Além do Cidadão Kane

sábado, 31 de janeiro de 2009

REFLEXÕES DE FIDEL

Decifrando o pensamento do novo presidente dos Estados Unidos
(Extraído do CubaDebate)

NÃO é muito difícil. Depois da tomada de posse, Barack Obama declarou que para a devolução da base naval de Guantánamo a seu dono legítimo devia sopesar, em primeiro lugar, se prejudicava ou não, no mínimo, a capacidade defensiva dos Estados Unidos.
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Logo acrescentou que, quanto à devolução do território ocupado a Cuba, devia considerar, sob quais concessões a parte cubana aceitaria essa solução, o que significa a exigência de uma mudança em seu sistema político, preço contra o qual, Cuba lutou durante meio século.
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Manter uma base militar em Cuba contra a vontade do nosso povo, é uma violação dos mais elementares princípios do Direito Internacional. O presidente dos Estados Unidos tem faculdade para acatar essa norma sem condição alguma. O fato de não respeitá-la constitui uma ação de soberba e abuso de seu imenso poder contra um país pequeno.
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Para compreender melhor o abuso do poder do império, deve se levar em conta as declarações publicadas pelo governo dos Estados Unidos, em 22 de janeiro de 2009, no site oficial da internet, depois da posse de Barack Obama. Biden e Obama resolveram apoiar decididamente a relação entre os Estados Unidos e Israel, e consideram que o indiscutível compromisso no Oriente Médio deve ser a segurança de Israel, o principal aliado dos Estados Unidos na região.
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Os Estados Unidos nunca vão se afastar de Israel, e seu presidente e vice-presidente "acreditam firmemente no direito de Israel de proteger seus cidadãos", assegura a declaração de princípios, que retoma nesses pontos a política do governo do antecessor de Obama, George W. Bush.
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É esse o modo de compartilhar o genocídio contra os palestinos em que caiu o nosso amigo Obama. Adoçantes similares oferece à Rússia, China, Europa, América Latina e ao resto do mundo, depois que os Estados Unidos converteram Israel numa importante potência nuclear que abosorve a cada ano uma porção considerável das exportações da próspera indústria militar do império, com que ameaça, com violência extrema, a população de todos os países de crença muculmana.
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Abundam exemplos similares. Não faz falta ser adivinho. Podem ler, para mais informação, as declarações do novo chefe do Pentágono, experto em assuntos bélicos.



. ..............Fidel Castro Ruz

29 de janeiro de 2009
18h17

Topo

Obama e nós

A partir de agora já podemos escrever a expressão que os norte-americanos progressistas mais queriam poder escrever: “o ex-presidente G.W. Bush”. Mas o que vem agora? Será revertida a onda direitista que tomou conta dos EUA há quatro décadas?
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Desde a vitória de Richard Nixon, em 1968 - em plena guerra do Vietnã e das maiores mobilizações populares, pelos direitos civis e contra a guerra que a história do país tinha conhecido -, mobilizando o que ele chamou de “maioria silenciosa”, os EUA viveram uma profunda e prolongada guinada à direita que já dura 40 anos, uma verdadeira contra revolução conservadora.. Seus pontos mais altos foram os 5 mandatos – 20 anos – de Reagan e Bush, pai e filho, que não foram radicalmente cortados apenas pelos três mandatos democratas – de Carter e Clinton -, mas apenas amainados.
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Processou-se uma transformação profunda na sociedade norte-americana com essa contra revolução conservadora, desde os consensos de valores éticos e ideologia política, passando pela composição dos Tribunais de Justiça até a orientação da grande mídia e os temas prioritários de pesquisa, para chegar ao privilégio das escolas religiosas. A sociedade em sua globalidade virou-se para a direita. Momento essencial foi a campanha reaganiana de criminalização do aborto. De um direito da mulher de dispor do seu corpo e decidir livremente sobre sua vida, passou a ser um suposto crime, com os conservadores assumindo a “defesa da vida” contra os que promoveriam a morte de inocentes. Dali em diante, em praticamente todos os grandes temas contemporâneos, deslocou-se o eixo para a direita. Um momento importante foi protagonizado por Clinton, que assinou formalmente o fim do Estado de bem estar social.
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Os dois mandatos de G.W. Bush representaram o auge da hegemonia direitista, sob o patrocínio dos chamados neocons e fundado na doutrina bushiana de guerra permanente. Reivindicava-se, da forma mais sectária, a idéia da “missão predestinada” dos EUA de implantar a “democracia” pelo mundo afora, na ponta das baionetas, somado à promoção das doutrinas mais reacionárias na mídia, nas escolas, nas igrejas.
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Por maior a ruptura que Obama pretendesse, um ou dois mandatos não seriam suficientes, tal o enraizamento que o pensamento conservador conseguiu na sociedade norte-americana. Pensemos que com tanta coisa a seu favor – apoio de menos de 10% de Bush, recessão econômica, problemas graves nas guerras do Iraque e do Afeganistão, apoio dos maiores jornais, de formadores de opinião importantes como Oprah, de Hollywood, com um desempenho muito bom na campanha – ainda assim Obama teve 52% contra 48 de McCain.
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Vamos nos deter aqui no que pode mudar para nós, Brasil e América Latina. Como se vê pelas próprias declarações de Obama e da sra. Clinton, muitas posições conservadoras se cristalizaram nas posições norte-americanas, mais além do governo Bush. Se quer instalar também na política internacional a mudança que Obama prometeu e que o elegeu, ele teria que ir muito mais longe das tímidas medidas que promete.
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Ter uma relação de diálogo com a América Latina e o Caribe é, antes de tudo, ter uma relação de reciprocidade. Cuba não coloca sequer a retirara da base naval de Guantanamo, nem tampouco a libertação dos 5 cubanos que faziam trabalho antiterrorista nos EUA e estão condenados a penas altíssimas, sem nenhuma justificativa, para normalizar as relações entre os dois países. Significar terminar unilateralmente o bloqueio norte-americano a Cuba, atitude unilateral e que tem que ser terminada unilateralmente, com os dois países respeitando os regimes políticos escolhidos por cada um dos dois povos.
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Reciprocidade significa também não se imiscuir nos assuntos internos de nenhum país do continente, seja ele Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil, Colômbia, México, Nicarágua, Paraguai e todos os outros – como questão de princípio. O continente não tolera mais a atitude de tutores, de que os embaixadores dos EUA têm tido em relação aos países do nosso continente e não estamos mais dispostos a aceitar isso. A expulsão recente do embaixador dos EUA da Bolívia foi resultado da interferência aberta e reiterada na política boliviana, reunindo-se e incitando a oposição golpista a seguir nesse caminho. A escandalosa tentativa de golpe contra Hugo Chavez, presidente legitimamente eleito e reconfirmado pelo voto do povo venezuelano, teve participação direta do governo dos EUA.
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O tom das declarações agressivas contra a Venezuela, acusada de fomentar e financiar as FARC, sem nenhuma prova concreta, não augura uma atitude substancialmente diferente. Séculos de relação de cima para baixo, acreditando que encarnam a liberdade no mundo, que sempre têm razão – levam a uma postura petulante.
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No caso da América Latina, devem tentar construir um bloco ideal de alianças, que lhes permita dividir o bloco progressista atual e tentar romper o isolamento em que se encontram seus aliados – México, Colômbia, Peru. Para isso necessitar desesperadamente tentar separar o Brasil do bloco de integração latinoamericana e buscar juntar o Chile. Uma tarefa muito difícil, mas de que depende o sucesso dos EUA na região.
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A impressão que se tem é que Obama não tem a mínima idéia do que é a América Latina e menos ainda o que ela é hoje. Repete os chavões que os informes dos seus assessores lhe dizem. Uma viagem bastará para que se dê conta que as coisas não tão são simples como o primeiro encontro – com o presidente mexicano, Calderón - lhe pode fazer crer.
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Bush vai embora sem ter entendido nada, isolado e derrotado. Aqui também a herança de Obama não é nada leve.
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Emir Sader - filósofo e Secretario Geral do Conselho Latinoamericano de Ciencias Sociais (CLACSO).
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A moral camaleônica

É delicioso resgatar os argumentos lançados pela mídia em 1997, em favor da reeleição de FHC. Comparados com a grita contra um terceiro mandato de Lula, eles revelam a tendência a adaptar-se às circunstâncias, típica do camaleão. Mesmo que, confirmando sua essência, ele finja ser outro animal...

Guilherme Scalzilli

Os governos Lula suscitaram extensas discussões sobre a compatibilidade entre discurso ético e pragmatismo político-eleitoral. Talvez para dissociar-se dos defensores do presidente e estigmatizar seu constrangimento relativista sobre o assunto, a imprensa oposicionista lançou-se numa cruzada de ultralegalismo cívico, que logo receberia colorações partidárias.

Um dos aspectos negativos dessa vertente “cidadã” de tolerância zero é, paradoxalmente, sua permissividade conceitual. A abrangência normativa permite a assimilação de uma grande variedade de preceitos, entre os quais aqueles que aspiram a certa superioridade moral, mas não passam de enunciados discutíveis, contraditórios ou apenas tolos, que a ortodoxia acrítica transforma em dogmas sobrenaturais.

O fetichismo da conduta ideal do administrador revela então seu caráter artificial e ideológico, permitindo a deterioração da moralidade (sistema pessoal de valores) em moralismo oportunista, alimentado para enquadrar adversários e isentar aliados em tempos pré-eleitorais. A manipulação da subjetividade “transcendental” dos princípios morais confere imanência atemporal e incontestável a repertórios de condutas engendrados circunstancialmente, sujeitos às conveniências de seus formuladores.

Analisemos, como exemplo, as reações ao suposto terceiro mandato de Lula.

Hoje parece consensual que mudar as regras eleitorais para favorecer governantes em exercício significa uma afronta aos princípios que regem (ou deveriam reger) a conduta do homem público. A simples hipótese de permitir a Lula candidatar-se em 2010 suscitou indignação uníssona. Os precedentes plebiscitários utilizados por Hugo Chávez e Evo Morales rondam as redações como fantasmas hostis arrastando picaretas. Editoriais e colunas horrorizados defendem a alternância de poder e vociferam que nada justifica a perpetuação de governantes.

Mas não foi sempre assim.

Lembremos a fatídica noite de 28 de janeiro de 1997: por volta das nove horas, o presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), decretou a primeira vitória da emenda que permitia a reeleição para cargos executivos. Gritos de “Uh, tererê!” soaram no plenário. Luís Eduardo foi abraçado pelo pai, o senador Antônio Carlos Magalhães, em prantos. Meia hora depois, através do porta-voz Sérgio Amaral, o presidente Fernando Henrique Cardoso rejubilava-se por saber que o Congresso votara “em sintonia com a opinião pública”.

Ressalte-se que a decisão dos deputados, depois confirmada pelos senadores, era juridicamente problemática. Segundo certas interpretações, a reeleição de mandatários em pleitos subseqüentes significava alteração de cláusula pétrea da Constituição de 1988 (Direitos e Garantias Fundamentais), que teoricamente só poderia ser realizada por Assembléia Constituinte. Também o artigo 5º da Carta (Isonomia) teria sido aviltado.

O governo FHC desfrutava de amplo apoio midiático. A popularidade do presidente bastava para legitimar uma discutível intervenção legislativa e até o recurso extremo do referendo – expedientes que, naquele momento, soavam “democráticos”
Desde a proposição da mudança, dois anos antes, a imprensa debatia quase diariamente o tema. Alheios à controvérsia legal, todos os grandes veículos defenderam a reeleição, com destaque para o jornal Folha de São Paulo. Editorial de 8 de novembro de 1985 já afirmava “não haver maiores inconvenientes em defender a reeleição.” Depois (5/1/1996), o editorial “Reeleição popular” comemorou pesquisa de opinião sobre o tema: “a população vê com bons olhos a chance de renovar os mandatos dos que vêm a se mostrar bons governantes. (...) Entre a candidatura e a renovação do mandato estará sempre o democrático e o inquestionável veredicto das urnas.”

O Tribunal Superior Eleitoral, presidido pelo ministro Ilmar Galvão, atestou que os ocupantes de cargos executivos não precisariam se desincompatibilizar para disputar suas reeleições. Diversos juristas renomados, como Miguel Reali Júnior, apoiaram a decisão. Os analistas concordaram: “Não é o caso de defender que o presidente também se desincompatibilize”, escreveu Valdo Cruz, entre muitos, na Folha (3/2/97).

Mas será que aqueles argumentos não corroborariam a tese do terceiro mandato de Lula? No parecer que permitiu aos mandatários continuarem em seus cargos, os ministros do TSE entenderam que a emenda da reeleição pressupunha o direito do eleitor optar pela continuidade administrativa (daí a desincompatibilização ser desnecessária). Ora, seguindo rigorosamente essa abordagem doutrinária, o número de reeleições jamais poderia ser limitado.

A mesma preferência popular pela manutenção do administrador, soberana e legítima, poderia ser estendida para novos mandatos, além do segundo. O eleitor, que possui prerrogativas para instituir (e eventualmente depor) governantes, também é capaz de decidir por quanto tempo ficarão no poder. Seria antidemocrático frustrar o “inquestionável veredicto das urnas” também quanto ao terceiro mandato.

Para dirimir possíveis questionamentos sobre a vontade popular, a Constituição Federal prevê o instrumento do plebiscito, um dos pilares da democracia participativa. Aliás, foi justamente a consulta popular que a Folha e outros veículos defenderam em 97, para evitar o fisiologismo nas decisões do Congresso.

Se há algum vestígio de golpismo ou manobra casuística nesses argumentos, devemos então creditá-los ao egrégio TSE, à Carta Magna e aos apologistas da reeleição. Acontece que, há onze anos, o governo FHC desfrutava de amplo apoio midiático. A execução de seu programa reformista e a sobrevivência do Plano Real pareciam depender da continuidade reeleitoral, ostensivamente defendida por editoriais e colunas políticas. A popularidade do presidente bastava para legitimar uma discutível intervenção legislativa e até o recurso extremo do referendo – expedientes que, naquele momento, soavam “democráticos”.

Mudaram os fundamentos do Estado de Direito ou mudou a imprensa? Pergunta retórica. A permanência dos primeiros independe das conveniências dos grupos momentaneamente hegemônicos. Quanto à flagrante incoerência jornalística, ela apenas evidencia um padrão de comportamento: adaptar-se às circunstâncias define a própria natureza do camaleão. Mesmo que ele, confirmando sua essência, finja ser outro animal.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Revolução Cubana: 50 anos de resistência e dignidade

Arrancados de séculos de opressão e atraso, os cubanos jamais se resignarão. Como um país pobre pode construir uma sociedade mais justa para todos. Depois de 50 anos da revolução, Cuba tem a mais baixa taxa de mortalidade infantil e um dos maiores pólos culturais da América Latina
Tiago Nery

Equilibrando-se entre o realismo e a utopia, a Revolução Cubana está completando 50 anos. Nos primeiros dias de janeiro de 1959, após pouco mais de dois anos de luta guerrilheira, o Exército Rebelde, liderado por Fidel, Raul, Camilo e Guevara, entrava triunfalmente em Havana, iniciando um novo capítulo na história do país. O impacto da Revolução iria transcender em muito seus limites territoriais, repercutindo sobre sucessivas gerações de jovens, trabalhadores e intelectuais de várias partes do mundo, sobretudo da América Latina. Pela primeira vez, a própria idéia de revolução, que soava sempre tão distante para os latino-americanos (a exemplo das revoluções mexicana, russa e chinesa), passava a ser um tema da atualidade.

A polarização da época da Guerra Fria fez com que muitas análises sobre a Revolução Cubana estivessem impregnadas pelo clima daquele período e ignorassem as verdadeiras origens do movimento comandado por Fidel Castro. A revolução de 1959 tem profundas raízes na trajetória histórica nacional, cujos antecedentes remontam ao período da luta pela independência. Cuba foi a última colônia da América Latina a libertar-se da Espanha, em 1898, num processo que se estendeu por um período de 30 anos, em que se sucederam duas guerras de independência. A primeira, conhecida como a “Guerra dos dez anos” (1868-1878), foi liderada pelo advogado e proprietário de terras Carlos Manuel de Céspedes, considerado o “pai da pátria”. A segunda, iniciada em 1895, teve como principal ideólogo o advogado, jornalista e poeta José Martí, principal intelectual cubano e um dos mais importantes do continente, que desencadeou um movimento mobilizando amplos setores populares.

Antes de se tornar socialista, a Revolução Cubana foi um movimento de afirmação da soberania nacional. Já Fidel e Guevara representavam a sublimação do tradicional caudilho latino-americano em líder autenticamente popular

No momento em que a vitória das forças independentistas estava próxima a concretizar-se, o governo dos EUA resolveu entrar no conflito, provocando uma guerra contra a Espanha. Vitoriosos, os norte-americanos reconheceram a independência de Cuba, apesar de imporem, em 1902, uma emenda constitucional (emenda Platt), que permitia aos Estados Unidos exercerem o direito de intervenção no sentido de “preservar a independência cubana”. Com isso, Cuba tornava-se, na realidade, um protetorado dos EUA.

A atuação norte-americana frustrou as expectativas de liberdade e soberania que alimentaram o movimento desde o início. A desilusão com o desfecho serviria como elemento crucial para a formação de uma singular consciência nacionalista, que passaria a reivindicar uma terceira guerra emancipatória - contra o imperialismo estadunidense. Dessa forma, o processo revolucionário que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista retomaria a trajetória dos movimentos independentistas do século 19, vinculando a libertação nacional e social aos desafios da Guerra Fria (Ayerbe, 2004).

O movimento revolucionário de 1959, iniciado em 1953, com a criação do Movimento 26 de Julho, guarda profundas conexões com aquele liderado por Martí algumas décadas antes. Em A história me absolverá, histórica autodefesa de Fidel Castro por ocasião de sua prisão, após a frustrada tentativa de tomar o quartel de Moncada, o futuro líder da revolução afirmou: “Impediram que chegassem às minhas mãos os livros de Martí. Parece que a censura da prisão os considerou demasiado subversivos. Ou será porque considerei Martí o autor intelectual do 26 de Julho?” (Castro, 1979, p. 22). Percebe-se, dessa forma, que antes de se tornar socialista, a Revolução Cubana foi um movimento de afirmação da soberania nacional. A guerra revolucionária não recebeu nenhuma ajuda da então URSS, assim como o Partido Socialista Popular (comunista), que inicialmente rejeitara as ações armadas e havia condenado o assalto ao Moncada, só apoiaria a guerrilha em sua fase final.

Comentando sobre a originalidade do processo cubano, o crítico literário Antonio Candido (1992) afirmou que líderes como Fidel e Guevara representavam uma formação política singular e aparentemente impossível: a sublimação do tradicional caudilho latino-americano em líder autenticamente popular. Dessa maneira, assim como em Cuba o caudilho potencial transformou-se em líder responsável, comprometido com o socialismo, a tradição radical, vinda de pensadores como José Martí, permitiria que o marxismo se ajustasse à realidade do país.

as experiências socialistas do século 20 foram obrigadas a dividir seus esforços entre a sobrevivência em relação aos inimigos externos e a construção de uma sociedade que se pretendia mais justa e avançada

A queda do Muro de Berlim e o fim da URSS só viriam confirmar que Cuba não era um satélite soviético. Por acreditar que, sem o apoio do bloco socialista, a queda do regime cubano seria apenas uma questão de tempo, o governo dos EUA endureceu o bloqueio econômico nos anos 1990, por meio de medidas extraterritoriais como a emenda Torricelli e a lei Helms-Burton. De acordo com o direito internacional, o embargo unilateral é considerado uma medida ilegal. Recentemente, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou, pela 17ª vez consecutiva, uma resolução que condena os EUA pelo bloqueio imposto a Cuba há 47 anos. Dos 192 países que pertencem à ONU, 185 condenaram o embargo estadunidense.

Mesmo com o recrudescimento das sanções, o governo cubano conseguiu não apenas manter mas também melhorar algumas das principais conquistas sociais da revolução. No âmbito da saúde, Cuba atingiu recentemente a mais baixa taxa de mortalidade infantil da sua história: 5,3 em cada mil nascidos vivos. Trata-se da segunda menor taxa das Américas, ao lado do Canadá. Na área cultural, a Casa das Américas, fundada por Haydée Santamaría, continua sendo um importante centro de difusão da literatura latino-americana. Igual importância tem o festival internacional de cinema de Havana, que acaba de realizar sua 30ª edição.

Além dos avanços, a Revolução Cubana também apresenta contradições e problemas. Por exemplo, muitos questionam o regime de partido único, o monopólio da imprensa estatal e as restrições a algumas liberdades individuais. Ademais, nos últimos anos, em virtude das reformas econômicas introduzidas com o colapso do campo socialista, a sociedade cubana passou a experimentar um nível de desigualdade ao qual não estava acostumada.

No entanto, entre as principais fragilidades das críticas endereçadas a Cuba, ressalta-se a ausência de perspectiva histórica, que ignora os contextos e os desafios que influenciaram as escolhas dos dirigentes cubanos, sempre condicionadas pela ação dos sucessivos governos norte-americanos. Além disso, deve-se observar que as experiências socialistas do século 20 foram obrigadas a dividir seus esforços entre a sobrevivência em relação aos inimigos externos e a construção de uma sociedade que se pretendia mais justa e avançada. No caso de Cuba, a pressão do exterior tem sido incessante ao longo dos últimos 50 anos. Segundo o historiador Luis Fernando Ayerbe, “nenhum sistema pode desenvolver suas potencialidades vivendo em clima de permanente conflito, que é justamente o mais favorável ao fortalecimento das tendências autoritárias existentes” (Ayerbe, 2004, p.119).

Com seus erros e acertos, a Revolução Cubana mostrou a muitos povos que um país pobre pode construir uma sociedade mais justa para todos. Trata-se de uma ilha, arrancada de séculos de opressão e atraso, que se ergueu para construir uma nova história, a que lhe foi negada. Darcy Ribeiro afirmou certa vez que, na América Latina, só havia dois destinos: ser resignado ou ser indignado. Os cubanos jamais se resignarão.
Original em Blog do IZB

Os fantasmas da crise assombram Davos

Outrora considerado uma espécie de oráculo, as profecias do Fórum de Davos apenas serviram para empurrar o capitalismo a caminho do abismo. Muitas das suas estrelas empresariais foram despedidas, alguns estão na prisão e um suicidou-se. As novas estrelas são os governos russo e chinês. "Esta é a maior crise econômica desde que Davos começou", reconhece o seu fundador, Klaus Schwab. Ele reconhece hoje, pragmaticamente, que "o pêndulo oscilou e o poder voltou aos governos".

O Fórum Econômico Mundial que se reúne a partir desta quarta-feira na cidade suíça de Davos é uma imagem da crise econômica e financeira que assola o planeta. Outrora considerado uma espécie de oráculo, as suas profecias apenas serviram para empurrar o capitalismo a caminho do abismo. Muitas das suas estrelas empresariais foram despedidas, alguns estão na prisão e um suicidou-se. As novas estrelas são os governos russo e chinês. "Esta é a maior crise económica desde que Davos começou", reconhece o seu fundador, Klaus Schwab. Professor de economia de ascendência alemã que fundou o Fórum que reunia a nata do capitalismo mundial a partir de 1971, Schwab reconhece hoje, pragmaticamente, que "o pêndulo oscilou e o poder voltou aos governos". Antes, frequentavam os salões da estância de inverno suíça nomes como John Thain. Principal executivo do banco Merril Lynch, foi chefe da New York Stock Exchange. Depois de ter conduzido o banco ao naufrágio e despedido milhares de funcionários, ainda tentou receber uma gratificação extra de 30 milhões de dólares, lembra o diário italiano La Republica. E ainda gastou 1,2 milhão para redecorar o seu escritório. Quando foi divulgado o último rombo no balanço, estava a esquiar em Vail, Colorado. Se não tivesse sido despedido na semana passada, seria de novo um dos principais oradores de Davos. Outras estrelas cadentes que deixaram de figurar na lista dos oradores de Davos são o ex-ministro de Bill Clinton Robert Rubin, despedido do Citigroup, Huang Guangyu, patrão do conglomerado chinês Gome, que acabou na prisão, o alemão Adolf Merckle, que se suicidou, o indiano Ramalinda Raju, que no Fórum de 2007 comandava uma enorme campanha publicitária sobre a "incrível Índia" e hoje não pode viajar, por lhe ter sido retirado o passaporte devido a suspeitas de ter alterado fraudulentamente o balanço da sua empresa Statyam Computer Services. Uma verdadeira galeria de fantasmas que assola Davos. As estrelas do show business também acharam mais prudente não comparecer. Bono, dos U-2, prefere fazer o lançamento do seu novo CD, e a atriz Angelina Jolie tem outros compromissos. Davos perdeu o glamour. Também perdeu parte dos seus patrocinadores, como o falido Lehman Brothers. Por isso chegou a hora de economizar. Claro que, quando se trata de Davos, a palavra economia é relativa. O New York Times dá um exemplo: a BB Heli de Zurich, que leva os convidados para Davos de helicóptero, disponibilizou aparelhos menos confortáveis e mais lentos que permitem cobrar 4.250 dólares pela viagem até à montanha, em vez dos 8.500 que custava uma viagem mais rápida de um aparelho de duas hélices. O grupo de imprensa alemão Burda, que já levou ao Fórum as modelos Claudia Schiffer e Naomi Campbell, decidiu cancelar esses contratos e concentrar-se em tubarões da indústria e da finança que não tenham afundado. "As pessoas estão reavaliandor o que fazem em Davos e os organizadores encorajaram a sobriedade e querem focar-se na crise", disse ao NYT Marcel Reichart, do Burda. Assim, as estrelas deste ano são o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, o chinês Wen Jiabao, e o russo Vladimir junto com a alemã Angela Merkel. Barack Obama mandou dizer que tem mais que fazer, e Lawrence H. Summers, director Conselho Econômico da Casa Branca, também declinou o convite. Da Casa Branca só vai, assim, uma conselheira, Valerie Jarrett.
Publicado em Blog do IZB

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Guantánamo, uma indecência de 110 anos

Em cumprimento a promessas de campanha, Obama decidiu pela proibição da tortura e pelo fechamento da prisão - como também das demais prisões secretas da CIA (Agência Central de Espionagem) espalhadas pelo mundo, nas quais se terceirizava a prática da tortura. Mas Guantánamo é ainda uma indecência jurídica e uma relíquia colonial do império sonhado pelos EUA no século 19.
.Argemiro Ferreira


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Por enquanto, só o que o governo do presidente Barack Obama ousou dizer sobre a baía de Guantánamo, extensa área do território cubano sob controle indecente dos EUA há 110 anos, foi a referência à mudança do status que lhe dera o antecessor George W. Bush, ao transformá-la em prisão infame e centro de tortura, chamada há três anos pela Anistia Internacional de "Gulag do nosso tempo".

Em cumprimento a promessas de campanha, Obama decidiu pela proibição da tortura e pelo fechamento da prisão - como também das demais prisões secretas da CIA (Agência Central de Espionagem) espalhadas pelo mundo, nas quais se terceirizava a prática da tortura. Mas Guantánamo é ainda uma indecência jurídica e uma relíquia colonial do império sonhado pelos EUA no século 19.

Ocupada pela força das armas, Guantánamo já então era intolerável. Ainda o é hoje. Os próprios americanos, por uma questão de dignidade e bom senso, há muito deviam tê-la devolvido como excrescência ofensiva não só ao povo cubano, cuja liberdade os EUA alegam defender, mas a toda a América Latina - já que impingida a partir de lei americana doméstica e abusiva, que tratava de destinação de verbas do Exército.

De olho em Cuba, desde 1824 A ocupação de Guantánamo data de 1898. Resultou de pacote intervencionista em meio à luta dos cubanos pela independência da Espanha, então potência colonial. Concebida em 1823, a Doutrina Monroe ("a América para os Americanos") pareceu a alguns oferecer uma face "virtuosa" dos EUA, por advertir nações de fora do hemisfério de que não deviam se imiscuir nas questões do continente.

Os latino-americanos logo perceberiam que se buscava apenas atender às próprias ambições dos EUA, cuja atenção voltava-se para Cuba e Porto Rico já em 1824. O então secretário de Estado John Quincy Adams, depois presidente (1825-1829), avisou Simón Bolívar de que a doutrina não autorizava "os fracos a serem insolentes com os fortes", motivo pelo qual devia ficar longe de Cuba e Porto Rico.

Ao preparar a I Conferência Pan-Americana, boicotada por Washington, Bolívar já não tinha ilusões: "Os EUA parecem destinados pela Providência a espalhar a miséria em nome da liberdade", disse em 1829. De fato, a truculência britânica nas Malvinas, Honduras, Guatemala fora ignorada, enquanto os EUA tomavam o Texas e a Califórnia do México, depois invadido, e separavam o Panamá da Colômbia, além de outras intervenções.

Cobiçada desde 1824, quase comprada por US$100 milhões em 1848, Cuba entrava ainda no contexto dos 10 anos de oposição dos EUA à federação centro-americana. Ante a iminente vitória de Cuba sobre a Espanha (e a esperada conquista da independência), as cadeias de jornais Hearst e Pulitzer inventaram a "esplêndida guerrinha" de Ted Roosevelt e seus Rough Riders, retratados como heróis.

A fala macia e o porrete de TedPorto Rico foi anexada como o Texas. Cuba resistiu. Acabou sob controle, com a alegação dos EUA de que tinham ajudado a guerra da independência. De 1898 em diante o Caribe virou mar territorial americano. Nascia o império colonial, que tinha ainda Filipinas e Guam, do outro lado do mundo. Festejado como herói, Ted Roosevelt elegeu-se vice do presidente William McKinley no ano seguinte, 1900.

A Emenda Teller, de 1898, negava expressamente qualquer intenção dos EUA de anexar Cuba. E em 1901 o senador Orville H. Platt, a pretexto de prevenir desejos imperiais da Alemanha sobre a ilha, redigiu a emenda à lei de verbas do Exército: proibia Cuba de assinar tratado dando poderes a outro país sobre seus negócios internos, endividar-se ou impedir ali um programa sanitário americano. E mais.

Na Emenda Platt os EUA arrogavam-se o direito de intervir nos assuntos internos de Cuba, a pretexto de "manter a ordem e a independência", podendo comprar ou arrendar áreas para instalar estações navais ou carboníferas. A principal delas era a baía de Guantánamo. No mesmo ano, Cuba foi forçada a incluir a emenda na sua Constituição e a assinar tratado assegurando o poder dos EUA sobre a área.

Obviamente os EUA - já sob Roosevelt, presidente a partir de 1901 devido ao assassinato de McKinley - deitaram e rolaram. Já em 1906 mandaram-se tropas, "a convite", para sufocar revolta e "restaurar a ordem". Enviavam navios de guerra, negavam reconhecimento de regimes, etc. Só em 1934 revogou-se afinal a Emenda Platt, graças à política da Boa Vizinhança. Mas não o arrendamento de Guantánamo.

Caloteiro e péssimo inquilino
A manutenção de Guantánamo, antes de virar prisão, já se elevava, por ano, a US$ 36 milhões. Servia para provocar Cuba, que repudia a transação ilegítima e imoral. O aluguel é o sonho de todo inquilino: fixado pelo próprio, em 90 anos (de 1903 a 1993) subiu apenas de US$ 2 mil para US$ 4.085. Nessa proporção, deve estar hoje nuns US$ 4.200, o que mal paga apartamento de dois quartos em Manhattan.

Arrogante e prepotente, o inquilino sempre impôs sua vontade como valentão de rua. Caloteiro, já que só paga o que quer, ainda controla a área e hostiliza o dono légitimo da propriedade. Cuba, ao contrário, comporta-se como o senhorio ideal: desde que Fidel Castro chegou ao poder, sequer desconta os cheques do aluguel. Teme que isso possa legitimar a indecência histórica imposta pelos EUA. Há 16 anos, quando Bill Clinton chegou à Casa Branca, o escritor Tom Miller, autor do livro Trading With the Enemy: A Yankee Travels through Castro's Cuba, recordou no New York Times a história vergonhosa de Guantánamo - rebatizada no Pentágono, amante de sopa de letras, como Gitmo. Não se imaginava que ainda viria vergonha maior - a prisão-centro de torturas, obra de Bush II em 2001.

Antes de Fidel, a área pode ter sido a base ideal para o lazer de militares amantes de prostíbulos, cassinos e consumo de drogas - cortesia de gangsters como Meyer Lansky, à sombra dos ditadores apadrinhados em Washington. Talvez haja em Miami quem sonhe com a volta aos velhos tempos. Mas Obama, mesmo vencedor da Flórida, pode fazer a coisa certa: acabar com essa indecência de 110 anos.

Original em Carta Maior


Emir Sader: por que a mídia privada não consegue ver o FSM?


Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM (Fórum Social Mundial). Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por quê? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios — como não se encontra em lugar algum do globo — estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

Por Emir Sader, na Carta Maior

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O fundamental não tem preço — diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP [Força Serra Presidente (forma como Sader se refere à Folha de S.Paulo)] se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, conseqüentemente, a nenhum Fórum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.

A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula — a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Fórum Pan-Amazônico, não deram uma linha sobre o Fórum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável — fundamentais no FSM — estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas.

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.


Israel deve ser julgado pela Corte Penal Internacional - Petição universal

Cerca de 300 ONGs e associações vão solicitar que o Fiscal da Corte Penal Internacional investigue os crimes de guerra cometidos por Israel em Gaza. O apoio da cidadania e indispensável. Solicitamos a assinatura e a divulgação desta «petição universal». É urgente.

Ao Fiscal da Corte Penal Internacional (CPI)

O Direito é a marca da civilização humana. Cada progresso da humanidade tem coincidido com a consolidação do Direito. O desafio que nos impõem a agressão de Israel contra Gaza consiste em afirmar, em meio ao sofrimento, que à violência deve responder a justiça.

Crimes de guerra? Unicamente os tribunais podem condenar. Mas todos devemos dar testemunho, pois o ser humano só existe em sua relação com os demais. As circunstancias dão toda sua dimensão ao artigo 1º da Declaração Universal dos Direito Humanos: «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e, dotados como estão de razão e consciência, devem comportar-se fraternalmente uns com os outros».

A proteção dos povos, não a dos Estados, é a razão de ser da Corte Penal Internacional. Um povo sim Estado é o mais indefenso de todos e, ante a Historia, se encontra situado sob a proteção das instâncias internacionais. O povo mais vulnerável deve ser o melhor protegido. Ao assassinar à população civil Palestina, os carros de combate israelitas fazem sangrar a humanidade. Temos lutado para que o poder do Fiscal geral esteja a serviço de todas as vítimas e esta competência deve permitir que o mundo inteiro receba uma mensagem de esperança, a da construção de um Direito Internacional baseado no direito das pessoas. E, juntos, um dia poderemos render homenagem ao povo palestino por tudo o que tem realizado na defesa das liberdades humanas.

Campanha iniciada em 19/01/2009

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

UNRWA dá apoio psico-social às crianças de Gaza

A. Sameh
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Após três semanas de guerra e de uma semana de chocante recuperação, Aseel Abu Etaweh de oito anos de idade achou estranho, ao acordar, a mãe a chamá-lo para fora da cama para mais um dia de escola. Durante as três primeiras semanas do Ano Novo, Aseel tinha sido acordado por explosões.
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Sendo o mais velho, Aseel normalmente assume a responsabilidade de chegar primeiro, para que ela possa ajudar seu pequeno irmão Samer sair da cama. Nesses dias ela sussurrava palavras dizer-lhe que subissem, porque tudo ia dar certo.
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"As crianças agora têm dificuldade para voltar à velha rotina", disse a consultora de psiquiatria em Gaza, Dra. Rawya Al Borno. Ela explicou que tem havido "inúmeros danos" a partir da guerra em Gaza, mas observou que o mais duradouro são "os danos psicológicos que ocorrem em crianças, como elas sofrem ... perdendo a sensação de segurança, ficando longe de seus pais, perdendo o capacidade de dormir, concentrar-se, e comer.
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" Há muitas crianças, disse ela, que têm "reações mais graves, tais como micção descontrolada".
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Crianças que perderam mais também estão enfrentando uma maior quantidade de sofrimento psíquico, a longo prazo, acrescentou a Dra. Al-Burno.
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Como a escola recomeçou, a vida voltou um pouco à normalidade. As escolas UNRWA preparados para o trauma psicológico que possa regressar à escola com as crianças.
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Com isto em mente, as escolas da UNRWA dedicam os primeiros dias de volta às aulas para ajudar os estudantes a superar o que aconteceu. O programa é destinado a envolver os alunos em várias atividades que possa ajudá-los a se libertar dos medos.
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Aseel, por exemplo, foi convidada a escrever uma carta a todas as crianças ao redor do mundo.
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Ela escreveu, "Meu nome é Aseel e tenho 8 anos, tenho o direito de viver, estudar e jogar, os israelitas colocaram tudo longe de mim."
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Ela disse que escrever a carta ajudou a deixar sair seus sentimentos. Ela disse que escreveu a carta a uma criança da idade dela, mas que não teve de viver a guerra em Gaza. Aseel depois olha para cima e pergunta "por que as outras crianças apreciam a vida, e nós não?"
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Outros professores pediram aos alunos para desenhar os seus sentimentos e experiências, havendo pequenas discussões entre colegas quando falam o que lhes aconteceu durante a guerra. Pequenos dramas foram organizados entre classes onde os alunos colocaram para fora sentimentos e frustrações encenando situações que os assustaram e falaram sobre elas.
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Mesmo os jogos normais na escola são uma oportunidade para que os alunos expressem os seus sentimentos, e ajudá-os a reconquistar o sentimento de segurança e de normalidade.
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A Dra. Al-Borno disse que o caminho mais rápido para lidar com stress pós-traumático desse grau em crianças é usando o Psicodrama. O método permite que as crianças voltem a vivenciar os acontecimentos da guerra, em um espaço seguro, onde se pode refazer o passado e até mesmo desfazer os temores relacionados com os acontecimentos.
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O Gerente do Programa de Saúde Mental da Comunidade Gaza, Hasan Ziyadeh, disse que "as crianças são levadas a perder seu foco ou até mesmo usar de violência para expressar seus sentimentos", e assim eles vêm a realidade a partir dos terríveis acontecimentos da guerra. "Esta é a razão pela qual não devemos ignorar tais comportamentos e devemos tratá-los rapidamente."
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Um elemento essencial desse tratamento é o apoio familiar, disse Ziyadeh, mas instituições religiosas e de apoio familiar devam também ser activado para melhor apoiar os mais traumatizados pelos acontecimentos de guerra. Religião e família irão desempenhar uma parte importante no sentido de ajudar a comunidade Gaza passar esta guerra, disse.
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Aseel e seu irmãozinho Samer têm coragem sem ansiedade, disse. Embora muito do que se pensava sobre o mundo e a humanidade tenha mudado desde que começou a guerra, eles entendem que para muitos a sua capacidade de sobreviver à guerra torna-os heróis.
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Eles sabem que a sobrevivência é mais do que simplesmente estar vivo, mas que são também eles a fazer o seu melhor para entender o que aconteceu e seguir em frente para continuar vivendo suas vidas, de tentar se sentir seguros e avançar.
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Juízes defendem nova interpretação da Anistia

Documento aprovado no V Fórum Mundial de Juízes defende uma nova interpretação da Lei de Anistia para que "se apurem efetivamente os crimes contra a humanidade, perpetrados pelos agentes do Estado durante o período da Ditadura Militar”. O que quer dizer a “interpretação técnico-jurídica” da Lei de Anistia brasileira?

Edson Teles

Encerrou-se ontem, dia 25 de janeiro, o V Fórum Mundial de Juízes. O evento, que contou com a participação de juízes, advogados e procuradores de vários países, aprovou a “Carta de Belém”, contendo a proposta de uma nova interpretação “técnico-jurídica” da Lei de Anistia. O texto aprovado defende “que se apurem efetivamente os crimes contra a humanidade, perpetrados pelos agentes do Estado durante o período da Ditadura Militar”.
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Estiveram presentes, entre outros, o juiz chileno Juan Guzmán, um dos responsáveis pelas apurações dos crimes cometidos durante o regime ditatorial de Pinochet; o juiz italiano Giancarlo Capaldo, que tem denunciado militares e agentes policiais de ditaduras latino-americanas envolvidos em mortes de cidadãos italianos; Eugênia Fávero e Marlon Weichert, procuradores da República que têm denunciado e proposto processos contra torturadores da ditadura brasileira.
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Entretanto, o que quer dizer a “interpretação técnico-jurídica” da Lei de Anistia brasileira? Para entendermos a questão é necessário refazermos brevemente o percurso histórico do surgimento desta lei.
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Em agosto de 1979, o Congresso Nacional brasileiro, ainda sob a vigência do regime de exceção, aprovou a Lei de Anistia “a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes”. Na época, após 15 anos de ditadura no país, os militares cederam às pressões da opinião pública e dos movimentos de direitos humanos, especialmente dos familiares de presos e desaparecidos políticos, e enviaram projeto de lei ao Congresso Nacional. A oposição pressionou por mudanças no texto original e, por fim, aceitou a anistia proposta pelo governo.
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Apesar da luta dos comitês brasileiros pela anistia por uma “anistia ampla, geral e irrestrita” para os perseguidos pela ditadura, parte dos presos e perseguidos políticos não foi contemplada. A anistia não beneficiou os presos políticos envolvidos em crimes de sangue, como se diz em seu parágrafo 2º, do artigo 1º: “os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal”.
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Sob a decisão de anistiar os crimes “conexos” aos crimes políticos se consideraram anistiados os agentes da repressão. Os mortos e desaparecidos políticos não foram considerados e o paradeiro de seus restos mortais nunca foi esclarecido. Era o marco da transição da ditadura para o Estado de Direito, visando superar – e mais do que isso, silenciar e esquecer, o que limita ou elimina a superação – o drama vivido diante da violência estatal.
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Contudo, as leis de anistias surgem em momentos de saída de graves conflitos, com o objetivo de permitir que os perseguidos do momento sejam incluídos no processo de reconciliação. Dessa forma, não teriam sido anistiados os torturadores que cometeram crimes sem relação com causas políticas e recebendo salário como funcionários do Estado. Além disso, como já dito na lei, os chamados “crimes de sangue” não foram contemplados. Dentre estes crimes estão os atos de tortura e desaparecimento dos opositores.
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Durante a transição política para a nova democracia a anistia foi simbolizada como um ato de perdão para os dois lados envolvidos no conflito. Esta interpretação esteve vinculada ao momento político vivido pelo país, que não sofreu uma ruptura entre os dois regimes, mas antes teve seu processo promovido desde o fim dos anos 70 pelos militares – a chamada “abertura lenta e gradual”, controlando as mudanças e impedindo uma maior participação popular e dos movimentos sociais. A transição foi acordada entre o governo autoritário e os novos partidos políticos surgidos no início dos anos 80 e culminou com a eleição no Colégio Eleitoral do primeiro presidente civil após os governos militares (Tancredo Neves).
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Nos anos 90 foram criadas as leis de reparação das vítimas e de reconhecimento da responsabilidade coletiva do Estado na morte e desaparecimento de opositores. Tais leis apresentaram limites a qualquer tentativa de apuração dos crimes e punição dos responsáveis. Além disto, nas leis brasileiras de reparação, estaduais e nacional, o ônus da prova dos sofrimentos ficou a cargo das vítimas, ainda que fosse o Estado o responsável pelos arquivos e informações da repressão, elementos comprobatórios da ação institucional. Além de a vítima ter sido obrigada a provar sua própria condição, a democracia brasileira não criou uma esfera institucional para o testemunho daquela experiência, seja na esfera pública e política, seja em processos judiciais. De modo distinto à boa parte das novas democracias latino-americanas, não houve, no Brasil, um único processo penal contra criminosos da ditadura.
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Recentemente, iniciativas jurídicas pedindo a responsabilização individual dos torturadores esbarraram na interpretação – elaborada nos anos 80 – de que a anistia foi para os dois lados. Tais ações judiciais estão sendo encaminhadas pelo judiciário brasileiro para o Supremo Tribunal Federal. Nesta instância, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, já adiantou sua posição de que uma nova interpretação da lei implicaria em prejuízo para as instituições democráticas. Ora, não seria prejudicial justamente o ato de empurrar a justiça para debaixo do tapete, juntamente com toda a sujeira dos aparelhos de repressão da ditadura?
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A importância da apuração da violência política encontra-se na compreensão de que tais eventos não são traumas restritos ao passado, mas fatos produtores de valores que resultam em responsabilidade e compromisso, como uma promessa para o futuro. E isto apenas seria possível se o passado fosse tomado como herança da dimensão pública, gerando conceitos, reflexões e valores para uma vida em democracia.
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Assim como não é possível pensarmos a violência da ditadura, sem assumirmos o compromisso de responder aos atos de violência e tortura dos dias atuais. Não eliminaremos as “balas perdidas” se não apurarmos a verdade dos anos de chumbo e, assim, ultrapassarmos certa cultura da impunidade vigente no país. Afinal, a “bala perdida” é, tal qual o silêncio sobre os crimes da ditadura, o ato sem assinatura, pelo qual ninguém se responsabiliza.
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Professor de Ética e Direitos Humanos do curso de Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo e doutor em filosofia política pela Universidade de São Paulo. Email: edsonteles@gmail.com.
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Original em Carta Maior
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A presença da Amazônia no FSM 2009

Este ano, a cidade hospedeira do Fórum é peculiar entre as das edições anteriores. Belém do Pará está no meio da Amazônia brasileira - território que tanto chama atenção internacional, ora pela defesa de sua integridade ecológica, ora pela ambição em seus recursos naturais.

Marilza de Melo Foucher

No verde, verde medo, entre ciladas.
E nos cipós, ardentes das queimadas,
Enforca-se o uirapuru,
Na clave de seu canto.

Paes Loureiro, poeta paraense

A Amazônia sempre representou interesses sobre todos os aspectos. Tanto ela chama atenção da opinião publica internacional em defesa de sua integridade ecológica, como dos interesses das grandes potências em sua imensa reserva. Essa região também representou um laboratório ideal para demonstrar a brutalidade do capitalismo predatório.

O resultado da política desenvolvimentista e do modelo neoliberal, do período militar na Amazônia desde o final da década de 70, além de destruir os ecossistemas rurais e urbanos da região, vai também provocar uma explosão de descontentamento. Esperamos que ao longo dos anos se transforme numa mobilização social de resistência.

Uma nova sociedade civil conseguiu, depois de muita luta, colocar na pauta política a questão ambiental, racial, sexual e o direito das populações tradicionais à posse de suas terras

Evidentemente, a ideologia neoliberal sempre visou a destruição do tecido social criando novas formas de tutelas para frear o avanço dos movimentos sociais emergentes, como os dos povos indígenas da floresta.

Anteriormente os índios que vivem em território brasileiro eram considerados deficientes pela constituição brasileira. O reconhecimento, pela Constituição Federal, das organizações sociais dos índios, foi feito de modo muito lento e até hoje causa polêmicas. Este fato é demonstrativo da discriminação alojada no consciente e subconsciente da sociedade brasileira.

Romper com a perspectiva integracionista e assimilacionista da nossa legislação representa até hoje um embate entre duas correntes que, infelizmente, em pleno século XXI, ainda persiste. A primeira, considera os índios como uma categoria étnica e social transitória, condenada ao desaparecimento, e que além de atrapalharem o progresso, põem em perigo a segurança das fronteiras! Outra corrente vem abrindo há muitas décadas um espaço de debate nacional junto à sociedade brasileira sobre questões que ficaram muitos anos invisíveis ou que não despertavam interesse, ou, simplesmente eram ignoradas por falta de informações ou educação sobre os direitos humanos. Essa corrente lutou contra a ditadura, muitos se exilaram, outros viraram clandestinos e resistentes e participaram ativamente na emergência de uma nova sociedade civil que conseguiu, depois de muita luta, colocar na pauta política a questão ambiental, a questão racial, sexual e o direito das populações tradicionais e dos povos indígenas terem o usufruto das riquezas nacionais do solo e a posse permanente de suas terras. Esse reconhecimento significa também o direito dos povos indígenas terem participação ativa nos espaços onde são tomadas decisões que lhes dizem respeito.

Os herdeiros de Ajuricaba, líder indígena na resistência aos portugueses, e dos Cabanos são os melhores defensores das riquezas naturais da Amazônia, de sua biodiversidade e da preservação de suas fronteiras, afinal eles continuam sendo os guardiões naturais desse espaço de esperança!

As forças vivas da Amazônia representadas no FSM

Vale ressaltar nesse Fórum Social Mundial a vitalidade, hoje, do tecido social na Amazônia. Existe na parte brasileira uma forte presença de identidades coletivas organizadas em pequenas associações, expressas nos movimentos sociais e organizações comunitárias combativas. Estas não são somente reativas, há muitos anos elas estão na vanguarda da luta pela defesa da biodiversidade e da sociodiversidade cultural, com capacidade de propor alternativas de políticas compatíveis com as características da região.

Graças a esse modo de agir, a visão setorializada do conhecimento perde terreno para a visão pluridisciplinar. As capelas intelectuais não têm mais razão de reproduzir ou produzir conhecimentos em circuitos fechados, e a socialização de saberes e experiências se impôs na região

Ressalta-se também, a presença de uma intelectualidade engajada não somente no campo acadêmico e nos centros de pesquisas, parte dela está comprometida no campo da ação política transformadora. Além de assegurar uma produção cientifica permanente, ela vem tecendo, já há alguns anos, parcerias com instituições não governamentais, movimentos sociais, pastorais e pequenas associações ativas na luta contra a exclusão social e por um outro desenvolvimento na Amazônia.

Os centros de pesquisas, as universidades amazônicas, as associações de estudantes, os movimentos sociais, as pastorais comprometidas como a CPT, as ONGs que atuam com uma visão holística do desenvolvimento, tal como a FASE em várias pesquisas, fazem emergir temáticas novas que na certa chamarão a atenção dos acadêmicos europeus e de outros continentes.

Um exemplo, entre outros, é a Rede de Pesquisadores e movimentos sociais do PNCSA - Projeto Nova Cartografia Social, que têm a participação da UFPA - Universidade Federal do Pará e outras universidades públicas com atividades em todas as regiões do Brasil e com diversos contatos na Colômbia, Guiana Francesa, Venezuela, Argentina e países da Europa[ver programação do FSM].

Graças a esse modo de agir, a visão setorializada do conhecimento perde terreno para a visão pluridisciplinar. As capelas intelectuais não têm mais razão de reproduzir ou produzir conhecimentos em circuitos fechados, e a socialização de saberes e experiências se impôs na região.
Esse aprendizado tem sido um desafio permanente, assim, como o modo de se trabalhar em redes e articulado no plano local, o regional, o nacional e internacional.

Ao manter laços estreitos com movimentos e associações, apoiam as ações, as lutas e as organizações dos agentes sociais (quilombolas, indígenas, pequenos criadores, extratores, ribeirinhos, pescadores, colonos, artesãos, carvoeiros) que têm sua vida social e material ameaçada (quilombolas, indígenas, pequenos criadores, extratores, ribeirinhos, pescadores, colonos, artesãos, carvoeiros) pelas mudanças sociais e ambientais. Hoje, se paramos para fazer um balanço das mudanças positivas ocorridas nesses últimos anos na Amazônia, podemos dizer, sem equívocos, que elas ocorreram graças a esse modo novo de agir e à pressão dessas forças vivas da região. Atualmente eles fazem da sociodiversidade cultural sua riqueza e do exercício ativo da cidadania uma nova concepção de democracia.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Vídeos Essenciais

Recebemos do "João" - esperamos que esse seja seu verdadeiro nome... - a indicação de um vídeo hospedado no YouTube.

Como dissemos em postagem anterior, não era nossa intenção utilizarmos essa forma de mídia no Blog do "Velho". Há, no entanto, alguns bastante interessantes e esclarecedores, como já fora o caso do "A origem das Coisas" postado anteriormente. Por esse motivo, resolvemos abrir um espaço na barra lateral com a finalidade de listá-los e permitir o acesso direto em quaisquer dos sites que abriguem essa forma de comunicação.

Quanto ao vídeo sugerido - "Este é o PSDB que você não vê na TV…", fica a ressalva de que não somos favoráveis ao voto nulo uma vez que não impede o ingresso na vida pública dos maus políticos e dificulta a eleição dos políticos honestos - que existem, sim.

Lembrando que a orientação política deste Blog é Marxista-Leninista, antimperialista e de defesa dos "sem voz", estamos nomeando o companheiro "João" - que pelo jeito é rato de YouTube - como colaborador sênior do espaço.

Vasco

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Uma semana após o final da guerra, os moradores de Gaza tentam salvar o que podem

Por Catrin Ormestad
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Nas ruas da Cidade de Gaza, vendedores são negociando as últimas mercadorias egípcias, que foram contrabandeadas em Gaza, antes da guerra. Mas, em Rafah, os trabalhos de reparação já estão em curso nos túneis bombardeados. Algumas das tubulações de diesel ainda estão em funcionamento. As forças de segurança do Hamas estão de volta às esquinas, casualmente portando seus Kalashnikovs, e os refugiados abandonaram os abrigos e voltaram para casa, ou - se as suas casas foram destruídas - para ficar com parentes.
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Uma semana após a guerra ter terminado, Gaza está lutando para voltar a algum tipo de normalidade. A maioria das lojas está aberta e as crianças foram orientadas a voltar para a escola. Equipes da UNRWA, o Crescente Vermelho, a Oxfam e outras organizações estão inspecionando as zonas mais afetadas para avaliar, tanto os danos e saber qual a ajuda mais necessária. Mas a restauração e a reconstrução apenas começou. A guerra deixou poucos Gazans intocados. Quase todo mundo parece ter perdido algo, ou alguém.
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No quase completamente destruído distrito de Zeitoun, uma tenda mortuária para as 30 vítimas da família Samouni foi erigida entre os escombros. Em Abed Rabbo Street, ao leste de Jabaliya, as pessoas ainda estão tentando resgatar alguns dos seus pertences dos escombros - um colchão rasgado, alguns utensílios quebrados de cozinha. A totalidade da área está semelhante a de um terremoto. Moradores dizem que ainda podem sentir o cheiro de corpos descompostos, enterrados sob os escombros. Khaled Abed Rabbo tem um pequeno fogo aceso nas ruínas de sua casa, um edifício que foi completamente destruído. Mas isso não é tudo que ele perdeu. Devagar e dolorosamente ele relata que suas três filhas, com idades entre 2 a 7 anos, foram baleadas no estômago quando a família evacuava a casa, por ordem das Forças Israelenses. Duas das meninas morreram imediatamente, e a 4 anos de idade, Samer, está agora sendo tratada na Bélgica. Ele soube,através da BBC, que ela está completamente paralisada e nunca vai andar de novo. Há um detalhe em sua história que ele conta e reconta: O soldado que atirou nela estava comendo batatas fritas. Ele estava segurando um pacote delas na mão. Rabbo pega um saco vazio de batatas do solo.
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Em Jabaliya, o Exército Israelense deixou outra curiosa lembrança: uma espécie de carrinho militar, feito de ferro maciço. As pessoas estão subindo nele e posando para fotos, sorrindo triunfantemente tomam instantâneos de seus amigos com os seus telefones celulares.
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A Universidade Islâmica na Cidade de Gaza continua fechada. O cartaz de boas-vindas aos novos alunos está dilacerado e o campus vazio, com exceção de alguns trabalhadores que estão consertando danos menores. Não há nada a ser feito sobre a enorme pilha de concreto e entulho que costumava ser o edifício da ciência. Eles vão ter de esperar pelos Bulldozers. Husam Ayesh, vice-diretor do escritório de relações públicas da universidade, estima o custo dos danos em quase US $ 20 milhões. Ele nega que os laboratórios foram utilizados para fins militares, como Israel tem dito, e convida a todos para vir e ver por si mesmos quando começarem a remover os escombros. "Não temos nada a esconder", ele afirma.
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Marya al-Duek, uma estudante de literatura Inglesa, chora quando vê que a biblioteca - que era seu lugar favorito no campus - foi danificada também. Ela foi estudar em Gaza durante os últimos três anos, mas em breve regressará ao seu noivo na Arábia Saudita. Duek queria terminar sua graduação antes de se casar - ela se autodenomina uma feminista e acredita que as mulheres devem ser instruídas -, mas a universidade foi bombardeada pouco antes dos exames finais serem agendados para começar. Agora ela não sabe se vai poder fazer os testes antes de viajar. "Eu realmente quero voltar para casa", diz ela. "Em Jeddah você sente que está vivo, aqui você está apenas esperando para morrer. Acho que não vou regressar a Gaza".
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No Hospital de Shifa, na Unidade de Cuidados Intensivos, há ainda algumas pessoas que ficaram feridas durante a guerra. E o número de palestinos mortos provavelmente vai aumentar. Em um quarto, um homem de 40 anos com ferimentos a bala no peito e graves ferimentos na cabeça. Seu corpo pálido é magro e machucado e ele está vestindo fraldas azuis. Isto é o final de um herói da resistência ou de um terrorista como queira. No Departamento de Queimados, Rawan Abu Tabac, de 4 anos está gritando de medo quando dois enfermeiros suavemente colocam um curativo em sua pernas queimadas. Ela tinha saído para comprar algum chocolate durante as três horas de trégua, na última semana da guerra. Seus pais não tinham notado a sua saída, até que um vizinho chamou e disse-lhes que a sua filha tinha sido atingida por um foguete. Ela vai necessitar de uma extensa cirurgia, diz o seu pai. Deitada na sala ao lado Sabah Abu Halima,45anos de idade, perdeu o marido e quatro de seus filhos, com idades entre 1 e 14, quando a sua casa em Beit Lahiya foi destruida por um tanque e pegou fogo. Ela também sofreu ferimentos graves no incêndio. Ela diz que estava completamente nua quando um vizinho a trouxe para o hospital em seu trator, porque o fogo havia queimado todas as suas roupas.
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O chefe do Departamento de Cirurgia Plástica e Queimadura, Nafiz Abu Shaban, diz que ele não tem dúvida de que todas as queimaduras foram causadas por fósforo branco.
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No centro de distribuição da UNRWA em Deir al-Balah, as pessoas estão recebendo sacos de farinha e arroz, e carregando-os em suas carroças. Mais adiante, na estrada de Salah Din, os homens estão na fila no centro de distribuição de gás para cozinhar. Alguns postos de combustíveis têm efetivamente gasolina, mas a maioria das coisas permanecem escassas em Gaza. Há freqüentes cortes de energia e muitas famílias ainda não têm acesso a água corrente. Mas mesmo no meio do desespero, existe alguma esperança de que talvez alguma coisa vá mudar e Israel vai finalmente abrir as fronteiras.
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E se não? "Então, temos de ter uma outra guerra - naturalmente", diz um funcionário municipal do Hamas. "Não temos escolha. Nós não podemos viver assim, trancado em uma jaula, como os cães." Poucos Gazans parecem concordar com ele. "Deus seja louvado! O Hamas irá parar de disparar foguetes e Israel terá piedade de nós e abrir as fronteiras", diz um motorista de táxi de Jabaliya. "Tivemos bastante sangue e destruição. Nós perdemos tudo."
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Original em Haaretz Daily
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sábado, 24 de janeiro de 2009

A reconstrução do Reino

“…Ocultando a sua presença poderosa, a igreja desenvolve e gere capitais astronômicos, nas bolsas, nos grupos financeiros e confessionais que lhe pertencem ou nas «holdings» em que ela possui posições acionistas majoritárias. Ainda recentemente, como se sabe, quando já não era possível ocultar a recessão generalizada, vieram à superfície caudais de escândalos financeiros. Pois em quase todos eles foram citados grupos bancários e grandes investidores ligados aos capitais da igreja.”
Jorge Messias
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Olhando a ruína dos seus sonhos maus temos ouvido alguns homens da globalização dos mercados dizer acerca da atual crise: «As crises têm aspectos positivos. São terapêuticas. Permitem localizar os focos da infecção e desenhar uma nova economia e um novo mundo». É uma reflexão fria e brutal que despreza cinicamente os infernos do sofrimento causado pelo desemprego e pelo empobrecimento dos trabalhadores e das famílias. Mas compreende-se a lógica do raciocínio. A situação é dramática. E entre os ricos, tal como entre os pobres, a esperança é a última a morrer. Depois renasce. E mesmo quando a esperança se opõe à razão, basta muitas vezes reinventá-la para se criar uma nova realidade virtual.
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Assim o entendem Blair, Gordon Brwon e um punhado de altas patentes do grande capital. Reuniram-se, meditaram no assunto e concluíram, finalmente, que o capitalismo clássico estava esgotado, sem pernas para andar. Mas que não se entendesse, no entanto, que o quadro assim criado assinalava a sua morte. A presente crise apenas vinha revelar que o modelo de capitalismo até aqui proposto se esgotara. É preciso portanto reinventar o sistema dando-lhe uma face humanizada que atraia a confiança dos povos. Um capitalismo novo que ocupe um espaço social vazio, abandonado pelos poderes do Estado. Enfim, uma nova face do dinheiro a que se poderia chamar, por absurdo, Capitalismo Social. Os capitalistas reivindicariam a defesa dos interesses dos trabalhadores que o capital explora, nos mais diferentes planos: segurança social, saúde, educação, proteção da família, tempos livres, emprego, etc., etc. Seriam eles, os grandes empresários, a dirigir essas lutas. Os custos dessa mudança estratégica seriam, naturalmente, em grande parte subsidiados pelo orçamento do Estado, embora o novo mercado ficasse também aberto aos capitais privados das ONG, IPSS, Misericórdias, Sociedades Civis, Fundações Filantrópicas e outras formações que mantivessem as aparências dos fins não lucrativos. À margem dos aspectos de solidariedade social postos em evidência, o processo de acumulação de capitais e de valorização dos lucros continuaria a ser praticado pelos grupos econômicos, tal como até aqui. O Estado seria o banqueiro desta gigantesca operação e cederia ao mundo empresarial e à igreja os poderes de decisão nas áreas político-sociais.
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O novo capitalismo em construção caracterizar-se-ia pois pelas dimensões gigantescas dos capitais investidos nas suas empresas «holding», pelo esmagamento da classe média baixa e pela entrega de toda a área da acção social do Estado a parcerias público/privadas. Em traços gerais, é este o plano que o grande capital defende para inverter, com lucro, o perigoso sentido tomado pela crise econômica e financeira do sistema. Por isso dizem haver potenciais «virtudes terapêuticas» nesta convulsão mundial.
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“Revolução“ ou nem tanto?
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Os comentadores afetos ao capitalismo consideram a proposta salutar e verdadeiramente «revolucionária», visto ser reação pronta e original aos riscos evidentes desta crise imprevista. No entanto, o seu otimismo aparente mal pode disfarçar o pânico e a estupefação que reinam nas fileiras dos mais ricos. Os banqueiros bem sabem que a crise profunda – que tão grandes estragos já causou – ainda mal começou a fazer-se sentir. E também estão conscientes da sua incapacidade para conceber do pé para a mão uma fórmula mágica que lhes permita travar a implosão do seu mundo doirado. Por isso, são obrigados a recorrer a receitas já conhecidas e de há muito praticadas que recortam dos compêndios e colam umas às outras. A fórmula proposta não é nova e na realidade as operações agora anunciadas há muito que se preparam. Nada têm a ver com a crise econômica e representam, na realidade, um projeto de subversão do Estado social e constitucional. Envolvem forças poderosas e poderes ocultos. A Igreja Católica é sua parceira insubstituível. Não é por acaso que as constituições da igreja atribuem à instituição três missões centrais: a de ensinar, a de governar e a de santificar. E são exatamente estas linhas de força que estão patentes no projeto apadrinhado por Tony Blair. Poder capitalista e poder religioso encaixam-se perfeitamente um no outro.
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A rede católica é vastíssima. Em todo o mundo há perto de 220.000 paróquias, 2.300 centros pastorais, 4.100 bispos, cerca de 400.000 sacerdotes, perto de 1 milhão de professores e professoras, 365.000 catequistas e aproximadamente 4.300 padres diocesanos. A chamada sociedade civil é formada por uma panóplia de milhares e milhares de ONGs, IPSS, Fundações filantrópicas e de desenvolvimento local, ordens religiosas ou laicais, hospitais ou centros assistenciais, missões, movimentos juvenis e de mulheres, catequeses, creches, assistência aos emigrantes, colégios, universidades, etc. São pontas de lança da igreja católica servidas por milhares de voluntários.
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Também o poder financeiro do Vaticano não deve ser esquecido. Anonimamente, ocultando a sua presença poderosa, a igreja desenvolve e gere capitais astronômicos, nas bolsas, nos grupos financeiros e confessionais que lhe pertencem ou nas «holdings» em que ela possui posições de acionista majoritárias. Ainda recentemente, como se sabe, quando já não era possível ocultar a recessão generalizada, vieram à superfície caudais de escândalos financeiros. Pois em quase todos eles foram citados grupos bancários e grandes investidores ligados aos capitais da igreja. Recordem-se, ao acaso, os exemplos muito referidos dos grupos Bilbao e Viscaya, do Popular, do Hispano-Americano, do Benedetti, do Santander, do Deutsch Bank, do J.P. Morgan, do Chase Manhattan Bank, além de uma interminável lista de outras potências financeiras. Todas elas têm firmes ligações ao Vaticano, como em escândalos anteriores ficou provado, nomeadamente no rescaldo do «Caso Marcinkus», nas revelações da Loja Maçônica P2 ou nas fraudes de Ruiz Mateos. Bom será notar-se que o «milagre» da multiplicação dos capitais da igreja se verificou entre as duas grandes guerras mundiais, em época de recessão, quando uma operação financeira gigantesca do Vaticano, com a assistência da banca transnacional, fez converter em dinheiro e investimentos os verdadeiros impérios fundiários detidos pelas grandes ordens religiosas, como a Dominicana, a Salesiana ou a Companhia de Jesus. Numa grande operação de características muito semelhantes àquela que agora se prepara, a igreja soube adaptar-se à evolução dos mercados e afirmar-se como grande força financeira.
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Em conclusão, não pode deixar de citar-se o testemunho recente de dois destacados universitários católicos, os professores Joaquim Azevedo e o investigador Luís Imaginário. Disseram eles, a propósito do ensino profissional em Portugal: «O Ministério da Educação devia estar a formar profissionais para os novos territórios em termos de oportunidade de trabalho. Em vez de continuar a formar serralheiros devia estar a abrir cursos profissionais no terceiro sector, onde atuam as organizações não governamentais e as instituições particulares de solidariedade social... Não se trata de produzir assistentes sociais de segunda classe, mas de procurar responder às necessidades evidenciadas por uma população envelhecida e, ao mesmo tempo, garantir um horizonte de esperança aos jovens que ingressam nos cursos profissionais... a lógica das organizações já não é o emprego tradicional mas formas alternativas de trabalho. Hoje, a economia não precisa que todos trabalhem, precisa é que todos consumam... ».
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Os mestres da «Católica» acrescentaram depois o que entendem por objetivos da educação: «A formação profissional devia se apresentada como um valor em si e não como uma via para a obtenção de um emprego a curto prazo... estão-se a criar as condições para que, daqui a poucos anos, haja tensões sociais muito fortes !».
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Somadas estas abalizadas perspectivas do presente e do próximo futuro, ficamos informados acerca dos valores da sociedade que a banca e a igreja propõem e pretendem construir: lateralização do papel do Estado, insegurança no emprego, privatização da segurança social, reforço da divisão em classes, promoção do recurso ao crédito e apoio ao consumismo, crise econômica permanente, como motor de formação da riqueza privada, aprofundamento do fosso entre ricos e pobres.
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Todas estas ostentações dos mais ricos assentam, no entanto em pilares intensamente minados. Eles sabem que todo o sistema em que gravitam pode ruir, de um momento para o outro, como um «castelo de cartas». E temem as «tensões sociais muito fortes». Também estão conscientes das fraudes em que colaboram e da crescente dificuldade em continuar a fazer passar para a opinião pública a imagem favorável de um capitalismo utópico - convertido, solidário, filantrópico e generoso.
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Os tempos são outros. No quadro das realidades, a luta, a afirmação dos ideais, a mudança efetiva do país e do mundo.
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Original em O Diario.info
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PUNIÇÃO PARA OS ASSASSINOS DE ANDREU LUIS! CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

Há mais de um ano, no dia 1º de janeiro de 2008, o jovem morador do morro do Cantagalo, Andreu Luis da Silva de Carvalho, foi barbaramente assassinado nas dependências do CTR (Centro de Triagem), uma instituição destinada a “ressocializar jovens infratores”, portanto sob a custódia do Estado, por seis agentes do DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas).
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Andreu tinha sido detido no dia anterior acusado de participar de um roubo a um coronel norte-americano, na orla da praia de Ipanema. No dia 1º, após ter reagido a uma agressão de um dos agentes, Andreu sofreu uma cruel seção de torturas com mesas, cadeiras, cabos de vassoura, saco plástico sobre seu rosto, cocos, e outros instrumentos, o que acabou gerando a sua morte, apesar de vários pedidos para que parassem aquele massacre.
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Nas palavras de sua própria mãe, Deize Silva de Carvalho, ele reconhecia ter praticado pequenos delitos anteriores, que inclusive já tinham sido motivo de outras internações já cumpridas, pois queria encontrar seu pai que reside no Estados Unidos. Sua única pendência era uma medida sócio educativa que foi descumprida pelo jovem devido aos abusos praticados pelos agentes do DEGASE, nas suas internações anteriores.
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Porém quanto ao delito do qual foi acusado na sua última internação, o jovem confidenciou a sua mãe que não tinha participado, sendo preso sem justificativa nenhuma.
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O Estatuto da Criança e do Adolescente garante as crianças e aos jovens brasileiros o direito de ser protegidos física e psicologicamente pelo Estado, garantindo também a punição para aqueles que descumprirem os seus artigos. Entretanto, até hoje, um ano após o acontecido, os assassinos de Andreu se encontram livres, e cinco deles ainda estão trabalhando nas dependências do DEGASE, trabalhando com menores.
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Este caso é mais uma prova do que é esta política de extermínio e criminalização da pobreza, aprofundada com o governo de Sérgio Cabral e de seu secretário de segurança José Mariano Beltrame, política esta que assassinou em 2007 1335 pessoas, e até dezembro de 2008 mais de 900, em ações diretas da polícia, segundos dados oficias do ISP (Instituto de Segurança Pública).
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Este governo tem se notabilizado por uma crescente campanha de violência contra o povo pobre, principalmente os moradores das favelas no Rio de Janeiro, que segundo ele são “fábricas de produzir marginais”, e constatemente são chamados de “vagabundos”, assim como são desqualificados outros setores da sociedade como os funcionários públicos.
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Pelas últimas declarações do governo do estado, e ao julgar pelas últimas ações da polícia do Rio de Janeiro, esta política de criminalização e extermínio da pobreza esta longe de ter fim.
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Por isto estamos saindo as ruas mais uma vez para exigir justiça para Andreu, seus parentes e amigos; e também para manifestar nosso repúdio a esta política criminosa do governo do estado do Rio, que vem vitimando principalmente ao povo pobre, e vem produzindo tragédias como a Andreu, do pequeno Matheus (morto pela polícia na Maré), do menino João Roberto (cujo os assassinos foram absolvidos), Daniel Duque e tantos outros que foram ou não divulgados.
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Para finalizar reproduzimos aqui uma frase dita por Deize Carvalho, mãe de Andreu: “A pior forma de covardia é agir na fraqueza do outro. Ser fraco não é um defeito, a covardia é que não tem jeito”.
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Assinam este documento:
CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
DDH – Instituto de Defensores de Direitos Humanos
PROJETO LEGAL
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Original em CEBRASPO
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Operação chumbo impune

por Eduardo Galeano

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Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores pretende acabar com os terroristas, conseguira multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem autorização.
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Perderam a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, perderam tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes.
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Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está a ser castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída. Algo semelhante ao que ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.
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Banhados em sangue, os salvadorenhos expiram o seu mau comportamento e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
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São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com má pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito de Israel à existência, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há anos, o direito à existência da Palestina.
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Já pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel está a apagá-la do mapa. Os colonos invadem e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o roubo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerra defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços prosseguem. A devoração justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia concedeu, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.
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Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que se burla das leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança de Gaza? O governo espanhol não terá podido bombardear impunemente o País Vasco para acabar com a ETA, nem o governo britânico terá podido arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.
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Acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provém da potência mandona que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos?
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O exército israelense, o de armamento mais moderno e refinado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, conforme o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica.
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E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.
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Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos meios maciços de manipulação, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atómicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irão foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
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A chamada comunidade internacional, existe? Será algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? Será algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se põem quando fazem teatro? Perante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, a declarações ocas, as declarações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.
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Perante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça de judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão a pagar, em sangue contante a sonante, uma conta alheia.
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(Este artigo é dedicado aos meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou).
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O original encontra-se em Resumen Latinoamericano, Nº 1159
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Este artigo encontra-se em Resistir

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