Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Crimes imperialistas no «combate ao terrorismo»

A divulgação de imagens não censuradas de um massacre no Iraque, o ataque contra um autocarro repleto de civis no Afeganistão, e a confirmação de que os governos norte-americanos sabem da inocência dos alegados «terroristas» detidos em Guantánamo demonstram o caráter criminoso do imperialismo.

O vídeo difundido segunda-feira no sítio da organização Wikileaks mostra um helicóptero do exército dos EUA a disparar sobre um grupo de iraquianos que circulavam num bairro da capital, Bagdá. Pelo menos 12 pessoas morreram, entre as quais dois funcionários da Reuters, Namir Noor-Eldeen, de 22 anos, e o seu assistente, Saeed Chamagh, de 40 anos. Duas crianças ficaram feridas com gravidade.

As imagens captadas a partir da câmara de mira das metralhadoras da aeronave - que fonte militar não identificada ouvida pelo The New York Times veio atestar como sendo autênticas - foram apresentadas em Washington sob o sugestivo nome de «Assassinatos Colaterais». Quer na versão completa de 38 minutos quer na versão editada de cerca de 17 minutos, comentada pela Wikileaks, é possível ver o cerco montado a um grupo de homens pretensamente armados e ouvir os pedidos dos militares para dispararem sobre eles. No decurso do ataque, são abatidos sem hesitação vários civis que circulavam nas ruas.

Enquanto os soldados norte-americanos regozijavam com a execução dos iraquianos, dizendo expressões como «olha estes bastardos a morrerem. Que lindo», um veículo civil pára no local para socorrer os atingidos. Os pilotos disparam novamente, desta feita sobre a viatura onde se encontravam os menores iraquianos.

Quando as tropas terrestres dos EUA chegam ao local e encontram as crianças baleadas, mostra o vídeo, um dos pilotos desculpa-se do sucedido afirmando que tal é culpa dos iraquianos por «trazerem crianças para a batalha», ao que o outro afirma «é verdade».

Reagindo à divulgação do vídeo, o atual secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, classificou o vídeo de «doloroso» e defendeu que a investigação então feita sobre o incidente foi «rigorosa».

O responsável pela máquina de guerra imperialista no governo de Barack Obama sublinhou igualmente que as imagens não deveriam «ter conseqüências duradouras» e que os soldados se encontravam sobre grande pressão durante o assalto ocorrido a 12 de Julho de 2007.

O comando militar dos EUA recusou a abertura de uma nova investigação.

Censura e ocultação

Dizer que as imagens são chocantes e que a sua divulgação confirma uma prática terrorista por parte dos EUA é olhar esta história apenas por um dos ângulos. Com efeito, importa recordar o que o Pentágono mandou informar à época em que aconteceu o ataque.

Questionado sobre a morte dos dois repórteres da Reuters, o exército argumentou que estes haviam sido apanhados no meio dos combates entre ocupantes e forças hostis que disparavam armas automáticas e granadas de bazuca contra os militares norte-americanos.

Ainda segundo o comando militar norte-americano, a conduta seguida pelos soldados estava de acordo com as normas de atuação em conflitos armados e as regras de combate sobre como, quando e onde deve ser usada a força.

Na altura, a Reuters exigiu a investigação cabal do sucedido e, ao abrigo da liberdade de informação, pediu a divulgação de todo o material audiovisual, instrumento que considerava fundamental para o apuramento das circunstâncias em que morreram os seus dois funcionários. Supostamente, as imagens oficiais difundidas davam cobertura à versão norte-americana, a qual veio agora ser posta em causa pelo vídeo completo revelado pela Wikileaks.

Numa declaração após o incidente, a agência de notícias disse que os seus trabalhadores se tinham deslocado ao local para recolherem informações sobre um alegado cerco a um edifício. Namir Noor-Eldeen e Saeed Chamagh chegaram ao local ao mesmo tempo que outros anônimos.

Ora, disse então a Reuters, crê-se que dois ou três desses homens poderiam transportar armas, embora os testemunhos garantam que nenhum tinha uma postura de combate. Acresce que apesar da existência de alegados enfrentamentos entre forças dos EUA e rebeldes iraquianos, em nenhuma das ruas percorridas pelos jornalistas da Reuters foram assinalados combates.

Neste contexto, é no mínimo legítimo manter a dúvida razoável sobre filmes congêneres que, amiúde, nos noticiários das televisões, nos mostram o curso das guerras de agressão, e questionar quantos mais vídeos semelhantes terão sido ocultados pelo imperialismo, que procura censurar as provas dos seus crimes e conformar uma realidade sobre as reais conseqüências das suas operações.

Original em Avante!
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