Além do Cidadão Kane

quarta-feira, 17 de março de 2010

A roubalheira dos neoliberais tucanos e democratas

Com o fim das estatais, passou-se a terceirizar tudo o que é obra ou serviço público, criando uma nova frente de oportunidades para saquear máquina pública.


Com o fim das estatais, passou-se a terceirizar tudo o que é obra ou serviço público, criando uma nova frente de oportunidades para saquear máquina pública. Com a desregulamentação (destruição) das leis trabalhistas, a oportunidade de roubar se estendeu por sobre os direitos e salários dos trabalhadores terceirizados, a consolidação do subemprego. Hoje tudo é terceirizado. A própria fiscalização da terceirização é terceirizada, isto é, repassado para outras tantas empreiteiras. Um monstruoso jogo de compadres, onde as ditas "licitações públicas" e "pregões eletrônicos" são mecanismos para encobrir as fraudes e maquiar o superfaturamento.

A prática está generalizada e é de conhecimento de todos, mas a mídia escolhe a dedo o "boi de piranha". O sacrificado desta vez está o neoliberal democrata José Roberto Arruda (DEM-DF). Vários serviços públicos, vários contratos, várias licitações e várias empresas num mesmo esquema para saquear os recursos públicos, roubar o dinheiro destinado ao bem estar da população da capital federal. Montanhas de dinheiro eram distribuídos entre os ladrões, não sobrando espaço nas roupas para socar tanto dinheiro. Eram casas populares, escolas, hospitais, saneamento indo para os bolsos, cuecas e meias de um punhado de compadres democratas e tucanos.

Arruda é (ou era) um forte candidato para compor como vice a chapa encabeçada por José Serra (PSDB-SP) na campanha presidencial. Aliás, ele era o preferido de Serra entre os demos. A ligação entre ambos não é afetiva, mas pragmática. Uma das empresas envolvidas no esquema de fraudes e formação de cartel para alimentar o mensalão dos democratas na capital federal é a empresa de informática CTIS Tecnologia S/A. As maracutais da CTIS estão sendo investigadas pela chamada Operação Mainframe da Polícia Federal (PF) desde o começo deste ano (2009). Nesta operação, a PF investiga também outras três empresas do setor por formação de cartel e fraude nas licitações públicas: a Politec, Poliedro e Policentro. O cartel é conhecido por "Clube do Milhão" tendo em vista seus milionários contratos com os governos.

O Clube do Milhão passou a ser investigado pela PF depois que a Secretaria de Direito Econômico (SDE), órgão do Ministério da Justiça, formalizou as denúncias. A SDE havia encontrado irregularidades nos vultuosos contratos de equipamentos de informática da CTIS com o governo do Estado de São Paulo, isto é, o de José Serra. No caso do mensalão do Distrito Federal, a empresa se tornou notória por enviar a sua parte do mensalão em um pacote com mais de R$ 60 mil por Sedex. O destino foi o gabinete do então secretário de Relações Institucionais do governo democrata, Durval Barbosa, que entregou a PF todas as provas do crime.

Depois de analisar os documentos e equipamentos apreendidos, a Polícia Federal descobriu que, além de possuir lideranças tucanas em sua direção executiva, a empresa possui uma diretoria "especializada" em contratos e vendas ao governo. Em ata de assembléia realizada no começo do ano passado havia a nomeação de Luiz Fernando Gusmão Wellisch para "Diretor Executivo de Vendas Governo". Wellisch é um notório tucano de carteirinha, ocupando postos do primeiro escalão dos governos FHC e de José Serra, ambos do PSDB, e Gilberto Kassab, do PFL (atual DEM).

A promiscuidade entre a CTIS e os governo de São Paulo e do Distrito Federal e entre a direção de Wellisch e o governo Serra é evidente. O governo de José Serra criou um megaprojeto chamado de "Computador na Escola". A retórica é colocar computadores em todas as escolas e criar todo uma propaganda sobre "inclusão digital", as escolas de São Paulo "no primeiro mundo da tecnologia". O programa que envolve a multinacional Telefonica, que deveria fornecer o sistema de "banda larga" tendo como contrapartida a isenção do ICMS. Mas, o contrato fechado com a CTIS foi de R$ 1.500.000.000,00 – um bilhão e meio de reais! Na fase inicial, que envolve a locação de 100 mil computadores para cerca de 4 mil escolas, estão sendo gastos R$ 400.000.000,00 – quatrocentos milhões de reais! Isso dá um custo de R$ 4 mil por computador, duas vezes superior ao preço de um equipamento novo.

Para se ter uma idéia do tamanho da tragédia, o governador José Serra enviou uma previsão orçamentária, em 2008, de R$ 188 milhões para combater as enchentes no Estado em 2009. Dos 188 milhões aprovados, apenas R$ 74 milhões foram empenhados. Mas, até agora (dezembro de 2009), o efetivamente gasto no "Programa de Infraestrutura Hídrica e Combate às Enchentes" foi de apenas R$ 34 milhões. Na realidade, destes 34 milhões, R$ 22 milhões vieram do PAC do Saneamento do governo Lula, isto é, Serra destinou minguados R$ 12 milhões. Se foram 200 milhões de superfaturamento de um lado, do outro, como conseqüência direta do total descaso com as obras de combate às chuvas, dezenas de alagamentos por todo o estado, centenas de deslizamentos e desabamentos, milhares de casas interditas, centenas de famílias sem onde passar o natal e o reveillon e, até onde se sabe, pelo menos 15 vítimas fatais.

Serra está em Copenhague, sendo testa de ferro das multinacionais poluidoras. Apesar do grosso das maracutaias da CTIS estar concentrado em São Paulo, apesar das promiscuas relações entre o governador José Serra e o empresário Wellisch, quem está sendo o alvo da grande mídia é a periferia do roubo. O centro do roubo está sendo jogado debaixo do tapete, o escondendo deliberadamente da população. A Operação Mainframe está focada principalmente em São Paulo, mas a mídia despeja uma enxurrada de vídeos do mensalão de Brasília. Colocou no banco dos réus um dos possíveis candidatos a compor a chapa de vice na campanha presidencial de José Serra. Jogou a bomba para o escanteio para não cair no colo do rei.

José Tafarel

Original em Inverta

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