Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Honduras: desafio da democracia na América Latina

José Genoino (*)

As medidas que o governo Lula tem tomado em relação à situação em Honduras merecem mais do que o nosso apoio. Elas são, na verdade, frutos de uma política externa vitoriosa que elevou o Brasil ao patamar de líder continental e que fez dele um árbitro internacional poderoso e influente. Mais do que apoiar, devemos nos orgulhar desta tarefa e deste papel inéditos. O fato do presidente deposto, Manuel Zelaya, ter escolhido a Embaixada Brasileira para se abrigar nada mais é do que o reconhecimento do papel de liderança do Brasil no continente e é uma demonstração inequívoca da importância do nosso país no mundo.

Este respeito foi uma conquista baseada na defesa intransigente das regras democráticas. Justamente por isso, o Brasil está credenciado para exigir o repúdio internacional ao golpe e o restabelecimento da ordem constitucional em Honduras. Zelaya foi recebido pelos diplomatas brasileiros em Tegucigalpa como presidente legítimo do país e é com esta condição que o Brasil está procurando os principais líderes mundiais na busca de uma solução pacífica para a crise hondurenha. A deposição de Zelaya representou a volta de antigas manifestações relacionadas a uma cultura golpista e a um autoritarismo que já julgávamos estarem sepultadas pela história. E é evidente que a continuidade desta situação desestabiliza todo continente.

O Brasil sempre defendeu as regras democráticas para resolver os impasses políticos. Por isso, é correto nosso empenho em forçar uma negociação. Mesmo porque o mundo está bem menos tolerante a estas aventuras. É nítido o constrangimento norte-americano. E mesmo a União Européia não hesitou em externar sua contrariedade com o golpe, com destaque para a Espanha, que expulsou o embaixador hondurenho de Madri e a Alemanha que fechou sua embaixada em Honduras. O Brasil está fixando no continente latino-americano uma posição contundente de compromisso com o fortalecimento da democracia.

Da mesma forma, é acertada a atitude do governo brasileiro de colocar para a comunidade internacional e em especial, para a ONU, que todos têm a responsabilidade pela busca de uma solução democrática para o conflito, pela segurança de Manuel Zelaya e pela integridade da embaixada brasileira. Como disse Carol Proner, num artigo publicado no portal Carta Maior, o “Brasil vive um momento de respeitabilidade internacional sem precedentes e que tem contribuído para sedimentar novos consensos junto a organismos internacionais, mas diante da imprevisibilidade com que atuam os golpistas, a gestão da crise dependerá fundamentalmente da perícia diplomática brasileira e do cuidado técnico em não contribuir para o aprofundamento da violência militar. Não há razões para suspeitar que o Itamaraty seja incapaz de enfrentar o ineditismo desse desafio, apesar da resposta covarde dos golpistas e dos saudosistas de regimes militares. Estes não apenas em Honduras”.

(*) Deputado federal e ex-presidente nacional do PT
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Original em Hora do Povo

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