Além do Cidadão Kane

domingo, 17 de maio de 2009

Reino Unido

Desigualdades agravadas

Um relatório do Ministério do Trabalho britânico conclui que as desigualdades de rendimento entre os dez por cento mais pobres e os dez por cento mais ricos se aprofundaram no país em 2007-2008.

O fosso das desigualdades sociais no Reino Unido aprofundou-se durante os governos de Margaret Thatcher. Quando o trabalhista Tony Blair chegou ao poder, em 1997, as diferenças de rendimentos entre os mais pobres e os mais ricos eram as maiores desde a criação das estatísticas em 1961.
Apesar da sua retórica social, a verdade é que Tony Blair não só nunca conseguiu reduzir as desigualdades, como estas até aumentaram em termos relativos. Os ricos enriqueciam mais de pressa do que os pobres melhoravam o seu nível de vida. Contudo, aproveitando um período favorável da economia, as camadas mais desfavorecidas registavam um aumento absoluto de rendimentos, o que ajudava à propaganda dos trabalhistas.
Porém, desde 2005, esta tendência alterou-se radicalmente. Em termos reais, isto é, descontada a inflação, os pobres tornaram-se mais pobres, enquanto os ricos acumularam riqueza.
Com os primeiros sinais da crise, a situação agravou-se ainda mais. Segundo indica o relatório anual do Ministério do Trabalho britânico sobre os rendimentos de 2007-2008, divulgado no dia 7, os mais pobres foram afetados não só pelo aumento da inflação mas também por uma diminuição absoluta dos rendimentos.
Assim, se entre 2004-2005 os dez por cento mais pobres auferiam em média 156 libras por semana (cerca de 176 euros), em 2007-2008 o seu rendimento baixou nove libras (cerca de dez euros).
No mesmo período, os dez por cento mais ricos viram o seu rendimento aumentar de 998 libras (1110 euros) para 1033 libras (1149 euros) por semana.
Neste contexto, em 2007-2008 os 20 por cento mais ricos passaram a auferir 43,1 por cento do rendimento disponível contra 40,9 por cento em 1996-97.

Pobreza alastra

Outra consequência desta evolução é o aumento crescente do número de indivíduos a viver abaixo do limiar da pobreza, definido como 60 por cento do rendimento mediano. Em 2007-2008 atingiram os 11 milhões contra 10,7 milhões no ano anterior e 10 milhões entre 2004-2005.
As dificuldades das famílias refletem-se inevitavelmente na infância. Em 1997 havia na Grã-Bretanha 3,4 milhões de crianças que viviam em situação de pobreza. Blair prometeu então que esse número seria reduzido a metade até 2010 e que, em 2020, este flagelo social estaria completamente extinto.
No entanto, o governo trabalhista está muito longe de alcançar tal objetivo. Os dados oficiais mais recentes referem que 2,9 milhões de crianças viviam em situação de pobreza em 2007-2008, número que é semelhante ao do ano anterior, mas representa um acréscimo de 200 mil crianças em relação a 2005.
Com resultados destes, não surpreende que o governo de Gordon Brown continue a afundar-se nas sondagens, cedendo posições à direita conservadora que explora a seu favor a capitulação dos trabalhistas às políticas neoliberais.
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Original em Avante!

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