Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A cúpula da fome, a especulação e a falta de comida

A Cúpula sobre a Segurança Alimentar da Organização das Nações para Agricultura e Alimentação (FAO) que se realiza em Roma, tem recebido a alcunha de ''Cúpula da Fome''. São relevantes as questões tratadas neste conclave, mas se destaca o fato de em pleno Século XXI, 862 milhões de pessoas passarem fome no Planeta. Tal tragédia é uma demonstração patente da afirmação de que o capitalismo não consegue dar reposta às necessidades elementares da humanidade.
Jacques Diouf, diretor-geral da FAO em um dos seus pronunciamentos citou alguns dados que demonstram as mazelas do sistema reinante. Em 2006, disse ele, o mundo gastou US$ 1,2 trilhão em armamentos, e o desperdício de comida atingiu várias dezenas de bilhões de dólares. Lembrou ainda a verdade grotesca de que o excesso de consumo dos obesos gira em torno de U$S 20 bilhões. Em contraponto, a tais cifras a Cúpula da FAO tenta arrecadar U$S 30 bilhões para socorrer o setor agrícola dos países pobres. Diouf alerta que se esta e outras medidas não forem tomadas vários países poderão ser sacudidos por conflitos derivados da falta de comida.
O presidente Lula, aplaudido nesse evento, enumerou seis fatores para a elevação dos preços dos alimentos: altas do preço do petróleo, mudanças cambiais, baixa do estoques reguladores, mais pessoas comendo e o protecionismo agrícola dos países ricos. O presidente apontou, também, o etanol do milho (produzido, sobretudo pelos Estados Unidos da América) como uma dessas causas. Lula defendeu o etanol da cana-de-açúcar produzido pelo Brasil, que não compromete a produção de alimentos. ''O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios'', disse.
A crítica do presidente brasileiro está em consonância como o estudo da FAO. Segundo, Diouf de US$ 11 bilhões a US$ 12 bilhões foram usados como subsídios para biocombustíveis. O que resultou segundo ele no ''desvio 100 milhões de toneladas de cereais do consumo humano para satisfazer a sede dos veículos por combustível''. O milho estadunidense é a estrela desse desvio.
Sobre os subsídios, os documentos da FAO apontam, ainda, que os países da OCDE (os 30 mais ricos do mundo) gastaram US$ 372 bilhões, em 2006, para apoiar sua agricultura ineficiente. Essa política agrícola do chamado primeiro mundo capitalista fecha os mercados e provoca uma atrofia na agricultura dos paises pobres e em desenvolvimentos.
Ecoaram, também, na Cúpula os efeitos desastrosos da especulação financeira com alimentos. A depreciação do dólar, a instabilidade provocada pela crise estadunidense provocou a migração de especuladores para o ramo dos alimentos. Estudos dão conta que nos meses de fevereiro e março últimos, os fluxos de investimentos nos mercados futuros de commodities chegaram ao montante de U$S 1 bilhão por dia, contribuindo para aumentar o preço dos produtos ao consumidor.
As articulações e formação de blocos de países pobres e em desenvolvimento são imprescindíveis para enfrentar essa lógica desumana das grandes potências capitalistas sem o que o número de famintos e o nível de pobreza tenderão a se agravarem. No âmbito dessa realidade trágica, a esperança vem dos países socialistas e dos países regidos por governos democráticos e populares. Por exemplo, a China socialista retirou mais de 200 milhões de pessoas da linha de pobreza; o Vietnã, outros milhões. Na América do Sul, os governos de Lula, Chávez, Morales, Vasquez, Caldeira, entre outros, conseguem também vitórias importantes no regaste da dívida social com seus povos.

Original em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=38289
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