No manifesto do 1.º Encontro Nacional Antifascista da Bolívia, apela-se à mobilização dos «trabalhadores, dos camponeses, das classes médias empobrecidas, dos intelectuais patriotas e estudantes, das mulheres e dos povos originários» com o objectivo de derrotar o que consideram ser uma «conspiração subversiva» em marcha.
As estruturas signatárias alertam para as manobras dos «sectores reaccionários-fascistas e conservadores, que lograram bloquear os processos de transformação em curso, e procuram agora inverter a correlação de forças sociais a seu favor através de uma série de operações de carácter político, mediático, económico e psicológico».
Estes planos, notam, consubstanciam uma mesma táctica já usada noutros países do mundo, a da «provocação de fenómenos de violência com o intuito de criar um clima de insegurança, tensão, medo e crise de carácter generalizado; da promoção de marchas “pacifistas”, debates em centros privilegiados das principais cidades e greves de fome; da organização de bloqueios rodoviários e outros, pagos e a coberto de reivindicações institucionais, confundindo-as com as legítimas aspirações sociais».
Acresce, dizem, que na Bolívia a conjura tem rostos visíveis, como «o Comité Cívico de Santa Cruz (que reboca os homólogos governadores das províncias de Beni, Pando, Tarija, Cochabamba e Chiquisaca), o qual funciona como autêntico Estado Maior do complot», relegando para segundo plano os «tradicionais partidos políticos da direita e os seus dirigentes, Jorge Quiroga e Samuel Doria Medina, os desacreditados dirigentes do Movimento Nacional Revolucionário (MNR) e os indígenas ressentidos».
Grupos de choque do império
«As estruturas militarizadas e paramilitares são múltiplas», alertam ainda os antifascistas bolivianos no documento a que o Avante! teve acesso. «Em primeiro lugar aparece a tristemente célebre “União Juvenil de Santa Cruz”, que diz contar com milhares de “combatentes”, seguida por grupos de mercenários estrangeiros, sobretudo colombianos e brasileiros, que têm como principal missão conservar o latifúndio e defender a “propriedade” de terras outrora roubadas a camponeses e indígenas da zona oriental da Bolívia», continuam.
A embaixada norte-americana, sublinham os presentes no Encontro decorrido na capital boliviana, funciona, ora directamente, ora através da Agência Internacional para o Desenvolvimento (USAID) e sua congénere para a Investigação e Serviços (USIS), como «pólo de financiamento, aconselhamento e direcção», difundindo, por exemplo, uma campanha contra o que chamam de «perigo indigenista, a decalque da que se baseava no perigo comunista», e promovendo a «guerra económica, orquestrada com os agrários e industriais, através da subida dos preços dos bens de primeira necessidade».
Neste particular, é importante destacar «o controlo da quase totalidade dos meios de comunicação social, os quais se autocensuram, divulgam meias verdades e manipulam, mimetizando conteúdos políticos reaccionários com uma aparente “neutralidade”», e «o controlo do Poder Judicial, que permite à direita obter reconhecimento jurídico para todos os atropelos, a exemplo do que acontece com a Assembleia Constituinte».
Avançar derrotando o golpe
Neste contexto, profundamente complexo e caracterizado por uma «guerra de baixa intensidade dentro dos termos da ideología norte-americana de agressão aos países e governos que não são do seu agrado», os partidos reunidos em torno do Encontro Antifascista consideram que o golpe antipatriótico que visa derrubar o executivo de Evo Morales e «balcanizar a Bolívia transformando a sua região oriental numa colónia para a exploração do petróleo, gás, àgua, e biodiversidade abundantes», impõm a acção integrada de todos os democratas e progressistas.
Perante o avolumar das preocupações, «o governo do MAS parece ignorar a gravidade dos acontecimentos», manifestam, pelo que se torna fundamental «convergir numa poderosa e crescente Frente Popular antifascista e antiimperialista que propõem como primeira tarefa a derrota da ofensiva do imperialismo criminoso», concluem.
Avante
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