Além do Cidadão Kane
sábado, 15 de maio de 2010
Grécia: os verdadeiros militantes da Europa
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quarta-feira, 31 de março de 2010
Depoimento de um brasileiro que viveu três anos em Cuba
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
No Haiti, miséria da disputa pelo poder sobre os miseráveis
O terremoto que arrasou a capital do Haiti não pôs abaixo apenas prédios e casas, ceifando a vida de dezenas de milhares de haitianos. Ele ruiu as já frágeis instituições de um Estado em permanente crise, corroído pelas dificuldades históricas de constituição de uma nação que emergiu de uma revolução escrava, com população negra e explorada por países ricos.
As imagens de destruição, dor e revolta que vemos na televisão são o ápice de uma situação que já era deplorável, mas ignorada pelo mundo. A catástrofe que atingiu Porto Príncipe colocou o Haiti, seus problemas e seu povo no centro das atenções deste mundo guiado pelo instantâneo.
Antes da tragédia, poucos tinham interesse no futuro do Haiti. A Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti - Minustah - criada pela ONU em 2004 e comandada pelo Brasil, cumpria importante papel na reconstrução desse Estado, como ficou evidente nas últimas eleições legislativas realizadas no país, em 2009.
Agora, com os holofotes voltados para o desastre, outros países saíram da sombra em busca de maior protagonismo no processo de reconstrução do país. Ajuda humanitária, sensibilização diante do sofrimento e da dor, senso de responsabilidade e solidariedade. Pode ser. Mas há também uma profunda disputa política internacional por poder, visibilidade e ascendência no mundo.
Os Estados Unidos são uma peça chave nesse tabuleiro. Já ocuparam e assumiram o controle sobre o aeroporto da capital haitiana, que neste momento é o centro nervoso do poder no país. Isto porque quem controla o aeroporto, controla quem entra e sai do Haiti. Determina quais ajudas receber e quais não receber. Controla o espaço aéreo, comando estratégico para qualquer nação.
O Ministério da Justiça prontamente se pronunciou sobre essa “intervenção” estadunidense. Nelson Jobim fez sua queixa diretamente à secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. Sob a tutela dos EUA, o aeroporto já impediu a aterrissagem de aeronaves brasileiras e francesas.
Nunca é demais lembrar que o plano de constituição de bases militares dos Estados Unidos na América Latina vai de vento e popa e, nessa geografia, o Haiti pode ser mais um estratégico ponto de apoio.
Para não dizer que com uma intervenção mais direta os Estados Unidos lustram sua imagem internacional, desgastada por ocupações de destruição. Em particular, ganha Barack Obama que pode, com a missão no Haiti, criar um contraponto à política de seus antecessores e aparecer como o homem da paz – e, quem sabe, fazer jus ao prêmio Nobel recebido.
No próximo domingo, uma teleconferência no Canadá organizada pela ONU vai debater a situação do Haiti e o papel dos países no processo de ajuda humanitária e reconstrução. Não há como deixar de lado os objetivos políticos que cada nação tem nesse processo; seria inocente pensar assim. Mas esses objetivos não podem, de maneira nenhuma, se sobrepor ao objetivo central e número um que é resgatar a dignidade do povo haitiano.
Original em Vermelho
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009
O FMI ataca a Ucrania por suas medidas sociais
O diretor geral do Fundo Monetario Internacional (FMI), Dominique Strauss-Khan critica ao presidente ucraniano, que decidiu aumentar em 20% o salario mínimo, fixado em torno dos 60 € por mes. Dominique expressou sua “preocupação” por este projeto de lei e ameaçou não levar a término o quarto pagamento de ajuda, uma soma total de 16,4 bilhões de dólares.
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Para o diretor geral, tudo isso questiona os objetivos fixados pelo Fundo Monetario Internacional: adoção de orçamentos austeros, privatização de serviços públicos… medidas que, no entanto, precipitaram a crise de muitos países do Leste.
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Ainda que o presidente atual, Viktor Iouchtchenko (Nossa Ucrania), tente um golpe de efeito a três meses das eleiçoes presidenciais quando está muito distanciado de seus dois adversarios, Ioulia Timochenko, primera ministra em exercicio, e Viktor Ianoukovitch (Partido das Regioes), antigo chefe de governo, o certo é que sua decisão também és uma reação à crise social e econômica que atinge o país.
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As pensões e os salários são os mais baixos da Europa enquanto que os preços aumentam constantemente. A debilidade dos serviços públicos expõe o país a riscos sanitários, como mostra a amplitude da epidemia de gripe A, com 60 mortos.
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Na atualidade, os ucranianos se desentendem de uma classe política que nunca respondeu a suas expectativas.
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Vinte anos depois da queda do Muro, uma recente perquisa do Pew Research International mostra que na Ucrania as opiniões favoráveis à transição para o multipartidismo desabou, para 30% frente aos 72% em 1991.
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quarta-feira, 17 de junho de 2009
Lula: 'Desemprego não é culpa dos imigrantes e pobres'
Pablo Uchoa
Enviado especial da BBC Brasil a Genebra
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que a crise econômica e o desemprego não são culpa dos "imigrantes e pobres do mundo", durante seu primeiro discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
Ao falar em uma sessão do conselho sobre a relação entre direitos econômicos e direitos humanos, o presidente afirmou que os efeitos mais "perversos" da crise não devem ser jogados sobre os ombros dos países mais pobres.
"Essa crise traz um efeito perverso sobretudo quando os imigrantes, sobretudo os pobres, africanos, latino-americanos e asiáticos, que transitam pelo mundo à procura de oportunidades de trabalho, começam a ser enxergados como responsáveis por ocupar o lugar das pessoas filhas dos países ricos", declarou o presidente.
"Não são os imigrantes, os pobres do mundo, os responsáveis pela crise. Os responsáveis pela crise são os mesmos que por muito tempo sabiam como ensinar a administrar os Estados. Sabiam como ter ingerência nos Estados pobres da América Latina e da África."
Para o presidente, "esses mesmos senhores que sabiam de tudo um tempo atrás, hoje não sabem mais de nada. Não conseguem explicar como davam tantos palpites nas políticas dos países pobres e que não têm sequer uma palavra para analisar a crise dos países ricos".
Lula citou medidas para legalizar a situação de trabalhadores estrangeiros no Brasil, aprovadas recentemente pelo Congresso, como um exemplo de política a ser seguido.
"No Brasil, nós acabamos de legalizar centenas de milhares de imigrantes que viviam ilegalmente no país. Para dar uma resposta, um sinal aos preconceituosos, aqueles que imediatamente querem encontrar os responsáveis pela sua própria desgraça, o seu desemprego", disse.
Direitos econômicos e humanos
"A realização dos direitos econômicos é importante para preservar direitos civis e políticos, para consolidar o Estado de Direito, e para construir sociedades democráticas, justas e prósperas", afirmou Lula.
Ele afirmou que o Brasil investe na cooperação sul-sul como forma de promover os direitos humanos, citando exemplos como a contribuição para a luta contra a Aids na África, e a participação em um projeto de inclusão social na Palestina.
"No Haiti, emprestamos um novo significado às operações de paz da ONU ao demonstrar que, para se obter a verdadeira paz, não basta combater a violência pela força das armas; deve-se, ao contrário, promover o desenvolvimento econômico e, com ele, a inclusão e justiça social", continuou.
Ele disse também que avanços sociais no Brasil - que ele atribuiu ao Fome Zero, Bolsa Família, redução dos níveis de pobreza e elevação do salário mínimo - também melhoraram as condições dos direitos humanos no país.
"A crise financeira, que nasceu da desregularização das economias mais ricas, não será pretexto para incentivar o descumprimento das obrigações de cada Estado com a promoção e proteção dos direitos humanos. Tampouco deve conduzir a que sejam descumpridos compromissos com os mais necessitados", ressaltou Lula.
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segunda-feira, 15 de junho de 2009
Exige Lula em Genebra nova ordem econômica
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O presidente do Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, pediu hoje uma distribuição mais justa das riquezas e pronunciou-se por converter o comércio internacional em um instrumento de desenvolvimento.
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sábado, 13 de junho de 2009
No mundo há 150 milhões de crianças vivendo na rua
A Convenção das Nações Unidas sobre Direitos das Crianças, ratificada por quase todos os países, com exceção dos Estados Unidos e Somália, dispõe em seu artigo 39 responsabilidades claras. ''Os Estados participantes adotarão todas as medidas apropriadas para promover a recuperação física, psicológica e a reintegração social de toda criança vítima de qualquer forma de abandono, exploração ou abuso; tortura ou outra forma de tratamento ou castigos cruéis, desumanos ou degradantes; ou conflitos armados''.
Essa recuperação e reintegração, agrega o texto, ''se levará a cabo em um ambiente que fomente a saúde, o respeito de si mesmo e a dignidade da criança''. Entretanto, em 2008 o informe da UNICEF sobre o Estado Mundial da Infância indicou que cerca de 10 milhões de crianças morrem anualmente; algo ''inaceitável, especialmente quando muitas destas mortes se podem evitar''.
Devido à crise e condicionados pelos entes financeiros internacionais, muitos governos têm hoje as reservas minguadas e recorrem a redução nos investimentos, entre eles os dedicados a aliviar problemas sociais a longo prazo. Instituições não governamentais que trabalham no resgate de crianças e adolescentes das ruas tampouco exibem uma situação favorável; enfrentam a falta de apoio financeiro para continuar seus programas.
Vistas essas condições em conjunto, como esperar melhor destino para as crianças de rua? A priori poderia pensar-se que o conflito reside na falta absoluta de recursos, mas a realidade mostra o contrario; somente em 2008 os gastos mundiais em armamentos militares cresceram em quatro por cento, ao elevarem-se as despesas a 1,46 trilhões de dólares. Em seu informe sobre o tema, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz também alertou que a cifra equivale a 2,4 por cento do Produto Interno Bruto no planeta.
Mudanças na América Latina durante os anos mais recentes indicam a possibilidade de promover bem estar aos mais humildes a partir da participação do Estado, renacionalizando recursos naturais em função dos interesses do país e desenhando políticas de beneficio social com participação cidadã. Reconhecida internacionalmente por instituições como UNICEF, a experiência cubana na atenção à infância oferece referenciais a levar em conta. Com o desaparecimento do campo socialista e da União Soviética, a nação caribenha perdeu mais de 70 por cento de suas importações; a população padeceu diversas necessidades, mas nenhuma criança foi deixa a viver na rua.
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sexta-feira, 12 de junho de 2009
Vergonha: ex-presidente da UNE manda PM invadir a USP

Assim foi com o ex-presidente Fernando Henrique, que flertou com o marxismo, exilou-se durante a ditadura e colaborou com o semanário alternativo Opinião, antes de se tornar o presidente da privataria neoliberal. Assim é com o governador Serra visto por Luc Gilberstein paulista, que presidiu a UNE como militante da AP (Ação Popular), discursou no célebre comício de 13 de março de 1964, pressionando pelas reformas de base de João Goulart, e também conheceu o exílio.
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quinta-feira, 7 de maio de 2009
ONU: crise provoca fome em mais de 100 milhões
Mais de 104 milhões de pessoas passarão fome em todo o mundo em 2009 por causa da crise econômica, elevando o número de subnutridos a quase um bilhão, declarou ontem Jacques Diouf, diretor da agência da ONU para a Alimentação e a agricultura (FAO).
“Estimamos que mais 104 milhões de pessoas não terão este ano um acesso adequado à alimentação devido à crise econômica e financeira”, disse Diouf durante uma entrevista coletiva em Paris.
“Assim, quase um bilhão de pessoas ficarão privadas de seu direito fundamental à alimentação”, acrescentou, destacando que este número é o mais elevado da história.
Em 2008, o número de pessoas subalimentadas aumentou 40 milhões por causa da disparada dos preços dos produtos alimentares, lembrou Diouf, frisando que o aumento foi de 75 milhões em 2007.
A "insegurança alimentar" afeta principalmente 32 países no mundo que precisam de uma "ajuda urgente", insistiu o diretor da FAO, afirmando que a produção alimentícia mundial tem que ser "multiplicada por dois". Diouf também exortou os países ricos a cumprirem suas promessas e em matéria de ajuda aos países pobres. "Não se pode comparar o trilhão de dólares concedido pelos governos para resgatar o setor financeiro com as somas que são necessárias para permitir às pessoas satisfazerem sua necessidade mais fundamental, o ato de se alimentar".
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O caminho mais curto para fracasso
Das muitas reflexões acerca do colapso do sistema neoliberal, três despontam com claridade. A primeira é que para salvar o Titanic afundando não bastam correções e regulações no sistema em naufrágio. Precisa-se de uma outra rota que evite o choque com o iceberg: uma produção que não se reja só pela ganância nem por um consumo ilimitado e excludente. A segunda, não valem rupturas bruscas na ilusão de que já nos transportariam para um outro mundo possível, pois seguramente implicariam no colapso total do sistema de convivência, com vitimas sem conta, sem a certeza de que das ruínas nasceria uma nova ordem melhor. A terceira, a categoria sustentabilidade é axial em qualquer intento de solução. Isso significa: o desenvolvimento necessário para a manutenção da vida humana e para a preservação da vitalidade da Terra não pode seguir as pautas do crescimento até agora vigentes (olho no PAC de Dilma Rouseff). Ele é demasiado depredador do capital natural e parco em solidariedade generacional presente e futura. Importa encontrar um sutil equilíbrio entre a capacidade de suporte e regeneração da Terra com seus diferentes ecossistemas e o pretendido desenvolvimento necessário para assegurar o bem viver humano e a continuidade do projeto planetário em curso que representa a nova e irreversível fase da história.
Esta diligência precisa acolher a estratégia da transição do paradigma atual que não garante um futuro sustentável para um novo paradigma a ser construído pela cooperação intercultural que signifique um novo acerto entre economia e ecologia na perspectiva da manutenção da vida na Terra.
Onde vejo o grande gargalo? É na questão ecológica. Ela é citada apenas en passant nas agendas políticas visando a superação da crise. Na reunião dos G-20 no dia 2 de abril em Londres, o tema não influiu na formulação dos instrumentos para ordenar o caos sistêmico. Não se trata apenas do mais grave de todos, o aquecimento global, mas também do degelo, da acidez dos oceanos, da crescente desertificação, do desflorentamento de grandes zonas tropicais e do surgimento do planeta-favela em razão da urbanização selvagem e do desemprego estrutural. E mais ainda: a revelação dos dados que mostram a insustenbilidade geral da própria Terra, cujo consumo humano ultrapassou em 30% sua capacidade de reposição.
Uma natureza devastada e um tecido social mundial dilacerado pela fome e pela exclusão anulam as condições para a reprodução do projeto do capital dentro de um novo ciclo. Tudo indica que os limites da Terra são os limites terminais deste sistema que imperou por vários séculos.
O caminho mais curto para o fracasso de todas as iniciativas visando sair da crise sistêmica é esta desconsideração do fator ecológico. Ele não é uma “externalidade” que se pode tolerar por ser inevitável. Ou lhe conferimos centralidade em qualquer solução possível ou então teremos que aceitar o eventual colapso da espécie humana. A bomba ecológica é mais perigosa que todas as bombas letais já construídas e armazenadas.
Desta vez teremos que ser coletivamente humildes e escutar o que a própria natureza, aos gritos, nos está pedindo: renunciar à agressão que o modelo de produção e consumo implica. Não somos deuses nem donos da Terra mas suas criaturas e seus inquilinos. Belamente termina Rose Marie Muraro um livro a sair em breve pela Vozes”Querendo ser Deus, por quê? “Quando tivermos desistido de ser deuses, poderemos ser plenamente humanos o que ainda não sabemos o que é, mas que já intuíamos desde sempre”.
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domingo, 3 de maio de 2009
Ucrânia: estação terminal
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sexta-feira, 1 de maio de 2009
O dia dos pobres do mundo
A data da celebração foi escolhida como homenagem aos mártires de Chicago, que em 1º de maio de 1886 iniciaram uma greve num país capitalista, cujos trabalhadores eram vítimas do desemprego e de outras calamidades associadas às crises econômicas, inseparáveis do sistema. Seus direitos não eram reconhecidos e os sindicatos eram vistos pela burguesia como organizações terroristas, inimigas do povo dos Estados Unidos.
Os capitalistas recorreram depois a suas melhores armas: a divisão e o economicismo para desmantelar a luta revolucionária.
O movimento operário se dividiu e as exigências sindicais, para muitos em meio à pobreza reinante, eram o objetivo principal, mais do que a mudança da sociedade.
Os Estados Unidos se converteram no país capitalista com maiores diferenças entre as rendas dos ricos e dos pobres. À sombra de sua hegemonia, a América Latina tornou-se, por sua vez, a área do Terceiro Mundo onde as desigualdades entre ricos e pobres eram mais profundas. Os ricos desfrutavam de níveis de vida comparáveis com os da burguesia dos países desenvolvidos da Europa. A noção de Pátria tinha desaparecido nas camadas mais ricas da população.
Era inevitável o choque da grande potência do Norte e da Revolução cubana. A heróica resistência do povo do nosso pequeno país foi subestimada.
Hoje estão dispostos a nos perdoarem se nos resignássemos a voltar ao redil como escravos que, depois de conhecer a liberdade, aceitassem de novo o chicote e o jugo.
Hoje o planeta se debate entre crises econômicas, pandemias, mudanças climáticas, perigos de guerras e outros problemas. A tarefa política se torna mais complexa e ainda alguns iludem-se com que os povos podem ser manipulados como fantoches.
Ainda não se pode dizer a última palavra sobre a evolução futura da atual administração norte-americana. Há elementos novos, tanto objetivos quanto subjetivos. Estudamos e observamos cada um de seus passos. Não somos incendiários como alguns imaginam, mas também não tolos que se deixam enganar facilmente por aqueles que pensam que a única coisa importante no mundo são as leis do mercado e o sistema capitalista de produção. Todos nós temos a obrigação de lutar pela paz, não existe outra alternativa. Contudo, o inimigo jamais deve iludir-se com que Cuba vai render-se.
Esperamos que, cada 1º de maio, milhares de homens e mulheres de todos os cantos do mundo compartilhem conosco o Dia Internacional do Trabalho, que temos vindo comemorando durante 50 anos. Não em vão, muito antes de 1º de janeiro de 1959, proclamamos que nossa Revolução seria a Revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes. As conquistas da nossa Pátria nos setores da educação, da saúde, da ciência, da cultura e outros, e especialmente a força e a unidade do povo, demonstram-no, apesar do bloqueio desumano.
...........Fidel Castro Ruz
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quarta-feira, 29 de abril de 2009
Mulheres migrantes sofrem múltiplas discriminações na Europa
Por Talita Mochiute, do Aprendiz
Para a pesquisadora, que esteve no Brasil para participar do Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos, em São Paulo (SP), a primeira questão a ser considerada é que as migrações das mulheres têm especificidades em relação à dos homens. Uma delas refere-se ao lugar ocupado pelas migrantes no mercado de trabalho do país que as recebem.
Segundo Adelina Miranda, na Itália, aproximadamente 70% das mulheres imigrantes trabalham no serviço doméstico ou em atividades ligadas ao cuidado de crianças e idosos. Essa proporção é semelhante em países como Espanha ou na Grécia.
"O trabalho doméstico não é considerado trabalho", afirma a pesquisadora.
A profissão e a tarefa dessas mulheres não têm o mesmo valor e reconhecimento social que as atividades produtivas. "O modo como essas mulheres se colocam no mercado de trabalho é atravessado pelas questões inter-étnicas. A maioria das migrantes domésticas é negra ou do Leste Europeu", complementou a professora.
Para Adelina, a divisão sexual do trabalho também ajuda a entender a colocação das mulheres migrantes no mercado e as formas de discriminação. A divisão entre trabalho feminino, associado à atividade doméstica e de assistência, e de trabalho masculino, ligado ao setor produtivo, expressa uma hierarquia de gênero e aponta para a desqualificação do trabalho feminino. "O maior problema é enxergar esse fenômeno histórico como natural. Outro aspecto que merece atenção é a invisibilidade dessas mulheres", enfatizou.
Demanda por profissionais
O grande número de mulheres nos serviços domésticos e de assistência a idosos e crianças pode ainda ser compreendido, conforme a visão da antropóloga, pelo problema do envelhecimento da população na Itália, Espanha e França e a falta de serviços do Estado para atender esse público.
A socióloga e membro do laboratório Migrinter da Universidade de Poitiers (França), Marie-Antoniette Hilly, analisando as migrações contemporâneas a partir da dinâmica do mercado de empregos, destaca o paradoxo que envolve as medidas contra as migrações tomadas pelos Estados europeus.
"Os Estados protegem suas fronteiras, mas necessitam de novos trabalhadores migrantes para suas economias", comenta a socióloga, que também estava presente no Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos. No entanto, só a mobilidade de pessoas qualificadas é encorajada.
Outro paradoxo apontado pela pesquisadora é que a globalização incentiva o intercâmbio entre as nações e a diminuição das fronteiras, enquanto o Estado tende a se proteger de acordo com a conjuntura econômica. "É preciso pensar na questão da hospitalidade e da cidadania num contexto de globalização", disse Marie-Antoniette.
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sexta-feira, 24 de abril de 2009
Desemprego pode causar convulsões sociais, diz deputado comunista português
“Posso acusar um pai ou uma mãe que se revolte e se indigne e tome atitudes porventura ilegais porque tem de dar de comer à família?”, questiona.
Ele fala de um “exército” de desempregados e explica por que teme repercussões sociais graves.
Para evitar males maiores e porque a tendência é de o desemprego aumentar, o deputado comunista aconselha o governo a seguir as recomendações do PCP e alterar o subsídio de desemprego no tempo de duração, no valor e nas condições de acesso.
Segundo ele, é preciso aumentar a dotação financeira para canalizar verbas para investimentos públicos — os que têm efeito imediato, as pequenas obras, com efeitos imediatos na economia e no emprego
Honório Novo diz que é preciso investir na recuperação patrimonial da habitação, nos centros históricos há milhares de casas por recuperar, construir habitação social é cada vez mais premente, a par das obras nas escolas e da construção de pequenas unidades de saúde e instalações para as forças de segurança
Segundo ele, o aumento do consumo das famílias, que contribui 65 por cento para o PIB, também é essencial para a manutenção de muitas pequenas e micro-empresas.
Para que isso aconteça, defende Honório Novo, é preciso aumentar os rendimentos.
As informações são da TVI
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terça-feira, 21 de abril de 2009
Palavras não bastam
O discurso do presidente Barak Obama na V Cúpula das Américas foi absolutamente claro no que diz respeito à relação que seu governo pretende ter com a América Latina: ou os países da América Latina fazem o que ele manda ou a mão do império se abaterá sobre eles. Os otimistas dirão que isso é uma loucura, que nada disso foi pronunciado e, em parte, estarão certos. A fala, assim, não foi pronunciada. Mas, como dizia Jesus, quem tem ouvidos para ouvir, ouviu.
Barak Obama é um homem cheio de bossa. É bonito, é simpático, carismático. Chegou com sorrisos, apertos de mão, disposto a ouvir inclusive aqueles que eram considerados “terroristas” pelo governo Bush, tal como Chávez e Morales. Falou depois do discursos de outros presidentes e não moveu qualquer músculo quando ouviu as críticas ao governo dos Estados Unidos e seu criminoso o bloqueio a Cuba. Mas, quando falou, foi claríssimo. Disse que ele era diferente dos presidentes anteriores e que iria promover mudanças. Pediu que o passado fosse esquecido e que agora os demais presidentes olhassem para frente. Depois, seguiu num simpático discurso de união, respeito e cooperação. Salientou quatro pontos em relação aos quais gostaria de ter a parceria amiga dos países da América Latina: a segurança, a energia, o combate ao narcotráfico e os Direitos Humanos.
Sobre Cuba a fala do “adorável” presidente não foi diferente da de qualquer outro que já passou pelo cargo. Poderia sim rever o bloqueio ou estabelecer novas relações, mas Cuba deverá “ter antes eleições livres e respeitar os direitos humanos”. Ora, qual é a diferença dos Bush pai e filho, de Reagan, de Clinton? O mesmo velho e rançoso papo da liberdade e da democracia que serve de “desculpa” para as centenas de invasões e mortes provocadas pelo país no passado que Obama pede para todos esquecerem.
Obama diz que já estendeu uma mão a Cuba liberando a remessa de dinheiro e as viagens, e que agora Cuba precisa soltar os presos políticos e entrar no rumo da democracia garantindo a liberdade de expressão. Ora, de qual democracia Obama fala? Desta em que os cidadãos só votam uma vez a cada quatro anos e quase nada sabem do que se passa no mundo? Ou a democracia cubana na qual as gentes participam dos processos decisórios desde os comitês de rua? E como falar em “soltar presos políticos” quando tem uma base de Guantánamo repleta de gente que não teve sequer direito a um julgamento, além de sofrer torturas inimagináveis? E a liberdade de expressão, o que isso quer dizer? Liberdade de empresa, como a que existe nos EUA? Se esquecermos o passado podemos até pensar que a fala de Obama pode ter alguma novidade. Mas, é possível esquecer?
As quatro metas
Outros elementos do discurso de Obama devem servir para colocar a América latina com as barbas de molho, mesmo aqueles que decidirem “esquecer o passado” de invasões, mortes, golpes de estado e intervenções clandestinas via CIA. O presidente dos Estados Unidos quer definir uma política de segurança para o Continente. Vamos então observar as letras pequenas. Quando o império fala em segurança o que está querendo dizer? Que deverá, com certeza, reforçar sua ocupação nos chamados “países falidos”, aqueles que estão em tal estado de caos e de descontrole (muitas vezes provocados pelos EUA) e que já não conseguem governar sem ajuda.
Hoje os Estados Unidos já cercam militarmente todas as riquezas da América Latina. Há uma base militar em Manta no Equador, outras duas na Colômbia, em Três Esquinas e Letícia e uma em Iquitos, no Peru. Estas quatro controlam toda a regiaõ Amazônica. Existem ainda as bases de Rainha Beatrix, em Aruba e a de Hato, em Curaçao. Estas duas estão praticamente na frente da Venezuela e podem ser de grande valia num momento de ocupação da região do petróleo. E, na América Central tem a base de Comalapa, em El Salvador, a de Vieques, em Porto Rico, a de Soto do Cano, em Honduras e a de Guantánamo, em Cuba. Agora, para fechar a completa dominação os Estados Unidos desejam estabelecer uma base na Terra do Fogo, na Argentina, e outra no Brasil. Será que Lula vai permitir? Isso sem falar nas andanças da Quarta Frota pelo litoral da América Latina numa mostra aviltante do seu poderio militar. Quando fala em cooperação na segurança é disso que fala Obama: a segurança do seu país na dominação das riquezas desta que é a maior reserva energética do planeta: a América Latina.
Aí chegamos ao segundo ponto: a energia. Os Estados Unidos são quase completamente dependentes do petróleo. O consumo alucinado do império não sobrevive muito tempo sem o óleo negro do oriente médio e da Venezuela. Daí que encontrar caminhos para uma energia alternativa tem muito mais a ver com a sustentação do país do que com salvar o planeta. E aí, a “cooperação” da América Latina também é muito interessante. Aqui, nas terras que ficam abaixo do rio Bravo estão as maiores riquezas do mundo. Há petróleo em abundância, há florestas, biomassa, biodiversidade, biocombustíveis, gás, minerais, enfim, um inesgotável mundo de opulência que torna este espaço geográfico muito cobiçado. Não é sem razão que o continente está cercado. Porque afinal, se faltar cooperação, sempre há a possibilidade de uma ação armada.
O combate ao narcotráfico é outra desculpa do império para interferir na vida política e econômica dos países da América Latina. Segundo estudiosos da política dos Estados Unidos, tais como John Saxe-Fernández e Marco Gandásegui, a disseminação das drogas pelos países da periferia capitalista nada mais é do que uma bem pensada forma de torná-los ingovernáveis. Com as drogas e todo o esquema de poder paralelo que se estabelece vai se criando o que os fazedores de caos chamam de “estados falidos”. Sem controle sobre o crescente narcotráfico, os países acabam precisando da providencial “ajuda” dos Estados Unidos. Este tipo de coisa é bem comum na história recente como, por exemplo, no Afeganistão, onde a produção de drogas triplicou depois da ocupação dos Estados Unidos. A mesma coisa se verifica na Colômbia, conforme conta o jornalista Hernando Calvo Ospina. Ali, com todo o aparato militar estadunidense a produção de cocaína cresceu vertiginosamente. “Na verdade, os militares estão ali para combater os grupos de libertação e para garantir o controle das riquezas”.
O terceiro ponto do discurso de Barak Obama foi a necessidade dos países da américa baixa respeitarem os direitos humanos. Isso soa muito familiar. Quem não se lembra das falas messiânicas de Bush pouco antes de invadir o Iraque? Para lá mandava seus soldados na tentativa de “salvar” o povo iraquiano que vivia torturado pelo ditador Sadan Hussein. Seguindo a máxima de “esquecer o passado”, em nenhum momento o presidente Bush lembrou aos seus conterrâneos que o “sanguinário ditador” tinha aprendido a ser assim com os militares dos EUA, afinal, durante muito tempo Sadan tinha sido pupilo da CIA. E, assim como ele, o famoso Bin Laden a quem se atribui a destruição das torres que deu origem ao banho de sangue de Bush no Oriente Médio. Podemos ainda lembrar da Escola das Américas que desde 1946 vem ensinando como assassinar, torturar, destruir e desmontar a mente de um prisioneiro. Hoje ela aparece, instalada no Forte Benning, estado da Geórgia, com um nome mais inocente – Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança – mas seus objetivos seguem os mesmos. Esta é a política do presidente Obama para segurança e direitos humanos?
O futuro
A Cúpula das Américas terminou com abraços, sorrisos e destensionamento de relações humanas. Obama falou com Chávez, Chávez deu um livro para Obama. Os chefes de estado se comportam amigavelmente porque assim pede o protocolo. Mas, isso não significa que as relações entre os países sejam exatamente iguais. Tanto que, há poucos dias da cúpula, na Bolívia, as garras da velha águia tentaram o assassinato do presidente Evo Morales usando as figuras de sempre, mercenários a soldo. Nada mudou. Para aqueles que não estão dispostos a esquecer o passado, este tipo de ação, normalmente controlada pela CIA, já foi responsável pela deposição de presidentes, golpes de estado etc... Tudo como manda o manual de desestabilização dos países que caminham numa outra direção que não a que ordena o império.
A alienada cobertura da mídia brasileira aos fatos que envolvem o novo presidente dos Estados Unidos também não é novidadeira. Desde sempre a elite do Brasil olhou com bons olhos a “paternal” ajuda do país do norte na política e na economia. Para essa gente, acostumada a drenar o sangue da maioria da população, não há problema nenhum em ser fiel gerente do império. As migalhas que dele sobram são suficientes para alimentar-lhes a vida boa. Então, não é sem razão que os telejornais e os jornalões saúdem a V Cúpula como um momento de glória para Obama, o simpático.
Já para aqueles que sabem que o passado não pode ser esquecido sob pena de trágica repetição, o encontro não trouxe muitas novidades. Estas só poderão serão percebidas na prática cotidiana. Os dias passarão e o governo dos Estados Unidos, agora sob a batuta de Obama terá de provar, com ações reais e concretas, que mudou. Antes disso, são só palavras e estas, bem o sabemos, o vento leva.
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sábado, 11 de abril de 2009
Abandonar o crescimento, abandonar o capitalismo
Se há algo que devemos reconhecer no capitalismo é o mérito de haver proporcionado as melhorias, provavelmente, mais acentuada no nível de vida do homem nos centros civilizados da Terra desde o início da história, um fenômeno que ocorre na Holanda e Inglaterra desde século XVIII. É então, no momento em que esses países começam a experimentar uma forte e persistente melhora na riqueza, quando a economia se converte pela primeira vez em matéria de estudo. Mas também devemos lembrar que só uma parte muito pequena dos habitantes do planeta vai beneficiar-se desta melhoria nas condições de vida, e que vai ser o processo de acumulação primitiva — possível graças ao perverso sistema de relações políticas do Antigo Regime —, que levou a ela.
Ao basear-se na acumulação ilimitada e maximização do lucro, o capitalismo é um sistema de produção condenado ao crescimento. No entanto, se trata de um crescimento desigual que fomenta a injustiça. A "lei de bronze dos salários", um dos princípios sobre os quais vai fundamentar-se a moderna ciência econômica, e, portanto o próprio capitalismo, postula que qualquer aumento dos salários deve ser precedido por um aumento dos lucros (da mesma forma como tinha sido o anterior processo de acumulação primitiva, que havia permitido um aumento inicial do nível de vida). A relação entre capitalismo e crescimento é tão estreita que, quando não pode crescer, o sistema mergulha na crise. Esta foi a origem da grande convulsão que teve lugar após a quebra de 1929, crise que também foi provocada, combinada com a estagnação econômica, pela geração de uma série de contradições internas (excesso de endividamento, bolha financeira).
O keynesianismo, uma falsa solução
Neste contexto de crise está começando a chamar mais atenção à falta de segurança provocada pelo capitalismo. Assim, a insegurança econômica, que durante muito tempo havia sido considerada como uma exigência fundamental da produção econômica crescente e eficiente, vai levando, progressivamente, a uma maior preocupação pela segurança, que vai se traduzir na aplicação de uma série de medidas (segurança social, subsídios, etc.) que servem para proteger o poder aquisitivo dos consumidores (fortalecendo, desta maneira a demanda interna) e impedir novas depressões. Por outro lado, a progressiva disseminação de idéias keynesianas faz com que se imponham como o principal objetivo da política econômica a curto prazo o crescimento e o pleno emprego, embora isso signifique um endividamento transitório do Estado.
Tanto as políticas keynesianas com a planificação estatal implantada desde os anos trinta do século XX, e já de maneira mais generalizada após a Segunda Guerra Mundial vai propiciar um acentuado crescimento econômico que vai gerar, nos anos sessenta, a sociedade de consumo. Tal como Galbraith se destacou neste novo cenário, a preocupação keynesiana em elevar a produção já não tinha como resposta a redução do desemprego, mas o crescimento da oferta de bens: aumentar a produção significava um aumento ainda maior da oferta de bens, e porque essa oferta pode ser absorvida pelos consumidores vai generalizar-se o pagamento à prazo e o sistema de endividamento (que foi precisamente uma das causas que levaram à quebra de 1929), bem como a publicidade.
O mais obsceno é que essa opulência convive junto com a miséria e a exploração política do Terceiro Mundo. Tal como expressava Frantz Fanon, uma das vozes de referência da periferia durante os anos sessenta, era ridículo que na época do Sputnik houvesse alguém que morresse de fome. À ânsia de melhora econômica e libertação anticolonial do Terceiro Mundo criava-se, nos países industrializados, a percepção de que um mundo sem fome e opressão já não era nenhuma quimera, mas algo tecnicamente viável: como postulava Marcuse, estávamos frente ao "fim da utopia". É esta percepção que explica em grande parte a radicalização política de finais dos anos sessenta.
Quatro décadas depois, a situação é ainda mais preocupante: apesar de a aplicação de políticas neoliberais desde os anos oitenta tem sido acompanhada por um crescimento econômico generalizado, as desigualdades entre países ricos e pobres têm aumentado significativamente (se em 1960 20% dos habitantes mais ricos do planeta possuíam 70% das receitas, em 2004, possuíam 83%; com relação aos 20% mais pobres, a sua participação na riqueza passou, no mesmo período, de 2,3% para 1.4%).
Sair da armadilha
Apesar da evidência dos números, a equação entre crescimento e desigualdade segue sem atrair a atenção dos governantes. E, apesar de algumas regras de ouro do neoliberalismo começarem a ser questionadas no atual contexto de crise, — é o caso do Banco Central Europeu, preocupado apenas pela contenção da inflação, que foi questionada pelo próprio presidente da União Européia, Nicolas Sarkozy —, não é através de um retorno à política keynesiana, — por outro lado improvável —, que se atenuarão os efeitos negativos do capitalismo e do seu irmão gêmeo, o crescimento, que nos leve à destruição do planeta (tal como nos lembra Latouche, crescimento infinito é incompatível com um planeta finito).
Para alguns, a resposta para os problemas que temos levantado passa por limitar a população mundial. É o ponto de vista, por exemplo, Jeffrey Sachs, economista e diretor do Projeto Milênio das Nações Unidas entre 2002 e 2006, que acredita que com a tecnologia disponível atualmente não é possível alimentar os 6,7 bilhões de pessoas da Terra sem gerar graves ameaças para o meio ambiente. No entanto, as evidentes restrições à liberdade que implica uma política malthusiana e os problemas sociais que podem gerar (o caso da China nos serve de advertência) faz com que não represente uma alternativa a considerar.
Tampouco os avanços tecnológicos constituem uma solução. Por um lado, porque a eficiência tecnológica dos países ricos é, em parte, devido à relocalização de uma parte da sua base industrial nos países em desenvolvimento. E, por outro, porque um aumento na eficiência tecnologica tem como conseqüência não intencional causar um aumento no consumo (o que os economistas chamam de "efeito rebote" ou "paradoxo de Jevons").
Sair da armadilha significa ir mais além, implica uma mudança radical da mentalidade e da adoção de um estilo de vida mais austero: os problemas que trazem à economia global os países em desenvolvimento com grandes populações como a China ou Índia que pretendem agora se alimentar com filet — assim expressava José María Sumpsi, Subdiretor-Geral da FAO — evidenciam que os padrões de consumo dos países ricos são insustentáveis e não podem ser generalizados. O primeiro passo que temos para dar, então, a partir de partes do mundo que vivem na opulência e com desperdício para tentar mostrar que essa conduta deve servir de exemplo, é procurar construir um sistema de produção que abandone para sempre a obsessão do máximo lucro e da acumulação ilimitada. O que significa abandonar o próprio capitalismo.
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O Velho Comunista
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