Franco Berardi (mais conhecido pelo apelido, Bifo), 60, é filósofo, escritor e agitador cultural italiano
Após conduzir um ataque insano contra os trabalhadores, depois de ter levado a termo a criminosa operação Alitalia com a ajuda da oposição de Sua Majestade, após haver tentado (e parcialmente realizado) um ataque mortal contra o que resta da escola Pública, agora – com o pacote de segurança – o governo Berlusconi toma decididamente o caminho da violência autoritária.
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Se olhamos a situação de perto, se experimentamos olhá-la de Roma, ou de Milão – onde a EXPO 2015 virou pretexto para fechar todos os locais de encontro livre dos trabalhadores precários e da cultura dissidente, como os grupos paramilitares fascistas de 1922 fecharam as associações sindicais operárias – não há esperança.
Mas não é de perto que se deve olhar o que acontece na Itália hoje, nem de Roma, nem de Milão. Tentemos mudar o nosso ponto de observação e olhar a Itália de fora, a partir do mundo. Então compreenderemos melhor e nos livraremos da angústia.
No final de novembro de 2008, a classe política que se reuniu em torno de Berlusconi mostrava-se vencedora. No final de novembro de 2008, parecia que o rei-caricatura e sua gentalha estivessem destinados a cavalgar alegremente, sem obstáculos.
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Os Colaninno[1] que compõem aquele partido nada são, senão sócios nos negócios, do presidente do Conselho. Os Bassolini e os Cofferati contribuíram para tornar odioso aquele amontoado de perdedores arrogantes que o pobre Veltroni não conseguiu governar.
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Mais tarde a atmosfera mudou, porque três eventos epocais modificaram o horizonte.
(1): O cataclismo econômico por longo tempo anunciado e por muito tempo ignorado desembarcou nos EUA e está lambendo a península com tempestades das quais, até agora, só vimos os primeiros ventos.
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Mas não se pode, por isso, esquecer dos criminosos que governaram o mundo no último decênio. A classe incompetente que levou o mundo à catástrofe econômica e ecológica começa a ser desprezada, amaldiçoada e derrotada pelos homens e pelas mulheres que iniciam a nova história.
Desde novembro de 2008, quando o cataclismo econômico, a Onda Anômala e o presidente negro mudaram os rumos do mundo, os rostos pálidos que estão no poder na Itália aparecem como são: criminosos incompetentes inimigos da sociedade da inteligência.
A partir daquele momento, tornaram-se perdedores. Nem por isso são menos perigosos. Ao contrário, tornaram-se ainda mais perigosos, como já se vê. Desde então, puseram-se a incitar o ódio étnico, o ódio religioso, transformaram em lei a sua vontade de assassinar a liberdade de manifestação política, introduziram leis de segurança que lembram de perto os momentos mais obscuros da história do século XX. São até mais perigosos hoje, porque vivem seus últimos momentos, são existências destinadas a desaparecer com a avalanche que se aproxima.
Protegem-se agressivamente, mostram a feição descarada da arrogância clerical-fascista e racista. Mas perderam.
Podem ainda produzir muita dor, podem provocar uma guerra racial e podem produzir uma guerra social que levaria a Itália ao precipício. Mas perderam.
Agora, é hora de tomarmos a iniciativa, com calma, com prudência e espírito de paz.
Toca-nos dizer que não se deve aceitar os tons de cruzada, porque as cruzadas são coisas da Idade Média e, para nós, a Idade Média acabou. Goffredo da Buglione morreu. George W Bush morreu. Dick Cheney morreu. E Berlusconi está destinado a segui-los logo.
Assisto a um telejornal. Ouço que Famiglia Cristiana, jornal de pessoas de bem que vivem a fé com caridade e respeito, acusa o governo de fomentar o ódio racial. Ouço que o ministro Maroni ameaça com retaliação 'legal' o jornal mais lido pelos italianos crentes. Depois, vejo que os fascistas no parlamento atiram-se contra o corpo de uma moça que morreu há 17 anos, gritam impropérios, porque querem expropriar os homens e as mulheres do direito de dispor do próprio corpo e da própria alma.
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Mas para eles acabou. Do abismo a que nos levaram, devemos nos levantar com as nossas forças e sobretudo com a nossa inteligência. E evitar a guerra civil à qual querem nos arrastar. E evitar a angústia na qual querem nos sufocar.
Porque nós somos a inteligência coletiva. A ignorância privatista não prevalecerá.
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