Um relatório do Ministério do Trabalho britânico conclui que as desigualdades de rendimento entre os dez por cento mais pobres e os dez por cento mais ricos se aprofundaram no país em 2007-2008.
O fosso das desigualdades sociais no Reino Unido aprofundou-se durante os governos de Margaret Thatcher. Quando o trabalhista Tony Blair chegou ao poder, em 1997, as diferenças de rendimentos entre os mais pobres e os mais ricos eram as maiores desde a criação das estatísticas em 1961.
Apesar da sua retórica social, a verdade é que Tony Blair não só nunca conseguiu reduzir as desigualdades, como estas até aumentaram em termos relativos. Os ricos enriqueciam mais de pressa do que os pobres melhoravam o seu nível de vida. Contudo, aproveitando um período favorável da economia, as camadas mais desfavorecidas registavam um aumento absoluto de rendimentos, o que ajudava à propaganda dos trabalhistas.
Porém, desde 2005, esta tendência alterou-se radicalmente. Em termos reais, isto é, descontada a inflação, os pobres tornaram-se mais pobres, enquanto os ricos acumularam riqueza.
Com os primeiros sinais da crise, a situação agravou-se ainda mais. Segundo indica o relatório anual do Ministério do Trabalho britânico sobre os rendimentos de 2007-2008, divulgado no dia 7, os mais pobres foram afetados não só pelo aumento da inflação mas também por uma diminuição absoluta dos rendimentos.
Assim, se entre 2004-2005 os dez por cento mais pobres auferiam em média 156 libras por semana (cerca de 176 euros), em 2007-2008 o seu rendimento baixou nove libras (cerca de dez euros).
No mesmo período, os dez por cento mais ricos viram o seu rendimento aumentar de 998 libras (1110 euros) para 1033 libras (1149 euros) por semana.
Neste contexto, em 2007-2008 os 20 por cento mais ricos passaram a auferir 43,1 por cento do rendimento disponível contra 40,9 por cento em 1996-97.
Pobreza alastra
Outra consequência desta evolução é o aumento crescente do número de indivíduos a viver abaixo do limiar da pobreza, definido como 60 por cento do rendimento mediano. Em 2007-2008 atingiram os 11 milhões contra 10,7 milhões no ano anterior e 10 milhões entre 2004-2005.
As dificuldades das famílias refletem-se inevitavelmente na infância. Em 1997 havia na Grã-Bretanha 3,4 milhões de crianças que viviam em situação de pobreza. Blair prometeu então que esse número seria reduzido a metade até 2010 e que, em 2020, este flagelo social estaria completamente extinto.
No entanto, o governo trabalhista está muito longe de alcançar tal objetivo. Os dados oficiais mais recentes referem que 2,9 milhões de crianças viviam em situação de pobreza em 2007-2008, número que é semelhante ao do ano anterior, mas representa um acréscimo de 200 mil crianças em relação a 2005.
Com resultados destes, não surpreende que o governo de Gordon Brown continue a afundar-se nas sondagens, cedendo posições à direita conservadora que explora a seu favor a capitulação dos trabalhistas às políticas neoliberais.
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