Depois de receberem milhões de milhões de euros, banqueiros e governos afirmam, sincronizados, que já se começam a ver sinais positivos, que tudo indica que o pior da crise já teria passado. Teria? Os números da evolução do desemprego nos EUA (também se poderia escrever em Portugal) desmentem essa realidade feita de dilapidação dos dinheiros públicos em proveito de alguns, poucos.
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Jerry Goldberg
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O relatório de 2 de Julho do Gabinete de Estatística do Trabalho (Bureau of Labor Statistics) confirmou o desastre econômico que a classe operária dos EUA está a enfrentar. Em Junho, 14,7 milhões de pessoas estavam desempregadas – 9,5 por cento da população ativa, sendo os níveis ainda mais elevados entre os afro-americanos, latinos e jovens. Desde o início da recessão, em Dezembro de 2007, o número de desempregados aumentou 7,2 milhões. O número de desempregados de longa duração (27 semanas ou mais) passou de 433.000 para 4,4 milhões.
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O número dos que trabalham involuntariamente a tempo parcial era de 9 milhões, subiu 4.4 milhões desde o início da recessão. Outros 2,2 milhões de desempregados não constam das estatísticas oficiais porque não procuraram trabalho nas últimas quatro semanas, incluindo 793 000 trabalhadores que já «perderam a coragem» para fazê-lo.
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No Michigan, a taxa de desemprego ultrapassa os 15 por cento, sendo a primeira vez em 25 anos que um estado apresenta um índice tão elevado. Catorze outros estados e o distrito de Colúmbia têm níveis oficiais de desemprego superiores a 10 por cento. A Reserva Federal estima que, a nível nacional, a taxa de desemprego ultrapasse os 10 por cento no final do ano.
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Apesar destas estatísticas e previsões devastadoras, Lawrence Summers, o principal conselheiro econômico do presidente Barack Obama, afirma que o plano para estimular a economia nacional está a dar resultados e descarta um colapso econômico. O otimismo de Summers advém provavelmente dos lucros da banca, que recuperou pelo menos temporariamente. Os bancos foram os beneficiários do balão de oxigênio federal de 750 bilhões de dólares, dos bilhões mais em dinheiro barato que neles despejou a Reserva Federal, e das centenas de bilhões recebidos através do American International Group (AIG).
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A atual recessão, com o seu crescente desemprego, assenta na pauperização dos salários e na destruição de tabelas salariais decentes negociadas com os sindicatos. Um estudo do Bureau of Labor Statistics revela uma queda de 55 dólares por semana nos rendimentos desde 1973 a 2004, calculada com base no valor do dólar em 1982. Quando o salário diminui, os trabalhadores têm ainda mais dificuldade em comprar os bens e serviços que produzem o que leva à sobre produção capitalista, à recessão e ao desemprego.
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O que travou a atual crise durante uma data de anos foram os bilhões de dólares lançados na economia capitalista através de sistemas de crédito. Primeiro os bancos alargaram o crédito fácil através dos cartões de crédito durante alguns anos. Depois, quando os cartões atingiram o limite máximo, o capitalismo virou-se para o crédito à compra de habitação fazendo inflacionar o preço das casas e induzindo as pessoas a colocar as suas casas em esquemas paralelos de refinanciamento à habitação. Os bancos fizeram lucros imensos com taxas e juros elevadíssimos.
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«Sources and uses of Equity Extracted from Homes», um estudo publicado por Alan Greenspan e James Kennedy em Março de 2007, mostra quanto dinheiro foi artificialmente injetados na economia capitalista por causa disso. Os autores calcularam o montante deste «dinheiro fresco», que definem como o valor da venda de habitação, refinanciamento ou empréstimos equilibrados à habitação, deduzindo a dívida da hipoteca paga fora de tempo em períodos cada vez mais estreitos.
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Os números são enormes. O montante de «dinheiro fresco» gerado foi de 757.8 bilhões de dólares em 2002, 1003 bilhões de dólares em 2003, 1170 bilhões em 2004 e 1429 bilhões em 2005. Esta injeção de bilhões de dólares permitiu aos trabalhadores e aos pobres continuar a comprar bens de consumo e serviços mesmo quando os seus salários falharam.
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Este cerca de um bilhão de dólares por ano que forneceu combustível ao consumo através do boom da habitação desapareceu agora da economia. A bolha imobiliária rebentou e o preço das casas está em queda livre. Venda de casas, refinanciamento e empréstimos equilibrados estão virtualmente parados. O plano de estímulo de Obama, que visa injetar 787 bilhões de dólares na economia capitalista durante este ano e em 2010, é apenas cerca de metade dos 1429 bilhões de dólares que a bolha imobiliária injetou na economia só em 2005.
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Até o programa de apoio à habitação (Home Affordable Program) implementado pelo secretário do Tesouro é na verdade um balão de oxigênio disfarçado para os bancos, representando uma ajuda mínima aos proprietários ameaçados de execução hipotecária. Uma simples moratória na execução hipotecária teria de percorrer um longo caminho para dar ao Home Affordable Program alguma substância, mas apesar de ter falado em moratória na sua campanha, o presidente Obama não voltou a usar essa palavra desde que foi eleito. A classe trabalhadora tem de lutar e exigir empregos ou rendimentos agora, e uma moratória na execução de hipotecas e de despejos, para além de um plano de estímulo efetivo com bilhões de dólares para reconstruir as cidades e manter as fábricas funcionando.
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