe (Friedman, 2006).

Na verdade tratou-se de uma clara demonstração que esses chamados “terroristas” não rejeitam reformas democráticas, pelo contrário, lutam contra o despotismo e corrupção e os abusos praticados por aqueles que estão no poder, e buscam realizar reformas políticas que correspondam aos seus valores e que possam ser implementadas em um ritmo consistente com a composição social e as condições políticas de suas respectivas comunidades. “Podemos realmente nos dar ao luxo de acreditar que de alguma forma extremistas cruéis podem ser apaziguados?", questionou o então secretário de Defesa Rumsfeld.

Em dezembro de 2005, um mês antes da eleição palestina, o Congresso dos EUA aprovou uma resolução por uma maioria esmagadora 397-17 (com votos de Hillary Clinton e Obama) anunciando sanções por ter, a Autoridade Palestina, permitido a participação do Hamas nas eleições que foram acompanhadas por observadores internacionais e reconhecidas como livres e justas. O Hamas obteve a maioria do Parlamento e do direito de escolher o primeiro-ministro, mas devido à pressão dos EUA Abbas recusou o convite do Hamas para formar um governo de unidade nacional.

Ainda que de forma reticente e dividido Hamas agiu pragmaticamente aceitando três grandes condições que a ONU, a UE e os EUA lhe haviam exigido para por fim ao boicote econômico e diplomático: aceitava trégua unilateral, ‘honraria’ os acordos prévios feitos pela OLP e, conseqüentemente, um reconhecimento de fato de Israel. Em maio de 2006 o The Guardian divulgou relatório de autoria de Álvaro de Soto ( alto representante da ONU no Oriente Médio) com duras críticas à postura dos EUA, de Israel, e da própria ONU na condução das negociações que deveriam encerrar o conflito na região. Afirmava que Israel impôs "precondições inalcançáveis" para o diálogo após a eleição do grupo Hamas com o intuito de levar à queda precoce do governo e acusou os EUA de ter estimulado o confronto entre o Hamas e o Fatah.

Será que a simples destruição dos movimentos populares como o Hamas ou o Hezbollah traria suas respectivas comunidades mais próximas do ocidente? As sucessivas invasões militares e o bloqueio econômico criminoso serviram para fortalecer ainda mais o Hamas, e as guerras no Afeganistão e Iraque geraram insurgências e ações terroristas ampliando seu alcance e seu apelo em todo o Oriente Médio. Será que o que está em jogo não é a democracia ocidental, mas o direito de ser tratado no mesmo nível de igualdade em todos os aspectos, incluindo o de escolher viver em seu território?

O relatório do jurista Goldstone sobre o conflito na faixa de Gaza culpa o governo de Israel de crimes de guerra. Israel forjou passaportes britânicos e australianos usado pelos assassinos para matar um comandante do Hamas em Dubai. Israel anuncia planos para construir 1.600 casas para judeus em uma área da Cisjordânia anexada. Os signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT) aprovaram por unanimidade declaração instando Israel a assinar o TNP, e colocar as suas instalações nucleares sob salvaguardas da ONU. Por que o direito de Israel em "se defender" o exime de ter responsabilidades morais?

Como disse o historiador judeu Avi Shlaim vivemos uma situação surreal onde uma parte significativa da comunidade internacional não impôs sanções econômicas contra o ocupante, mas contra a ocupação, não contra o opressor, mas contra o oprimido. Chegou a hora da chamada comunidade internacional ser um pouco mais sensata.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC-SP

Original em CartaMaior
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Porque Israel atacou civis no Mediterrâneo?

Thierry Meyssan*
Traduzido por David Lopes

O ataque conduzido por Israel através de patrulhas equipadas com lança - mísseis de categoria Saar no dia 31 de Maio de 2010, contra a frota da Liberdade, em águas internacionais, ilustra a corrida precipitada de Tel-Aviv. A frota da Liberdade é uma iniciativa iniciada por militantes dos direitos humanos [1] [2], apoiados pelo governo turco. Os seus objetivos são de conduzir ajuda humanitária até Gaza e, ao mesmo tempo, quebrar o bloqueio imposto de forma ilegal pelo exército israelita e que afeta mais de 1,5 milhões de habitantes.



A decisão de abordar navios civis em águas internacionais constitui, sob o direito internacional, um «ato de guerra». Legalmente falando, houve roubo de navios e do seu carregamento, seqüestro de passageiros e homicídios. Estes podem ser considerados assassinatos se considerarmos o fato de que a informação prestada pela televisão turca revela a existência de uma lista, em posse dos soldados, com nomes de personalidades a liquidar durante o assalto.

Este ato de guerra, contra navios hasteando bandeiras gregas e turcas, foi realizado com o objetivo de consolidar o bloqueio existente, o qual constitui em si uma violação do direito internacional.

Escolhendo o argumento da «legítima defesa», as autoridades israelitas reivindicaram explicitamente a sua soberania em águas internacionais a 69 milhas náuticas do largo da Palestina. Esta anexação – temporária ou de duração longa – seria necessária para prosseguir com o bloqueio, sendo este essencial para a segurança do Estado de Israel.

Abordando um navio turco e matando passageiros, Tel-Aviv escolheu responder á crise diplomática que a opõe a Ancara desde Janeiro de 2009 primeiramente de forma militar. Esta iniciativa provocará uma crise no seio do Estado-maior turco e entre este e o governo turco. Entretanto, e embora a Turquia tivesse sido durante meio século o melhor aliado de Israel na região, o resultado será uma ruptura completa de relações militares entre os dois países. De agora em diante, as manobras conjuntas turco-israelitas serão canceladas por tempo indeterminado. Além disso, apesar da Turquia ter sido um parceiro vital para a economia israelita esta crise poderá igualmente ter conseqüências nas relações comerciais entre os dois países.

No entanto, Tel-Aviv tinha de anular a credibilidade da Turquia numa altura em que esta se aproxima da Síria e do Irão e ambiciona a criação de uma nova parceria de autoridade regional. [3]. Num futuro próximo, Israel deveria sancionar o papel de Ancara nas negociações do Protocolo de Teerã sobre a indústria nuclear iraniana.

Do lado turco, onde já se esperava uma demonstração de força mas não letal, segundo a doutrina neo-otomana teorizada pelo professor Ahmet Davutoğlu, ministro dos negócios estrangeiros, chegou o momento da Turquia se colocar na posição de defensor do povo palestino. Sem esperar pelo retorno do primeiro-ministro Recep Erdoğan, de viagem na América central, o embaixador turco em Tel-Aviv foi chamado de volta a Ancara para se juntar á célula de crise criada e liderada pelo vice primeiro-ministro, Bülent Arınç. Esta entrou de imediato em contacto com os 32 governos representados pela nacionalidade dos passageiros da frota. Todo o pessoal diplomático turco foi mobilizado no sentido de contatar e sensibilizar o máximo número possível de países e organizações internacionais. Numa conferência de imprensa o Sr. Arınç exigiu a restituição imediata dos três barcos furtados e do seu carregamento, bem como a libertação das centenas de cidadãos turcos seqüestrados. Escolheu referir-se ao ataque como sendo um ato de «pirataria» (e não de guerra), de forma a dar possibilidade ao governo de Netanyahu de apresentar o assunto como sendo uma «mancha» e não um ato político. Nesta lógica, o presidente Abdullah Gül exigiu que os tribunais israelitas julgassem os responsáveis desta matança.

No Chile, o Sr. Erdoğan declarou: «Esta ação é totalmente contrária aos princípios do direito internacional, isto é terrorismo que vem de um Estado desumano. Falo a todos os que apoiaram este ato: vocês apóiam o derramamento de sangue, mas nós apoiamos os direitos humanos e a paz». A Turquia faz parte da NATO. Se não obtiver uma resposta da parte de Israel que satisfaça poderá classificar o ataque como ato de guerra e recorrer a ajuda militar dos Estados membros da Aliança, conforme artigo 5 do tratado. O governo de Netanyahu convidou todos os emigrantes presentes na Turquia a saírem do país. Enquanto isso se tem multiplicadas manifestações espontâneas frente á embaixada israelita onde se reclama vingança.

A 26 Maio de 2010, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recebe em Tel-Aviv o secretário-geral da Casa Branca, Rahm Emanuel. Este lhe faz um convite da parte de Barack Obama, que Israel recusará cinco dias mais tarde. Do lado dos EUA, este assunto faz lembrar o USS Liberty (8 Junho 1967). Durante a guerra dos Seis dias, os israelitas atacaram um navio militar americano, o USS Liberty, causando 34 mortos e 171 feridos. Tel-Aviv apresentou as suas desculpas pelo mal-entendido no campo de batalha. Washington aceitou oficialmente as desculpas, no entanto viu naquele ato uma ação propositada. Naquela época, os israelitas queriam sancionar as críticas lançadas pelos EUA.

Desta vez, o ataque á frota da Liberdade pode ser considerado uma sanção depois de Washington ter votado a favor de uma resolução, dos Estados signatários do Tratado de não-proliferação, que inclui Israel em declarar as suas armas nucleares e a aceitar os controles da Agência Internacional da Energia Atômica.

A decisão israelita de atacar navios civis em águas internacionais é tomada depois do assassinato de um dirigente palestino, nos Emirados, pela Mossad; depois da descoberta de um vasto sistema de falsificações de passaportes em detrimento de países ocidentais; e depois da recusa de participação na conferência internacional sobre o Tratado de não-proliferação. Este conjunto de acontecimentos pode ser interpretado como uma sucessão de golpes perpetrados por um Estado certo de sua impunidade – e neste caso, poderia tratar-se de mais um golpe ou até de um golpe a mais – ou, considerando a fricção pública entre Israel e a administração EUA – poderia tratar-se de uma reivindicação do leadership do movimento sionista mostrando que Tel-Aviv decide e Washington consente—. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de viagem á América do Norte, decidiu cancelar a sua visita ao Canadá e anular o encontro na Casa-Branca. Foi contatando por telefone pelo presidente Obama que lhe pediu explicações pelo sucedido.

A Alta Comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, Navi Pillay, declarou que a operação israelita não tem qualquer justificação jurídica. O Rapporteur especial dos direitos humanos nos territórios ocupados palestinos, Richard Falk, destacou que para além do atentado á liberdade de circulação nas águas, o problema central continua a ser o bloqueio. Afirmou que: «A menos que ações decisivas sejam tomadas prontamente para desafiar a aproximação de Israel a Gaza, seremos todos cúmplices de uma política criminosa que ameaça a sobrevivência de uma comunidade cercada». O Conselho de segurança foi convocado de urgência, neste dia (31/05/2010) ás 18h TU. O ministro turco dos negócios estrangeiros partiu para New York.

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*Analista político, fundador do Réseau Voltaire. Último livro publicado: L’Effroyable imposture 2 (a remodelação do Oriente Próximo e a guerra israelense contra o Líbano)
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1] « Dr. Arafat Shoukri : "Les conditions sont réunies pour faire de cette flottille un point de rupture" », entretien avec Silvia Cattori, Silviacattori.net, 23 avril 2010.

[2] Les principaux organisateurs de la flottille de la liberté sont : Mouvement Free Gaza, Campagne Européenne pour Arrêter le Siège de Gaza (ECESG), Fondation turque d’Aide Humanitaire (IHH), Fondation malaisienne Perdana et Comité International pour Lever le Siège de Gaza.

[3] « Basculement stratégique au Proche-Orient », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 15 mai 2010.
Original em VoltaireNet

terça-feira, 1 de junho de 2010

O ataque mortal de Israel à frota de barcos humanitários que iam em direção a Gaza chocou o mundo

Israel, como qualquer outro Estado, tem o direito de se defender, mas isso foi um uso abusivo de força letal para defender o bloqueio vergonhoso de Israel a Gaza, onde dois terços das famílias não sabem onde encontrarão sua próxima refeição.

As Nações Unidas, a União Européia e quase todos os outros governos e organizações multilaterais têm pedido a Israel para acabar com o bloqueio, e para lançar uma profunda investigação sobre o ataque à frota. Mas sem pressão maciça dos seus cidadãos, os líderes mundiais vão limitar sua resposta a meras palavras – como eles já fizeram tantas vezes.

Vamos gerar um clamor global tão alto, que não possa ser ignorado. Assine a petição para exigir uma investigação independente sobre o ataque, a responsabilização dos culpados e o fim imediato do bloqueio à Gaza – clique para assinar a petição, e depois repasse essa mensagem a todos os que você conhece:


A petição será entregue às Nações Unidas e aos líderes mundiais, assim que alcançarmos 200.000 nomes – e novamente a cada oportunidade à medida que a lista for crescendo e que os líderes forem reagindo à situação. Uma petição massiva em um momento de crise como esse pode demonstrar aos que estão no poder que declarações e notas à imprensa não são suficientes – que os cidadãos estão prestando atenção e demandam ações concretas.

Enquanto a União Européia decide se irá expandir suas relações comerciais com Israel, e o Obama e o Congresso Americano definem o orçamento para ajuda militar a Israel para o ano que vem, e vizinhos como a Turquia e o Egito decidem seus próximos passos diplomáticos – vamos fazer com que a voz do mundo não seja ignorada: é tempo de verdade e de responsabilizar os culpados pelos ataques aos navios, e é tempo de Israel respeitar o direito internacional e acabar com o bloqueio a Gaza. Assine agora e passe essa mensagem adiante:


A maior parte das pessoas em qualquer lugar ainda compartilha o mesmo sonho: que haja dois Estados livres e viáveis, Israel e Palestina, que possam viver em paz lado a lado. Mas o bloqueio e a violência usada para defendê-lo, envenenam este sonho. Como um colunista israelense escreveu para os seus compatriotas no jornal Ha’aretz hoje, “Nós não estamos mais defendendo Israel. Nós estamos agora defendendo o bloqueio (a Gaza). O bloqueio por si só está se tornando o Vietnam de Israel.”

Milhares de ativistas pela paz em Israel protestaram hoje contra o ataque e o bloqueio, em passeatas desde Haifa até Tel Aviv e Jerusalém – se unindo a protestos ao redor do mundo. Independente de que lado atacou primeiro ou deu o primeiro tiro (o exército Israelense insiste em dizer que não foram eles que iniciaram a violência), os líderes de Israel mandaram helicópteros armados de tropas pesadas para atacar uma frota de navios em águas internacionais, que levava remédios e ajuda humanitária para Gaza, gerando mortes desnecessárias como conseqüência.

Não podemos trazê-los de volta. Mas talvez, juntos, nós possamos fazer deste momento trágico, um ponto de virada – se nós nos unirmos em um chamado de justiça inabalável e um sonho de paz inviolável.

Com esperança,

Ricken, Alice, Raluca, Rewan, Paul, Iain, Graziela e toda a equipe Avaaz

Saiba mais:

Entenda como funciona o bloqueio à Faixa de Gaza:


Israel ataca barcos que tentavam furar bloqueio de Gaza e mata ativistas:


Israel admite erros em abordagem militar em ataque a frota humanitária:


Comunidade internacional condena ataque de Israel à frota humanitária:


Conselho de Segurança da ONU condena ataque de Israel a frota humanitária:

 

O Ataque Pirata de Israel Exige Condenação do Sionismo Fascista

Os Editores de O Diário


O ataque pirata de Israel à flotilha da liberdade que navegava para Gaza carregada de alimentos e outros donativos para aquele povo palestino configura mais um ato de terrorismo de estado do governo sionista neofascista de Benjamin Netanyahu.

Os seis barcos saídos de Chipre encontravam-se em águas internacionais quando ocorreu a agressão. Segundo um jornalista da Al Jazeera que se encontrava a bordo de um dos barcos o número de mortos terá sido de 19, registando-se pelo menos 30 feridos.

Tel Aviv afirma que os militares israelenses agiram em legítima defesa. O bando de piratas desceu de um helicóptero para assassinar gente desarmada e brada que foi agredido. O argumento lembra os da propaganda do Reich nazi.

Como era de esperar as grandes mídias internacionais esforçam-se por minimizar o significado do monstruoso crime, definido por muitos como um «incidente lamentável».

Mas o imperialismo não tem o poder de travar a vaga de indignação que percorre o mundo. Em todos os Continentes cresce a solidariedade com o povo heróico de Gaza, vítima de um bloqueio condenado pela humanidade democrática.

Da Palestina chega o apelo para que essa solidariedade se expresse desde já em manifestações junto das embaixadas do Estado sionista.

A ele nos associamos fraternalmente.

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Apelo a protestos contra o ataque israelita à flotilha de ajuda humanitária para Gaza

Várias organizações de solidariedade com a Palestina, e de direitos humanos, estão a organizar para hoje, segunda-feira, dia 31 de Maio um protesto frente da Embaixada de Israel.

O bloqueio de Gaza e a toda a violência associada ao cerco do povo palestino são condenáveis à luz do direito internacional e, ainda mais importante, chocam a consciência da humanidade.

Face à impotência da comunidade internacional em impor a sua vontade a Israel, para fazê-lo respeitar as suas normas e o direito de Gaza a viver, cabe a pessoas de consciência de atuar.

Assim, um conjunto de mais de 700 ativistas de direitos humanos dirigiam-se à Gaza numa flotilha de barcos carregados apenas com ajuda humanitária para tentar romper o cerco desumano de Gaza.

Israel referiu-se à flotilha como “provocação” mas são os líderes de Israel que estão a provocar a comunidade internacional com a manutenção do cerco e bloqueio de Gaza!

O ataque israelita à flotilha de ajuda humanitária em que morreram pelo menos 19 ativistas é um ato particularmente repugnante e merece o nosso mais veemente protesto.

Vimos por isso apelar às pessoas de consciência e a todos que prezam o direito internacional para se juntarem aos protestos, como o de Lisboa hoje.

Original em Todos por Gaza
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sexta-feira, 5 de março de 2010

Nos montes pedregosos da Cisjordânia, a Palestina vai morrendo devagar

Robert Fisk


Fonte: Uruknet
Tradução de F. Macias

A zona C não dá impressão de fazer mau agouro. Uma terra de montes cinzentos salpicados de pedras e vales verdes e macios faz parte dos destroços, do igualmente destroçado Acordo de Oslo, que constam dos 60% da Cisjordânia ocupada por Israel, que era suposto serem eventualmente entregues aos seus habitantes palestinos.

Mas olhando para as estatísticas e dando uma vista de olhos à pilha de ordens de demolições que se encontram na secretária de Abed Kasab, chefe do conselho da aldeia de Jiftlik, tudo faz lembrar uma limpeza étnica, via burocracia. Perversa pode ser a palavra adequada à papelada envolvida. Obscenos parecem ser os resultados.

Casas de palestinos não autorizadas a manterem-se de pé, telhados que têm de ser desmantelados, poços fechados, sistemas de esgotos demolidos; Numa aldeia eu vi até um sistema elétrico primitivo, no qual os Palestinos têm que enterrar os postes elétricos em blocos de argamassa e cimento que ficam à superfície do caminho. Levantar os postes na terra teria como certa a sua destruição – nenhum palestino pode escavar um buraco de mais de 40 cm abaixo do solo.

Mas vamos voltar à burocracia. “Ro’i” – se este é de fato um nome oficial israelita, porque é difícil de decifrar – assinou uma série de ordens de demolições em Jiftlik em Dezembro passado, todas devidamente passadas em árabe e hebraico, ao Sr. Kasab. Vinte e uma delas vão – não seqüencialmente – do número 143912 até 145059, todas do “Controle do Conselho Superior do Planejamento (sic) da Subcomissão da Administração Civil no Distrito da Judéia e Samaria”. Judéia e Samaria – para pessoas comuns – é a Cisjordânia ocupada. A primeira comunicação é datada de 8 de Dezembro 2009 e a última de 17 de Dezembro.

E quando o Sr. Kasab fixa as ordens, isso é um problema menor para ele. Os pedidos dos palestinos para construir casas ou demoram anos ou são recusados; as casas construídas sem autorização são demolidas implacavelmente; os telhados de zinco têm que ser camuflados com folhas de plástico, na esperança de que a Administração Civil não as vá considerar um piso suplementar – caso contrário os rapazes do “Ro’i” acabariam por arrancar a parte superior da casa.

Na zona C, há até 150.000 palestinos e 300.000 colonos judeus vivendo – ilegalmente ao abrigo do direito internacional – em 120 alojamentos oficiais e em 100 “ não aprovados” ou, em linguagem atual, “postos avançados ilegais”; ilegais, tanto para os israelitas como pelo direito internacional, isto é – em oposição às 120 colônias ilegais que são legais à luz do direito de Israel. Não é preciso dizer que os colonos judeus, não têm problemas de licenças de construção.

O sol de inverno brilha através da porta do gabinete do Sr. Kasab e a fumaça dos cigarros envolve a sala, assim como homens irados, gritam as suas queixas. “Não me interessa se você inscreveu o meu nome ou não, estou cheio de raiva e vou enfrentar as conseqüências,” diz um. “Respirar é a única coisa a que ainda nos dão licença, por enquanto! “ Os desabafos estão estafados, mas a fúria é real.

“Habitações, novas estradas, depósitos de água, estamos à espera há três anos para obtermos licenças. Não nos concedem a licença para um centro de saúde novo. Temos pouca água tanto para uso pessoal como para a agricultura. Uma licença para repararmos o sistema aqüífero custa 70.000 shekels israelitas (cerca de US$ 18.000) – custa mais do que o próprio sistema de reparação.”

Uma viagem ao longo das estradas desertas da zona C – desde os arredores de Jerusalém até a meio úmida bacia do vale Jordão – leva-nos através de montes escuros e despidos de vegetação, vales pedregosos envolvidos em grutas profundas e ancestrais, até que mais a leste se encontram os campos dos palestinos e bosques de palmeiras dos colonos judeus – com cercas eletrificadas à volta – e os casebres de barro e pedra, dos palestinos criadores de carneiros. Este paraíso é uma dupla ilusão. Uma parte dos habitantes, os israelitas, pode lembrar a sua história e viver no paraíso. A parte menor, os árabes palestinos, é capaz de olhar através destas maravilhosas terras e lembrar a sua história – mas já estão fora do paraíso e dentro do limbo.

Mesmo as ONGs do ocidente que trabalham na zona C encontram o seu trabalho na ajuda aos palestinos, bloqueado pelos israelitas. Isto não é apenas um “entrave” ao “processo de paz”- seja lá isso o que for – mas um escândalo internacional. A Oxfam, por exemplo, pediu aos israelitas uma licença para construir um depósito de água subterrâneo, com uma capacidade de 300 m2 e uma canalização subterrânea de 700 m, para os milhares de palestinos que vivem nas imediações de Jiftlik. Foi recusado. Então eles informaram que pretendiam instalar, à superfície do solo, dois depósitos de fibra de vidro, um cano e uma bomba de água. Disseram-lhes que precisavam de uma licença mesmo se as canalizações fossem à superfície – e recusaram-lhes a licença. Como último recurso, a Oxfam está agora distribuindo pequenos depósitos de água em cima dos telhados.

Eu encontrei por acaso um exemplo, ainda mais escandaloso, do apartheid-por-licença na aldeia de Zbeidat, onde uma equipe de ajuda humanitária da União Européia estava fazendo 18 instalações de saneamento para libertar a pequena aldeia do cheiro repugnante dos esgotos que atravessam os jardins e a estrada principal e que segue pelos campos. Este sistema que custou 120.000 dólares – uma série de 40 canalizações que são regularmente limpas através de caminhões de lixo – foi devidamente instalado porque era localizado dentro da zona B, onde não foi pedida qualquer licença de construção.

Contudo, agora os israelitas disseram a quem trabalha na ajuda que a obra “tem que parar” na sexta, das 18 instalações – um aviso à sua demolição, embora já estejam construídas do outro lado da estrada – porque parte da aldeia fica na zona C. É escusado dizer que ninguém, nem palestinos nem israelitas, sabe qual é a linha divisória entre a zona B e C. Assim, cerca de 30.000 dólares do dinheiro europeu foram deitados fora pela israelita “Administração Civil”.

Mas de qualquer forma, esta torrente de papéis de licenças e não-licenças está a pretender escamotear a terrível realidade da zona C. Muitos ativistas israelitas, assim como as ONG ocidentais, suspeitam que Israel pretenda forçar os palestinos a deixarem as suas terras, casas e aldeias e partirem para o horror das zonas B e A. A zona B é controlada, em conjunto, pelo exército israelita, autoridades civis e polícia palestina, e a zona A pela pateta Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas. Assim, os Palestinos podiam ficar a discutir sobre uns míseros 40% da Cisjordânia ocupada – que já é uma pequeníssima fração de 22 % da Palestina Mandatada, a qual também, em tempos, o inútil Yasser Arafat teve esperanças de governar. Acresce a isto que 18% da zona C são designadas pelos israelitas por “áreas militares restritas” e acrescem outros 3% escandalosamente designados por uma “reserva natural” - seria interessante saber que espécie de animais anda ali a pastar - e o resultado é óbvio mesmo sem ordens de demolições, os palestinos não podem construir em 70 % da zona C.

Ao longo duma estrada, eu descobri uma série de grandes blocos de argamassa e cimento, colocados ali pelo exército israelita, em frente das habitações toscas e mal construídas, palestinas. “Perigo – Zona de Fogo” estava inscrita em cada uma delas, em hebraico, árabe e inglês. “Entrada Proibida”. O que é que os palestinos que aqui vivem, pensam fazer? A zona C, devemos acrescentar, são os territórios ocupados mais ricos, com produção de queijos e criação de animais. Muitas das 5.000 almas de Jiftlik foram já refugiados, as suas famílias fugiram das suas terras para Jerusalém ocidental – o Israel de hoje – em 1947 e 1948. E a sua tragédia ainda não acabou, é claro. A que preço, Palestina?


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quem é o terrorista?

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Um ano do massacre de Gaza

Há um ano, Israel começava um dos mais bárbaros massacres contemporâneos. Ingressou, com todo seu poder de fogo, em uma região já cercada, que não dava possibilidade de fuga à sua população. O Exército que, há décadas, mais recursos recebe da maior potência bélica da história da humanidade, os EUA, descarregava todo seu poderio sobre uma população indefesa, acusada de colocar em risco, com pífios foguetes domésticos (a tal ponto, que Israel não conseguiu descobrir nenhuma das supostas bases de lançamento, nem lugares de sua fabricação) que não tinham provocado nenhuma vitima no seu território. Israel utilizou inclusive armas proibidas, como fósforo branco, sobre a população palestina, encerrada na área mais densamente povoada do mundo.

Os ataques, que não encontraram nenhuma resistência militar, apenas moral, duraram 22 dias, chegando a provocar 225 mortos em um único dia. 1450 palestinos morreram, dos quais 439 menores de 16 anos e 127 mulheres. 4100 edifícios foram destruídos e outros 1 mil foram danificados. A missão de investigação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas caracterizou os ataques como “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.

Foram destruídas milhares de casas, comércios, além de plantações, hospitais, escolas, universidades, clínicas – tudo que os tanques israelenses encontravam pela frente. Gaza se transformou numa terra arrasada. Quem a visitou depois daqueles terríveis 22 dias, relata que nada tinha ficado de pé, como conseqüência da orientação do Exército israelense, de que “ninguém é inocente em Gaza”.

Um ano depois da agressão, os corredores de entrada para Gaza continuam fechados, nada foi reconstruído, caminhões com alimentos e remédios apodrecem no deserto, às portas de Gaza, enquanto todo tipo de doença afeta a população, indefesa, diante do brutal cerco israelense e a impotência cúmplice da comunidade internacional. Dos 4 bilhões, 481 milhões de dólares arrecadados por mais de 70 países em conferência realizada em março no Egito, para a reconstrução, nada chegou a Gaza, fazendo com que a paisagem seja a mesma – ou pior, sobretudo pelas doenças – de quando os israelenses, impotentes para derrotar a resistência civil dos palestinos, se retiraram de Gaza.

O Egito colabora com esse cerco criminoso, ao deixar fechado o corredor a que tem acesso e ao construir agora um muro que tenta impedir a precária circulação por túneis clandestinos, por onde os palestinos fazem chegar os alimentos mínimos para impedir que morra de fome a população de Gaza. O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, conclamou a que todos os países do mundo coloquem em prática sanções econômicas e de outra ordem contra Israel, pelas responsabilidades deste país no massacre e no cerco que mantêm contra Gaza.

Os 700 mil habitantes de Gaza desapareceram dos noticiários internacionais, assim que as tropas israelenses se retiraram. O governo de Israel busca desviar a atenção sobre a ocupação dos territórios palestinos e o cerco a Gaza, aumentando ainda mais a instalação de assentamentos judeus em pleno coração das cidades e dos campos da Cisjordânia, de onde saem regularmente jovens judeus, protegidos por tropas israelenses, para atacar casas, comércios, queimar plantações centenárias de azeitonas das indefesas famílias palestinas.

Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto – segundo as palavras do próprio Jimmy Carter -, acobertado e armado pela maior potência militar da história, os EUA, que promove a guerra e pretende ser agente de negociações de paz. Nem sequer consegue deter a instalação de novos assentamentos – se é que pretende detê-los. Israel, um país que detêm, confessadamente, armamentos nucleares, ocupa territórios de outro país, impedindo que ele exerça os mesmos direitos que Israel goza, por resoluções das próprias Nações Unidas, tornando-se um Estado pária da legalidade internacional.

A posição do governo brasileiro de que somente incorporando outros governos – não comprometidos com os genocídios cometidos por Israel, que na semana passada assassinou mais 6 palestinos e continua suas detenções arbitrárias, como a de Jamal Juma, dirigente do movimento Stop the Wall – é que o processo de paz pode abrir horizontes reais de cumprimento das decisões da ONU, que garante a Palestina os mesmos direitos que os israelenses gozam há mais de 60 anos – o direito de ter um Estado palestino, soberano, com fronteiras delimitadas, com direito de regresso dos imigrantes, é a posição correta, que deve ser apoiada e incentivada por todos os desejam um mundo de paz, solidariedade e fraternidade e não o mundo das “guerras infinitas” de Bush, que Israel continua a colocar em prática, um ano depois do massacre de Gaza, contra os palestinos.

Emir Sader

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