Além do Cidadão Kane

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Indignação com as laranjeiras

Luiz Carlos Bresser-Pereira
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Há uma semana, duas queridas amigas disseram-me da sua indignação contra os invasores de uma fazenda e a destruição de pés de laranja. Uma delas perguntou-me antes de qualquer outra palavra: "E as laranjeiras?" -como se na pergunta tudo estivesse dito.

Essa reação foi provavelmente repetida por muitos brasileiros que viram na TV aquelas cenas. Não vou defender o MST pela ação, embora esteja claro para mim que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é uma das únicas organizações a, de fato, defender os pobres no Brasil. Mas não vou também condená-lo ao fogo do inferno. Não aceito a transformação das laranjeiras em novos cordeiros imolados pela "fúria de militantes irracionais".

Quando ouvi o relato indignado, perguntei à amiga por que o MST havia feito aquilo. Sua resposta foi o que ouvira na TV de uma das mulheres que participara da invasão: "Para plantar feijão". Não tinha outra resposta porque o noticiário televisivo omitiu as razões: primeiro, que a fazenda é fruto de grilagem contestada pelo Incra; segundo, que, conforme a frase igualmente indignada de um dos dirigentes do MST publicada nesta Folha em 11 deste mês, "transformaram suco de laranja em seres humanos, como se nós tivéssemos destruído uma geração; o que o MST quis demonstrar foi que somos contra a monocultura".

Talvez os dois argumentos não sejam suficientes para justificar a ação, mas não devemos esquecer que a lógica dos movimentos populares implica sempre algum desrespeito à lei. Não deixa de ser surpreendente indignação tão grande contra ofensa tão pequena se a comparamos, por exemplo, com o pagamento, pelo Estado brasileiro, de bilhões de reais em juros calculados segundo taxas injustificáveis ou com a formação de cartéis para ganhar concorrências públicas ou com remunerações a funcionários públicos que nada têm a ver com o valor de seu trabalho.

Por que não nos indignarmos com o fenômeno mais amplo da captura ou privatização do patrimônio público que ocorre todos os dias no país? Uma resposta a essa pergunta seria a de que os espíritos conservadores estão preocupados em resguardar seu valor maior -o princípio da ordem-, que estaria sendo ameaçado pelo desrespeito à propriedade.

Enquanto o leitor pensa nessa questão, que talvez favoreça o MST, tenho outra pergunta igualmente incômoda, mas, desta vez, incômoda para o outro lado: por que os economistas que criticam a suposta superioridade da grande exploração agrícola e defendem a agricultura familiar com os argumentos de que ela diminui a desigualdade social, aumenta o emprego e é compatível com a eficiência na produção de um número importante de alimentos não realizam estudos que demonstrem esse fato?

A resposta a essa pergunta pode estar no Censo Agropecuário de 2006: embora ocupe apenas um quarto da área cultivada, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção e emprega quase três quartos da mão de obra no campo.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, nesta Folha listou esses fatos e afirmou que uma "longa jornada de lutas sociais" levou o Estado brasileiro a reconhecer a importância econômica e social da agricultura familiar. Pode ser, mas ainda não entendo por que bons economistas agrícolas não demonstram esse fato com mais clareza. Essa demonstração não seria tão difícil -e talvez ajudasse minhas queridas amigas a não se indignarem tanto com as laranjeiras.
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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
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Publicado em MST

sábado, 17 de outubro de 2009

Brasil é apontado como exemplo no combate à fome no mundo

No Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, a FAO e a Action Aid divulgaram estudos sobre a situação da fome no mundo. As duas organizações destacaram a qualidade das políticas implementadas pelo governo brasileiro no combate à fome e à pobreza. Em 2009, segundo a FAO, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em situação de subnutrição. Situação piorou depois da crise econômica mundial. A produção mundial de alimentos deve aumentar em 70% nos próximos 40 anos para suprir a demanda crescente, adverte a FAO.

Redação - Carta Maior

No dia 16 de outubro, a organização não-governamental ActionAid, que trabalha em mais de 40 países no combate à pobreza, divulgou documento afirmando que o Brasil é o líder no combate à fome entre os países em desenvolvimento. Segundo o documento, lançado no Dia Mundial da Alimentação, o Brasil demonstra “o que pode ser atingido quando o Estado tem recursos e boa vontade para combater a fome”. A ActionAid elaborou uma lista a partir de pesquisas sobre políticas sociais contra a fome aplicadas por governos de 50 países. A partir dessa análise, construiu dois rankings, um dos países desenvolvidos (liderada por Luxemburgo) e outra dos países em desenvolvimento (liderada pelo Brasil).

Em seu estudo, a organização elogia os esforços do governo brasileiro em adotar programas sociais para lidar com o problema da fome no país, destacando os programas Bolsa Família e Fome Zero. “O Fome Zero lançou um pacote impressionante de políticas para lidar com a fome – incluindo transferências de dinheiro, bancos de alimentação e cozinhas comunitárias. O projeto atingiu mais de 44 milhões de brasileiros famintos”, diz o documento. Além disso, acrescenta, o programa ainda ajudou a reduzir a subnutrição infantil em 73%.

Para a ActionAid, o Brasil é exemplar no exercício do direito ao alimento. A entidade cita a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan 2006) e a criação do Ministério do Combate à Fome como medidas de que exemplificam que o direito à alimentação está sendo cada vez mais reconhecido como direito fundamental. Por outro lado, ressalta, o Brasil ainda tem áreas em que pode melhorar, como o desafio de incluir os trabalhadores sem terra e pequenos agricultores nos programas sociais de alimentação. “É imperativo que famílias em pequenas fazendas também estejam protegidas da expansão dos enormes programas industriais de biocombustíveis do Brasil”, diz o documento.

Mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo

A agência da ONU para alimentação e agricultura, FAO, estima que 1,02 bilhão de pessoas viveram em estado de subnutrição no mundo todo em 2009. Segundo a organização, o número de pessoas em situação de fome estava crescendo mesmo antes da crise mundial e, depois dela, a situação só piorou. Esse levantamento indica a existência de mais pessoas com fome do que em qualquer outra época desde 1970 e uma piora das tendências que já estavam presentes antes mesmo da crise econômica, avalia a FAO. “A meta da Cúpula Mundial sobre Alimentos (de 1996), de reduzir o número de pessoas subnutridas pela metade, para não mais do que 420 milhões até 2015, não será alcançada se as tendências que prevaleceram antes da crise continuarem”, diz documento divulgado pela entidade no dia 16 de outubro.

Ainda segundo a FAO, as regiões da Ásia e Oceano Pacífico têm o maior número de pessoas subnutridas, 642 milhões, seguidas pela África Subsaariana, com 265 milhões de pessoas. O Índice Global de Fome, pesquisa publicada pela Unidade Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), revelou que a República Democrática do Congo foi o país com o maior aumento da fome desde 1990, seguido por Burundi, Comores (arquipélago no Oceano Índico) e o Zimbábue.

A produção mundial de alimentos deve aumentar em 70% nos próximos 40 anos para suprir a demanda crescente, adverte a FAO. A agência estima que os governos de países em desenvolvimento precisam passar a investir anualmente US$ 44 bilhões em agricultura para alimentar uma população que calcula-se que será de 9 bilhões de pessoas em 2050. Hoje, este investimento é da ordem de US$ 7,9 bilhões. As mudanças climáticas e o êxodo para as cidades também devem contribuir para a falta de alimentos nos próximos anos, diz estudo da entidade.

A crise econômica reduziu a ajuda estrangeira e o investimento em países mais pobres, além de diminuir o envio de dinheiro dos que trabalham em países mais ricos. Diante desse quadro, a FAO fez um apelo por um maior esforço internacional para diminuir a fome no mundo e também para garantir mais investimentos em agricultura e dispositivos de segurança para a economia em países mais pobres. Além disso, alerta para uma crise no preço dos alimentos, que se estabilizaram em um nível muito alto para muitas pessoas em países em desenvolvimento. Como solução para esses problemas, a entidade defende, entre outras medidas, dar mais poder para mais mulheres nos países em desenvolvimento, por meio de educação e mais acesso a empregos.

Por outro lado, assinala a organização, alguns países apresentaram uma melhora dramática nos níveis de subnutrição desde 1990, incluindo aí o Brasil, o Vietnã, a Arábia Saudita e o México. Ao citar as medidas adotadas pelo Brasil para a melhora nos níveis de subnutrição, a FAO cita programas do governo como o Fome Zero, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e também o aumento do salário mínimo.

Bolsa Família aumenta escolaridade da população

Dados divulgados esta semana pelo governo federal confirmam as avaliações da FAO e da Action Aid no que diz respeito à relação entre o combate à fome e a melhoria da qualidade de vida da população.

Cerca de 500 mil jovens e adultos beneficiários do Bolsa Família ou que estão no Cadastro Único foram alfabetizados em 2006 e 2007. O percentual de pessoas cadastradas atendidas por programas de alfabetização aumentou de 21,9%, em 2006, para 33,8% em 2007. A articulação do MDS com o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), do Ministério da Educação, possibilitou que essas pessoas iniciassem os estudos ou voltassem às salas de aula. Dos 536.289 alfabetizados no período, 379.465 são atendidos pelo programa de transferência de renda.

A ligação do Bolsa Família com a educação faz parte do desenho institucional do programa. Os beneficiários precisam manter os filhos na escola e cumprir uma agenda básica de saúde. O objetivo é estimular acesso da população pobre aos serviços básicos de educação e saúde para melhorar as condições de vida desse público. Segundo análise feita pelo coodernador-geral do Bolsa Família, Franco Bernardes, da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania do MDS, o Nordeste - região com os maiores índices de analfabetismo (24% dos beneficiários) - está investindo mais na educação de seus habitantes. A região responde por 88% dos beneficiários alfabetizados nos dois anos.

A comparação entre Estados mostra que Alagoas obteve o maior desempenho, com a alfabetização de 29% de pessoas atendidas pelo Bolsa Família. Ceará e Pernambuco vêm logo em seguida com 23% de beneficiários alfabetizados. Na região Sudeste, Minas Gerais responde por 70% dos beneficiários alfabetizados. No Norte, somando Pará, Amazonas e Acre, os três Estados alcançam 78% das pessoas atendidas pelo Bolsa Família na região.
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Via Campesina recebe prêmio nos EUA

Durante a Conferência anual da Coligação da Segurança Alimentar Comunitária (CFSC) celebrada em Des Moines, Iowa, entre 10 e 13 de outubro, a Via Campesina recebeu o prêmio 2009 da Soberania Alimentar por sua incansável luta pela garantia de alimentos aos povos do mundo e contra o desastroso sistema neoliberal da agricultura industrial.

Diante de centenas de delegados de diversos países, Dena Hoff, da região da América do Norte, e Edgardo García, da região da América Central, receberam o prêmio das mãos de Molly Anderson, presidente da CFSC. Durante a entrega, Anderson destacou o empenho mundial da Via Campesina na criação de um sistema alimentício mais democrático, que possa resolver o sério problema do aumento da fome no planeta.

Dena Hoff, agricultora de Montana e dirigente da Coligação Nacional de Granjeiros Familiares (NFFC), agradeceu em nome dos milhões de camponeses, mulheres, povos indígenas, trabalhadores rurais migrantes e jovens a distinção recebida, e reafirmou o compromisso da Via Campesina em seguir trabalhando até alcançar a soberania alimentar em todos os cantos do planeta.

Edgardo García, dirigente da Associação de Trabalhadores do Campo (ATC) da Nicarágua, agradeceu a solidariedade dos presentes e os convocou a levar a cabo transformações profundas através da luta pela soberania alimentar, para assegurar que ninguém passe fome, que a comida de que precisam os povos não esteja em mãos das corporações ambiciosas que apenas buscam lucros, e para criar sociedades verdadeiramente democráticas, mais justas e dignas. García levantou o espírito da conferência quando leu uma mensagem de Rafael Alegría, dirigente da Via Campesina em Honduras e dirigente da Frente Nacional da Resistência contra o Golpe, para chamar a solidariedade concreta do povo norte-americano à heróica luta do povo hondurenho. “Este prêmio”, disse García, “vai para Honduras a acompanhar a luta camponesa e popular”.

Este prêmio é o primeiro que a CFSC entrega durante sua conferência anual. A decisão de outorgá-lo à Via Campesina é um reconhecimento do pioneirismo da entidade por cunhar o conceito de soberania alimentar como alternativa ao modelo neoliberal que segue aumentando a fome, destruindo economias camponesas e deslocando povos indígenas, e que levou ao controle de alimentos por um punhado de corporações multinacionais – culminando em uma crise que ameaça a toda a humanidade.
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Original em MST

terça-feira, 23 de junho de 2009

Grãos aumentam até 115% devido a produção de bicombustíveis

Nos últimos dois anos, segundo o Banco Mundial, caíram na pobreza entre 130 e 155 milhões de pessoas
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O milho e o arroz, dois dos pilares fundamentais da alimentação dos povos mais pobres do mundo, aumentaram entre 50 a 115 por cento, respectivamente, com relação ao preço que tinham antes que a demanda de grãos aumentara para ser utilizados na fabricação de bicombustíveis, segundo dados do Banco Mundial (BM).
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O organismo mundial advertiu que entre 130 e 155 milhões de pessoas caíram na pobreza em todo o mundo nos últimos dois anos, período em que a crise desencadeada pela alta no preço dos alimentos se somou ao incremento na demanda dos combustíveis e à maior recessão econômica em 70 anos.
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"Os preços de alimentos em muitos países não baixaram, mesmo quando se observam diminuições nas cotizações dos mercados internacionais de grãos", expôs o Banco Mundial.
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O BM acrescenta que no caso da América Latina, uma região que tradicionalmente é exportadora nata de alimentos, a inflação no custo dos alimentos se mantém, algo que está afetando o salário, nutrição e saúde das populações mais pobres da região.
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Na sexta-feira passada, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelou que um em cada seis habitantes do planeta passa fome todos os dias, o maior número na historia da Humanidade.
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A falta de alimento nas mesas de um bilhão e vinte milhões de pessoas em todo o mundo, 100 milhões mais que no ano anterior é provocada pela crise do capitalismo mundial, que tem causado por sua vez uma diminuição nos rendimentos dos mais pobres e um aumento no desemprego, segundo informação da FAO, difundido na sexta-feira em Roma, Itália.
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Em meados de 2008, antes que a crise hipotecaria e bancária estadunidense se convertesse em mundial, os habitantes dos países mais pobres do planeta estavam sendo vítimas de outro tipo de crise, a dos alimentos, cujos preços aumentaram notavelmente.
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Este aumento era provocado sobre tudo pelo uso dado aos grãos alimentícios para produzir bicombustíveis, em um momento em que os preços do petróleo alcançavam máximos históricos. A crise econômica só contribuiu para agravar os problemas que milhões de pessoas tinham para adquirir alimentos.
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Outro dos aspectos que tem contribuído para piorar a situação dos países em vias de desenvolvimento, e que é ocasionada diretamente pelo desastre financeiro internacional, é a diminuição no envio de remessas, que em países da Centro América, Caribe, sul da Ásia e África, representa uma das principais fontes de renda familiar.
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O Banco Mundial prevê uma redução das transferências de migrantes aos países em desenvolvimento de 5 a 8 por cento aproximadamente em 2009. Isto significa que os receptores de remessas disporão entre 14 bilhões e 23 bilhões de dólares menos este ano, em comparação com 2008.
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A redução tem relevância devido a que nos anos anteriores se registraram taxas de crescimento anual de remessas de até 20 por cento, como é o caso do México, país em que o último dado disponível, no primeiro quadrimestre deste ano, mostra uma variação negativa de 3 por cento no ingresso deste fluxo de recursos.
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Normalmente, as remessas resistiam às comoções e muitas vez inclusive se incrementavam durante as crises econômicas nos países receptores. É pouco provável que os efeitos anticíclicos dessas transferências se repitam nesta ocasião devido à dimensão mundial da atual recessão, segundo o informe da FAO.
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Traduzido por Rosalvo Maciel

sábado, 20 de junho de 2009

Nafta destrói a agricultura e gera crise alimentar no México

A crise alimentar no México vai piorar nos próximos meses segundo alertou a Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara de Deputados mexicana.Documento da Comissão, divulgado no dia 16, denuncia que o país deixou de ser autosuficiente em produtos alimentares, particularmente milho, sorgo e arroz e agora depende das importações dos EUA. Uma situação que vem degenerando desde a implantação do NAFTA (sigla em inglês para o tratado de livre comércio establecido pelo México com os EUA).

Quase 100% dos grãos são importados dos EUA o que conecta os mexicanos de forma dependente à atual crise econômica vivida pela economia norte-americana. Isto porque os recursos para a importação vinham das exportações aos EUA, o que diminuiu com a redução drástica da atividade produtiva do vizinho do México ao norte. Hector Padilha, do partido PRI, alertou que a questão alimentar já se tornou questão de segurança nacional.

A Comissão destacou ainda que o México também foi atingido pela onda especulativa nos preços dos alimentos nos anos recentes.

A Confederação Nacional Camponesa (CNC) destacou que além do perigo de desabastecimento alimentar, a crise no setor também está afetando os camponeses uma vez que a importação levou o desemprego a se alastrar no campo. Afetados foram os setores agrícola e também a pecuária.

O presidente da Câmara dos Deputados, César Duarte, que também integra a CNC, denunciou o aumento da pobreza e a consequente migração.

Além disso, denuncia o deputado, o pequeno apoio à atividade rural vai para os grandes empresários do setor: “A maior parte do apoio concedido pelo Governo Federal é canalizado para os grandes empresários apesar destes representarem somente 5% do mundo rural”.
Original em Hora do Povo

1,2 bilhões de pessoas passam fome no mundo

O aumento do preço dos alimentos que ocorreu a partir do surgimento da crise econômica internacional, é um dos fatores aos quais se atribui o recorde no aumento do número de pessoas que passam fome no mundo. A atual situação financeira e o preço da comida foi classificada como uma "perigosa mescla" pelo diretor da FAO, Jacques Diouf.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), denunciou nesta sexta-feira que uma de cada seis pessoas no mundo passa fome, o que equivale a 1,2 bilhões de cidadãos, quantidade que aumentou nos últimos meses em comparação com cifras anteriores, pela crise econômica mundial, segundo destaca o organismo.
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O diretor da FAO, Jacques Diouf, e a diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Josette Sheeran, assistiram nesta sexta-feira a uma conferencia de imprensa, na qual apresentaram os resultados da crise econômica global e os altos preços dos alimentos sobre o problema da fome no mundo.
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Segundo os dados publicados nos meios de comunicação, além de registrar-se um aumento das pessoas com fome no mundo, desde há três anos se tem elevado a percentagem da população mundial que se encontra nessa circunstancia.
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Diouf afirmou que pela "perigosa mescla de crise econômica e altos preços dos alimentos" o ano passado 100 milhões de pessoas entraram na categoria de famintos. Este fato supôs "um aumento de 11 por cento".
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Assinalou que ao problema se soma os baixos salários e o crescente desemprego, que reduzem as possibilidades das pessoas de baixos recursos de adquirir alimentos.
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O funcionário definiu a situação como uma silenciosa crise que ameaça a paz mundial e a segurança.
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"Não podemos ser indiferentes ante a presente situação da insegurança alimentar no mundo", insistiu Diouf.
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Diouf se mostrou esperançoso na próxima conferencia mundial sobre alimentos que ocorrerá em Novembro deste ano, para abordar o tema e acatar as soluções a respeito.
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Propôs que se trabalhe em "uma nova ordem alimentar mundial".
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Tanto Diouf, como a diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Josette Sheeran e o representante do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Matthw Wyatt, se mostraram de acordo em que a crise alimentar não se deve "a uma falta de conhecimentos".
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Sheeran informou que sua organização leva a cabo programas nos quais não se oferece comida aos necessitados, apenas lhes entregam vales para que comprem alimentos "nos mercados locais".
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A representante do PMA disse que "com só 1 por cento ou menos dos pacotes de estímulo" que os governos de todo o mundo programaram para sair da crise, se pode estabilizar a situação alimentar.
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Traduzido por Rosalvo Maciel
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Original em Telesur

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Desnutrição golpeia crianças colombianos

Apesar de ser um país produtor de alimentos, Colômbia exibe hoje cifras alarmantes de desnutrição em sua população infantil, cujo flagelo provoca anualmente em média a morte de cinco mil crianças menores de cinco ano.
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O Fundo de Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar (ICBF) qualificaram como grave a crise pela falta de alimentos para os infantes, sobretudo nas zonas rurais do país.
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Conforme com a diretora do ICBF, Elvira Forero, 12 em cada 100 famílias colombianas não estão em condições de garantir a alimentação de seus filhos, enquanto 17 em cada 100 padecem desnutrição no campo.
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Em tanto, oito em cada 100 crianças apresentam problemas de sob peso, o qual constitui uma ameaça para seu normal crescimento e desenvolvimento, segundo a fonte.
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Por sua vez, o representante da UNICEF na Colômbia, Paul Martin, advertiu que ao redor da terceira parte da mortalidade infantil de menores de cinco anos esta relacionada com a desnutrição.
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Estas cifras evidencian um facrasso da responsabilidade familiar, então o que se precisa é um plano de sensibilização, de priorização e que dentro deste palco o Estado responda, sublinhou.
Martin também assegurou que cerca de 12% da população infantil na Colômbia apresenta desnutrição crônica.
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Não vão morrer, mas sim sofrerão mentalmente e por isso estas crianças não vão estar em capacidade de oferecer à sociedade colombiana o cem por cento de suas habilidades, disse, depois de manifestar sua preocupação pelas estatísticas reveladas.
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A sua vez, informou que em um estudo realizado pela UNICEF na Colômbia desde o ano 2005, se descobriu que existem menores com sintomas de desnutrição a partir de três anos de idade.
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Ao resumir as funestas conseqüências deste flagelo, Martin indicou que essas crianças apresentarão cérebros atrofiados, pelo que exortou ao governo nacional e as prefeituras locais a prestar atenção a essa população.
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Uma criança que em seus três primeiros anos não seja alimentado de forma devida é uma pessoa que poderia ser improdutiva em toda sua vida, enfatizou.
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Colômbia como produtor principal de alimentos não pode deixar morrer crianças por causa da desnutrição, disse.
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As fontes também revelaram que os departamentos com maior incidencia pela baixa alimentação são Chocó, Boyacá, Guajira, Cauca, Cesar, Amazonas, Nariño, Casanare e Caldas.
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Esta problemática será analisada nos dias 3 e 4 de junho próximos durante o VIII Encontro de Governadores pela Infância, a Adolescência e a Juventude, que terá lugar em Bucaramanga, departamento de Santander.
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Em dita cita os governadores tratarão em torno das políticas públicas de segurança alimentária em suas respectivas regiões a fim de diminuir este flagelo.
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Além da fome, as crianças colombianos também sofrem de violência, abandono e pobreza.
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Segundo fontes especializadas, em 2005 apresentaram-se uns 29.900 casos de maltrato infantil, o qual supera as estatísticas de delitos como furto, lesões e seqüestros.
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Em tanto, mais de quatro milhões de infantes no país vivem na pobreza e não contam com serviço de saúde, educação e alimentação adequada, de acordo com cifras dadas a conhecer pelo Departamento Administrativo Nacional de Estatística.
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A todo isso se soma o flagelo da deslocação forçada interna, onde mais de 900 mil famílias se viram obrigadas a abandonar seus lugares de origem.
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Texto: Prensa Latina
Publicado em Pátria Latina

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ONU: crise provoca fome em mais de 100 milhões

Jornal do Commercio, PE

Mais de 104 milhões de pessoas passarão fome em todo o mundo em 2009 por causa da crise econômica, elevando o número de subnutridos a quase um bilhão, declarou ontem Jacques Diouf, diretor da agência da ONU para a Alimentação e a agricultura (FAO).

“Estimamos que mais 104 milhões de pessoas não terão este ano um acesso adequado à alimentação devido à crise econômica e financeira”, disse Diouf durante uma entrevista coletiva em Paris.

“Assim, quase um bilhão de pessoas ficarão privadas de seu direito fundamental à alimentação”, acrescentou, destacando que este número é o mais elevado da história.

Em 2008, o número de pessoas subalimentadas aumentou 40 milhões por causa da disparada dos preços dos produtos alimentares, lembrou Diouf, frisando que o aumento foi de 75 milhões em 2007.

A "insegurança alimentar" afeta principalmente 32 países no mundo que precisam de uma "ajuda urgente", insistiu o diretor da FAO, afirmando que a produção alimentícia mundial tem que ser "multiplicada por dois". Diouf também exortou os países ricos a cumprirem suas promessas e em matéria de ajuda aos países pobres. "Não se pode comparar o trilhão de dólares concedido pelos governos para resgatar o setor financeiro com as somas que são necessárias para permitir às pessoas satisfazerem sua necessidade mais fundamental, o ato de se alimentar".
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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Índios da Raposa/Serra do Sol negociam parceria com MST

Índios da terra indígena Raposa/Serra do Sol, no nordeste de Roraima, negociam uma parceria com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) para aumentar a produção agrícola da área.

O CIR (Conselho Indígena de Roraima) afirmou que foi procurado por representantes dos sem-terra no final do ano passado, logo após a primeira fase do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal), que confirmou a demarcação contínua da reserva e determinou a saída dos não índios. A operação de retirada começou na semana passada e deve durar 30 dias.

Segundo Dionito de Souza e Djacir Melquior, do CIR, os sem-terra propõem dar assistência técnica gratuita para desenvolver o plantio de arroz orgânico --sem uso de agrotóxicos e sementes transgênicas.

No mês passado, dois técnicos do MST do Rio Grande do Sul foram até a Raposa, onde avaliaram as condições para desenvolver esse tipo de cultura, já praticada em larga escala pelos sem-terra gaúchos.
Também deram uma espécie de palestra para alunos de uma escola técnica indígena, dentro da reserva, e se ofereceram para doar sementes de arroz. Souza disse serem mil sacas. Melquior falou em 500.

O próximo passo do acordo, cuja data ainda não foi marcada, deve ser a visita de uma comissão de índios a assentamentos. Se as sementes forem doadas, um técnico irá até Roraima para assessorar sua utilização.

Os líderes do CIR disseram que a relação com os sem-terra não será política e que o único objetivo é ajudá-los a desenvolver economicamente a reserva, que tem 1,7 milhão de hectares. "Nunca nos deixamos levar por ninguém", afirmou Souza. "Não estamos dando terra", disse Melquior. A presença do MST em Roraima é pequena.

A capacidade de os cerca de 20 mil índios sobreviverem sozinhos na área foi um dos principais argumentos usados para a permanência dos arrozeiros. Eles dizem ser os responsáveis pela renda e infraestrutura do território.

O governador do Estado, José de Anchieta Júnior (PSDB), disse na semana passada que a região se transformará em um "zoológico humano". Para Paulo César Quartiero, principal líder dos fazendeiros, os índios voltarão à "Idade da Pedra".

Os indígenas discordam e dizem já ter começado um planejamento para se sustentarem e terem lucro com a terra. Para isso apostam na união e em recursos públicos. Recentemente, criaram uma federação para congregar as principais entidades. Quanto ao dinheiro, afirmam ter obtido a promessa de repasses de R$ 2,4 milhões, até 2010, por meio do programa Territórios da Cidadania, do governo federal.
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Publicado em Vermelho

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Oligarquias rurais: a ideologia do atraso

Rui Daher*
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No Brasil, tudo o que parecer estapafúrdio pode estar contaminado por algum viés político. Não se espante, portanto, ao saber que a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), presidida pela senadora, pecuarista e potencial candidata ao governo de Tocantins, Kátia Abreu (DEM-TO), está orientando os produtores ''a botarem o pé no freio do plantio e do uso de tecnologia na safra 2009/10''.
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É acompanhada das União Democrática Ruralista (UDR) e Sociedade Rural Brasileira (SRB), e formam o trio de ferro do atraso, pela recusa em aceitar os benefícios que as inclusões social e ambiental trariam ao País, se incorporadas à agropecuária. Como não podem dizer a que realmente vêm, argumentam que uma produção maior irá ampliar as dívidas e os excedentes provocados pela queda de consumo trazida pela crise. Notem que estão se referindo a uma colheita que ocorrerá no 1° semestre de 2010, futuro que bons analistas econômicos não arriscam prever.
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É do conhecimento até do mundo mineral, para usar expressão do jornalista Mino Carta, que o impacto da crise sobre demanda, preços de alimentos e comércio internacional, faria a agropecuária ajustar-se a patamares inferiores aos recordes de 2008, longe ainda, no entanto, de caracterizar qualquer catástrofe. É necessário mais reflexão antes de estender à agricultura o pânico que se espalhou no final do ano passado.
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Naquele momento, uma surpreendente e brutal escassez de crédito, tardiamente respondida pelo BC, contaminou toda a economia, em especial a indústria e a construção civil, que rodavam, há um bom tempo, acima da velocidade-cruzeiro da renda dos consumidores.
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Projetar a mesma preocupação para o calendário agrícola futuro, depois de uma das mais bem sucedidas safras de nossa história, era apenas entrar no trupe da manada. A renda agrícola, que entre 2000 e 2007 teve média de R$ 127 bilhões, com dois picos próximos de R$ 145 bi, em 2008, chegou a R$ 161 bi. Pois bem, a mais recente estimativa do Ministério para 2009 é que ela atinja R$ 154 bi, 4,3% abaixo do recorde. Lembremos que, em janeiro deste ano, acompanhando a angústia existencial que se arrastava na tela da TV Globo com a minissérie sobre a cantora Maysa, o trio de ferro alertava para uma queda superior a 10% na renda da safra 2008/09.
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Mesmo a safrinha de milho, que para os arautos do infortúnio poderia nem mesmo ser plantada, na estimativa da CONAB, deverá atingir 18 milhões de toneladas, uma queda de apenas 3,5% sobre 2008. Pelo lado das exportações agrícolas, o jornal China Daily informa que, depois da desaceleração do início do ano, as vendas brasileiras para aquele país cresceram 52,5% em março, fato que se repetiu com Índia e Irã.
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Outro indicador de que o futuro da agropecuária não aparece tão ingrato é a contínua valorização dos preços das terras. Segundo o jornal Valor Econômico, citando levantamento da consultoria AgraFNP, ''o preço médio do hectare alcançou o recorde nominal de R$ 4.373''. Motivos: valorização das commodities no começo do ano, retomada do interesse de investidores internacionais e desvalorização do real que devolveu competitividade aos produtos de exportação.
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Fica difícil, assim, entender qual a base que faz aconselhar plantios e usos menores de tecnologia na próxima safra. Os comandantes do trio de ferro cercam-se de profissionais competentes e são, em sua maioria, donos de terras e de empresas agropecuárias. Para terem sucesso, é provável que não sigam suas predições nos negócios próprios. Será que é justo usar as associações para subordinar o desenvolvimento do país e de milhares de produtores rurais a interesses políticos pessoais?

*Administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.
Fonte: Terra Magazine/Pátria Latina

terça-feira, 21 de abril de 2009

O tropel da UDR


Gilson Caroni Filho
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RURALISTAS Duarte Nogueira, Kátia Abreu e Onix Lorenzoni

Lideranças ruralistas pregam abertamente a sabotagem produtiva, a possibilidade de desabastecimento como forma de desgaste do governo, visando ao processo eleitoral de 2010. As ameaças não tiveram qualquer repercussão na grande imprensa.

Há um discurso ideológico recorrente na grande imprensa. Sua arquitetura básica consiste em apresentar a hegemonia do capital financeiro e das transnacionais sobre a agricultura como um “salto tecnológico" que mudou a maneira de pensar dos grandes proprietários de terra e seus representantes mais expressivos.

Como os protagonistas dessa decantada “modernidade rural" teriam trocado o radicalismo da UDR (União Democrática Ruralista), pelo diálogo em busca de resultados, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) teria perdido sua razão de ser, tornando-se um projeto incapaz de dar conta da complexidade do setor agrário. Soariam equivocadas as lutas por mudanças no campo para combater a pobreza, a desigualdade e a concentração de riquezas. Esse ilusionismo, repisado diariamente por ideólogos do “agrobusiness”, sofreu um forte baque há duas semanas.

Em matéria publicada pela Folha de São Paulo, em 07/04/2009, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) disse ter “orientado os associados da entidade a trabalhar com uma perspectiva de pé no freio para a próxima safra".

O presidente da UDR, Luiz Antônio Nabhan, não mediu as palavras. Para ele, “pé no freio" tem de ocorrer também por uma questão política. Em síntese, o que as duas lideranças pregam abertamente é a sabotagem produtiva, a possibilidade de desabastecimento como forma de desgaste do governo, visando ao processo eleitoral de 2010. Salvo uma nota do ex-ministro José Dirceu , as ameaças não tiveram qualquer repercussão na grande imprensa. Não se viu um articulista protestando contra a "agressão à democracia" ou editoriais cobrando a punição dos que, por interesses de classe, não hesitam em lançar mão de expedientes capazes de deter o "desenvolvimento da economia nacional".

Se, como destacou o Coordenador Nacional do MST, João Pedro Stédile, "a reforma agrária deixou de ser aquela medida clássica: desapropriar grandes latifúndios e distribuir lotes para os pobres camponeses, passando a incluir a mudança não só da propriedade, mas também do modelo de produção", algumas considerações devem ser feitas para os extasiados editores de Política e Economia dos jornais nossos de cada dia.

Há um toque de ironia que não deve ser esquecido. No Brasil, ainda são os pequenos produtores sem terra (ou com muito pouca) que abastecem o deficitário mercado de alimentos, ativador de inflação, enquanto, até bem recentemente, os créditos, financiamentos, subsídios e favores do Estado eram monopolizados pela grande propriedade. A contrapartida perversa do repasse de recursos do setor público para o privado são os conflitos do Pará ao Rio Grande do Sul e os surtos de violência entre a UDR de um lado e os sem-terra de outro.

A solução das classes dominantes para resolver o problema agrário sempre foi a redução dramática da população rural, empurrada para as grandes metrópoles em ritmo que não cessava de se superar ano após ano. Nesse quadro, o MST, movimento de maior expressividade na América Latina, logrou estabelecer o contraponto necessário.

O que aparece no noticiário oculta a magnitude dos seus feitos. Silencia-se sobre o trabalho pedagógico feito em acampamentos e assentamentos de todo o país. Um processo que absorve cerca de 160 mil alunos e quase quatro mil educadores em 23 estados, possibilitando o surgimento de 1.800 escolas de ensino fundamental. Milhares de famílias incluídas, êxitos incontestes apesar da timidez de uma política efetiva de créditos. Mas isso não merece ser editado.

O embuste de Kátia Abreu -e seu séquito na imprensa e no parlamento- consiste em fingir ignorar que não há país capitalista desenvolvido que não tenha agido decisivamente nessa questão. O saudoso economista Plínio Guimarães Moraes, diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária, escreveu, num artigo publicado em junho de 1985 no Jornal do Brasil, que "a Austrália dos canaviais e a França dos bons vinhos são os exemplos mais aparentes onde predomina o interesse social sobre o individualismo egoísta sem falar na Alemanha onde a função social da propriedade prevalece desde 1919. Mas o que queremos (e podemos) nós?".

Qual a nossa resposta à pergunta deixada por Plínio. Um país equânime, justo, sem violência, com salários condignos, com gêneros alimentícios baratos e disponíveis? Ou tudo isso que vivemos até hoje? Se realmente pretendemos uma sociedade inserida em moldes mais equilibrados, necessitamos ter presente que não a alcançaremos sem uma reforma agrária que enterre de vez as desigualdades abissais existentes.

Atualmente, de acordo com Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário, o Brasil contabiliza 43 milhões de hectares destinados à Reforma agrária nos últimos seis anos, dado que o transforma no país com a maior área de Assentamentos em todo o mundo. De 2003 a 2008, 519.111 famílias foram assentadas e 3.089 assentamentos foram implantados.

Resta saber qual escolha faremos. O aprofundamento de um processo inclusivo, rico em tensões e pulsões dialéticas ou os tropéis furiosos do gado de Kátia Abreu e assemelhados? Movimentos sociais e cidadãos em geral devem olhar para 2010 como um ano em que serão decididas questões substantivas.
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*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa
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Original em Pátria Latina

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A cada seis segundos uma criança morre de FOME

A cada seis segundos uma criança em algum lugar do mundo morre de desnutrição, informou o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU), Olivier De Schutter, no tema do direito à alimentação.
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Numa sessão da Assembleia Geral da ONU, o funcionário também disse que há 1 bilhão de pessoas famintas no planeta, a maioria delas mulheres e crianças, e que a dimensão da crise alimentar global está longe de ter diminuído neste ano.
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"Pelo contrário, a alta excessiva dos preços e os eventos relacionados com o clima inevitavelmente agravarão a situação em 2009, com os pobres como os maiores afetados", disse De Schutter.
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As razões da FOME mundial, indicou o especialista, são marginalização, pobreza, falta de terra e de empregos decentes, além do injusto sistema de comércio internacional que originou uma diminuição nos investimentos em projetos agrícolas durante os últimos 30 anos.
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O relator propôs projetar de novo o comércio internacional com o objetivo de impulsionar o crescimento econômico, assim como avaliar o potencial de diferentes modelos de desenvolvimento agrícola orientados a alimentar as populações mais vulneráveis.
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Da mesma maneira, De Schutter urgiu a aplicar os incentivos e regulamentos necessários para assegurar que as companhias agroindustriais multinacionais contribuam ao desenvolvimento dos países que lhes servem como fonte de recursos.
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Original em Granma

segunda-feira, 30 de março de 2009

Dez milhões de crianças desnutridas por aumento de preços de alimentos

Cerca de 400 mil menores morreriam até o final do ano

A crise econômica internacional provocou desnutrição a mais de dez milhões de crianças, devido ao aumento global nos preços dos alimentos e pode causar a morte de até 400 mil delas até o final do ano, sustentou em 28 de março num relatório o grupo britânico Save the Children (Salvem as crianças), citado pela ANSA.

O organismo não-governamental com sede em Londres advertiu aos chefes de Estado e governantes do G-20, que se reunirão em 2 de abril numa cúpula mundial, que devem resolver o problema da crescente pobreza mundial "no menor tempo possível".
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Segundo o grupo, milhões de crianças estão em perigo de fome devido ao impacto da recessão mundial, especialmente nos países em desenvolvimento, combinado com o contínuo aumento dos preços dos alimentos.

"Cerca de 3,5 milhões de crianças morrem por ano devido à desnutrição. A crise econômica internacional poderia matar outros 2,8 milhões antes de 2015, o ano em que os líderes do G-20 tinham prometido erradicar a extrema pobreza e a fome no mundo", sublinhou a ONG.
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quarta-feira, 25 de março de 2009

Fome atinge 15 por cento da população mundial

"Enquanto os preços dos alimentos caíram internacionalmente, como indicado pelo índice de preços alimentares da FAO, esta ferramenta mostra que nos países em desenvolvimento não têm caído tão depressa", disse Liliana Balbi, uma economista sênior da FAO.

“A base de dados será uma fonte de informação inestimável para a política e os responsáveis pelas decisões na produção agrícola e o comércio, o desenvolvimento e igualmente o trabalho humanitário.” A FAO notou que uma ascensão nos preços dos alimentos bate mais duramente nos países mais pobres, o valor do alimento em suas despesas totais é muito mais elevada do que aquela de populações mais ricas. Quando o alimento representa aproximadamente 10-20 por cento da despesa do consumidor em nações industrializadas, pode ser tanto quanto 60-80 por cento em países em vias de desenvolvimento.

Dependendo dos fundos disponíveis, FAO planeia adicionar países novos à base de dados.

De acordo com a agência, 963 milhões de pessoas, cerca de 15 por cento da população do mundo, estão sofrendo atualmente de fome e da má nutrição.

Publicado por Pátria Latina

quarta-feira, 18 de março de 2009

Diretor da FAO diz que Brasil é exemplo da luta contra a fome

Eduardo Rodrigues

O diretor-geral da FAO (agência da ONU para agricultura e alimentos), Jacques Diouf, disse nesta terça-feira no Itamaraty que a entidade pretende realizar uma cúpula mundial sobre o tema em novembro. Após elogiar os programas brasileiros na área, ele revelou que pode até mesmo nomear o encontro como "Cúpula Fome Zero no Mundo".

O Brasil é um exemplo da luta contra a fome. Esperamos que o país possa mostrar essa experiência e discutir com outros países como melhorar seu sistema.

Para o diretor-geral, o sucesso brasileiro nesta questão se deve a uma série de instrumentos integrados que garantem recursos para que pequenos agricultores possam produzir e vender seus produtos em mercados com preços satisfatórios para que populações carentes subsidiadas pelo governo possam adquiri-los.

Além disso, no Brasil, a luta contra a fome não é apenas uma decisão política, mas também eleitoral, pois elegeu por duas vezes um presidente. Não conheço caso semelhante.

Segundo Diouf, o presidente Barack Obama também já foi procurado para debater a realização da cúpula. De acordo com dados da entidade, cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo, e seriam necessários mais US$ 30 milhões anuais para erradicação da mazela. Além disso, a produção de alimentos precisa dobrar para atender os 9 bilhões de habitantes do planeta em 2050.

O diretor lembrou que a crise alimentar de 2007 mostrou as consequências do problema para a segurança mundial. Ele citou as revoltas populares em todo o mundo ocasionadas pela falta de alimentos. Para ele, é preciso evitar que a crise financeira internacional continue afetando o comércio e produção mundial de alimentos.

Desde julho os preços das commodities e do petróleo caíram bastante. Mas não dá para explicar porque o preço dos insumos agrícolas, como fertilizantes, continua tão elevado. Isso inviabiliza a produção nos países que mais necessitam.
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Original em FAO

Presidente Lula confirma participação em Cúpula Mundial da Alimentação promovida pela FAO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará da Cúpula Mundial da Alimentação que se realizará em novembro de 2009 pela FAO. O objetivo dessa reunião é ambicioso: assumir o compromisso pela erradicação completa da fome no mundo, sem metas intermediárias.

A confirmação foi feita pelo próprio presidente durante reunião realizada nesta terca-feira (9), no Palácio do Planalto, com o diretor geral da FAO, Jacques Diouf. Lula também prometeu contatar outros líderes mundiais para convidá-los ao encontro. Chefes de Estado e de Governo da África e os países árabes também já confirmaram presença na Cúpula Mundial da Alimentação.

Para acabar com a fome no mundo, a terceira Cúpula Mundial da Alimentação (as anteriores foram realizadas em 1996 e 2002) quer colocar na mesa de discussão o próprio sistema de governança mundial relacionado à segurança alimentar e agricultura.

“Precisamos usar nossa inteligência e imaginação para criar políticas públicas que promovam o desenvolvimento agrícola baseado no comércio internacional justo”, escreveu Diouf em carta de felicitações enviada em 2008 ao então presidente eleito Barack Obama.

“A atual estrutura não tem permitido avanços significativos na erradicação da fome no mundo”, afirmou o Representante Regional da FAO para América Latina e Caribe, José Graziano da Silva, que acompanhou a visita de Diouf ao Brasil.

O mundo tem hoje cerca de 963 milhões de subnutridos. Em 1990 eram 842 milhões. A maior parte do aumento – 115 milhões de pessoas – ocorreu entre 2005 e 2008, principalmente, por causa da alta dos preços dos alimentos e da crise financeira.

Experiência do PAA pode ser replicada em outros países
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Durante a viagem ao Brasil, Diouf também solicitou à Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informações sobre o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

“O PAA é um instrumento que tem ajudado a garantir mercados e renda para agricultores familiares e formação de estoques também ajuda a reduzir o impacto local da alta de preços internacionais dos alimentos. Esse é um programa que poderia ser adotado com êxito em outros países”, explicou Graziano.

Durante a audiência no Palácio do Planalto, o presidente Lula também convidou Jacques Diouf a visitar comunidades beneficiadas pelo Fome Zero e conhecer in loco programas que fazem parte da estratégia de combate à fome e promoção da segurança alimentar.

No Dia Mundial da Alimentação de 2007, abordou a questão do direito à alimentação, a FAO destacou o Fome Zero como uma das mais importantes iniciativas da área no âmbito mundial e um exemplo da importância da participação popular e vontade política no combate à fome.

FAO e Brasil aprofundam cooperação

Durante a visita oficial realizada por Jacques Diouf ao Brasil entre os dias 8 e 10 de março, Brasil e FAO acordaram ampliar a cooperação não apenas para o desenvolvimento local e rural no Brasil, mas também em apoio a outros países.

Em conjunto com o Fundo Nacional de Desenvolvimento pela Educação (FNDE), a FAO prestará assistência ao desenvolvimento de programas de alimentação escolar nos países da região, no marco da Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome.

Ainda na área de cooperação Sul-Sul, considerada prioridade tanto pela FAO quanto o governo brasileiro, a FAO e a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) prover assistência técnica, capacitação e transferir tecnologias para países da América Latina e Caribe e da África.

Um terceiro memorando de entendimento foi assinado entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas para apoiar microiniciativas em áreas como desenvolvimento local, agroenergia e agroecologia e replicá-las no Brasil e em outros países.

Nesta quinta-feira (11), a FAO e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assinarão, na sede regional do Incra em São Paulo, outros dois documentos para apoiar a regularização fundiária, os assentamentos rurais e a agricultura familiar e a implementação de políticas públicas relacionadas à reforma agrária e desenvolvimento rural.
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Original em FAO

terça-feira, 10 de março de 2009

Diretor da FAO exige ações urgentes para combater a fome

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), Jacques Diouf, reiterou, segunda-feira, 9 de março, em Brasília, seu pedido de ações urgentes dos governantes para combater a fome no mundo e o perigo de que incremente por causa da crise econômica e financeira global.

"Devem realizar-se ações para evitar que por causa da crise financeira e econômica os governantes se esqueçam da crise alimentícia, que não só continua existindo, mas que poderia piorar", alertou o diretor da (FAO), após reunir-se com o presidente do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva.

Diouf lembrou seu pedido ao presidente estadunidense, Barack Obama, de ter "uma participação ativa numa cúpula de Chefes de Estado e de Governo", a realizar-se no fim do ano para erradicar a fome.
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Original em Granma
Ilustração: Retirantes de Cândido Portinari
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Verdades e mentiras sobre os transgênicos

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O uso de transgênicos pode ser a solução para acabar com a fome no Mundo. A idéia foi defendida pelo vice-presidente da Monsanto, Jerry Steiner, em entrevista recentemente cedida ao jornal espanhol El País. O empresário defende a imagem da empresa, afirmando que a Monsanto é uma entidade preocupada com o meio-ambiente, e ressalta que os agricultores de todo mundo utilizam as sementes transgênicas por opção e não porque são forçados a isso.
Em entrevista à Radioagência NP, dois especialistas no assunto respondem sobre alguns mitos dos transgênicos utilizando como base as repostas dadas por Jerry Steiner. O assessor técnico da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (Aspta), Gabriel Fernandes, e o professor do instituto de sociologia da Universidade Johannes-Kepler de Linz (Áustria), Antonio Andrioli, tiveram a missão de rebater os argumentos dados pelo empresário.
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Andrioli, o vice-presidente, Jerry Steiner, introduz a conversa falando dos transgênicos como solução para o combate a fome no mundo. O que você tem a dizer sobre isso?
Antonio Andrioli – Bom, esse argumento não é nada novo. Em primeiro lugar é preciso dizer que nunca esteve nos objetivos dessas empresas, como a Monsanto, o combate à fome. Nós temos, no debate sobre a fome, uma clara evidência de que não se trata de um problema técnico e sim distributivo. Ou seja, nós temos uma produção de alimentos no mundo superior às pessoas que comem, mesmo assim nós temos em torno de 900 milhões de pessoas passando fome porque o acesso a esses alimentos é dificultado pela lógica do mercado. Esse acesso tem sido dificultado inclusive pela introdução dos transgênicos, visto que com eles, há uma necessidade dos agricultores aumentarem sua área de cultivo para compensar os altos custos e a baixa produtividade destes cultivos. Então nesse sentido nós temos uma eliminação dos pequenos agricultores, responsáveis por 70% da produção mundial de alimentos [para consumo humano]. Então não é um problema de baixa produtividade, e mesmo que fosse esse o problema, todos os transgênicos que existem hoje no mundo não são mais produtivos que os cultivos convencionais.
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Gabriel, apesar de a semente transgênica ser mais cara para o agricultor, Steiner diz que compensa, já que, depois, o rendimento dessas sementes seria melhor. Você concorda?
Gabriel Fernandes - Não. Isso na verdade faz parte da propaganda das empresas. Nós que acompanhamos essa discussão há algum tempo, vemos que as principais promessas que a indústria da transgenia faz até hoje não foram verificadas a campo. Elas dizem que vão reduzir o uso de agrotóxicos e, na verdade, o que os dados comprovam é que aumenta o uso de veneno. Elas falam que a produção vai aumentar e os vários estudos, pesquisas, inclusive as evidências de campo, mostram que os transgênicos não produzem mais. Então, o que esse modelo de agricultura vai fazer na verdade é deixar os agricultores cada vez mais dependentes dessas poucas empresas, a Monsanto e mais umas três ou quatro. É um modelo que não vai resolver o problema da fome, pelo contrário, ele vai criar mais problema no campo por reduzir cada vez mais a autonomia dos agricultores. Se os agricultores dependem das sementes que essas empresas fornecem, eles acabam dependendo também do pacote tecnológico inteiro, ou seja, de todos os insumos, os agrotóxicos e os adubos, porque as sementes transgênicas são modificadas em laboratório exatamente para amarrar cada vez mais essa dependência entre as sementes e os insumos.
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Jerry Steiner afirma que a Monsanto sempre trabalha de modo que os agricultores tenham a opção de escolha e utilizam a semente transgênica porque querem. O que você tem a dizer sobre isso?
Andrioli – Não é possível a coexistência de cultivos trangênicos com não-transgênicos. Isso é mais complicado ainda em plantas de polinização aberta, como é o caso do milho, e menos complicado no caso da soja. Mas nós tivemos, mesmo com a soja, a contaminação. Nós sabemos que ela existe, desde o transporte até o uso da mesma semeadeira, e também em função da estrutura agrária para os pequenos agricultores que têm uma área muito próxima um do outro [a plantação transgênica acaba contaminando a vizinha]. E o que nós vemos no mundo inteiro é que há um aumento dos cultivos transgênicos, em primeiro lugar por esse fator da contaminação. Nós temos o México onde isso é muito claro. Nós temos uma proibição do milho transgênico no país onde surgiu o milho. Então no mundo inteiro nos vemos que não é possível a coexistência e, sendo assim, os agricultores que cultivam de forma orgânica têm sido obrigados a migrar para o transgênico em função da contaminação que ocorreu.
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Steiner também afirma que os transgênicos reduzem a necessidade de utilização de agrotóxicos.
Andrioli – Nós sabemos que nos primeiros anos de cultivo das plantas resistentes a herbicida, nós utilizamos apenas um princípio ativo, que no caso é o glifosato, cuja marca comercial se chama Roundup. É claro então que nos primeiros anos, nós utilizamos menos, mesmo porque trata-se de um produto que agora está sendo usado em substituição a outros produtos que já haviam gerado uma resistência em determinados índices. Só que o mesmo fenômeno que já tinha acontecido com as outras plantas invasoras, agora acontece com o glifosato e numa proporção muito maior e numa velocidade muito mais rápida, porque estamos utilizando apenas um princípio ativo. E nós sabemos, do ponto de vista da biologia, que se utilizarmos apenas um princípio ativo e nas doses em que se está utilizando, vai se gerar uma resistência, e isso fez com que no segundo e terceiro anos, os agricultores tivessem que utilizar maiores doses do herbicida e hoje nós temos no Rio Grande do Sul, por exemplo, segundo o Ibama, 85% a mais de aplicação de herbicidas do que anteriormente.
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Nós sabemos que a ocupação de um território com o cultivo de apenas uma espécie de semente acaba com a diversidade e provoca o surgimento de novas pragas. Cite um exemplo de onde isso ocorreu.
Andrioli – Vou dar um exemplo claro de como se produz uma praga. Existe no Brasil um inseto chamado Lágria Villosa, popularmente conhecido como idi-amim. Esse inseto comia várias plantas, por exemplo, uma chamada caruru que os agricultores sabiam muito bem que não deveriam carpinar ela fora e, na aplicação de herbicida, se deveria evitar que essa planta fosse destruída porque o idi-amim comia essa planta. Agora com o glifosato, nós estamos eliminando a maioria das plantas e deixando somente a soja. É claro que esse inseto vai começar a atacar a soja. É o que está acontecendo em função da uniformização, ao achar que numa plantação se deve ter apenas soja, nós estamos produzindo novas pragas.
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O que é a semente terminator? Qual seria a vantagem de plantá-la?
Gabriel Fernandes – Vantagem não tem nenhuma, pelo contrário. Apenas tem riscos e danos. Terminator é um tipo de semente transgênica que além de ter a característica da transgenia, como a resistência a herbicida ou resistência a algum inseto, ela também foi geneticamente modificada para não germinar. Então, esse seria o controle absoluto das empresas sobre as sementes. O agricultor compra a semente transgênica uma vez, planta e se ele colher para plantar de novo, essas mesmas sementes não vão germinar. Seria uma forma biológica de impedir o agricultor de fazer aquilo que os agricultores sempre fizeram que é plantar, colher, selecionar as melhores sementes e plantar no ano seguinte. Então, isso mostra qual é o grande objetivo das empresas, que é de conquistar essa dependência dos agricultores, fazer com que eles fiquem cada vez mais dependentes das sementes das empresas. Essas sementes terminators não estão liberadas em nenhum país do mundo. Elas não podem ser plantadas e a legislação no Brasil proíbe. Elas não foram testadas a campo. É um projeto que as empresas têm e segue engavetado, mas acreditamos que quando elas sentirem que o ambiente está favorável, vão tentar pedir a aprovação dessas sementes. Por enquanto isso não pode ser comercializado.
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O representante da Monsanto fala também que os países subdesenvolvidos são cada vez mais usados para testar a plantação de cultivos transgênicos. Isso é verdade?
Gabriel Fernandes – Tem alguns países que sim, por exemplo, na África. A África do Sul, por mais que não seja o país mais pobre do continente, serve como uma vitrine da transgenia para o resto do continente. As empresas têm na África do Sul uma série de plantios experimentais, parcerias com empresas e universidades, para mostrar ali, do ponto de vista deles, que a tecnologia é viável e usar isso como se fosse uma porta de entrada para o restante do continente. Na América Central, também tem alguns países que pelas características ambientais, de clima e tudo, recebem uma quantidade muito grande de experimentos. As empresas conseguem cultivar os transgênicos o ano inteiro, fazendo as experiências e depois exportam isso para outros países.
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Original em MST

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

FSM: quem desmata a Amazônia?

por Eron Bezerra*


A 10ª edição do Fórum Social Mundial (FSM) acaba de ser encerrada em Belém. Da primeira edição para esta muita coisa mudou e outras, ainda, continuam iguais. É uma clara demonstração da vitalidade da dialética que nos ensina tanto que “a natureza e a sociedade se transformam e evoluem permanentemente”, como assevera que “o novo nega o velho e o velho nega o novo”.

Quando milhares de pessoas se reuniram naquela edição primeira de Porto Alegre o lema geral do FSM - “outro mundo é possível” - estava impregnado da rejeição ao capitalismo e, também, da negação ao chamado socialismo real.


O mundo de então se caracterizava por uma expansão belicista sem precedente do imperialismo americano e, ao mesmo tempo, pelo colapso do leste europeu e o fracasso da experiência soviética.

A idéia de um mundo baseado no chamado terceiro setor, ou simplesmente ONGs, era muito presente naquele tempo. Por isso, contraditoriamente, embora negassem o capitalismo como sistema, a pregação de um mundo globalizado, sem fronteiras, no qual a Amazônia seria “patrimônio da humanidade” fazia enorme sucesso na quase totalidade dos presentes naquela já distante edição.

Para contrariedade dos organizadores a presença duma minúscula “delegação” do PCdoB (não mais que 5 pessoas) impediu a unanimidade dos discursos tanto no aspecto global da Amazônia quanto da alternativa para o “o outro mundo”.


A edição de Belém encontra o mundo envolto na maior crise capitalista do século, na derrota geral do neoliberalismo na América Latina, na revitalização do projeto socialista como alternativa e no bom desempenho com que os países socialistas vêm levando adiante seus projetos nacionais de desenvolvimento. O socialismo, portanto, não é mais coisa de “dinossauro”. E essa é a mais expressiva mudança no conteúdo e no “humor” do FSM.

Mas a Amazônia continua sendo pautada como “patrimônio da humanidade”, apesar dos avanços obtidos tanto na edição de Caracas quanto nesta de Belém, ambas patrocinadas pelo PCdoB e a Fundação Mauricio Grabois.


Quem, afinal, desmata a Amazônia?


Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) a Amazônia perdeu algo como 36 milhões de hectares de floresta entre 1988 e 2008. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trabalha com um valor maior. Dados do censo agropecuário registram que, em 2006, em torno de 2,1 milhões de trabalhadores rurais cultivavam próximo de 69,7 milhões de hectares, sendo 14,3 (20%) com lavouras temporárias e permanentes e 55,4 milhões de hectares (80%) com pastagens.Dessa área, as culturas alimentares (arroz, feijão e mandioca), destinadas ao consumo da população local, ocupavam não mais do que 1,4 milhões de hectares, ou seja, 2% de toda a área.

Como já se viu a pecuária ocupa 80% de toda a área e a soja, sozinha, 51% de toda a área de lavoura temporária e permanente. A população local não come tanta soja e nem tampouco tanta carne. Aonde se destina essa produção? Ao sudeste do país e ao exterior, especialmente Europa e Estados Unidos, precisamente os que por outros interesses – acima já registrados – são os que mais bradam contra a ocupação da Amazônia. De nossa parte é bom não esquecer que esses são os principais produtos da nossa pauta de exportação.

*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.
Original em Vermelho

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Israel bloqueia barco líbio com ajuda para palestinos em Gaza

AFP
Palestinos esperaram em vão a ajuda
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Israel impediu nesta segunda-feira que atracasse no porto desta cidade palestina um barco da Líbia com três mil toneladas de ajuda humanitária destinadas à população que sofre devido ao seu cruel bloqueio.
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Fontes palestinas denunciaram que navios da armada israelense bloquearam o acesso à embarcação carregada de alimentos, medicamentos, cobertores e outros bens quando estava a várias milhas da Faixa de Gaza e que retornasse ao porto egípcio de El-Arish. O barco líbio era portador da primeira ajuda procedente de um país árabe para os 1,5 milhões de palestinos pressionados pelo cerco israelense, imposto desde que o movimento islâmico Hamas tomou o poder aqui em junho de 2007, e intensificado desde 4 de novembro passado.
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Segundo o canal catarense Al-Jazeera, o Fundo Líbio para Ajuda e Desenvolvimento na África fretou a embarcação para transportar mil 200 toneladas de arroz, 750 de leite em pó, 500 de azeite comestível, e mesma quantidade de farinha e 100 de medicamentos.
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Um comunicado emitido pelo Hamas no domingo anunciou também que a Turquia enviará em breve um navio "com simpatizantes pró palestinos e medicamentos", que definiu "como parte da revolução de barcos que tratam de violar o cerco na Faixa de Gaza".
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Por seu lado, o deputado palestino Jamal Khodary, que dirige uma campanha contra o bloqueio israelense, avaliou o gesto de Trípoli como uma tentativa de maior transcendência por romper o cerco a este território.
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Desde agosto passado, no entanto, ativistas do grupo Free Gaza (Gaza Livre) conseguiram trazer aqui, procedente de Chipre, ajuda básica à bordo de três pequenas embarcações, em um desafio aos militares hebreus que se abstiveram de interceptá-las.
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As autoridades israelenses se negaram a fazer comentários e depois alegaram que a Líbia não solicitou permissão para entrar nas águas sob seu controle, ainda que a ONU as reconheça como jurisdicionais palestinas.
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Tel Aviv reforçou o cerco a Gaza e fechou todos os acessos terrestres a área do lançamento de mísseis contra seu território por militantes do Movimento da Resistência Islâmica, que responderam assim devido a uma agressão aérea hebréia que deixou seis mortos.
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A medida gerou uma delicada situação humanitária aqui, denunciada pela ONU e vários países árabes que prometeram na quarta-feira passada no Cairo enviar um comboio solidário para os palestinos.
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Texto: Prensa Latina

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