Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Uma festança patética e extemporânea

Preparada ao longo de semanas, todos os setores reacionários da mídia, organizados internacionalmente sob a batuta da central de intoxicação ideológica do imperialismo estadunidense, lançaram uma colossal campanha midiática anticomunista com o pretexto de "comemoração" da data da demolição do muro de Berlim, ocorrida há vinte anos, no auge da ofensiva contra-revolucionária que conduziu à liquidação dos regimes socialistas até aí existentes em vários países europeus.

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O ato encenado em Berlim, no passado dia 9/11, foi patético e denunciando o seu caráter de festança da contra-revolução, marcado por um saudosismo extemporâneo de toda aquela gentalha "ilustre" convidada. De fato, nestes vinte anos decorridos, a realidade já se encarregou de mostrar aos berlinenses e a todos os alemães - bem como aos restantes povos dos países à época socialistas - que nada de bom têm para comemorar, muito pelo contrário.

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Sobrou esta gigantesca ação propagandística global, cuja preparação e laboriosa montagem cenográfica só vem confirmar que são eles, os imperialistas e os seus governos de turno que continuam a ter muitas e redobradas razões para temer o socialismo, apavorados com a perspectiva real de, face à monumental crise mundial do capitalismo e suas duras conseqüências para os trabalhadores, o objetivo de uma sociedade socialista redobre a sua capacidade de atração para os explorados, como parece ocorrer de forma crescente por todo o mundo.

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Alguns governos e parlamentos, alarvemente sintonizados pela tônica do mais execrável anticomunismo, apressaram-se a associarem-se aos propósitos daquela bufa encenação política em Berlim.

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Pelo seu interesse e oportunidade, transcreve-se a seguir o texto da intervenção de Bernardino Soares, membro da comissão política do PCP, na Assembléia da República, na discussão dos provocatórios e caninos votos que ali foram apresentados sobre tal "comemoração”.

O triunfalismo comemorativo a que temos assistido nos últimos dias, de que alguns aqui na Assembléia da República também reivindicam o seu quinhão, mais do que o fato histórico que se verificou há 20 anos atrás, visa reescrever a história e tentar decretar, para o presente e para o futuro, a vitória definitiva do sistema capitalista como se do fim da história se tratasse. É, aliás,
extraordinário, mas não certamente um acaso, que isso aconteça no momento em que uma gravíssima crise internacional põe a nu as contradições do capitalismo e arrasta os povos para a degradação das suas condições de vida, para o aumento da pobreza e para uma ainda maior exploração dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos.


É ainda extraordinário e inaceitável que esta gigantesca reescrita da história procure fazer tábua rasa dos contributivos do campo socialista em aspectos decisivos do progresso da humanidade no século XX, como são os casos do contributivo determinante para a derrota do nazi-fascismo da luta e derrota do colonialismo,
do progresso social econômico e cultural e dos direitos dos trabalhadores em todo o mundo, da paz e da manutenção de um equilíbrio militar estratégico.


É aliás significativo que se ignorem importantes conseqüências das alterações ocorridas há cerca de 20 anos no Leste europeu, como a drástica redução da esperança de vida, a destruição dos sistemas sociais, o desemprego, o aumento exponencial da pobreza, da fome e da marginalidade. Ou como o retrocesso social e nos direitos dos trabalhadores entretanto verificado e em curso, incluindo no nosso país. O Imperialismo norte-americano e o seu pilar na União Européia crescentemente militarizada encontraram um campo mais liberto para a ingerência, a invasão e o desmembramento de países soberanos. Pela primeira vez desde 1945 a guerra voltou à Europa e um país soberano – a Iugoslávia - foi desmembrado com a participação ativa e direta de potências estrangeiras.

O que foi derrotado não foram os ideais e o projeto comunistas, mas um «modelo» historicamente configurado, que se afastou, e entrou mesmo em contradição com características fundamentais de uma sociedade socialista, sempre proclamadas pelos comunistas, onde são indispensáveis entre outras a democracia política e a liberdade.
O PCP rejeita por isso o teor dos votos em análise, registrando diferenças substanciais entre eles, em especial os que fingem
ignorar os muros reais que hoje existem contra a liberdade, a dignidade, que impõem a exploração agravada, ou que suportam a guerra e a ocupação.


O afã comemorativo destes dias visa sobretudo o presente e o futuro; visa a luta dos povos contra a natureza agressiva do capitalismo, deseja desmobilizar a esperança e esconder que há alternativa a este sistema.

Não o conseguiram no passado e não o conseguirão no futuro. “

Original em O Assalto ao Céu

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