Arjan El Fassed
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Fonte: The Electronic Intifada
Tradução de Joana S. Piedade
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Al-Ram, zona ocupada da Cisjordânia, Abril 2009
“Meus queridos irmãos e irmãs palestinos, vim à vossa terra e nel
a reconheci traços da minha”. Estas são as primeiras palavras de uma carta aberta escrita por Farid Esack, intelectual e ativista político sul-africano conhecido pelo seu papel na luta contra o apartheid. Numa carta composta por 1.998 palavras criteriosamente escolhidas, Esack defende que a situação na Palestina é pior do que a alguma vez vivida na África do Sul sob o regime do apartheid. Esack, um sul-africano negro, que trabalhou de perto com Nelson Mandela, está perplexo com o fato de as pessoas estarem com rodeios e não irem direto ao assunto, no que toca a Israel e à usurpação e sofrimento de que está a ser vítima o povo palestino. “Será que “objetividade”, “moderação”e “ver os dois lados” não têm limites?”, pergunta. “Será a moderação ligada a uma clara injustiça, realmente uma virtude? Ambas as partes, por exemplo, merecem um “tratamento igual” numa situação de violência doméstica em que uma mulher é espancada por um homem que foi abusado pelo pai há algum tempo atrás, porque também ele é uma “vítima”?”.
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Quase cinco anos depois do Tribunal Internacional de Justiça ter declarado que o muro construído por Israel, em terra palestina, é “ilegal”, e de ter sido decretado o seu desmantelamento, a carta de Esack começou a ser escrita no muro com tinta de spray, ao longo de três quilômetros. Isto faz parte de um projeto em que colaboram holandeses e palestinos, que pode ser conhecido através do site
http://www.sendamessage.nl/. Desde 2007, este projeto permitiu que utilizadores da internet, em qualquer parte do mundo, possam solicitar que uma mensagem de 80 caracteres seja escrita a spray no muro, em troca de um donativo de 30 euros.
A soma do dinheiro angariado serve para apoiar pequenos projetos de índole social, cultural e educacional na Palestina. Algumas das mensagens vão desde o romântico ao cômico, passando por receitas completas. Estas mensagens recordam aos palestinos aprisionados dentro do muro que não estão esquecidos. Desde o início da iniciativa, mais de 800 pessoas de todo o mundo têm enviado mensagens através da Sendamessage.nl.
A carta aberta de Farid Esack tem também como objetivo dar esperança aos palestinos. “Nós apoiamos a vossa visão de criar uma sociedade onde todos, independentemente da sua etnia ou religião, sejam iguais e vivam em liberdade”, escreve o ativista. “Face a esta monstruosidade, que é o muro do apartheid, nós oferecemos uma alternativa: solidariedade com o povo palestino. Comprometemo-nos na nossa determinação de caminhar convosco na luta para ultrapassar a separação, conquistar a injustiça e pôr um fim à ganância, divisão e exploração”.
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“Esack ultrapassou a raiva”, diz Justus Van Oel, fundador da Sendamessage.nl. "Reconciliou-se e é capaz de se identificar com os palestinos. Ele é convicto e toca as pessoas. Uma combinação única no que à questão palestina diz respeito”.
Há cinco anos atrás, Van Oel viajou pela Palestina. E ficou chocado com o que viu e com “tudo aquilo que obviamente não sabia ou não queria saber”. Depois, viajou novamente para a Palestina, desta vez acompanhado por publicitários holandeses e, juntos desenvolveram um workshop com jovens criativos palestinos. A idéia da Sendamessage.nl surgiu num desses workshops em Ramallah. Em conjunto com Faris Arouri e Yusef Nijim da Palestinian Peace e do Freedom Youth Forum, Van Oel desenvolveu a idéia e implementou o projeto.
Há um ano, Van Oel pediu a Farid Esack para escrever uma carta aberta. Porque este projeto é independente, a pintura da carta de Esack no muro será inteiramente patrocinada por donativos recebidos através do site. Foi preparado um documentário para gravar a pintura das primeiras 500 palavras, no dia 19 de Abril numa parte do muro, a sul de Ramallah. Espera-se que a carta completa esteja pronta a 10 de Maio. “É verdade que o muro não cai apenas porque o teu texto está lá escrito”, diz Van Oel. “Mas estas mensagens mantêm viva a esperança. Os palestinos envolvidos neste projeto pretendem com isso enviar uma mensagem singela: “Somos seres humanos, tal como vocês, com senso de humor e garra pela vida”. É por isso que fazemos isto e gostamos”.
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