Além do Cidadão Kane

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Carta ao Presidente Obama

Dr. Ayad Abdullah, Acadêmico Iraquiano
Fonte: uruknet
Tradução de Guadalupe Magalhães

Em nome de Deus, o Misericordioso

Presidente Barack Obama, Casa Branca, Washington

Muito obrigado por assinalar o mês sagrado do Ramadã para o povo Islâmico. Espero que tenha tempo para ler esta carta de um Árabe Muçulmano do Iraque.

O senhor mencionou que o Ramadã, recordando os valores comuns partilhados com o Islã tais como a justiça, a tolerância e o respeito pela dignidade humana. Eu concordo consigo, Senhor Presidente, que estes valores são comuns ao Islã e ao Cristianismo e sendo eu um Muçulmano, eu acredito e trabalho com palavras e ações; acredita, senhor presidente, trabalhar para estes valores comuns? Se for honesto e é isso que eu espero de si, creio que acredita na justiça, na tolerância e no respeito pela dignidade humana.

Eu sou um Muçulmano iraquiano, as suas forças ocuparam o meu país há seis anos e destruíram tudo. Por favor, responda às minhas perguntas e espero que não fique aborrecido com as seguintes questões:
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1. Foi um ato de justiça, de tolerância e de respeito pela dignidade humana, a imposição do embargo econômico ao Iraque durante 13 anos a pretexto da posse de armas de destruição maciça, que nunca foi provada a sua ilusória existência, e mais de 1 milhão e 500 mil crianças iraquianas mortas devido a esse embargo?

2. Foi um ato de justiça e tolerância o bombardeamento do Iraque pelas suas forças bélicas, com bombas de urânio empobrecido e de fósforo branco, internacionalmente proibidas?
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3. É justiça, Senhor Presidente, as suas tropas terem invadido o meu país, o Iraque, em 2003, e hoje aí permaneceram ou há ainda o pretexto das alegadas armas de destruição maciça? Note que o meu país é membro das Nações Unidas e a ocupação tem ultrapassado todas as leis internacionais.

4. É justiça e tolerância que mais de 1.5 milhões de pessoas tivessem sido mortas pelas suas tropas e pelas milícias que vieram com elas?
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5. É tolerância e respeito pela dignidade humana que desde 2003, 4 milhões de cidadãos iraquianos tenham sido obrigados, pelas suas tropas e pelas milícias sectárias, a abandonar as suas casas e o seu país?

6. É para si justiça, que mais de meio milhão de iraquianos estejam detidos em prisões dos EU ou em prisões locais , sob a supervisão das suas tropas, muitos dos quais sem culpa formada e outros apenas por manifestarem a sua liberdade de opinião ao dizerem não à ocupação e ao governo sectário?
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7. É para vós, estadunidenses, justiça, tolerância e respeito pela dignidade humana, a violação de mulheres e de homens?

8. É justiça nos EUA, a prisão de líderes do Iraque, o assassinato de outros e o do seu presidente, como resposta às condições impostas pelo Irão para cooperação com os EUA?

9. É para vós, justiça, tolerância e respeito pela dignidade humana, o afastamento e a destruição de mais de dois milhões de pessoas, civis e militares, professores universitários e funcionários públicos das suas profissões, privando-os do seu único sustento, pelas ordens de Paul Bremer, em 2003?

10. É justiça, Senhor Presidente, a destruição do meu país, a sabotagem das infra-estruturas e deixar o povo iraquiano viver na miséria, na necessidade, no medo e no pânico, causados pelas suas tropas e pelas milícias de partidos sectários?

11. É justiça ou respeito pela dignidade da humanidade o roubo, o assalto e a destruição do patrimônio cultural do Iraque?

Eu peço, senhor presidente, que responda às minhas perguntas, se realmente acredita nos valores comuns partilhados pelo Islã e pelo Cristianismo, incluindo a justiça, a tolerância e o respeito pela dignidade humana.

Contudo, Senhor Presidente, posso dizer-lhe que não há qualquer dignidade na ocupação do meu país, o Iraque. Não há justiça com a presença das suas tropas. Não há tolerância enquanto prestar atenção aos demônios dos traidores e seus agentes que constituem o governo do Iraque. Cada dia extra em que as suas forças permanecem no Iraque, significa mais iraquianos mortos; mais crianças mortas; mais violações de mulheres e homens em prisões e centros de detenção; mais sangue iraquiano e estadunidense; mais bilhões de dólares perdidos. Se acredita verdadeiramente no que disse, nos valores comuns, Senhor Presidente, seja suficientemente corajoso e mande retirar as suas tropas do meu país e deixe o Iraque ao seu povo e não diga nada sobre a mentira da democracia promovida pelo seu antecessor.

Com os meus sinceros cumprimentos,

Dr. Ayad Abdullah, Acadêmico Iraquiano

23 de agosto de 2009.
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Original em Tribunal Iraque

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