Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Crise capitalista interminável

À crise financeira mundial junta-se a carência alimentar que atinge milhões de pessoas. As instituições capitalistas confirmam a situação e temem tumultos sociais.«Caminhamos para um longo período de confrontos, marcado pelo desespero das populações mais vulneráveis». Quem o assume é o relator da ONU para o direito à alimentação, Jean Ziegler, em entrevista publicada segunda-feira pelo jornal francês Libération. O responsável, citado pela France Press, revela que o cenário é «uma hecatombe anunciada», visto que já antes da subida dos preços a nível mundial, havia «854 milhões de pessoas subalimentadas». Às palavras de Ziegler acresce a análise da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que estima que a cifra a pagar pelos cereais nos países mais pobres pode subir 56 por cento e, em muitos países africanos, tal aumento deve atingir os 74 por cento. Na sua apreciação, a FAO sublinha que quase 40 países apresentam atualmente carências alimentares graves, e uma vez que no último ano o custo do trigo e do arroz duplicou, e as reservas daqueles bens no mercado estão no mínimo histórico dos últimos 25 anos, a FAO manifesta sérias preocupações com a eclosão de conflitos sociais.A atestar o cenário de miséria generalizada estão os recentes tumultos no Egipto, Camarões, Senegal, Burkina Faso, Etiópia, Indonésia, Madagáscar, Filipinas, Paquistão, Tailândia e Haiti. Sábado, o governo haitiano foi derrubado pela pressão do povo farto do regime de fome. No Paquistão e na Tailândia, os governos não caíram, mas mobilizaram tropas para proteger quintas e armazéns alvo das populações famintas.

Setor financeiro soma crise à crise

Também o presidente do Banco Mundial (BM), Robert Zoellick, e o director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, comentaram a crise alimentar de testa franzida, evocando medidas que face à pressão motivada pelos biocombustíveis, pela escalada do preço do petróleo e pelo buraco negro gerado na crise do subprime nos EUA, parecem meros paliativos num sistema de natureza contraditória. No que ao crédito imobiliário de alto risco e ao crescimento econômico mundial diz respeito, destaque ainda para a revisão por parte do FMI das estimativas relativas aos anos 2008 e 2009, e, fazendo eco do que apurou dias antes o Fórum de Estabilidade Financeira do G-7, recomendou às empresas do setor financeiro transparência e responsabilidade na apresentação dos resultados. Neste particular, os EUA são o epicentro do problema, quer pela política fiscal da Casa Branca que estimulou a acumulação de fortunas ganhas em atividades especulativas, quer porque contrariamente a outros países motores do sistema capitalista, Washington nunca permitiu a monitorização da sua economia.

Triunfo das desigualdades

Na América do Norte, a crise é já a maior desde o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929, por isso, o fosso entre os ricos e pobres nunca foi tão grande. Dados oficiais citados por John Plender num artigo publicado no Financial Times, com versão portuguesa no sítio vermelho.org.br.asp, indicam que nos EUA, entre 1979 e 2005, os rendimentos dos 1 por cento mais ricos, antes do pagamento dos impostos, cresceu por ano 200 por cento, e depois de descontadas as taxas, 228 por cento. Os mais pobres e a classe média viram os seus rendimentos anuais crescerem apenas 1,3 e 1 por cento, respectivamente.


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