É acompanhada das União Democrática Ruralista (UDR) e Sociedade Rural Brasileira (SRB), e formam o trio de ferro do atraso, pela recusa em aceitar os benefícios que as inclusões social e ambiental trariam ao País, se incorporadas à agropecuária. Como não podem dizer a que realmente vêm, argumentam que uma produção maior irá ampliar as dívidas e os excedentes provocados pela queda de consumo trazida pela crise. Notem que estão se referindo a uma colheita que ocorrerá no 1° semestre de 2010, futuro que bons analistas econômicos não arriscam prever.
É do conhecimento até do mundo mineral, para usar expressão do jornalista Mino Carta, que o impacto da crise sobre demanda, preços de alimentos e comércio internacional, faria a agropecuária ajustar-se a patamares inferiores aos recordes de 2008, longe ainda, no entanto, de caracterizar qualquer catástrofe. É necessário mais reflexão antes de estender à agricultura o pânico que se espalhou no final do ano passado.
Naquele momento, uma surpreendente e brutal escassez de crédito, tardiamente respondida pelo BC, contaminou toda a economia, em especial a indústria e a construção civil, que rodavam, há um bom tempo, acima da velocidade-cruzeiro da renda dos consumidores.
Projetar a mesma preocupação para o calendário agrícola futuro, depois de uma das mais bem sucedidas safras de nossa história, era apenas entrar no trupe da manada. A renda agrícola, que entre 2000 e 2007 teve média de R$ 127 bilhões, com dois picos próximos de R$ 145 bi, em 2008, chegou a R$ 161 bi. Pois bem, a mais recente estimativa do Ministério para 2009 é que ela atinja R$ 154 bi, 4,3% abaixo do recorde. Lembremos que, em janeiro deste ano, acompanhando a angústia existencial que se arrastava na tela da TV Globo com a minissérie sobre a cantora Maysa, o trio de ferro alertava para uma queda superior a 10% na renda da safra 2008/09.
Mesmo a safrinha de milho, que para os arautos do infortúnio poderia nem mesmo ser plantada, na estimativa da CONAB, deverá atingir 18 milhões de toneladas, uma queda de apenas 3,5% sobre 2008. Pelo lado das exportações agrícolas, o jornal China Daily informa que, depois da desaceleração do início do ano, as vendas brasileiras para aquele país cresceram 52,5% em março, fato que se repetiu com Índia e Irã.
Outro indicador de que o futuro da agropecuária não aparece tão ingrato é a contínua valorização dos preços das terras. Segundo o jornal Valor Econômico, citando levantamento da consultoria AgraFNP, ''o preço médio do hectare alcançou o recorde nominal de R$ 4.373''. Motivos: valorização das commodities no começo do ano, retomada do interesse de investidores internacionais e desvalorização do real que devolveu competitividade aos produtos de exportação.
Fica difícil, assim, entender qual a base que faz aconselhar plantios e usos menores de tecnologia na próxima safra. Os comandantes do trio de ferro cercam-se de profissionais competentes e são, em sua maioria, donos de terras e de empresas agropecuárias. Para terem sucesso, é provável que não sigam suas predições nos negócios próprios. Será que é justo usar as associações para subordinar o desenvolvimento do país e de milhares de produtores rurais a interesses políticos pessoais?
*Administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.
Fonte: Terra Magazine/Pátria Latina
Nenhum comentário:
Postar um comentário