Além do Cidadão Kane

domingo, 10 de outubro de 2010

Afeganistão: nove anos de ocupação sem resultados



 Manuel Navarro Escobedo(*)

O Afeganistão está sob a ocupação de uns 100 mil soldados dirigidos pelo Pentágono e outros 50 mil da ISAF. (Foto: Archivo) 
Após nove anos de sua invasão e ocupação, os Estados Unidos e a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) permanecem atolados e sem esperança alguma de eliminar aos insurgentes islâmicos, suposto objetivo de sua agressão ao Afeganistão.

No entanto, a julgar pelas operações desenvolvidas a partir de 7 de outubro de 2001 pelo Pentágono, dentro de sua campanha global contra o denominado terrorismo, o martirizado país centro-asiático estaria agora pacificado e ''governado por uma poderosa administração étnica anti-talibã''.

Daí que, a admissão de Washington de que se encontra na primeira fase de uma guerra (ocupação) potencialmente prolongada no Afeganistão mostra o auge da resistência e sua habilidade de adaptação nesse território islâmico.

Isto consta no informe elaborado pela secretaria norte-americana de Estado sobre o seu denominado terrorismo no mundo no qual reconhece que ''é provável que enfrentemos um inimigo resistente durante anos'', nessa martirizada nação islâmica fronteiriça com o Paquistão.

Daí que, ante essa ''preocupação'' surge a rapidez de seus aliados da OTAN em aumentar em dezenas de milhares de soldados suas unidades ocupantes no Afeganistão, ainda que com algumas resistências.

A violência se intensificou em todo o território afegão nos últimos anos e está em seu pior momento desde que os Estados Unidos, seguidos pela Grã Bretanha e pelas forças opositoras afegãs, derrotaram aos Talibãs em 2001.

É certo, em grande parte, que os muçulmanos armados afegãos e os segmentos que participam da insurgência começaram a aplicar nos últimos tempos contra as tropas ocupantes uma tática similar à iraquiana: os ataques suicidas, que causam grandes baixas.

Esses ataque fatais com carros bombas nas turbulentas províncias sulistas de Kandahar, Helmand, Uruzgan, Zabul, Kunar, Khost e inclusive Cabul são acontecimentos recentes, que antes nunca se empregaram nas três anteriores décadas da luta fratricida entre afegãos.

As cifras são eloqüentes: entre janeiro e setembro de 2010 quase 560 eletivos agrupados na Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF), comandada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e dos Estados Unidos perderam a vida. Tem sido o ano mais mortífero para ambas as organizações bélicas.

A ISAF, composta por militares de 40 países, foi criada em dezembro de 2001 pela ONU para apoiar às tropas do Pentágono na ocupação e pacificação do Afeganistão.

Até 5 de outubro, os Estados Unidos perderam 1.220 militares em nove anos de guerra.

Em seu desespero e incapacidade para frear o sustentado e crescente auge da resistência nacional, os Estados Unidos e seus aliados recorrem às fracassadas operações militares para tratar de aniquilá-la.

Essas ofensivas com dezenas de milhares de soldados, em especial marines da infantaria, ainda não rendem os frutos desejados por Washington, que se encontra estagnado e na bancarrota financeira.

O Afeganistão está sob a ocupação de cerca de 100 mil soldados comandados pelo Pentágono e outros 50 mil da ISAF.

No entanto, o que não se divulga é que durante essas ofensivas como sempre acontecem ''erros'' e “balas perdidas” sobre as aldeias e localidades atingidas nessa cirurgia militar, que figuram nos informes de guerra como santuários da insurgência, as baixas entre os civis são os chamados ''danos colaterais''.

Estatísticas da ONU mostram que este ano mais de 2.200 civis morreram em sua maioria pelos ataques aéreos dos Estados Unidos e da OTAN, cerca de 30 por cento mais do que em 2009.

Ainda que a meta da resistência e insurgência islâmica seja expulsar a todos os ocupantes estrangeiros e a administração de Cabul, instalada, respaldada e financiada pelos Estados Unidos desde 2002, o tempo dará a última palavra.

(*) O autor é Chefe da Redação Ásia e ex-correspondente na China, Coréia, Japão, Índia e Vietnam.

Original em TeleSURTV
Tradução de Rosalvo Maciel

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