Após gravações, carta de lobista complica ainda mais governo Yeda Crusius
Menos de 24 horas depois de a CPI do Detran divulgar conteúdo de conversas interceptadas pela PF, vem a público uma carta que um dos principais acusados, o lobista tucano Lair Ferst (foto), escreveu para a governadora Yeda Crusius denunciando a ação de uma máfia no governo. Ouça duas gravações que sacudiram a política gaúcha.
Marco Aurélio Weissheimer
Quando ainda estava tentando absorver o duro golpe que sofreu, quarta-feira, na CPI do Detran, o governo Yeda Crusius (PSDB) sofreu um novo baque nesta quinta com a divulgação da carta que o empresário e lobista tucano Lair Ferst escreveu para a governadora (em 2007, antes da ação da Polícia Federal, que ocorreu em novembro) denunciando uma suposta campanha difamatória contra ele e a ação de um grupo mafioso com a participação de integrantes do governo.Obtida pela jornalista Adriana Irion, do jornal Zero Hora, a carta foi apreendida pela Polícia Federal durante a Operação Rodin e interpretada como uma confissão extrajudicial do esquema de fraude no Detran. A carta teria sido entregue por Lair para Marcelo Cavalcante, ex-chefe de gabinete de Yeda Crusius (quando era deputada federal) e atual chefe do escritório de representação do Rio Grande do Sul em Brasília, com status de secretário de Estado.Marcelo Cavalcante admitiu ao jornalista Leandro Fontoura, de ZH, que recebeu a carta mas que não teria entregue a mesma à governadora pelo fato de não ter apresentado prova das acusações. Como secretário de Estado, Cavalcante tinha a obrigação de encaminhar as graves denúncias feitas na carta para instâncias superiores do Estado. De acordo com sua primeira explicação, não fez nada.Assim como as gravações telefônicas, a carta é explosiva. Lair Ferst diz que, em virtude da visibilidade adquirida durante a campanha eleitoral de Yeda (na CPI, ele assegurou que não teve nenhum papel importante na mesma), passou a ser vítima de uma campanha difamatória por parte de um grupo de pessoas corruptas chefiadas por José Fernandes, da empresa Pensant, um dos pivôs da fraude no Detran,Além de Fernandes, participariam desse grupo de pessoas corruptas seus sócios José Barrionuevo (conhecido jornalista gaúcho, ex-colunista político do jornal Zero Hora) e João Luiz Vargas, presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), com o apoio do ex-diretor da CEEE, Antonio Dorneu Maciel, do ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, do diretor do Detran, Fernando Coronel e do secretário-geral da prefeitura de Canoas (administrada pelo PSDB), Chico Fraga. Além destes, o “grupo mafioso” contaria com o apoio de uma série de colunistas de vários jornais pagos por José Fernandes para plantar notícias de seus interesses.Lair Ferst coloca-se como “vítima” no processo de transição do contrato da Fatec para a Fundae (as duas fundações universitárias ligadas à UFSM) junto ao Detran (para a realização dos exames de habilitação). A versão apresentada na carta expõe as vísceras da disputa interna em torno dos contratos do Detran, envolvendo membros do governo. Segundo a versão de Lair Ferst, as metas desse grupo eram ambiciosas. Além do Detran, estaria preparando um esquema de fraudes junto a outros órgãos públicos como a CEEE, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). “Estão formando uma máfia para extorquir o Estado com esquemas de superfaturamento”, denunciou o lobista. Gravações revelam detalhes da fraudeA governadora Yeda Crusius fugiu dos jornalistas nesta quinta para não ter que responder a perguntas sobre as gravações telefônicas da Operação Rodin. Ela deixou abruptamente uma entrevista no Palácio Piratini quando repórteres se preparavam para indagá-la sobre a questão. O porta-voz da governadora, Paulo Fona, tentou minimizar o ocorrido ontem dizendo que as gravações não representavam "nenhum fato relevante". Não é o que se viu nesta quinta no Estado, onde o assunto dominou todas as conversas e noticiários.Uma das gravações mais impactantes é aquela onde o ex-diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) sugere ao ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, que ele converse com a governadora Yeda Crusius para saber qual a orientação que deveria ser seguida para resolver um problema relacionado aos contratos do Detran com fundações universitárias ligadas à Universidade Federal de Santa Maria. O problema em questão era a pressão que vinha sendo exercida pelo lobista tucano Lair Ferst, cujas empresas tinham sido excluídas do sistema. Nesta conversa, Dorneu Maciel diz a Vaz Netto: “Quem vai definir é ela” (a governadora Yeda Crusius).O ex-diretor da CEEE revela que Lair estava muito descontente e criticava a governadora (chega a chamá-la de “sem-vergonha) por seu hábito de “jogar uns contra os outros”. “Pelo jeito agora é guerra”, comenta Vaz Netto. A guerra em questão era a disputa entre grupos dentro do esquema. Clique AQUI para ouvir.Outra conversa que causou grande impacto na CPI do Detran é a que traz o diálogo entre Flávio Vaz Neto e o auditor do Tribunal de Contas do Estado, Cézar Santolin. Nesta conversa, o servidor de carreira do TCE avisa o ex-presidente da autarquia da realização de uma inspeção extraordinária no departamento de trânsito para apurar irregularidades em contratos com fundações. Clique AQUI para ouvir.
O original encontra-se em Carta Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário