
Os movimentos de mulheres vivem intensa perseguição e criminalização das mulheres, reforçada e legitimada pela recente criação da CPI do aborto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, e o processo envolvendo quase 10 mil mulheres em Campo Grande-MS, pela suposta prática de aborto, tendo suas vidas e intimidades expostas. Essas atitudes reforçam a estratégia de criminalização e perseguição às mulheres e aos movimentos sociais, configurando uma verdadeira violação aos direitos humanos e contrariando o que preconiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Relatório aponta violações sofridas por 10 mil mulheres investigadas pela prática de aborto em MS
Entidades entregam

O relatório “Processos judiciais envolvendo abortamento: Negação dos direitos reprodutivos das mulheres em Mato Grosso do Sul”, que mostra as irregularidades na ação policial com a apreensão e manuseio dos prontuários médicos e o posterior processamento das mulheres em Campo Grande. O relatório será lançado nesta terça-feira, 16 de dezembro, às 16h30h, em Brasília. No processo são violados o direito à privacidade, o direito à saúde, à liberdade, e ao devido processo legal, entre outros direitos, previstos na Constituição Federal e nos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil.
Os agentes policiais não respeitaram a privacidade das mulheres, não impediram a exposição indevida do conteúdo das fichas médicas e o seu manuseio por pessoal não qualificado. A legislação brasileira prevê procedimento específico para a investigação de registros médicos de pacientes, exigindo que as autoridades judiciais apontem um especialista para manusear os prontuários, com o objetivo de preservar o sigilo médico. Ignorando este procedimento, a polícia utilizou os registros médicos apreendidos de forma ilegal para investigar criminalmente milhares de mulheres suspeitas de terem se submetido a abortamentos ilegais.
Estes acontecimentos afetaram as vidas de milhares de mulheres que, hoje, estão sob investigação. Setenta delas já receberam sua sentença, e outras mais são acusadas diariamente. Muitas que ainda não foram processadas vivem com medo de serem investigadas criminalmente, podendo ter a sua vida privada revelada para suas famílias, seus colegas de trabalho ou o público de forma geral. Atualmente, a polícia planeja investigar cerca de duas mil mulheres cujos casos ainda não estariam prescritos.O relatório foi organizado pelo Ipas Brasil a partir de visitas de campo a Campo Grande e baseia-se em entrevistas com pessoas-chave envolvidas no caso, em documentos oficiais e na imprensa, pesquisados e sistematizados por um grupo de entidades e redes que atuam pela promoção e defesa dos direitos reprodutivos: Antígona/CLADEM – Comitê Latino Americano e do Caribe pela Defesa dos Direitos da Mulher, CCR - Comissão Cidadania e Reprodução, CFEMEA, Ipas Brasil, Themis, Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Reprodutivos e Jornadas pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro.
A interrupção da gravidez é um grave problema de saúde pública e de direitos humanos no Brasil. Apesar de o Código Penal brasileiro criminalizar o procedimento, estima-se que ocorram 1.054.243 abortamentos a cada ano no país. O abortamento inseguro está entre as principais causas de mortalidade materna. Aproximadamente 250.000 mulheres são atendidas anualmente nos hospitais brasileiros com complicações decorrentes de abortamentos inseguros.
A criminalização do aborto tem um efeito perverso na saúde pública e não previne a sua prática. O caso de Mato Grosso do Sul é emblemático e demonstra que o Estado deve buscar resposta fora da esfera penal para lidar com a questão.
Original em CFEMEA
topo
Nenhum comentário:
Postar um comentário