Além do Cidadão Kane

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Um bilhão de seres humanos com fome

Tradução de Rosalvo Maciel

Cada ano se realiza em alguma parte do planeta uma reunião para tratar os problemas da alimentação e do desenvolvimento. Acodem representantes governamentais, organismos internacionais, especialistas e, quando a ocasião merece, um que outro integrante de organizações sociais vinculadas ao tema. Invariavelmente nessas reuniões se oferecem diagnósticos claros da situação imperante na África, Ásia e América Latina quanto à produção e má distribuição dos alimentos. Igualmente, se apresentam estudos que mostram como enquanto algumas nações têm comida de sobra, e até a desperdiçam, outras carecem dela e sofrem com a fome. Também costumam anuncia-se compromissos para atacar o problema e reduzir o número de pessoas que não têm o alimento suficiente, indispensável para viver dignamente.
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Os dados recentes da agencia que nas Nações Unidas se ocupa da alimentação e da agricultura, a FAO, reiteram, no entanto, a gravidade da situação: mais de um bilhão de pessoas padecem de fome no mundo. Uma sexta parte da humanidade consome, per cápita, menos de 1.800 kilocalorías diárias, o que um ser humano necessita como mínimo para seu sadio desenvolvimento com o agravante de que em vez de reduzir-se o número de famintos este ano são 100 milhões mais. Quase todos os desnutridos vivem no mundo em vias de desenvolvimento, destacadamente em alguns países de Ásia, que concentram as duas terças partes dos famintos, seguidos da África subsaariana, com 265 milhões, e rematando com os 53 milhões que existem na América Latina e no Caribe, onde os famintos aumentaram no último ano 12 por cento.
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Em estudos anteriores, a FAO assinalava como causas da fome: os desajustes estruturais do mundo, a falta de água, entre outros recursos básicos para produzir os alimentos necessários, assim como a concentração desses recursos em poucas mãos e que muitas vezes não se colhem o que as pessoas necessitam, mas o que exigem os mercados internacionais.
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O paradoxo é que há os elementos para produzir toda a comida que se necessita, mas não se utilizam adequadamente nem se levam em conta as necessidades da população. Agora, o organismo das Nações Unidas destaca outros dois elementos que tem agudizado a situação: a crise econômica global e que haja aumentado o preço dos alimentos. O primeiro incide de maneira direta no emprego e nos salários da população rural e urbana e reduz sua capacidade de adquirir a cesta básica de alimentos. O segundo elemento agrava o efeito do primeiro, pois os alimentos básicos têm aumentado de preço no mundo subdesenvolvido, ainda que agora se produzam mais cereais que no ano passado. É o caso do arroz na Ásia e do milho na América Latina. Os preços mínimos que alguns governos fixam para os componentes da dieta básica são de ficção, apenas existem na mente dos funcionários encarregados da economia, a produção agropecuária e os mercados locais.
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E ante a falta de emprego e salários, as famílias se vêm obrigadas a comprar alimentos mais baratos (com maior número de calorias), mas que têm menos proteínas.Em seu informe mais recente a FAO assinala que estamos ante uma crise de fome que gera graves riscos para a paz e a segurança do mundo, pois a falta de emprego e salário pressionará negativamente as estruturas sociais e políticas vigentes no setor rural. Igual sucederá nas cidades, para onde emigram milhões de camponeses sem emprego no campo e que vivem em condições muito desfavoráveis.
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Além disso adverte sobre a piora da situação, pois a prioridade para as nações industrializadas é sair da crise da qual padecem pelo manejo irresponsável de suas economias, por abandonar e passar aos grandes consórcios, aos interesses privados, as tarefas que correspondem ao Estado. Haverá, então, menos ajuda para o mundo pobre, não obstante que na recente reunião do G-8 se acordou destinar 20 bilhões de dólares para combater a fome e estimular a agricultura.
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Enquanto chega essa ajuda, não esqueçamos que os países que formam as Nações Unidas prometeram para 2015 reduzir a 420 milhões de pessoas com fome. Nem tampouco que no México de Calderón aumentaram a pobreza extrema e a fome.
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