Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Guerra se aproxima mais a cada dia

"O império não cessará de buscar mecanismos e técnicas para alcançar seu objetivo final, e não podemos descartar a possibilidade em futuro próximo de um conflito bélico nesta região... Se este ano cutucam a Venezuela na famosa lista de "estados terroristas", estaremos na véspera de um conflito militar".
A consolidação da unidade e integração regional ameaça cada dia mais a recuperação do controle imperial sobre o hemisfério. E os avanços internos da Revolução Bolivariana impedem a "autodestruição" que as forças imperiais atuando dentro do território venezuelano constantemente estão tentando. Não obstante, o império não cessará de buscar mecanismos e técnicas para alcançar seu objetivo final, e não podemos descartar a possibilidade em futuro próximo de um conflito bélico nesta região.

A América Latina tem sofrido uma constante agressão dirigida desde Washington durante mais de duzentos anos. Todas as tácticas e estratégias da guerra suja têm sido aplicadas nos distintos países da região, desde golpes de Estado, assassinatos, magnicídios, desaparecimentos, torturas, ditaduras brutais, atrocidades, perseguição política, sabotagem econômica, guerra midiática, subversão, infiltração de paramilitares, terrorismo diplomático, intervenção eleitoral, bloqueios e até invasões militares. Não tem importado quem governe na Casa Branca - democratas ou republicanos - as políticas imperiais se mantém em marcha.

No século XXI, a Venezuela tem sido um dos principais alvos destas agressões constantes. Desde o golpe de abril 2002 até hoje, tem havido uma escalada perigosa em ataques e atentados contra a Revolução Bolivariana. Ainda que muitos tenham caído sob a sedução do sorriso e as palavras poéticas de Barack Obama, nem temos que olhar além do último ano para ver claramente a intensificação da agressão contra a Venezuela. A expansão militarista dos Estados Unidos através da Colômbia, a reativação da Quarta Frota da Armada, mais sua presença no Caribe, Panamá e América Central, se deve interpretar como a preparação para um cenário de conflito de guerra na região.

ESCALADA NAS AGRESSÕES

As declarações hostis dadas durante as últimas semanas pelos porta-vozes de Washington, acusando a Venezuela de ser um país narcotraficante, violador de direitos humanos, que "não contribui para a democracia e a estabilidade regional", além das acusações da Agencia Federal de Inteligência dos Estados Unidos classificando o Presidente Chávez como "líder anti-estadunidense na região" fazem parte da campanha coordenada que tenta justificar uma agressão direta contra a Venezuela. As próximas declarações serão sobre os vínculos com o terrorismo. Se este ano colocam a Venezuela na famosa lista de "estados terroristas", estaremos na véspera de um conflito militar.

Todo indica que vão nessa direção. Como bem dizia o documento da Força Aérea dos Estados Unidos, datado de maio de 2009, sobre a necessidade de aumentar sua presença militar na base militar de Palanquero, Colômbia, Washington está preparando e capacitando-se para una guerra "expedita" na América do Sul.

Segundo o documento da Força Aérea, o qual foi entregue ao Congresso norte-americano em maio de 2009, (mas que logo foi modificado em novembro de 2009 para alterar a linguagem que revelava as verdadeiras intenções por trás do acordo militar entre Washington e Colômbia), "o desenvolvimento [da base em Palanquero] aprofundará a relação estratégica entre os Estados Unidos e a Colômbia e interessa às duas nações... [A] presença também incrementará nossa capacidade para conduzir operações de Inteligência, Espionagem e Reconhecimento (ISR), melhorará o alcance global, apoiará os requisitos de logística, melhorará as relações com sócios, melhorará a cooperação no campo da segurança e aumentará nossas capacidades de realizar uma guerra de forma expedita".

GUERRA AVISADA

O primeiro informe oficial sobre as prioridades em matéria de segurança e defesa apresentado durante a nova administração de Obama foi o das "ameaça globais" segundo a Agencia Nacional de Inteligência. A Venezuela tem sido mencionada no dito informe em anos anteriores, mas não com tanto entusiasmo e ênfase como este ano. Desta vez, a Venezuela - e particularmente o Presidente Chávez - foi mostrado como uma das principais ameaças contra os interesses estadunidenses no mundo. "O Presidente da Venezuela Hugo Chávez se tem estabelecido como um dos detratores principais a nível internacional contra os Estados Unidos, denunciando o modelo democrático liberal e o capitalismo de mercado, e rechaçando as políticas e interesses dos Estados Unidos na região", dizia o informe, colocando a Venezuela na mesma categoria que o Iran, Coréia do Norte e Al Qaeda.

Dias depois, o Departamento de Estado apresentou seu orçamento para 2011 ao Congresso. Além do aumento em financiamento solicitado através da USAID e da NED para financiar grupos políticos de oposição na Venezuela - mais de 15 milhões de dólares - fez uma solicitação de 48 milhões de dólares para a Organização de Estados Americanos (OEA) para " ativar equipes especiais que 'promovam a democracia' em países onde a democracia esta sob ameaça devido à presença crescente de conceitos alternativos como a 'democracia participativa' promovida pela Venezuela e Bolívia".

Uma semana depois, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA - financiada por Washington - publicou um informe de 322 páginas, acusando a Venezuela de ser violadora dos direitos humanos e da liberdade de expressão, e de desestabilizar a democracia regional. Apesar de ser um informe - e uma Comissão - dedicado ao tema de direitos humanos, sequer mencionou os imensos sucessos que o governo do Presidente Chávez havia tido no assunto. Em seu lugar, só analisava aspectos relacionados com os direitos civis e políticos - os únicos direitos reconhecidos nos Estados Unidos, ignorando os direitos econômicos, culturais e sociais que realmente compõem a essência do que são os direitos humanos. As evidências utilizadas para o informe da CIDH foram tomadas de testemunhos e mídias da oposição na Venezuela, demonstrando sua inutilidade completa.

Mas apesar de sua postura distorcida e sua falta de evidencias contundentes, estes informes são empregados para justificar as ações agressivas de Washington contra a Venezuela ante a opinião pública internacional.

A ORQUESTA INTERNACIONAL

Como disse o Presidente Chávez em reação ao bombardeio de informes e acusações contra seu governo, "Há uma orquestra internacional contra a Venezuela nestes momentos, uma agressão permanente dirigida do império estadunidense". Mas não é novo. Desde 2005, estes informes e declarações vêm aumentando em sua intensidade e caráter violento.

Há cinco anos foi a primeira vez que Washington classificou a Venezuela como um país que não colabora com a luta contra o narcotráfico em seu informe anual sobre o controle de narcóticos no mundo. Meses antes da saída desse informe em 2005, a Venezuela havia suspendido a cooperação com a agência antidrogas dos Estados Unidos, a DEA, porque havia descoberto suas ações de espionagem e sabotagem contra os esforços do comando antidroga da Venezuela. Desde então, a Venezuela tem melhorado de maneira significativa as apreensões de drogas, as detenções de grandes narcotraficantes e a destruição de laboratórios de drogas instalados na fronteira com a Colômbia - o país maior produtor de drogas do mundo.

Não obstante, o informe sobre a matéria do Departamento de Estado deste ano, publicado em primeiro de março, classifica a Venezuela como "país narcotraficante" e país "cúmplice" com o narcotráfico - acusação completamente sem fundamentos nem evidencias reais.

Simultaneamente, uma corte espanhola acusou ao governo venezuelano de apoiar e colaborar com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e com a ETA - duas organizações consideradas terroristas pelos Estados Unidos e Espanha - criando uma polêmica internacional através dos meios de comunicação, e provocando uma tensão entre os governos da Espanha e da Venezuela. O Presidente Chávez tem reiterado numerosas vezes que seu governo não tem nenhum vínculo nem com as FARC nem com a ETA, nem com nenhum grupo terrorista. "Este é um governo de paz", declarou Chávez, logo explicando que a presença de alguns membros da ETA na Venezuela se deve a um acordo realizado há quase 20 anos pelo governo de Carlos Andrés Pérez para ajudar com um tratado de paz entre o governo espanhol e o grupo irregular.

A POLÍTICA IMPERIAL NÃO TEM COR

Esta semana, de visita a América Latina, a Secretária de Estado Hillary Clinton tem lançado dardos contra a Venezuela em suas várias declarações ante os meios de comunicação. Expressou sua "grave preocupação" com a democracia na Venezuela, acusando ao governo do Presidente Chávez de não "contribuir de maneira construtiva" para o desenvolvimento regional. Cinicamente, Clinton aconselhou a Venezuela de "olhar mais para o sul" em lugar de se relacionar tanto com Cuba.

A vinda de Clinton se deve a uma estratégia já anunciada pela administração de Obama, de criar uma divisão entre o que consideram a esquerda "progressista" e a esquerda "radical" na América Latina. Não é coincidência que sua viajem pela região - a mais longa desde o começo do governo de Obama - se realiza justo depois da Conferência de Unidade em Cancun, onde foi acordada a criação de uma Comunidade de Estados latino-americanos e caribenhos, sem a presença dos Estados Unidos e Canadá.

A Secretária de Estado durante o governo de George W. Bush, Condoleezza Rice, declarou em janeiro 2005 que "Hugo Chávez é uma força negativa na região", dando começo a uma política de hostilidade e agressão à Venezuela. Clinton está continuado com as mesmas políticas de sua antecessora, buscando isolar e desacreditar o governo venezuelano e a figura de Hugo Chávez. Sua intenção é por em marcha o plano de "troca de regime" no país com as maiores reservas de petróleo do mundo.

A GUERRA QUE VEM

O tempo de preparar um conflito bélico não é de um dia para outro. É um processo que envolve primeiro o condicionamento da opinião pública internacional - demonizando ao líder ou governo adversário para justificar a agressão. Logo, capacitam e estabelecem as forças militares na região para assegurar a efetividade e potencial de uma ação militar. Ao mesmo tempo, tácticas como a subversão e a contra-insurgência são empregadas para debilitar e desestabilizar o país alvo a partir de dentro, assim colocando-o em uma situação mais vulnerável e menos preparado para defender-se.

Tudo isto está em marcha contra a Venezuela já faz vários anos. A consolidação da unidade e integração regional ameaça cada dia mais a recuperação do controle imperial sobre o hemisfério. E os avanços internos da Revolução Bolivariana impedem a "autodestruição" que as forças imperiais atuando dentro do território venezuelano constantemente estão provocando. Não obstante, o império não cessará de buscar mecanismos e técnicas para alcançar seu objetivo final, e não podemos descartar a possibilidade, em um futuro próximo, de um conflito bélico nesta região.

Eva Golinger

Original em TeleSur
Traduzido por Rosalvo Maciel
 
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