Há um cheiro de injustiça no ar. A chamada "grande imprensa" tem, no Brasil, o péssimo hábito de se arvorar em polícia, promotor e juiz de todas as causas que possam trazer mais lucro através de maior audiência ou maior número de leitores, não importando o fato de que se para tanto é preciso destruir pessoas inocentes, omitindo fatos ou levantando suspeitas infundadas. Nos últimos tempos tivemos vários exemplos dessa situação. O mais antigo, o caso da Escola de Base, onde os proprietários foram acusados de assédio sexual por uma ou duas crianças e, imediatamente, foram crucificados pela mídia. Depois de provado que não existia crime algum, uma pequena nota - se ocorreu - foi posta em lugar esquecido de uma página par. A reputação, a honra e a auto-estima dos acusados estava destruida; mais recentemente tivemos, no acidente com um avião em São Paulo, a acusação imediata ao Governo que logo foi julgado e condenado por essa mesma "imprensa". O fato de que o acidente ocorreu por falta de manutenção da aeronave e falta de treinamento da tripulação, se foi divulgado, foi divulgado em "nota de roda pé" sem o mínimo destaque. Tivemos também o caso do leite com "soda cáustica" e citrato de sódio - este, um conservante declarado na embalagem - e que, como se viu, não era nem ilegal, nem imoral e nem fazia mal...
Hoje o país inteiro, por repetir papagaiamente, a opinião dessa mídia toda-poderosa, já acusou, julgou e condenou o pai e a madrasta da menina Isabella. O Poder Judiciário, provavelmente levado pelo clamor dessa mesma imprensa, determinou a prisão dos dois, até onde se sabe, sem nenhuma evidência de que o crime tenha sido cometido por eles ou por um deles. Nem mesmo foi levado em conta o fato de haver mais duas crianças, sendo que uma de colo, que dependendem da presença dos pais. Fala-se até em colocá-los em celas coletivas como se criminosos fossem de prova provada... e se não forem? E se tiverem sido vítimas de uma vingança cruel e desumana? Nesse caso, além da perda irreparável da filha, terão que arcar com os traumas inevitáveis da injustiça de uma prisão arbitrária e desnecessária dentro de um sistema prisional corrompido, imoral e sádico.
Rosalvo Maciel - Médico
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