“O Norte da Bolívia rechaçou esses estatutos autonômicos, realizados fora do marco constitucional, desrespeitando a lei, e usando métodos de puro cunho fascista para golpear a unidade nacional”, afirmou, em nome do Executivo, o ministro de Governo, Alfredo Rada, em coletiva de imprensa no domingo passado. Assinalou que o resultado do referendo imposto ilegalmente nos estados de Pando e Beni, em lugar de fortalecer a oligarquia, “rechaçou a política separatista dos setores enriquecidos pela exploração da principal riqueza do país, o gás, que antes do governo do presidente Evo Morales era monopolizada pelas empresas transnacionais”.
Rada denunciou que “além de um tratamento absolutamente tergiversado da realidade por parte de um setor da mídia que ocultou o absentismo inédito numa votação nessa região, o que se viu no dia 1º de junho é uma fraude”. “O caminho para chegar à autonomia deve ser legal, e deve verdadeiramente impulsionar a democracia, uma maior participação do povo, e não o separatismo”, frisou o ministro.
O senador do partido Unidade Nacional (UN) eleito por Pando, Abraham Cuellar - ressalvando a falta de credibilidade dos números que os governos dos estados assumem -, disse que os separatistas “divulgam que a abstenção e o voto pelo Não, juntos, somam 56,23 %. Meus amigos, isso não tem outra interpretação possível: até pelos números deles, o estatuto autonômico em Pando foi rejeitado de forma indiscutível”.
Segundo Cuellar, o triunfalismo de mais de 80 % a favor dessa autonomia propagandeado por alguns meios de comunicação, representa só 39 % do total dos inscritos segundo o padrão eleitoral do estado.
“O governo não pode aceitar esses referendos que são um arremedo de democracia, que falseiam informações, utilizam recursos públicos para enganar os bolivianos e o mundo”, acrescentou o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, revelando a chegada a essas regiões de membros da União Juvenil Crucenhista - grupo fascista do estado de Santa Cruz, protagonista de numerosos atos de violência e racismo contra os indígenas, maioria da população da Bolívia - para ameaçar e amedrontar as pessoas contrárias à divisão do país.
“Os movimentos sociais trabalharam durante vários dias convocando suas bases para defender a abstenção, e em alguns casos instruíram a votar pelo ‘Não’, o que provocou em Beni e Pando a reação criminosa dos grupos de choque de ‘unionistas’ pagos, que pretenderam pela força obrigar a população a votar”, afirmou.
Em encontro com mineiros da cidade de Huanuni, no estado de Oruro, o presidente Evo Morales condenou as ações dos fascistas da União Juvenil para forçar as pessoas a participar nessas consultas. Advertiu que os referendos são “espúrios e de cunho separatista” e, portanto, não serão reconhecidos.
VIOLÊNCIA FASCISTA
“Os latifundiários e os que se beneficiaram estes anos todos dos lucros das multinacionais de hidrocarbonetos que defendem o estatuto autonômico, com o poder que lhes dá o governo do estado de Beni, dirigiram este domingo seus ataques violentos contra as sedes de camponeses, indígenas, sindicatos, setores sociais, e contra jornalistas que desmascaravam, com perguntas que lhes incomodavam, esse processo autonômico”, denunciou Gustavo Moreno, diretor da Federação Única de Trabalhadores de Camponeses de Beni (FUTCB), que foi atacada “por dezenas de frenéticos jovens unionistas”.
Descrevendo as agressões cometidas, o líder camponês relatou que “os promotores do estatuto recrutaram como braço operador e repressor jovens marginais de Santa Cruz, muitos deles com passagem na polícia, além de pessoas daqui que receberam instrução básica de ataque, manipulação de armas, bombas, e gazes”.
Em Pando, a diretora da Federação Departamental de Mulheres Bartolina Sisa, Doris Dominguez, testemunhou os enfrentamentos provocados “por vândalos trazidos de fora contra os que defendiam a abstenção. Estavam armados com paus, com bombas, saqueavam as entidades e as casas das pessoas que eles reconheciam a favor do governo do presidente Evo. Nós não chegamos até aqui com poucos sacrifícios, e agora não será um bando de fascistas que vai nos deixar no meio do caminho”.
SUSANA SANTOS
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