Além do Cidadão Kane

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Fraude de milhões no Iraque

Autoridades norte-americanas investigam «reconstrução»
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Bilhões de dólares podem ter sido desviados dos fundos de «reconstrução» do Iraque por altas patentes militares. As autoridades dos EUA estão investigando o caso.
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O alegado esquema está sendo alvo de apreciação por parte do Inspetor-Geral Especial dos Estados Unidos para a Reconstrução do Iraque e pode ascender a 128 bilhões de dólares cujo paradeiro ninguém é capaz de indicar, relata o jornal norte-americano The Independent, citado pela Lusa.
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A confirmarem-se as informações dadas pelo periódico, esta fraude de milhões mais que duplica a que tem sido considerada como a maior burla (desvendada e assumida) da história dos EUA, o caso envolvendo o ex-presidente da Nasdaq, Bernard Madoff, que terá lesado em cerca de 50 bilhões de dólares os respectivos clientes.
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«Eu acredito que o verdadeiro saque do Iraque após a invasão foi realizado por responsáveis norte-americanos e empresas contratadas, não pelas pessoas dos bairros pobres de Bagdad», disse ao Independent um empresário norte-americano com negócios no Iraque há seis anos. Obras e infra-estruturas orçadas em milhões de dólares nunca saíram do papel ou a sua conclusão foi adiada até melhores dias.
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Um esquema desta natureza e dimensão não poderá ter ocorrido sem o envolvimento de altas patentes militares dos EUA, acreditam as autoridades norte-americanas, uma vez que a chamada reconstrução do Iraque ficou sob a dependência direta do Pentágono. Conivências políticas e tráfico de influências estão igualmente por apurar. Segundo o The New York Times, que cita documentos oficiais, os primeiros suspeitos da investigação são um coronel e um tenente-coronel.
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Casos conhecidos
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O diário nova-iorquino revela ainda que desde o início da ocupação do Iraque, figuras ligadas ao Partido Republicano granjearam cargos bem remunerados na «reconstrução» do país. Um desses casos, divulgado na peça da Lusa, é o do antigo responsável pelo mercado de valores de Bagdad, um jovem de 24 anos, oriundo de uma família republicana, que encerrou a bolsa de transações iraquiana. Supostamente esqueceu-se de pagar a renda do edifício.
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Já o caso descrito pelo Público, na sua edição de terça-feira, reporta-se ao ex-responsável dos EUA para o Centro e Sul do Iraque, Robert J. Stein Jr.
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Condenado por fraude e lavagem de dinheiro, Stein terá dado sumiço a quase 58 milhões de dólares durante o período em que esteve no Iraque. O responsável chegou a tirar fotografias junto das pilhas de notas de 100 dólares.
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Ainda no que a episódios já conhecidos diz respeito, em 2004 e 2005 o orçamento do Ministério da Defesa iraquiano, 1,3 mil milhões de dólares, foi gasto na aquisição de helicópteros com quase 30 anos que nunca chegaram a voar e carros blindados facilmente penetráveis por um tiro de espingarda.
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Os iraquianos que à época estavam à frente do departamento governamental foram considerados culpados pela fraude, mas era o exército dos EUA quem na prática controlava o ministério, faltando, por isso, apurar os demais envolvidos e os responsáveis políticos.
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Blackwater muda nome
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A maior empresa de segurança privada a operar no Iraque anunciou, a semana passada, que deixou de se chamar Blackwater passando a designar-se por Xe, noticiou o Wall Street Journal que cita informações baseadas numa circular interna da empresa.
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A alteração, ainda não assumida publicamente pelos responsáveis da companhia, foi conhecida após o Ministério do Interior iraquiano ter anunciado que não renovaria os contratos de segurança com a Blackwater. Na base da renúncia dos serviços por parte do governo do Iraque está o assassinato de 17 civis, em Setembro de 2007, em Bagdad.
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A Blackwater garante a segurança da embaixada norte-americana na capital iraquiana.
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No total, estima-se que as empresas privadas de segurança sejam responsáveis por 100 mil mercenários a operarem no território.
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Original em Avante!

Conselho de Direitos Humano alerta para gravidade da situação de trabalhadores imigrantes

Os pacotes governamentais de estímulo econômico precisam incluir medidas para ajudar trabalhadores imigrantes, que podem ser os mais duramente atingidos numa recessão, disse a comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay.

Pillay avisou que a crise financeira, econômica e industrial mundial exercerá impacto desproporcional sobre a subsistência de grupos vulneráveis e já marginalizados.

Mulheres, crianças, deficientes, refugiados e imigrantes terão a maior dificuldade para encontrar trabalho, alimentação, moradia, água, atendimento médico e educação, disse Pillay numa sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Governos em todo o mundo desenvolvido vêm anunciando pacotes de resgate multibilionários para ajudar indústrias e proteger empregos, à medida que a recessão econômica global, desencadeada pelo derretimento do mercado imobiliário dos EUA, se intensifica.

Os imigrantes são especialmente vulneráveis a abusos e ataques quando falta trabalho, segundo a ex-juíza da Alta Corte da África do Sul, onde no ano passado o desemprego alto desencadeou uma reação contra trabalhadores estrangeiros, dos quais mais de 60 foram mortos.

“Com a redução nas oportunidades de trabalho regularizado para imigrantes, os imigrantes desempregados podem procurar trabalhar sem autorização”, disse ela.

“Isso os tornará ainda mais vulneráveis”, afirmou.

“A proteção dos direitos dos imigrantes, em termos de suas condições de trabalho e de vida, e no caso de perda de emprego, devem ser integradas às respostas à crise. É crucial que não sejam poupados esforços para proteger os imigrantes contra discriminação e xenofobia”, disse.

As economias desenvolvidas como EUA, Grã-Bretanha e Austrália não devem enxugar seus programas de bem-estar social para dar espaço a pacotes de resgate de bancos, disse ela.

A revisão da crise financeira feita pelo Conselho de Direitos Humanos foi convocada a pedido do Brasil e Egito, em nome dos Estados africanos, e com o apoio de dezenas de outros países em desenvolvimento, incluindo China, Índia, Rússia, Arábia Saudita, Chile, Bolívia, Indonésia, Bangladesh e Iêmen.

Em suas declarações, Pillay disse que os governos que querem proteger empregos e indústrias atingidos pela recessão precisam obedecer aos acordos internacionais que assinaram, como os acordos da ONU sobre direitos econômicos e sociais, os direitos da criança e os dos deficientes.
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'BBB-9' emburrece a sociedade brasileira

A nona edição do Big Brother Brasil, que estreou em 13 de janeiro, tem causado calafrios aos mercadores de ilusão da poderosa TV Globo. Ela ainda não superou a média de 36 pontos do Ibope, a terceira posição no ranking das piores audiências do BBB nas suas semanas iniciais. A primeira edição, por exemplo, atingiu 49 pontos; a quinta teve 46 pontos. Diante deste resultado, especialistas já prevêem que o reality show, criado pela firma holandesa Endemol, "não decolará no Ibope" e pode ter o seu futuro ameaçado - o que seria bastante saudável para a sociedade.
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Por Altamiro Borges*

Segundo Ricardo Feltrin, colunista da UOL, o BBB-9 "exibe um viés de baixa na audiência que se intensifica desde 2004. Nas últimas cinco edições, sua média comparada caiu de 47,5 pontos para 32 - uma redução de 33% no número de telespectadores". As inovações, como a "casa de vidro", e os deprimentes paredões ainda não conseguiram reverter a tendência de queda. Mesmo assim, o Big Brother ainda é o líder absoluto de audiência, com o dobro de telespectadores da segunda colocada, a TV Record. Ele também supera o "Domingão do Faustão" e as telenovelas globais, estas sim em acelerado declínio, o que gera uma guerra de bastidores na Rede Globo.

Fábrica de ilusões e de dinheiro

Além disso, o BBB continua sendo uma das principais fontes de lucros da Rede Globo. Segundo o jornalista Daniel Castro, ele nem havia estreado e os seus intervalos comerciais já tinham sido completamente vendidos até o final. Estima-se que o BBB-9 renderá cerca de R$ 110 milhões à emissora - R$ 60 milhões em cotas de patrocínio e outros R$ 50 milhões em merchandising, anúncios extras, espaços vendidos na casa, assinaturas de pacotes na TV paga, etc. Ele hoje seria o produto mais rentável e lucrativo da empresa, superando as receitas com as telenovelas.

Somente com a "Loja do BBB", a emissora já elevou em 70% os seus lucros em relação a 2008. Segundo Bárbara Sacchiello, "através da divisão Globo Marcas, a grupo mantém, há três anos, a loja hospedada no site do programa. Ao todo, são 30 produtos diferentes, entre roupões, bolsas, utensílios domésticos e até edredons com a marca BBB... A cada edição, novas peças chegam para se juntar ao portfólio do site e atrair fãs". A novidade neste ano são os dois robôs RoBBB, que trazem imagens e sons em tempo real. Os "olhinhos" robóticos custam R$ 449,90 e R$ 169,90, respectivamente, e a emissora já teve que encomendar mais peças à fornecedora Yellow.

"Espelho fiel da vida amesquinhada"

Diante do sucesso comercial (e o que importa é lucro, e não a qualidade do produto), a TV Globo já estuda prorrogar BBB-9 de 24 de março para 7 de abril. Mas o que explica este fenômeno da televisão brasileira e mundial? A psicanalista Maria Rita Kehl, no livro Videologias, escrito em conjunto com Eugênio Bucci, dá importantes pistas. "Os reality shows são a forma mais eficiente de ilusão que a cultura de massas já produziu: eles vendem aos espectadores o espelho fiel de sua vida amesquinhada sob a égide severa das 'leis do mercado'. Eles vendem a imagem da selva em que a concorrência transforma as relações humanas. Só que elevados ao estatuto de espetáculo".

Para ela, "o show do BBB é a festa neoliberal do cálculo, o jogo da incansável concorrência com ou sem limites éticos... Os concorrentes ao prêmio final do BBB conspiram, manipulam, traem uns aos outros - esta é a verdadeira dimensão 'obscena' do show - até que o mais esperto, que se apresente como o mais amável ao público, ganhe a bolada prometida. A destruição da dimensão pública da vida humana, a privatização do sentido da vida e a consagração do homem subjetivo em lugar do homem político, como o novo paradigma do melhor que nossa sociedade produziu, são os componentes secretos do sucesso desse tipo de programa".

"Concorrência sem limites éticos"

Noutro texto, ela provoca: "É verdade que os luxuosos 'cativeiros' dos reality shows representam uma invasão, ainda que consentida, da privacidade dos cativos. Mas se ela é consentida, digamos que o exibicionismo dos protagonistas ultrapassa o voyeurismo das câmeras. A imprensa que acompanha o desenvolvimento desses shows afirma que a audiência se sustenta sobre o desejo do público de presenciar escândalos, brigas e cenas de sexo 'reais'. No entanto, os escândalos são escassos, se comparados aos longos períodos em que nada digno de nota acontece".

"Assistimos a um grupo de jovens geneticamente selecionados a gastar o seu tempo ocioso em conversas bobas, fofocas, cuidados corporais, picuinhas. O que interessa ao espectador fiel é a esperança de que a exibição, pela televisão, da banalidade de um cotidiano parecido com o seu, ponha em evidência migalhas de brilho e dê sentido que sua vida, condenada à domesticidade, não tem... A pobreza dos sonhos de fama dos que se candidatam ao cativeiro de luxo do Big Brother espelha a pobreza dos sonhos do espectador cativo, que espera o espetáculo começar".

Em síntese, o BBB incentiva os piores instintos humanos e contribui para a idiotização da nossa pobre sociedade. "Conspirações, traições, armadilhas, estratégias descaradas para passar a perna nos companheiros e garantir a própria permanência: este é o tema do BBB". No afã por lucros, a TV Globo pouco se importa com o conteúdo "sádico" do programa. Para ela, tudo é mercadoria. Como afirma o apresentador Pedro Bial, que renegou seu passado de jornalista sério, "tenho zero de preocupação em dar um aspecto cultural ao programa. Acho que tudo é cultura. Big Brother é tão cultura quanto Guimarães Rosa". Haja cinismo, uma marca registrada do BBB.

* Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, autor do livro Sindicalismo, Resistência e Alternativas
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Original em: Vermelho

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Que fazer com os italianos?

José Saramago
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Reconheço que a pergunta poderá soar de maneira algo ofensiva a um ouvido delicado. Que é isto? Um simples particular a interpelar um povo inteiro, a pedir-lhe contas pelo uso de um voto que, para gáudio de uma maioria de direita cada vez mais insolente, acabou por fazer de Berlusconi amo e senhor absoluto de Itália e da consciência de milhões de italianos? Ainda que, em verdade, quero dizê-lo já, o mais ofendido seja eu. Sim, precisamente eu. Ofendido no meu amor por Itália, pela cultura italiana, pela história italiana, ofendido, inclusive, na minha pertinaz esperança de que o pesadelo venha a ter um fim e de que a Itália possa retomar o exaltador espírito verdiano que foi, durante um tempo, a sua melhor definição. E que não me acusem de estar a misturar gratuitamente música e política, qualquer italiano culto e honrado sabe que tenho razão e porquê.
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Acaba de chegar aqui a notícia da demissão de Walter Veltroni. Bem-vinda seja, o seu Partido Democrático começou como uma caricatura de partido e acabou, sem palavra nem projecto, como um convidado de pedra na cena política. As esperanças que nele depositámos foram defraudadas pela sua indefinição ideológica e pela fragilidade do seu carácter pessoal. Veltroni é responsável, certamente não o único, mas na conjuntura actual, o maior, pelo debilitamento de uma esquerda de que chegou a apresentar-se como salvador. Paz à sua alma.
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Nem tudo foi perdido, porém. É o que nos vêm dizer o escritor Andrea Camilleri e o filósofo Paolo Flores d’Arcais num artigo publicado recentemente em “El País”. Há um trabalho a fazer conjuntamente com os milhões de italianos que já perderam a paciência vendo o seu país a ser arrastado em cada dia que passa à irrisão pública. O pequeno partido de Antonio di Pietro, o ex-magistrado de Mãos Limpas, pode tornar-se no revulsivo de que a Itália necessita para chegar a uma catarse colectiva que desperte para a acção cívica o melhor da sociedade italiana. É a hora. Esperemos que o seja.
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

EMBRAER FAZ DEMISSÃO EM MASSA E DISPENSA 4,2 MIL TRABALHADORES

Ameaça de cortes
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A Embraer demitiu nesta quinta-feira (19), 4,2 mil trabalhadores, o equivalente a 20% do efetivo da empresa. Grande parte das demissões aconteceu em sua fábrica de São José dos Campos, em diferentes setores da produção. A Embraer possui hoje cerca de 21 mil trabalhadores, dos quais cerca de 15 mil estão em São José dos Campos.
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Num comunicado interno, o presidente da Embraer, Frederico Curado, confirma os cortes e alega que a empresa perdeu encomendas e, por isso, está reduzindo seu quadro de pessoal.
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É a maior demissão em massa já anunciada pela empresa. Mas a Embraer não comunicou oficialmente o Sindicato dos Metalúrgicos sobre o número de demissões, apesar dos insistentes pedidos da entidade nos últimos meses para que fosse agendada uma reunião para discussão sobre o assunto. O último pedido foi realizado ontem, dia 19, conforme carta protocolada às 18h05. No momento em que a empresa iniciou as demissões, por volta das 15h, o Sindicato realizava panfletagem e assembleia com os trabalhadores justamente sobre os fortes boatos de demissões que já circulava entre os trabalhadores e a necessidade de resistência.
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O Sindicato vinha cobrando uma posição da empresa com o objetivo de discutir a garantia de emprego dos trabalhadores desde o ano passado. Foram enviados também pedidos de audiência com o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, com o governador José Serra e com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
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Uma reunião com o prefeito Eduardo Cury estava agendada para amanhã, dia 20, mas foi antecipida para hoje, às 19h, no Paço Municipal.
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“É inadmissível que uma empresa que tanto lucrou e recebe muito dinheiro público faça uma demissão em massa como essa. E com requintes de crueldade, ao fazer isso com os trabalhadores às vésperas do Carnaval. Precisamos repudiar veementemente estas demissões e lutar para que a empresa volte atrás nessa medida", afirma o presidente do Sindicato, Adilson dos Santos, o Índio. "Esperamos também que o prefeito, os governos estadual e federal adotem medidas práticas e urgentes para intervir nessa grave situação. Não adianta vir com propostas irrelevantes de banco de currículos. Essas demissões terão um impacto extremamente negativo em toda a cadeia produtiva da cidade”, disse Índio.
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Reestatização da Embraer
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Entre as alternativas defendidas pelo Sindicato para evitar demissões estão a redução da jornada de trabalho sem redução de salários e de direitos, já que a Embraer tem a maior jornada entre as empresas aeronáuticas em todo o mundo (43h semanais), bem como estabilidade no emprego e reestatização da empresa. A Embraer é uma das principais beneficiadas por dinheiro público no país através do BNDES. Desde sua privatização, em 1995, a Embraer já recebeu cerca de 7 bilhões de dólares por meio de financiamentos.
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“É inaceitável que uma empresa receba uma quantia tão alta, vinda dos cofres públicos, e demita mais de 4 mil funcionários. Vamos iniciar imediatamente uma intensa campanha pela readmissão dos trabalhadores e reestatização da Embraer”, afirma Índio.
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Coletiva à imprensa
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O Sindicato vai iniciar uma forte ofensiva contra as demissões. Nesta sexta-feira, dia 20, às 11 horas, o Sindicato realizará uma entrevista coletiva na sede da entidade (Rua Maurício Diamante, 65 – Centro – São José dos Campos).
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A entrevista coletiva também será transmitida pela página do Sindicato na internet.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

CPT manifesta indignação contra fechamento de escolas em Acampamentos

Terrorismo cultural no Rio Grande do Sul: fechamento de escolas em Acampamentos
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A Coordenação Nacional da CPT vem a público manifestar sua inconformidade e indignação contra a determinação do Ministério Público Estadual e do Governo do Rio Grande do Sul de fechamento da Escola Itinerante do MST, no acampamento Oziel Alves, município de Sarandi, que atendia 130 crianças. A medida nefasta, a primeira entre outras que se seguirão, é um verdadeiro terrorismo cultural, pois a alternativa que se oferece às crianças é ficarem sem aula ou passarem o dia todo fora de casa, parte nos transportes precários, parte em escolas urbanas estranhas à sua cultura.
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Por trás desta decisão está a ofensiva do Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul, com o respaldo do Governo de Yeda Crusius, que querem colocar em execução a estratégia de dissolver o MST. Como fartamente foi noticiado em meados do ano passado. O Conselho Superior do Ministério Publico do Estado do Rio Grande do Sul, por unanimidade, aprovou relatório que propunha “ação civil pública com vistas à dissolução do MST e declaração de sua ilegalidade (...)” e ainda “intervenção nas escolas do MST” para sua “readequação à legalidade, tanto no aspecto pedagógico quanto na estrutura de influência externa do MST “ pois “as bases pedagógicas veiculadas nas escolas mantidas ou geridas pelo MST são nitidamente contrárias aos princípios contidos na Constituição Federal”.
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Diante das reações que tamanhas barbaridades provocaram, o Conselho recuou. Nas atas de suas reuniões de 7 de abril e de 30 de junho de 2008 decidiram retificar a famigerada ata de dezembro de 2007 asseverando “que tudo não passou de um equívoco, tudo que constou na ata não foi aprovado”. Contradizendo, porém, estas afirmações, alguns promotores firmaram, em 28 de novembro de 2008, com o governo do Estado, sem conhecimento e participação dos pais, educandos e da escola-base, onde as crianças estão matriculadas, um Termo de Ajustamento de Conduta em que o Estado assume a obrigação de, na prática, acabar com as Escolas Itinerantes dos acampamentos do MST. A concretização disso se iniciou no dia 10 de fevereiro com o fechamento da escola do acampamento Oziel Alves.
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O que são as escolas itinerantes
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As Escolas Itinerantes são uma experiência pioneira do MST para garantir a educação escolar para as crianças e adolescentes dos seus acampamentos, amparada nos direitos sociais inscritos na Constituição Federal de 1988, e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e nas Diretrizes Operacionais para Escolas do Campo, aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação em 2002.
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Em 1996, o Rio Grande do Sul foi o primeiro estado a apoiar tal iniciativa e as aulas, ministradas nos acampamentos, passaram a ter o amparo legal garantindo aos educandos a continuidade dos estudos em qualquer lugar onde ocorressem. Os estudantes são matriculados numa escola-base, e participam das aulas em seu acampamento. A experiência gaúcha se espalhou por diversos estados do Brasil e foi premiada com o Prêmio Educação, do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul.
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Diante de tamanho despudor, hipocrisia e desfaçatez de integrantes do MPE e do governo do Estado nossa indignação não se contém e bem lhe podemos aplicar a indignação do próprio Jesus diante dos doutores da lei e dos fariseus: “Serpentes, raça de víboras” (Mt 23,33) vocês destilam seu veneno contra os indefesos, e se locupletam na mesa dos poderosos. Vocês que, por determinação constitucional, deveriam defender os direitos dos fracos prostituem-se e adulteram com aqueles que secularmente vivem da exploração dos pobres.
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Goiânia, 18 de fevereiro de 2009.
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Dom Xavier Gilles
Bispo de Viana, MA
Presidente da Comissão Pastoral da Terra
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Original em MST

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

SAN REMO: O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA EUROPA?

A abertura do 59º Festival de San Remo no dia de ontem, mostrou, nos detalhes, que a Europa está, de fato, muito preocupada com o rumo político que as coisas estão tomando por lá.

O que sempre foi um oba-oba de futilidades e glamour, abriu espaço para duas coisas que chamaram a atenção dos mais atentos. Primeiro, a entrevista com o Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Miguel d’Escoto que, se pouco acrescentou, serviu para chamar a atenção sobre o fato de que, como disse Vandré, a vida não se resume a festivais.

O segundo fato, esse sim de uma relevância extremamente grande, a presença de Roberto Benigni que, de forma sutil e polida, ironizou a figura bizarra de Berlusconi que hoje ocupa o centro das atenções da porção civilizada da Europa, tanto pelo seu posicionamento retrógrado de extrema direita, como pelas acusações que sofre pelo seu envolvimento em grandes esquemas de corrupção.

Esse espetáculo de fino humor que atingiu em cheio o "stablishiment" italiano já provocou hoje, um dia após a apresentação de Benigni, a manifestação de Maurizio Gasparri, líder do "Popolo della Libertà" (PdL), partido de direita italiano, que diz ter a intenção de ajuizar ação legal contra Claudio Cappon, diretor geral da RAI.

Mas o mais marcou politicamente a participação de Benigni, em um momento em que os movimentos neo nazistas crescem de modo assustador por toda a Europa e agridem violentamente as minorias representadas pelos negros, judeus, estrangeiros e homossexuais, aproveitando as dificuldades criadas pela crise econômica que atinge os países desenvolvidos, foi a alocução dirigida a favor da liberdade de opção sexual.

No texto, o coerente ator italiano faz a explanação didática e poética do que representa o o direito de amar, independente do fato de ser homo ou heterossexual, e finaliza com um dos poemas escritos por Oscar Wilde da prisão para o Lord Alfred Douglas.

A politização, embora tímida, do Festival da Música Italiana é um fato absolutamente inédito dentro de uma sociedade secularmente conservadora e dentro de um evento que sempre se caracterizou por duas coisas: as belas músicas que apresenta e pela não tomada de posições que possam ser consideradas como polêmicas.

Mesmo que se observe apenas as músicas apresentadas ao longo desses 58 anos que precederam o atual festival, vemos que poucas são as canções que foram apresentadas com algum conteúdo social ou de posicionamento definido - uma delas "Ciao, Amore, Ciao" de Luigi Tenco - sem que jamais alguma tenha ocupado, mesmo que fosse o terceiro lugar.

Rosalvo Maciel

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Itália esconde Jorge Troccoli.

O que a "imprensa livre" brasileira não mostra: o caso Jorge Troccoli.

Nas últimas semanas, o caso Cesare Battisti vem ocupando um grande espaço nos principais "veículos de comunicação" do país e a cobertura dada ao mesmo - para variar - tem sido extremamente tendenciosa. De modo geral, a grande imprensa brasileira tem feito coro às alegações do governo italiano de que o Brasil está concedendo o status de refugiado político a um "terrorista", condenado por quatro homicídios, em seu país natal.
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No entanto, esta mesma imprensa - que se diz neutra, livre e isenta - esquece deliberadamente um episódio ocorrido no ano passado na "democrática" Itália e que merece ser lembrado, no momento em que acontece este contencioso entre o Brasil e o governo do Sr. Berlusconi: o caso do militar uruguaio Jorge Troccolli. Capitão da marinha uruguaia, Troccoli teve uma atuação bastante ativa na tristemente famosa “Operação Condor” (que contou com a participação das ditaduras militares do Uruguai e de outros países sul-americanos), tendo sido responsável pela tortura e morte de mais de uma centena de opositores desses regimes, entre 1975 e 1983. Em 2002, o governo do Sr. Silvio Berlusconi – em sua segunda passagem pela chefia do gabinete de ministros da Itália - concedeu cidadania italiana ao Capitão Troccoli, mesmo sabendo das acusações de crime contra a humanidade que pesavam contra ele.
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Em setembro do ano passado, o ministro da justiça da Itália, Angelino Alfano, negou-se à extraditar Troccoli para o Uruguai, alegando que ele é cidadão italiano, tomando como base jurídica um tratado assinado entre os dois países em 1879. Portanto, o mesmo governo que nega-se a extraditar um notório torturador, utilizando dessas filigranas jurídicas, é o mesmo que se considera ofendido pela não-extradição de Battisti, que seguiu todas as normas da legislação brasileira, que por sua vez se baseia em uma série de convenções internacionais.
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A mídia golpista brasileira, interessada em atacar o governo Lula, opta por dar razão a um governo com notórias ligações com grupos neo-fascistas e com o crime organizado na Itália, como é o governo Berlusconi, ao invés de cobrir o caso Battisti com a isenção que seria necessária. E se é para dar opiniões pessoais e subjetivas - que é o que tem feito a maior parte dos principais articulistas da grande imprensa - eu prefiro concordar com a bela Carla Bruni, que apóia Battisti, do que com a deputada neo-fascista Alessandra Mussolini (neta do próprio), que faz parte da base de apoio de Berlusconi!!
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Maiores informações sobre o caso Troccoli podem ser encontradas em um artigo publicado recentemente no jornal italiano do L'Unitá.
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Vista de perto, a Itália de 2009 dá medo

Franco Berardi (Bifo)
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Franco Berardi (mais conhecido pelo apelido, Bifo), 60, é filósofo, escritor e agitador cultural italiano
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Após conduzir um ataque insano contra os trabalhadores, depois de ter levado a termo a criminosa operação Alitalia com a ajuda da oposição de Sua Majestade, após haver tentado (e parcialmente realizado) um ataque mortal contra o que resta da escola Pública, agora – com o pacote de segurança – o governo Berlusconi toma decididamente o caminho da violência autoritária.
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O que podemos imaginar nesse momento? Podemos imaginar que esse governo dure por mais quatro anos devastando para sempre qualquer esperança de vida civil. Ou podemos imaginar que a situação se precipite em direção ao banho de sangue, à guerra civil inter-étnica, à catástrofe civil dolorosa. Que outra coisa se pode imaginar?
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Se olhamos a situação de perto, se experimentamos olhá-la de Roma, ou de Milão – onde a EXPO 2015 virou pretexto para fechar todos os locais de encontro livre dos trabalhadores precários e da cultura dissidente, como os grupos paramilitares fascistas de 1922 fecharam as associações sindicais operárias – não há esperança.
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Mas não é de perto que se deve olhar o que acontece na Itália hoje, nem de Roma, nem de Milão. Tentemos mudar o nosso ponto de observação e olhar a Itália de fora, a partir do mundo. Então compreenderemos melhor e nos livraremos da angústia.
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No final de novembro de 2008, a classe política que se reuniu em torno de Berlusconi mostrava-se vencedora. No final de novembro de 2008, parecia que o rei-caricatura e sua gentalha estivessem destinados a cavalgar alegremente, sem obstáculos.
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O que os jornalistas que cobrem o Parlamento chamam de "oposição" (o Partido Democrático, moribundo desde antes de nascer) é, em realidade, uma heterogênea tropa de apoio.
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Os Colaninno[1] que compõem aquele partido nada são, senão sócios nos negócios, do presidente do Conselho. Os Bassolini e os Cofferati contribuíram para tornar odioso aquele amontoado de perdedores arrogantes que o pobre Veltroni não conseguiu governar.
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Por isso Berlusconi ria feliz: tinha vencido e não havia oposições no horizonte.
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Mais tarde a atmosfera mudou, porque três eventos epocais modificaram o horizonte.
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(1): O cataclismo econômico por longo tempo anunciado e por muito tempo ignorado desembarcou nos EUA e está lambendo a península com tempestades das quais, até agora, só vimos os primeiros ventos.
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(2): A Onda Anômala[2] de centenas de milhares de estudantes, professores, pesquisadores, trabalhadores do precariato ocupam as escolas, as universidades, as ruas, as praças e rejeitam a "Reforma Gelmini". A inteligência mobiliza-se contra a ignorância; e é só o começo de um movimento destinado a corroer, profundamente, as bases do poder obscurantista.
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(3): A vitória de Barak Hossain Obama nos EUA abre nova fase histórica no planeta inteiro. Não podemos saber quais direções tomará, efetivamente, a nova presidência americana. Não podemos saber quão profunda será a mudança que Obama imprimirá ao seu país e ao mundo inteiro.
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Mas não se pode, por isso, esquecer dos criminosos que governaram o mundo no último decênio. A classe incompetente que levou o mundo à catástrofe econômica e ecológica começa a ser desprezada, amaldiçoada e derrotada pelos homens e pelas mulheres que iniciam a nova história.
Desde novembro de 2008, quando o cataclismo econômico, a Onda Anômala e o presidente negro mudaram os rumos do mundo, os rostos pálidos que estão no poder na Itália aparecem como são: criminosos incompetentes inimigos da sociedade da inteligência.
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A partir daquele momento, tornaram-se perdedores. Nem por isso são menos perigosos. Ao contrário, tornaram-se ainda mais perigosos, como já se vê. Desde então, puseram-se a incitar o ódio étnico, o ódio religioso, transformaram em lei a sua vontade de assassinar a liberdade de manifestação política, introduziram leis de segurança que lembram de perto os momentos mais obscuros da história do século XX. São até mais perigosos hoje, porque vivem seus últimos momentos, são existências destinadas a desaparecer com a avalanche que se aproxima.
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Protegem-se agressivamente, mostram a feição descarada da arrogância clerical-fascista e racista. Mas perderam.
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Podem ainda produzir muita dor, podem provocar uma guerra racial e podem produzir uma guerra social que levaria a Itália ao precipício. Mas perderam.
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Agora, é hora de tomarmos a iniciativa, com calma, com prudência e espírito de paz.
Toca-nos dizer que não se deve aceitar os tons de cruzada, porque as cruzadas são coisas da Idade Média e, para nós, a Idade Média acabou. Goffredo da Buglione morreu. George W Bush morreu. Dick Cheney morreu. E Berlusconi está destinado a segui-los logo.
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Assisto a um telejornal. Ouço que Famiglia Cristiana, jornal de pessoas de bem que vivem a fé com caridade e respeito, acusa o governo de fomentar o ódio racial. Ouço que o ministro Maroni ameaça com retaliação 'legal' o jornal mais lido pelos italianos crentes. Depois, vejo que os fascistas no parlamento atiram-se contra o corpo de uma moça que morreu há 17 anos, gritam impropérios, porque querem expropriar os homens e as mulheres do direito de dispor do próprio corpo e da própria alma.
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Depois, ouço que o Instituto de Estatística nos dá as cifras da catástrofe. No mês de novembro, a produção industrial italiana caiu 14% – 50% no setor de automóveis. Dos EUA chegam notícias de que, no último mês, desapareceram 600 mil postos de trabalho.
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Essa é a realidade que a classe criminal dos Berlusconi e dos Bush produziu. Essa é a realidade que a classe criminal que provisoriamente governa a Itália procura esconder, agitando cruzes de fogo e urrando maldições.
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Mas para eles acabou. Do abismo a que nos levaram, devemos nos levantar com as nossas forças e sobretudo com a nossa inteligência. E evitar a guerra civil à qual querem nos arrastar. E evitar a angústia na qual querem nos sufocar.
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Porque nós somos a inteligência coletiva. A ignorância privatista não prevalecerá.
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[Tradução: coletivo de tradutores attraverso]
Original em NovaE

Verdades e mentiras sobre os transgênicos

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O uso de transgênicos pode ser a solução para acabar com a fome no Mundo. A idéia foi defendida pelo vice-presidente da Monsanto, Jerry Steiner, em entrevista recentemente cedida ao jornal espanhol El País. O empresário defende a imagem da empresa, afirmando que a Monsanto é uma entidade preocupada com o meio-ambiente, e ressalta que os agricultores de todo mundo utilizam as sementes transgênicas por opção e não porque são forçados a isso.
Em entrevista à Radioagência NP, dois especialistas no assunto respondem sobre alguns mitos dos transgênicos utilizando como base as repostas dadas por Jerry Steiner. O assessor técnico da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (Aspta), Gabriel Fernandes, e o professor do instituto de sociologia da Universidade Johannes-Kepler de Linz (Áustria), Antonio Andrioli, tiveram a missão de rebater os argumentos dados pelo empresário.
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Andrioli, o vice-presidente, Jerry Steiner, introduz a conversa falando dos transgênicos como solução para o combate a fome no mundo. O que você tem a dizer sobre isso?
Antonio Andrioli – Bom, esse argumento não é nada novo. Em primeiro lugar é preciso dizer que nunca esteve nos objetivos dessas empresas, como a Monsanto, o combate à fome. Nós temos, no debate sobre a fome, uma clara evidência de que não se trata de um problema técnico e sim distributivo. Ou seja, nós temos uma produção de alimentos no mundo superior às pessoas que comem, mesmo assim nós temos em torno de 900 milhões de pessoas passando fome porque o acesso a esses alimentos é dificultado pela lógica do mercado. Esse acesso tem sido dificultado inclusive pela introdução dos transgênicos, visto que com eles, há uma necessidade dos agricultores aumentarem sua área de cultivo para compensar os altos custos e a baixa produtividade destes cultivos. Então nesse sentido nós temos uma eliminação dos pequenos agricultores, responsáveis por 70% da produção mundial de alimentos [para consumo humano]. Então não é um problema de baixa produtividade, e mesmo que fosse esse o problema, todos os transgênicos que existem hoje no mundo não são mais produtivos que os cultivos convencionais.
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Gabriel, apesar de a semente transgênica ser mais cara para o agricultor, Steiner diz que compensa, já que, depois, o rendimento dessas sementes seria melhor. Você concorda?
Gabriel Fernandes - Não. Isso na verdade faz parte da propaganda das empresas. Nós que acompanhamos essa discussão há algum tempo, vemos que as principais promessas que a indústria da transgenia faz até hoje não foram verificadas a campo. Elas dizem que vão reduzir o uso de agrotóxicos e, na verdade, o que os dados comprovam é que aumenta o uso de veneno. Elas falam que a produção vai aumentar e os vários estudos, pesquisas, inclusive as evidências de campo, mostram que os transgênicos não produzem mais. Então, o que esse modelo de agricultura vai fazer na verdade é deixar os agricultores cada vez mais dependentes dessas poucas empresas, a Monsanto e mais umas três ou quatro. É um modelo que não vai resolver o problema da fome, pelo contrário, ele vai criar mais problema no campo por reduzir cada vez mais a autonomia dos agricultores. Se os agricultores dependem das sementes que essas empresas fornecem, eles acabam dependendo também do pacote tecnológico inteiro, ou seja, de todos os insumos, os agrotóxicos e os adubos, porque as sementes transgênicas são modificadas em laboratório exatamente para amarrar cada vez mais essa dependência entre as sementes e os insumos.
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Jerry Steiner afirma que a Monsanto sempre trabalha de modo que os agricultores tenham a opção de escolha e utilizam a semente transgênica porque querem. O que você tem a dizer sobre isso?
Andrioli – Não é possível a coexistência de cultivos trangênicos com não-transgênicos. Isso é mais complicado ainda em plantas de polinização aberta, como é o caso do milho, e menos complicado no caso da soja. Mas nós tivemos, mesmo com a soja, a contaminação. Nós sabemos que ela existe, desde o transporte até o uso da mesma semeadeira, e também em função da estrutura agrária para os pequenos agricultores que têm uma área muito próxima um do outro [a plantação transgênica acaba contaminando a vizinha]. E o que nós vemos no mundo inteiro é que há um aumento dos cultivos transgênicos, em primeiro lugar por esse fator da contaminação. Nós temos o México onde isso é muito claro. Nós temos uma proibição do milho transgênico no país onde surgiu o milho. Então no mundo inteiro nos vemos que não é possível a coexistência e, sendo assim, os agricultores que cultivam de forma orgânica têm sido obrigados a migrar para o transgênico em função da contaminação que ocorreu.
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Steiner também afirma que os transgênicos reduzem a necessidade de utilização de agrotóxicos.
Andrioli – Nós sabemos que nos primeiros anos de cultivo das plantas resistentes a herbicida, nós utilizamos apenas um princípio ativo, que no caso é o glifosato, cuja marca comercial se chama Roundup. É claro então que nos primeiros anos, nós utilizamos menos, mesmo porque trata-se de um produto que agora está sendo usado em substituição a outros produtos que já haviam gerado uma resistência em determinados índices. Só que o mesmo fenômeno que já tinha acontecido com as outras plantas invasoras, agora acontece com o glifosato e numa proporção muito maior e numa velocidade muito mais rápida, porque estamos utilizando apenas um princípio ativo. E nós sabemos, do ponto de vista da biologia, que se utilizarmos apenas um princípio ativo e nas doses em que se está utilizando, vai se gerar uma resistência, e isso fez com que no segundo e terceiro anos, os agricultores tivessem que utilizar maiores doses do herbicida e hoje nós temos no Rio Grande do Sul, por exemplo, segundo o Ibama, 85% a mais de aplicação de herbicidas do que anteriormente.
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Nós sabemos que a ocupação de um território com o cultivo de apenas uma espécie de semente acaba com a diversidade e provoca o surgimento de novas pragas. Cite um exemplo de onde isso ocorreu.
Andrioli – Vou dar um exemplo claro de como se produz uma praga. Existe no Brasil um inseto chamado Lágria Villosa, popularmente conhecido como idi-amim. Esse inseto comia várias plantas, por exemplo, uma chamada caruru que os agricultores sabiam muito bem que não deveriam carpinar ela fora e, na aplicação de herbicida, se deveria evitar que essa planta fosse destruída porque o idi-amim comia essa planta. Agora com o glifosato, nós estamos eliminando a maioria das plantas e deixando somente a soja. É claro que esse inseto vai começar a atacar a soja. É o que está acontecendo em função da uniformização, ao achar que numa plantação se deve ter apenas soja, nós estamos produzindo novas pragas.
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O que é a semente terminator? Qual seria a vantagem de plantá-la?
Gabriel Fernandes – Vantagem não tem nenhuma, pelo contrário. Apenas tem riscos e danos. Terminator é um tipo de semente transgênica que além de ter a característica da transgenia, como a resistência a herbicida ou resistência a algum inseto, ela também foi geneticamente modificada para não germinar. Então, esse seria o controle absoluto das empresas sobre as sementes. O agricultor compra a semente transgênica uma vez, planta e se ele colher para plantar de novo, essas mesmas sementes não vão germinar. Seria uma forma biológica de impedir o agricultor de fazer aquilo que os agricultores sempre fizeram que é plantar, colher, selecionar as melhores sementes e plantar no ano seguinte. Então, isso mostra qual é o grande objetivo das empresas, que é de conquistar essa dependência dos agricultores, fazer com que eles fiquem cada vez mais dependentes das sementes das empresas. Essas sementes terminators não estão liberadas em nenhum país do mundo. Elas não podem ser plantadas e a legislação no Brasil proíbe. Elas não foram testadas a campo. É um projeto que as empresas têm e segue engavetado, mas acreditamos que quando elas sentirem que o ambiente está favorável, vão tentar pedir a aprovação dessas sementes. Por enquanto isso não pode ser comercializado.
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O representante da Monsanto fala também que os países subdesenvolvidos são cada vez mais usados para testar a plantação de cultivos transgênicos. Isso é verdade?
Gabriel Fernandes – Tem alguns países que sim, por exemplo, na África. A África do Sul, por mais que não seja o país mais pobre do continente, serve como uma vitrine da transgenia para o resto do continente. As empresas têm na África do Sul uma série de plantios experimentais, parcerias com empresas e universidades, para mostrar ali, do ponto de vista deles, que a tecnologia é viável e usar isso como se fosse uma porta de entrada para o restante do continente. Na América Central, também tem alguns países que pelas características ambientais, de clima e tudo, recebem uma quantidade muito grande de experimentos. As empresas conseguem cultivar os transgênicos o ano inteiro, fazendo as experiências e depois exportam isso para outros países.
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Original em MST

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Carta Capital e o país de Pinocchio

Os artigos de Mino Carta e Walter Maierovitch, contra o refúgio a Cesare Battisti, ferem a tradição da revista que os publica. Como textos jornalísticos, são desinformados e omissos. Politicamente, sugerem que todos podem rever suas posições – exceto os revolucionários italianos dos anos 1970

Giuseppe Cocco
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No Brasil, as vivas polêmicas suscitadas pelo caso Cesare Battisti foram e são atravessadas por dois grandes vieses. Obviamente, um deles tem origem na Itália. O outro, só um pouco menos óbvio, é fato da conjuntura política brasileira.
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A violenta reação da classe política italiana à decisão brasileira de conceder “refúgio” a Battisti tem dois determinantes. O primeiro diz respeito à composição fortemente reacionária do atual Executivo, presidido por Silvio Berlusconi. Se o berlusconiano ministro do exterior, Franco Frattini, chamou de volta o embaixador, foram os pós-fascistas a ameaçar com a suspensão do amistoso de futebol entre Brasil e Itália; e um deputado da "Lega Nord" a declarar que o Brasil é conhecido por suas dançarinas e não por seus juristas.
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O segundo determinante diz respeito à composição da classe política italiana, considerada em conjunto. Apesar de seu pouco peso (o regime italiano é parlamentar, e quem “manda” é o primeiro-ministro), até o presidente italiano, o pós-comunista Giorgio Napolitano, protestou veementemente e de maneira deselegante, em carta aberta ao presidente brasileiro.
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A cobertura da grande mídia brasileira não traz nenhuma novidade. Quando se trata de Bolívia e Equador, ela prega firmeza e critica a postura conciliatória do governo brasileiro. Quando se trata de Itália, ela repercute (e dá legitimidade) à pressão italiana, sem nenhuma preocupação com a firmeza “nacional” que prega nos outros casos. A elite é isso mesmo: “forte com os fracos e fraca com os fortes”!
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Mas, há uma segunda vertente de críticas à decisão brasileira no caso Battisti: trata-se das colunas de Mino Carta, o editor-proprietário de Carta Capital, e de um magistrado, ex-chefe da repressão ao narcotráfico (sob FHC) que publica colunas no mesmo semanário. Na realidade, a atitude de Mino e Walter Maierovitch flerta com a histeria da direita anti-Lula e mancha a postura de independência editorial que Carta Capital ostentar. Há dois traços específicos nessa segunda vertente.
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Em primeiro lugar, Mino Carta e Walter Maierovitch pretendem-se inseridos no cenário político brasileiro nacional, no campo progressista, até de centro-esquerda. Em segundo lugar, ambos apresentam-se como profundos conhecedores da realidade italiana — sabe-se lá se por suas origens familiares, ou por algum outro critério pessoal indecifrável. E é assim que se lê, na Cartado Mino (de 28 de janeiro de 2009 ) que “o ministro Tarso Genro expõe ignorância em relação à história recente da Itália”.
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Por que esse tratamento desigual, em artigo de jornalista tão bem informado? Será que Mino não sabia como resolver a incongruência dessa unanimidade entre “comunistas” e “fascistas”? O jornalista omitiu um fato que atrapalhava sua coreografia
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As colunas desses dois autores atacam a decisão de Tarso com argumentações supostamente mais rigorosas no plano histórico, jurídico e político. Muitos, na esquerda, ficaram perplexos com o que leram essa semana. fato é que aqui se viu uma interpretação reacionária à brasileira do balé reacionário encenado por praticamente toda a classe política italiana. Em outro site, Walter chega a formulações de bem baixo nível, que deixamos que o leitor avalie: “Caso Battisti: Tarso Genro protagoniza tragicomédia e vai do masturbador a Bobbio”.
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Mas em italiano existe uma frase bem adequada ao paradoxo aparente dessa situação: non tutto il male vien per nuocere –nem todo o mal vem (só) para o mal! A postura dos dois colunistas nesse caso é uma boa ocasião para ver, por um lado, que, nesse caso, seu jornalismo não é tão independente como eles desejariam que fosse; por outro, que eles são incapazes de apreender as dimensões políticas dos processo sociais e de seus conflitos.
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Grosso modo, Mino mobiliza três argumentos.
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Um, geral, que diz muito sobre sua visão dos problemas do Brasil: trata-se de um país que deve firmar-se em nível internacional – ou seja, ser sério, nos termos dos palpiteiros que decidem sobre "níveis de risco".
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Assim, para Mino, o que pensa The Economistconstituiria alguma espécie de Magna Carta – ou seja uma Carta Capital... decisão sobre Battisti é ruim, diz ele, também porque The Economistnão gostou. Para Mino o Brasil ainda seria uma criança que “vive em estado de ignorância”.
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O segundo argumento mobiliza um método jornalístico estranho. Afirmando-se como especialista dos detalhes da vida política italiana e de sua história, Mino elogia a carta aberta enviada a Lula pelo presidente italiano – o “comunista” (diz ele) Giorgio Napolitano. Mino não chama de pós ou de ex-comunistas os membros do Partido Democrático (para onde convergiram os ex-membros do PDS (antes Partido Comunista Italiano) e os ex-membros da Democrazia Cristiana, DC). Tudo bem: até aí, nada de grave.
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Mas logo depois, Mino fala de uma outra carta, dessa vez enviada pelo presidente da Camera dei Deputati , Gianfranco Fini, a seu homólogo Arlindo Chinaglia. Ora, no Brasil, todo mundo sabe que Chinaglia é do PT. Mas ninguém sabe de que partido é Fini. Se usamos o mesmo critério pelo qual Mino apresentou Napolitano ("comunista"), Fini tem de ser apresentado como "fascista": é dirigente do partido (MSI) criado pelos sobreviventes do regime mussoliniano no imediato pós-guerra. Partido que, recentemente, se transformou em "Alleanza Nazionale". Diante disso, o que pensar?
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Por que esse tratamento desigual, em artigo de jornalista tão bem informado? Será que Mino não sabia como resolver a incongruência dessa unanimidade entre “comunistas” e “fascistas”? O nariz de Pinocchio não cresceu. O jornalista não escreveu uma mentira.
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Simplesmente omitiu o fato que atrapalhava sua coreografia. E isso depois de anunciar que, “como recomendaria Hannah Arendt, vamos à verdade factual”(sic). Ou ignorância da situação italiana, ou por ter-se atrapalhado com tantos malabarismos jornalísticos, Mino surrupia ao leitor um elemento importante: o drama da classe política italiana está justamente no fato de que comunistas e fascistas têm idêntica opinião sobre os anos 1970, sobre o Brasil de hoje e sobre várias outras coisas. Pobre Hannah Arendt, condenada à revelia a nos ensinar esse tipo de “verdade”.
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Ninguém aqui pretende mobilizar Gramsci em prol de Battisti. Mas o que pensaria o filósofo sobre o apoio dos ex-comunistas italianos às guerras do Afeganistão e do Kosovo; ou sobre direita e esquerda italianas estarem hoje unidas numa furiosa discriminação dos imigrantes?
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A “verdade” que Mino noticia nada é além da “verdade” de todos os ex-comunistas e ex-fascistas que negam aos militantes revolucionários dos anos 1970 a possibilidade de, hoje, quase 40 anos depois, serem diferentes do que foram. Por que tantos são hoje “pós”... e os militantes revolucionários daquela época não podem ser?
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Por que, em outro parágrafo, falar do fato de que o advogado de Battisti defende também Dantas, e não lembrar que o mesmo advogado defendeu também o MST? MST que assinou manifesto em favor de Battisti e ocupa oito páginas do mesmo número do semanário? Por que quando fala do Tortura Nunca Mais pelo avesso que haveria na Itália, não citar o detalhe de que o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro apoiou a decisão do Ministro Tarso?
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No mesmo numero do semanário, Walter começa sua coluna falando de Gramsci morto na prisão, por mãos dos fascistas. Não faz a pergunta indispensável: o que pensaria o pobre Gramsci, se visse uma situação na qual pós-comunistas e pós-fascistas andam juntinhos?
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Não: ninguém aqui pretende mobilizar Gramsci em prol de Battisti. Mas haveria boa coluna a escrever, sim, sobre o que pensaria Gramsci a respeito de dois votos dos ex-comunistas italianos: a favor da guerra do Afeganistão e da guerra Kosovo. E o que pensaria ele sobre direita e esquerda italianas estarem hoje unidas numa furiosa discriminação dos imigrantes estrangeiros? E sobre a imposição das bases militares dos EUA em Vicenza, algo que a população daquela cidade rejeitou em plebiscito legal (e estamos falando de 2008!) e que direita e esquerda italianas aprovaram? E o que pensaria Gramsci sobre o ex-comunista Walter Veltroni, líder do “Partido Democratico”, que, quando prefeito de Roma, ante um fato de delinqüência sexual praticado por um grupo de imigrantes romenos, clamou por punição coletiva, étnica, para todos os “roms” (quer dizer, todos os ciganos)?
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Mino e Walter falam da volta do “Febeapá do Lalau” e se pretendem conhecedores finos da realidade italiana. Walter nos explica que as leis especiais de repressão da luta armada não eram “de exceção” mas de “emergência” – sutileza equivalente ao requinte busheano de chamar a tortura praticada em Guantanamo de “novos métodos de interrogatório”. E então vem Mino e nos diz que “a Itália (...) não alterou uma única, escassa vírgula da sua Constituição para combater o terrorismo”.
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Difícil supor que Mino não saiba que a Constituição italiana co-habitou por muito tempo não apenas com a máfia e a corrupção, mas, sobretudo, com o "Códice Rocco" – que leva o nome do jurista fascista que o redigiu durante o período mussoliniano. Assim também, as relações entre Estado e Igreja continuaram sob o marco do também mussoliniano “concordato”, sem que a Constituição representasse obstáculo a qualquer daquelas legislações fascistas. Até a discriminação atual dos imigrantes é constitucional.
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A Itália inteira sabe: a explosão de Piazza Fontana, em 1969, foi o primeiro de uma série de atentados cometidos por fascistas ou agentes de Estado ligados à Gladio (uma organização paralela à OTAN), como parte da strategia della tensione
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Walter afirma-se profundo conhecedor da vida política italiana e escreve: پg[na Itália] o terror começou em dezembro de 1969 com a explosão de Piazza Fontanaپh. Não. A Itália inteira sabe que esse atentado, conhecido como strage di Stato (massacre praticado pelo Estado), está na base da chamada strategia della tensione – uma série de atentados (nos trens, em manifestação em Brescia, na estação de trens de Bologna) cometidos por fascistas ou agentes do Estado ligados a uma organização paralela da OTAN, chamada "Gladio", dirigida por Licio Gelli entre outros.
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O que fez a Itália supostamente democrática dos anos 1970 – a Itália do tão elogiado presidente Pertini – para salvar as centenas de italianos e milhares de descendentes de italianos que eram torturados e exterminados na Argentina? Será que a seleção nacional italiana se recusou a jogar o mundial argentino por causa disso? Será que Walter sabe nos dar alguma resposta?
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A Itália dos anos 1960 e dos anos 1970 era assim: políticos da Democrazia Cristianamisturados com mafiosos, generais golpistas, logiasmaçônicas, bancos do Vaticano e bombas cegas destinadas a ameaçar o movimento operário e estudantil. Afirmação política que chegou à imortalidade na peça de teatro “Morte acidental de um anarquista” de Dario Fo, Pêmio Nobel literatura. É essa verdade política nossos dançarinos optaram por não revelar a seus leitores.
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O primeiro ato violento (armado) da esquerda foi – em 1972 – o homicídio do Delegado Calabresi, acusado de ter defenestrado o anarquista Pinelli para acusar o movimento desse horror. O intelectual Adriano Sofri, na época dirigente do grupo "Lotta Continua" (que tinha 20 mil militantes e publicou ao longo da década um jornal quotidiano do mesmo nome), está pagando, com longos anos de prisão, uma condenação por responsabilidade moral nesse assassinato. E isso não é político? E Feltrinelli, editor, homem de esquerda e amigo pessoal de Fidel Castro, que morreu também em 1972, tentando sabotar uma torre de energia para tentar acordar os grupos de resistência contra as ameaças fascistas? Feltrinelli foi criminoso comum?
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Essa verdade política estava na rua, nas manifestações de milhões de italianos ao longo de toda a década. O Estado italiano nunca desvelou as conspirações e cumplicidades que o ligaram à estratégia da desestabilização strategia della tensione. Aliás... por que os ministros italianos fascistas não mandam chamar de volta o embaixador italiano no Japão, para conseguir prender, afinal, um dos acusados por vários atentados?
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Mino e Walter não lembram do clima daqueles anos? O golpe militar contra Allende (em 1973), o esmagamento da revolta dos estudantes gregos pelos tanques não teria tido, para eles, nenhum impacto nos movimentos de toda a Europa? Não eram pequenos grupos. Eram manifestações oceânicas, sistemáticas e repetidas, manifestações de rua que diziam: Grecia, Chile: mai piú senza fucile[Grécia, Chile, nunca mais sem fuzil]. O próprio compromisso histórico não foi, pelo menos em parte, fruto do veto norte-americano à chegada ao poder do Partido Comunista Italiano? Para não falar de Ustica: será que Mino e Walter ouviram falar de Ustica?
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Se sim, como justificam que o Estado italiano tenha acobertado todos os elementos que indicavam que o avião foi derrubado por um míssil, em acidente que matou 81 pessoas? Por que a Itália nunca chamou o embaixador dos Estados Unidos, quando Washington retirou clandestinamente de território italiano os pilotos militares que derrubaram a cabine de um teleférico (“bondinho”), matando 20 italianos? Por que não se romperam relações diplomáticas com os Estados Unidos quando norte-americanos metralharam um carro do serviço secreto italiano, cujos ocupantes participavam de uma operação de libertação de uma refém em Bagdá, matando um agente italiano e ferindo a refém?
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Para além de seus graves erros políticos, na Itália como no mundo todo, o ciclo revolucionário da década de 1970 está presente – inclusive nos governos democráticos de América do Sul. A decisão do ministro Tarso é uma dessas dinâmicas radicalmente democráticas
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Por que as mortes ligadas a Battisti seriam mais pesadas de todas as outras? Não é problema de justiça, ainda menos de moral. Trata-se afirmar uma razão de Estado.
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A Itália quer afirmar sua razão de Estado como a única, para que ninguém ouse mais contestá-la. Mino e Walter dançam por essa música.
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Chegamos assim à terceira argumentação. Mino e Walter tentam demonstrar tecnicamente que Battisti seria delinquente comum. Usando magistralmente os relatórios de polícia (que, diga-se de passagem, denominava-se na época"polícia política"; passando depois a ser designada por uma sigla, DIGOS), Mino e Walter dizem que Battisti teria sido recrutado pelas organizações armadas, depois de ter sido preso por crimes comuns.
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Aí, Mino e Walter têm de se decidir, uma coisa ou outra: se na Itália daquela época não havia crimes políticos... quando ter-se-ia dado a mágica de se transformar o crime de Battisti, de crime comum em crime político? Por que os relatórios de polícia tanto se empenhariam para estabelecer o momento e a forma de sua “politização”?
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O fato é que Mino e Walter estão constrangidos numa visão da história que – por mais crítica que por vezes seja à histeria anti-Lula da elite brasileira, não tem nenhuma dimensão política. Além disso, tampouco têm capacidade de apreender o papel constituinte das lutas sociais, inclusive quando são violentas.
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Será preciso lembrar a Constituição dos Estados Unidos que prevê o direito à revolta contra o poder constituído? Thomas Jefferson, agora, mais um perigoso terrorista?
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Bem mais recentemente, em seu discurso sobre a questão do racismo, o atual presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, não reivindicou explicitamente as lutas dos negros, inclusive das revoltas violentas? Não tentou a direita republicana usar contra ele sua relação com um antigo militante dos weathermen(movimento de guerrilha contra a guerra do Vietnam)?
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Battisti – e, com ele centenas de milhares de jovens operários, estudantes, desempregados na Itália dos 1970 – participou de um movimento revolucionário, que atacava as bases do sistema de acumulação capitalista e alimentou, até meados dos anos 1970, um processo de libertação que a normalização pós-comunista e pós-fascista ainda não zerou.
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Sim, os operários italianos lutavam contra a ordem fabril e contestavam a constituição italiana “fundada sobre o trabalho” — ou seja, sobre a exploração do trabalho. Sim, os novos movimentos contestavam a sociedade disciplinar como um todo e construíram a base da abolição dos hospitais psiquiátricos, das lutas pela democratização das prisões, contra o serviço militar autoritário, pela universalização do acesso horizontal ao ensino superior, pela habitação popular e a gratuidade dos serviços. Essas lutas conquistaram o direito ao divórcio, os direitos das mulheres ao aborto e até as vitórias do Partido Comunista nas eleições municipais de 1975.
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Depois, as mesmas lutas foram derrotadas pela espiral dos massacres perpetrados pelo Estado e das respostas armadas que militarizavam o movimento. A repressão desse movimento, pela qual optou a esquerda institucional (por meio do “compromisso histórico”, ou seja, a conciliação com o histórico partido de poder, a Democrazia Cristiana), não significou apenas a derrota do movimento: significou a derrota da própria esquerda.
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Um ano depois da grande operação política de repressão do dia 7 de abril de 1979, a Fiat demitiu dezenas de milhares de operários e embarcou na contra-revolução neoliberal que se tornaria hegemônica mundialmente. Resultado: a esquerda institucional italiana não existe mais!
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Os pobres que lutam todos os dias – renovando os princípios éticos, ou constituintes, dos direitos e do direito – entendem muito bem que, para além do graves erros políticos da década de 1970, na Itália como no mundo todo, aquele ciclo revolucionário está presente. Inclusive, e sobretudo, nos governos democráticos de América do Sul, nas dinâmicas de radicalização democrática que os atravessam. A decisão do ministro Tarso é uma dessas dinâmicas radicalmente democráticas.
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Episódio na Suiça esquenta debate sobre racismo europeu

As investigações, desde que independentes, sobre a agressão sofrida pela brasileira Paula Oliveira na Suiça devem confirmar se a versão da vítima é falsa ou verdadeira, mas enquanto não surge uma explicação convincente para o caso, é legitimo que se debata o aumento do racismo na Europa. Muitos são os indícios de que a xenofobia, sempre presente no comportamento dos grupos de direita, esteja contaminando setores mais amplos, tornando-se mais agressiva e conquistando a simpatia de alguns governantes, como o direitista Silvio Berlusconi, da Itália.
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Segundo reportagem da revista Carta Capital, há sinais de conivência do poder local Suiço com os supostos criminosos que teriam atacado a brasileira Paula Oliveira. Os policiais que atenderam Paula tentaram intimidá-la, dizendo ser a única responsável por sua versão. A cônsul do Brasil, Victoria Cleaver, foi destratada pela polícia, que a mandou falar com a vítima se quisesse informações. A advogada foi ameaçada por um investigador: “Se você estiver mentindo, poderá ser presa”. O próprio chanceler Celso Amorim precisou somar-se à pressão por uma investigação do caso.
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Em 1º de fevereiro, três italianos, de 29, 28 e 16 anos espancaram e queimaram com gasolina um mendigo indiano em Nettuno, perto de Roma. Segundo a polícia, não foi um ato racista: fizeram isso “para divertir-se”.
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No dia 5, o Senado italiano aprovou uma “Lei de Segurança” que, além de criminalizar os imigrantes ilegais e estimular médicos a denunciá-los, legaliza as “rondas padanas”, milícias organizadas pelos racistas da Liga Norte para intimidar estrangeiros, responsáveis por agressões similares, inclusive o roubo, tortura e estupro de ciganas em Monza, Lecco e Varese de 2005 a 2007 e o incêndio de um acampamento cigano em Milão em 2007. No dia 2, insensível a tudo isso, o ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, declarara que “para lutar contra a imigração ilegal e os males que traz, precisamos ser maus”.
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Como nos anos 30, a estagnação prolongada, o desemprego e a crise econômica chocaram o ovo da serpente. O fascismo está de volta e não mais apenas nas margens da sociedade europeia, mas em seu próprio cerne.
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Especialistas minimizam onda xenófoba
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Questionados sobre esta nova onda xenófoba, alguns acadêmicos europeus buscam minimizar a extensão do problema. Em declarações ao portal Terra, especialistas em racismo e xenofobia na Europa negaram que o continente esteja vivenciando uma explosão de preconceito contra estrangeiros. Atos pontuais, afirmam, não significam que o problema seja maior hoje do que já fora há 50 anos, ao mesmo tempo em que as diferenças nos mecanismos de controle das estatísticas em cada país impossibilitam, atualmente, qualquer comparação provando que a Europa está mais avessa aos imigrantes.
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"Quando acontecem casos isolados, a indignação geral da população dá a impressão de que o problema está cada vez pior. Mas um caso único não é representativo, e hoje não existem elementos concretos que provem o aumento dos casos de xenofobia e racismo", afirma Nonna Mayer, diretora de pesquisas do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences Po, especialista em extrema direita, racismo e anti-semitismo e integrante do Grupo de Estudos Europeus sobre o Racismo e a Xenofobia. "É preciso diferenciar ameaça de violência, assim como indivíduo de grupo. Enquanto partidos de extrema-direita pregam a expulsão dos estrangeiros e skinheads picham frases racistas em muros ou batem em uma pessoa, não vivemos um momento de violência xenófoba contra os imigrantes. Não se pode, de forma alguma, generalizar".
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Para Mayer, a ausência de dados coordenados sobre o assunto entre os países europeus torna impossível qualquer comparação sobre onde existe mais preconceito, e o problema só pode ser analisado nacionalmente. "Por exemplo, sabemos que o preconceito contra islâmicos vem aumentando na França. No entanto, isso não representa que os atos de violência contra os árabes também sejam em maior número".
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A Agência Européia dos Direitos Fundamentais, responsável pelas questões de xenofobia em nível europeu, também se recusa a estabelecer um paralelo entre os países. "Alguns países demonstram bem mais interesse em analisar os problemas de preconceito do que outros, e por isso o nível de detalhes nos estudos de um é bem maior do que os de outros. O Reino Unido, por exemplo, é um dos que mais revelam querer combater o racismo e a xenofobia, enquanto que os países do leste ainda não têm muita consciência sobre a importância destes estudos", analisa Waltraud Heller, porta-voz da agência, na Áustria.
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Crise aumentou o problema
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Ao mesmo tempo em que buscam amenizar o problema, os especialistas confirmam que a crise econômica, conforme Heller, também provoca um aumento pontual das ocorrências de aversão a estrangeiros, uma vez que os próprios governos começam a adotar medidas protecionistas para conter os efeitos turbulência. O exemplo mais recente é a greve "anti-estrangeiros" dos trabalhadores de uma refinaria inglesa, ocorrida na semana passada. Depois de uma semana de mobilizações - em uma greve que acabou motivando os empregados de outras 20 empresas do país -, os funcionários da empresa Total em Lindey conseguiram que a direção reservasse 50% das vagas para os ingleses.
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Em dezembro, a Espanha, fortemente afetada pela crise, também registrou incidentes de xenofobia. "É claro que um momento econômico delicado causa imediatamente repúdio a tudo aquilo que possa parecer uma ameaça. Mas tão logo as coisas voltarem ao normal, todas essas demonstrações de preconceito também voltarão aos seus níveis habituais em cada país".
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Além disso, diz Heller, o fato de a mídia repercutir cada vez mais os casos de ataques de neonazistas contribuem para dar a impressão de que a Europa está mais preconceituosa. "Há 15 anos, ninguém falava disso, e hoje não apenas se fala bastante como o próprio debate pela busca de soluções suscita a dúvida quanto ao problema estar maior ou não".
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Alemanha tem encontro neonazista
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Neste sábado, seis mil membros da extrema-direita alemã são aguardados para o encontro anual dos neonazistas em Dresden, no leste do país. A Trauermarsch, ou "marcha fúnebre", ocorre todos os anos desde 1998, para lembrar o bombardeio da cidade pelas forças Aliadas no final da Segunda Guerra Mundial, em 13 de fevereiro de 1945. Foi a cidade alemã mais bombardeada pela guerra, e justamente num momento em que o conflito que já chegava ao fim.
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A cada edição, o número de manifestantes que participam do ato vem aumentando. No início, eram 200 simpatizantes "nostálgicos do III Reich". A barreira dos 1 mil foi ultrapassada em 2003.
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Três mil policiais estão destacados para monitorar o evento, especialmente porque uma contra-manifestação, de esquerda, também está prevista para acontecer na cidade.
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Original em Vermelho

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

XENOFOBIA, OUTRA FACE DA DIREITA

Com o corpo coberto de cortes, que dificilmente não deixarão cicatrizes permanentes, e depois de abortar os dois filhos que esperava, a brasileira ainda é submetida a humilhação da suspeita policial de ter ferido a si própria
A advogada brasileira Paula Oliveira de 26 anos, grávida de gêmeos, foi violentamente espancada a socos e ponta-pés na estação de trens de Stettbach, um subúrbio de Zurique na Suíça no último dia 9.
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Não satisfeitos em agredi-la, os três homens, que portavam insígnias nazistas, a feriram com lâminas de barbear e riscaram em seu corpo as iniciais SVP do ultradireitista Partido do Povo Suíço.

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A Polícia suíça insistiu por muito tempo na possibilidade de que as lesões da jovem - que sofreu aborto espontâneo logo após a agressão - tivessem sido auto-provocadas e, somente depois de muitas horas, aceitou registrar a ocorrência.
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Note-se que o fato não ocorreu em Cité Soleil no Haiti, mas na civilizada Suíça. Tivesse ocorrido com uma Sueca na favela do Alemão, estaríamos definitivamente classificados como bárbaros e não faltaria quem pedisse a intervenção de policiais estrangeiros para elucidar os fatos.
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Aqui, certamente, a própria imprensa nacional, servil, se encarregaria de divulgar o quanto somos incivilizados e faria coro a repulsa internacional. Já na civilizada Suíça, essa inominável agressão perpetrada contra uma mulher indefesa dentro dos melhores modelos do nacional-socialismo e repleta de xenofobia, não ocupou mais do que pequeno espaço em página par no primeiro dia. No segundo dia já não havia qualquer comentário que desse a entender que a barbárie não é coisa do terceiro mundo.

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O Avante! faz 78 anos no domingo



Chegar cada vez mais longe


Desde que viu a luz do dia pela primeira vez, no já longínquo ano de 1931, o Avante! percorreu um longo e exaltante caminho, carregado de perigos e dificuldades mas também de momentos ímpares de heroísmo e de uma dedicação sem limites à luta da classe operária e de todos os trabalhadores e ao seu Partido, o PCP. Resistindo à repressão e à perseguição nos tempos da ditadura fascista; mobilizando para a conquista da liberdade e para a construção de um País efectivamente democrático, a caminho do socialismo, nos anos de 1974 e 1975; e apelando, desde então, à luta contra a política de direita prosseguida e intensificada por sucessivos governos do PS e do PSD, com ou sem o CDS-PP, o Avante! continua hoje a ser um instrumento fundamental para a acção diária do Partido e para a sua ligação às massas.
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O jornal que todas as quintas-feiras chega às mãos de milhares de militantes comunistas e trabalhadores sem partido tem uma história única, em Portugal e no mundo. Não só pelo seu percurso clandestino, iniciado a 15 de Fevereiro de 1931, ou pela sua acção ímpar nos anos quentes da Revolução de, mas também pelo seu presente.
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Ao contrário de muitos outros jornais com origens semelhantes por essa Europa fora, o Avante! continua a ser o órgão central do seu partido, o PCP. E é, também por isso, cada vez mais lido, acompanhando a crescente influência do Partido e contribuindo para ela. As suas características únicas, as melhorias que tem vindo a incluir, ao nível gráfico ou no tratamento dos temas, e a dedicação dos seus divulgadores, os militantes do Partido, contribuem para este crescimento. Há os que o levam para o seu local de trabalho, passando-o aos colegas, mais ou menos abertamente; outros trazem-no para as ruas das cidades, vilas e aldeias do País; e há os que o distribuem porta a porta aos compradores previamente angariados. Tudo isto faz com que todas as semanas o Avante! chegue a milhares de mãos, cumprindo o seu papel: informando e esclarecendo, mobilizando e mostrando o «outro lado» da notícia, revelando o que todos os outros órgãos de comunicação (propriedade dos grandes grupos económicos) escondem.
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Jornal comprometido, pelas suas páginas não passa apenas a actividade e posições do PCP, embora tenham aí um papel destacado, contribuindo para romper o manto de silêncio e deturpação a que os restantes media o votam: por elas é também possível conhecer os problemas e aspirações dos trabalhadores e de outras camadas da população severamente atingidas pela política de direita, bem como as lutas que diariamente travam; e acompanhar a tenaz resistência dos povos contra o imperialismo e os seus avanços libertadores.
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Instrumento de reforço
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Mais do que apenas um jornal, o Avante! é também um instrumento para o reforço da organização e intervenção do Partido. Na Resolução Política aprovada no XVIII Congresso do Partido, realizado no final do ano passado no Campo Pequeno, em Lisboa, salienta-se que a imprensa partidária permite o «contacto regular entre o Partido e os seus militantes (potenciador de outros contactos partidários)» e garante uma «melhor preparação dos militantes para a sua intervenção quotidiana em defesa das posições e análises do Partido».
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O Congresso destacou ainda o «papel fundamental» desempenhado pela imprensa partidária para alargar a influência do Partido «junto dos trabalhadores e das populações». O alargamento da sua divulgação, «a sua leitura e estudo pelos militantes comunistas e a sua difusão e venda junto das massas trabalhadoras são factores decisivos para o aumento da capacidade interventiva do Partido e da sua influência social, política e eleitoral».
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Para isto, foram traçadas como orientações a «adopção de medidas orgânicas de responsabilização e venda por parte das organizações» e a continuação e aprofundamento das vendas especiais do Avante! sobre «assuntos de particular importância e relevo». Prosseguir um percurso heróico
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O primeiro Avante! viu a luz do dia a 15 de Fevereiro de 1931, dirigindo-se «Ao proletariado de Portugal», chamando «os que sofrem a incorporarem-se nas fileiras revolucionárias». Nessa altura, já o Partido de que passou a ser o órgão central, o PCP, vivia na clandestinidade imposta pela ditadura fascista instituída no seguimento do golpe militar de 28 de Maio de 1926. O nascimento do Avante! resultou da reorganização do Partido iniciada dois anos antes sob a direcção de Bento Gonçalves, e que introduziu significativas alterações no funcionamento do PCP. Mas os primeiros anos do jornal foram irregulares, em virtude da repressão fascista. Embora nos anos de 1937 e 1938 tenha chegado a sair semanalmente, o jornal acabaria por ver a sua publicação interrompida, à medida que as tipografias e a própria direcção do Partido caíam nas garras da polícia. A partir de Agosto de 1941, em virtude de uma nova reorganização, levada a cabo por quadros jovens, entre os quais se destacava Álvaro Cunhal, o Avante! volta a sair, para não mais parar, até aos dias de hoje, sendo, em todo o mundo, o jornal que mais anos resistiu na clandestinidade. Ao longo dessa década, o Partido reforça-se e o Avante! contribui para esse reforço ao fazer chegar às massas as ideias dos comunistas. A luta de massas, que não parava de crescer nesses anos, ocupa um lugar central no jornal que consciencializava e mobilizava para ela muitos milhares de operários e trabalhadores.
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E foi assim ao longo da longa luta clandestina do povo português. Pequenas e grandes lutas tinham lugar de destaque nas páginas daquele pequeno jornal, concebido, impresso e distribuído no interior do País, fintando a apertada vigilância policial e estabelecendo os indispensáveis laços do Partido com a classe operária e com o povo português. Só através do Avante! foi possível a milhares de portugueses conhecer os crimes no nazi-fascismo na II Guerra e o papel decisivo da União Soviética para a sua derrota; a ameaça para a paz que constituía o imperialismo norte-americano; e a verdadeira natureza da guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné.
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Na edição de Abril de 1974, como que anunciando a acção militar do dia 25 desse mês, o Avante! destacava em primeira página a necessidade de «aliar à luta antifascista os patriotas das forças armadas». Pouco mais de um mês depois, a 17 de Maio de 1974, o Avante! sai, pela primeira vez na legalidade. Milhares de pessoas disputam-no nas ruas, nas fábricas e no campo – são vendidos 500 mil exemplares.
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Daí para cá, o Avante! passou por muitas duras provas, lado a lado com o seu Partido. E por cá continua, firme, a ser a voz do PCP, fiel às suas heróicas tradições, que continua nas condições actuais. Com a memória nos seus abnegados construtores clandestinos, de que José Moreira, Maria Machado, Joaquim Rafael e José Dias Coelho são apenas os mais destacados exemplos.
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Homenagem do "Blog do Velho Comunista" aos Camaradas portugueses

Prestam homenagem na ONU a Fidel Castro e Julius Nyerere

O presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D’Escoto, prestou homenagem ao desaparecido primeiro presidente da Tanzânia, Julius Nyerere, e ao líder da Revolução cubana, Fidel Castro.
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No Dia Mundial da Justiça Social, D’Escoto considerou que o grande herói da justiça social é Julius Nyrere, de quem disse ajudou toda a África a se libertar do colonialismo e a estabelecer um sistema social e econômico com o ser humano como centro de toda empresa econômica.
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O também sacerdote nicaraguense disse a respeito de Fidel Castro que, mais que um herói, é o mais parecido a um santo que temos em nosso atribulado mundo, de acordo com uma notícia da agência Prensa Latina.
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Ressaltou no ato organizado pela Comissão de Desenvolvimento Social do Conselho Econômico e Social da ONU, que continua em dívida e acredita que toda a humanidade também o está com Fidel Castro, que dedicou sua vida a praticar e promover incansavelmente a solidariedade com os povos oprimidos de todo o mundo.
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O ex-ministro das Relações Exteriores da Nicarágua, neste primeiro mandato dos sandinistas, referiu-se também ao surgimento de novos líderes, como o presidente Evo Morales, da Bolívia.
“Ultrapassando todo tipo de dificuldades, está guiando nossos povos indígenas na Bolívia e em todo o mundo, até o lugar que lhes cabe em nossas sociedades por direito”, sublinhou.
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D’Escoto sustentou que é impossível atingir o desenvolvimento, a integração e a justiça sociais sem paz e segurança e respeito por todos os direitos humanos.
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Original em Granma

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Brasileira é agredida por neonazistas na Suíça

Paula Oliveira estava grávida de gêmeos e acabou perdendo as crianças

A advogada brasileira Paula Oliveira, de 26 anos, foi agredida na noite de segunda-feira (9) por três homens brancos, com cabelos raspados, em Dubendorf, cidade perto de Zurique, na Suíça. Paula estava grávida de gêmeos de três meses e acabou perdendo as crianças, além de sofrer cortes em todas as partes do corpo.
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As informações são do site G1. Conforme relatos que fez ao pai, a brasileira havia acabado de sair do trem e estava indo em direção à casa onde reside com o companheiro, Marco Trepp, quando foi surpreendida por três homens, aparentemente neonazistas.
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— Deram socos, chutaram e a cortaram com estiletes no corpo inteiro — afirmou Paulo Oliveira, por telefone, de Zurique.
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O pai da brasileira informou ainda que os agressores tinham suásticas na cabeça. Paulo, que é secretário parlamentar, foi avisado pela filha sobre o ocorrido, por telefone, na madrugada de terça-feira (10), pelo horário de Brasília. Logo em seguida, ele avisou o deputado federal Roberto Magalhães (DEM-PE), para quem trabalha, e pegou o primeiro voo em direção a Zurique, juntamente com a mãe de Paula, Geni.
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Nesta quarta-feira, Paula foi encaminhada ao Hospital da Universidade de Zurique. Conforme o pai da brasileira, ela foi chamada para tomar vacinas antivirais. Como foi ferida por objetos cortantes, os estiletes poderiam estar contaminadas com hepatite ou outra doença.
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Paulo contou, também, que a polícia ainda não procurou a filha para recolher mais informações sobre o ataque.
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— Eles aparentaram nenhum interesse. Aparentemente estão trabalhando sem nos dar informação. Porém, neste momento, a prioridade é cuidar da minha filha. Ela está em estado de choque — completou o pai da vítima.
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Paula e os pais devem voltar para Recife em uma semana. Paulo não tem previsão do que irá acontecer depois. — Ela trabalha para uma empresa aqui e precisa ver o que a empresa vai querer. Não sabe ainda se voltará para Zurique — completou.
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Original em ZERO HORA

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