Além do Cidadão Kane

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Globalização, itinerâncias do papa e fascismo

Não falta matéria para reflexão. A «bolha» da globalização rebentou. Que ruínas deixará à humanidade? O Vaticano passeia-se pela América. Não convence ninguém nem o papa lá foi para convencer. Porém, que negócios fechou nesses seis dias? Que alianças reforçou? Que preparam os deuses? Por fim, em Itália onde só existem duas grandes forças políticas organizadas e poderosas – o Vaticano e a Máfia – Berlusconi, herdeiro de Mussolini, conseguiu uma estrondosa vitória. Os três fatos convergem entre si e a questão central que agora se coloca é a mesma que há 70 anos exprimia a perplexidade dos homens livres perante a ascensão do fascismo e da sua Nova Ordem: «Para onde vamos ?».A ameaça do retorno aos fascismos europeus não é capítulo encerrado. As ditaduras fascistas da primeira metade do século XX consolidaram-se na Europa a partir de situações políticas e econômicas comuns, análogas às atuais. As guerras de conquista (tais como as do petróleo) geraram e geram pólos de riqueza e de pobreza. O dinheiro fica nas mãos de reduzidas elites enquanto que os povos mergulham na miséria e no desespero. Os proletários perdem os seus postos de trabalho, os cidadãos o seu poder de compra, os lutadores a sua liberdade. Então, perante o caos, as multidões exigem que um «herói» apareça e «ponha a casa em ordem». Logo se apresentam esses salvadores, com perfis míticos e religiosos, gerados e promovidos por elites autoritárias. Instalados no poder pelo desespero popular, os ditadores fascistas ligam-se entre si, distribuem dinheiro a rodos aos seus pares e procuram justificar os seus atos recorrendo às ideologias religiosas ou às utopias tradicionais. Foi assim que os fascistas detiveram, ao longo de dezenas de anos, as rédeas do poder do Estado, combinando a fraude, a demagogia e o terror.

Organização e luta popular

Este panorama social é recorrente e projeta-se na atualidade. Berlusconi, por exemplo, alcançou os seus recentes êxitos eleitorais numa sociedade onde grassam a corrupção, as grandes falências, o desemprego, e alastra o poder da Igreja, o garrote da Máfia, os riscos de guerra civil, as dívidas do Estado e o esmagamento das classes médias e baixas. «Bandeiras» do capitalismo, como a Alitália, abrem falência, a Máfia domina o Sul do país e a Liga de Bossi exige a autonomia do Norte industrializado. A economia italiana estagna e não crescerá por ano mais que 0.5%. Apesar de compreender tudo isto, o povo italiano votou em Berlusconi, o «pregador de milagres»... Nos EUA, a situação não é muito diferente: 38 milhões de pobres, a par de fortunas fabulosas. Guerras do petróleo ruinosas em quase todos os continentes. Recessão econômica mal disfarçada mas que a curto prazo se afirmará. É um país dividido entre o desbragamento moral e o fanatismo político e religioso. Armou-se até aos dentes. Julgam-se senhores do universo. A decisão de Bento XVI de visitar, neste momento, os EUA é difícil de entender ou, melhor, não se entende. Vem de uma sociedade em dissolução, a italiana, para passear num país em recessão. Sobe à tribuna da ONU para falar em paz, em direitos humanos e em reconciliação e nem sequer refere Guantánamo, o Darfur do petróleo e da fome ou as chacinas do Iraque. Refere a pedofilia do clero americano e não confessa que o fenômeno é conhecido e generalizado entre os padres do mundo inteiro. Numa encenação minuciosamente preparada, Ratzinger pede untuosamente perdão do mal que já está feito e cujas consequências são irreversíveis. Mas que terá ido ele fazer, realmente, nos EUA? Cedo se saberá. A crise do capitalismo galopa e as realidades, nuas e cruas, irão revelar-se. O mundo em que vivemos contém uma mistura explosiva de famintos, de nababos, de classes exploradas por classes exploradoras, de promessas e de mentiras insustentáveis. Se a Itália caminha para o neofascismo ou em Portugal se esboça o retorno a uma nova «União Nacional», é bom que não nos esqueçamos de que os povos explorados se revelam cada vez mais conscientes da injustiça da sua escravidão. A aventura de Berlusconi terá o tempo e o destino que os italianos quiserem que tenha. A hipocrisia e a viscosidade das palavras do papa apenas reverterão para o descrédito da igreja católica. O povo norte-americano aprenderá à sua própria custa que o poder das armas nunca conseguirá esmagar a razão dos homens. Mas para que surja o dia da verdadeira Liberdade há ainda um duro caminho a percorrer. Os pobres terão de perder as suas ilusões e impor o respeito pelos seus direitos. Para que justiça se faça, há que propor, lutar e esclarecer. Através de todos os riscos e de todos os perigos. Formando e informando. Lançando as bases de uma autêntica democracia da justiça social. Agitando e agindo. Sobretudo, organizando. Organizando, organizando, organizando... sem jamais nos cansarmos em organizar.

Jorge Messias


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Um comentário:

Anônimo disse...

curiosamente... o ditador da Slovakia(fantoche nazista) era o padre Jozef Tiso!
Ah... a Croácia,também fantoche nazista, era chefiada pelo devoto católico Ante Pavelic (Ustasha)... que promoveu brutal politica de exterminio de opositores,partisans,judeus,ciganos e cristãos ortodoxos sérvios. A maioria das vitimas de Pavelic eram os ortodoxos sérvios. a igreja romana se envolveu diretamente nas atrocidades... tanto ke alguns padres atuavam como capelães e até convertiam a força os servios!
a crueldade da Ustasha chocava até mesmo os nazistas.

Ah... até hoje o vaticano nunca condenou ou mencionou os regimes croata e eslovaco...

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