Além do Cidadão Kane

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Capitalismo: Caos social e urbano

Desequilíbrio climático, secas, chuvas, inundações; aumento da violência, da fome e da miséria. Tudo isso conseqüência do capitalismo que gera o caos social e urbano.

Assistimos aos efeitos da ação humana no meio ambiente já há muito tempo; porém, é fato corriqueiro que esse efeito tem se acentuado cada vez mais, principalmente com as grandes emissões de gases que provocam o efeito estufa. Emitidos pelas grandes empresas multinacionais, eles têm possibilitado um grande aumento da temperatura no planeta, divido aos prejuízos causados à camada de ozônio, fragilizando cada vez mais a proteção da mesma e levando a uma maior incidência dos raios solares ao nosso planeta. Dessa forma, temos o aquecimento global e o desenvolvimento de um grande desequilíbrio, de proporções gigantescas.

Assistimos, assim, a regiões inteiras, que antes não tinham o problema da seca, passarem a conviver com essa mazela, como é o caso das regiões Norte e Sul do Brasil. Vemos também a manifestação de tufões e furacões em Santa Catarina e uma situação de extrema complicação para os moradores da Baixada Fluminense. Uma das regiões mais pobres do Estado do Rio de Janeiro, com as grandes tempestades causadas, principalmente pelas ações das mudanças climáticas descritas acima, a Baixada passa por uma grande dificuldade, já que os seus três principais rios, o rio Botas, o rio Iguaçu e o rio Sarapuí, estão assoreados, devido à grande quantidade de lixo acumulado, fazendo com que eles transbordem e causem grandes alagamentos, com as águas invadindo as casas dos moradores, trazendo doenças e desabrigando um grande número de pessoas.

Para aumentar ainda mais o sofrimento vivido pela população proletária em geral, que são as mais atingidas por esses problemas, já que moram em localidades precárias e sem as mínimas condições de infra-estrutura, vemos que os governos não têm a capacidade, nem muito menos a vontade política, para responder de forma organizada aos problemas trazidos pelas tempestades e demais mazelas assinaladas. Neste sentido, só para citar os casos de enchentes que tem atingido a região da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro e várias cidades do Estado de São Paulo, onde se somam os deslizamentos de terras, de encostas, derrubando várias casas, soterrando e matando várias pessoas, criando assim situações de calamidade pública comparáveis com as vividas atualmente pelo Haiti, vemos a configuração de um quadro de caos social.

Ao caos social que acontece pela mudança climática, como conseqüência da ação humana sobre o meio-ambiente, assistimos a uma permanente situação de caos social nas grandes cidades brasileiras, decorrente do que chamamos de herança histórica colonial. O Brasil foi “descoberto” no momento em que a Europa passava pelo que ficou conhecido como Expansão Marítima Comercial, ou fase em que o modo de produção Capitalista estava em um processo para se tornar hegemônico no planeta, fato que só ocorreu com o grande desenvolvimento tecnológico conhecido como Revolução Industrial, momento no qual o capitalismo consegue a subordinação real ao seu modo de produzir e reproduzir a vida. Neste sentido, o momento da “descoberta” do Brasil foi o momento em que a burguesia buscava o acúmulo de capitais necessários para que se pudesse ter o investimento na pesquisa científica para se chegar ao desenvolvimento tecnológico alcançado na Revolução Industrial.

Uma das formas de se acumular riquezas foi através do desenvolvimento do que ficou conhecido como “colônias de exploração”, locais fornecedores de produtos tropicais de grande procura no mercado europeu, além de metais preciosos e de serem o destino de milhares de africanos vendidos como escravos para trabalharem nessas colônias. Assim, o Brasil foi preparado para ser esse tipo e colônia e desenvolveu o que nós chamamos de herança histórica, que é a dependência das oligarquias ao imperialismo e o desenvolvimento de uma economia com forte presença do latifúndio.

A dependência das oligarquias nacionais ao imperialismo impossibilita o desenvolvimento nacional autônomo nos marcos do capitalismo e a herança do latifúndio se faz presente e se adaptou ao posterior processo de desenvolvimento capitalista em nosso país. Pois, se assistimos em nosso país a formação de um parque industrial relativamente desenvolvido, apesar de ser dirigido por grandes empresas multinacionais, sabemos que a presença do latifúndio é marcante e que este passou por um processo de adaptação, onde as grandes empresas passam a atuar no campo tendo como base de atuação o latifúndio, impossibilitando assim, por exemplo, o desenvolvimento da agricultura familiar, justamente a que fixa o homem ao campo, oferecendo possibilidade de renda e também a possibilidade de formação de um mercado interno de abastecimento, o que seria fundamental para se combater o flagelo da fome. Mas, para que o desenvolvimento desse tipo de agricultura se tornasse realidade, era preciso um projeto político que priorizasse a distribuirão de terras e de condições para trabalhá-la, através de uma reforma agrária profunda, também impossível dentro dos marcos do capitalismo brasileiro.

Assim, vemos o processo de emigração de populações inteiras do campo para as cidades, na esperança de alcançarem dias melhores, com a garantia de um emprego e fonte de renda para o sustento da família. Mas, na verdade, boa parte desta população vinda do campo não consegue emprego nos grandes centros urbanos e contribui para um crescimento populacional desordenado, fazendo com que se proliferem as favelas e bairros proletários, campeões nas estatísticas de miserabilidade e de violência que, muitas vezes, extrapolam as suas fronteiras e vão atingir as camadas médias urbanas, em formas de assaltos, seqüestros relâmpagos, seqüestros, “saidinhas de bancos” e outras formas pelas quais se manifestam as contradições decorrentes da herança histórica colonial.

Destes fatos podemos chegar a uma conclusão: tanto no cotidiano aumento dos níveis de criminalidade, quanto nos diferentes abalos causados por desastres naturais, temos a formação de uma situação de caos social que se configura em caos urbano, já que cerca de 80% da população brasileira vive nos grandes centros urbanos. E o que falar da utilização política da violência por parte da oligarquia? Esta, através dos grandes meios de comunicação, faz uma verdadeira lavagem cerebral na população em geral, fazendo parecer que a violência é causada por pessoas que “não tem deus no coração”, verdadeiros assassinos, animais, que não são seres humanos. Ou seja, o que é conseqüência de todas as questões sociais colocadas acima fazem parecer como causa da violência. Até quando vamos assistir na tela da televisão ao assassinato de um filho da classe operária e vamos achar que foi a melhor opção para “aquele marginal”? Até quando vamos ver as pessoas assimilarem e reproduzirem o discurso fascista e legitimador da repressão de que “bandido bom, é bandido morto”?

Nós, comunistas revolucionários, devemos nos apropriar de forma sistemática da ciência marxista-leninista, aplicá-la de forma criadora, levando nossas posições para as massas, para que possamos construir uma força subjetiva que consiga enxergar o que parece invisível: somente com a destruição desse modo de produzir e reproduzir a vida e sua conseqüente substituição pelo modo de produzir e reproduzir baseado na propriedade social sobre os meios de produção poderemos dar início ao processo que faça com que a gente avance, superando essas contradições que fazem parte do sistema capitalista brasileiro e abrindo espaço para que a classe operária e as massas pobres do campo e da cidade tenham uma vida digna. Devemos criar nas pessoas o ódio a injustiça, a indiferença, a hipocrisia, a mentira e o amor ao que é certo, digno, humano, a tudo que nos faça ser mais humanos e menos bestas.

Ousar lutar! Ousar vencer! Venceremos!

Leandro Pereira

Original em Inverta
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